Capítulo 2

O silêncio do apartamento era opressor. Babi se espreguiçou no sofá velho e olhou para o teto manchado, perdida em pensamentos. A conversa com Zoe ainda ecoava na sua cabeça, mas outra lembrança começou a tomar espaço, uma que nunca a abandonava de verdade.

Ela fechou os olhos e viu sua mãe.

Nos últimos anos de vida, a doença a consumiu rapidamente. Primeiro, era só uma tosse ocasional, algo que os médicos pareciam não levar tão a sério. Mas então vieram os acessos de falta de ar, as noites intermináveis de tosse seca e dolorosa. O diagnóstico veio tarde demais: fibrose pulmonar. Os médicos disseram que não havia muito o que fazer. O ar começou a lhe faltar mais do que nunca, e, em pouco tempo, sua mãe já não conseguia andar sem perder o fôlego.

Babi tinha apenas doze anos quando a viu definhar. As mãos da mãe, antes fortes, tornaram-se frágeis, ossudas. Seu olhar, que um dia brilhava com vida e afeto, ficou opaco, resignado. No fim, ela mal conseguia falar sem se engasgar com a própria respiração. A imagem da última noite que passaram juntas era um peso constante no peito de Babi.

E então, ela se foi.

Com sua morte, Babi não tinha mais ninguém. Seu pai já tinha morrido anos antes, e ela foi enviada para viver com a irmã dele, uma tia que mal conhecia, em Oklahoma.

A tia não era má. Tentava ser gentil, mas Babi sentia que nunca seria parte daquela família de verdade. Os primos a olhavam como se ela fosse um fardo. Nos jantares, sentia-se um estranho entre eles. Nos natais, os presentes que ganhava eram claramente dados por obrigação.

Ela sabia que não podia reclamar. A tia lhe deu um teto, comida, tentou incluí-la na vida deles. Mas não era o mesmo que ter uma mãe.

Por isso, assim que completou dezoito anos, juntou tudo o que tinha e saiu de lá. Se mudou para a Geórgia. O apartamento que encontrou era pequeno, velho e caindo aos pedaços, mas era dela. Pela primeira vez, sentiu que tinha um espaço só seu.

Mas a liberdade vinha com um preço.

O aluguel apertado, as contas acumulando, o salário miserável da lanchonete…

Babi suspirou, passando as mãos no rosto.

Ser sugar baby… aquilo realmente poderia ser uma saída?

Se sua mãe estivesse viva, ela jamais aprovaria algo assim.

Mas sua mãe não estava ali.

E Babi estava cansada de lutar para sobreviver.

---

O cheiro do café fresco preencheu o pequeno apartamento enquanto Babi se sentava à mesa com o jornal aberto. O céu ainda estava acinzentado do lado de fora, e o silêncio da manhã a fazia se sentir solitária.

Ela mordiscou uma torrada enquanto circulava anúncios nos classificados. Precisava encontrar algum trabalho extra para fazer antes do turno na lanchonete, algo que lhe rendesse dinheiro rápido.

"Precisa-se de diarista — pagamento no fim do expediente."

"Trabalho temporário: panfletagem no centro."

"Babá para algumas horas pela manhã."

Nada parecia pagar o suficiente. Suspirou e dobrou o jornal, esfregando os olhos. O tempo estava contra ela.

Ao sair de casa para ir ao mercado, quase trombou com o senhor Vasquez, o senhorio do prédio. O homem, barrigudo e de expressão sempre mal-humorada, cruzou os braços ao vê-la.

— Babi, precisamos conversar.

Ela engoliu em seco.

— Eu sei, senhor Vasquez. O aluguel…

— Já tá quinze dias atrasado! — ele a interrompeu, irritado. — Eu sou um homem paciente, mas paciência não paga as contas. Você precisa acertar isso logo.

Babi respirou fundo.

— Me dá até o fim de semana? Eu vou conseguir.

O senhorio a analisou por um momento, resmungando algo inaudível.

— Tudo bem. Mas se não me pagar até domingo, você tá fora.

Ele saiu, deixando Babi parada na entrada do prédio, sentindo o peso do desespero aumentar em seu peito.

---

O turno na lanchonete foi um inferno.

Babi tentava manter a compostura, mas a ameaça do despejo pairava sobre ela como uma nuvem carregada. Esqueceu um pedido, derrubou uma bandeja, levou uma bronca do gerente.

Zoe percebeu.

— O que foi? — perguntou enquanto enchia um copo com refrigerante.

— O senhor Vasquez — Babi murmurou, encostando-se no balcão. — Disse que se eu não pagar o aluguel até domingo, estou fora.

— Droga… — Zoe fez uma careta. — Conseguiu algum trabalho extra?

Babi apenas balançou a cabeça, desanimada.

— Talvez eu possa te emprestar algo…

— Não. Eu não posso aceitar.

Zoe suspirou, mas não insistiu.

Babi passou o resto do expediente em silêncio, sentindo-se cada vez mais sufocada.

---

Os dias passaram, e nada melhorou.

Babi tentou tudo. Procurou empregos temporários, respondeu anúncios, bateu de porta em porta. Mas ninguém queria contratar alguém por apenas algumas horas de manhã.

Na sexta-feira à noite, ela chegou em casa exausta, jogou a bolsa no sofá e ficou encarando o teto.

Ela não tinha mais tempo.

Pegou o celular e abriu o site que Zoe havia lhe passado. O nome brilhava na tela como uma tentação: Elite Sugar Match.

Respirando fundo, começou a preencher o cadastro. Nome, idade, interesses. Escolheu uma foto onde parecia natural, mas atraente.

Ao clicar em "Criar perfil", sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

Babi não sabia se estava fazendo a coisa certa.

Mas também não via outra saída.

Sigue leyendo en Buenovela
Escanea el código para descargar la APP

Capítulos relacionados

Último capítulo

Escanea el código para leer en la APP