O olhar dele era afiado, intenso.
Babi tentou fingir que não percebia, mas ele não se dava ao trabalho de disfarçar. Seus olhos azuis escuros a percorriam dos pés à cabeça, analisando-a como se estivesse avaliando uma compra. Depois de um longo silêncio, ele suspirou. Não era um suspiro de aprovação. Era… de decepção? Um desconforto se instalou no peito de Babi. Seus dedos se apertaram discretamente contra o tecido do vestido. O que ele esperava? Uma modelo de revista? Sem dizer nada, o homem se afastou, caminhando até o minibar no canto do quarto. Com movimentos calculados, pegou uma garrafa de uísque e serviu duas doses em copos baixos de cristal. Voltou até ela e estendeu um dos copos. Babi aceitou, mas sem intenção de beber. Seu estômago já estava revirado o suficiente, e ela nunca lidou bem com álcool. Uma dose pequena já era o suficiente para deixá-la tonta, e ficar vulnerável ali dentro não parecia uma ideia inteligente. Levou o copo aos lábios, fingindo beber. Ele observou, mas não comentou nada. Apenas tomou um gole do próprio uísque, com um ar pensativo. — Yanek Kovalev-Harris — disse, finalmente, estendendo a mão para ela. O nome soava imponente. Estrangeiro, mas sofisticado. Babi hesitou antes de apertar sua mão. A pele dele era quente e firme contra a dela. — E você? Pode me dizer seu nome real ou inventar um. Não me importa. Ela pensou em mentir. Mas algo na forma como ele a olhava a fez mudar de ideia. — Bárbara Llanos Smith. — Bárbara — ele repetiu, provando o nome como se estivesse testando o sabor de algo novo. — Diferente. Quais são suas origens? — Meio latina,meio americana. Minha mãe era espanhola. Yanek assentiu lentamente, como se aquilo fizesse sentido para ele. — Sempre saí com uma determinada pessoa do site — disse, girando o copo na mão. — Mas ela decidiu sair. Vai se casar. Babi apenas observou, esperando que ele chegasse ao ponto. — Então — continuou ele, sem rodeios —, preciso de outra garota para servir a mim. Ela franziu a testa. — Servir a você? A palavra ficou entalada em sua garganta. Yanek percebeu sua reação. Seus olhos analisaram seu rosto, mas sua expressão permaneceu inalterada, impossível de ler. Por alguma razão, aquilo só a deixou ainda mais desconfortável. Yanek tomou o último gole de uísque e pousou o copo sobre a mesa de vidro com um clique suave. — Você vai entender em breve — disse, enigmático. Então, sem pressa, levantou-se e ajeitou o terno impecável. Caminhou até a mesa lateral e retirou do bolso um pequeno maço de notas. Contou calmamente e colocou 200 dólares sobre a superfície brilhante. — Foi um prazer conhecer você, Bárbara. Babi apenas observou, sem saber exatamente como reagir. Ele seguiu até a porta e saiu sem mais explicações. O silêncio do quarto pareceu pesar ainda mais depois de sua partida. Babi piscou algumas vezes, tentando processar. Que diabos havia acabado de acontecer? Aquele cara a analisou, suspirou como se estivesse decepcionado, disse algumas frases vagas e foi embora. Era só isso? Ela olhou para as notas sobre a mesa. Bom, pelo menos tinha conseguido o dinheiro do aluguel. Respirou fundo e pegou o celular, mandando uma mensagem para Zoe. Babi: McDonald's? Eu pago. Zoe: O QUÊ? Babi: Só vem. --- — VOCÊ TÁ ME ZOANDO! Zoe arregalou os olhos, segurando um Big Mac na mão. — Ele é gostoso assim mesmo? Babi revirou os olhos, mordendo uma batata frita. — Sim. Mas também é arrogante. — Amiga, sinceramente? Eu toparia ser destratada por um homem desses se no final ele me pagasse um aluguel. Babi riu, mas por dentro ainda sentia um incômodo estranho. Ela não esperava nada, mas, ao mesmo tempo, se sentia rejeitada de alguma forma. Yanek a olhou com desdém, como se ela não fosse o suficiente para algo que ela nem sabia o que era. Não que isso importasse. Ela nunca esperou que um homem como ele tivesse olhos para alguém como ela. — Você acha que ele vai te chamar de novo? — Zoe perguntou. Babi deu de ombros. — Duvido. Mas não faz diferença. O aluguel tá pago, ainda sobrou um pouco, e eu nem precisei fazer nada. As duas brindaram seus refrigerantes, rindo. --- No dia seguinte, Babi acordou tarde, mas sua primeira missão foi ir até o escritório do senhorio. Ao receber os 125 dólares, ele até abriu um sorriso—coisa rara. — Pagando direitinho… isso é novo. Babi ignorou o comentário. Pegou o recibo e saiu sem olhar para trás. Agora poderia respirar um pouco melhor. Foi para o trabalho, aliviada por finalmente não ter que se preocupar com o aluguel. Estava ocupada limpando uma mesa quando sentiu o celular vibrar no bolso. Pegou o aparelho e viu uma nova mensagem. Y.K.H: Te aguardo hoje. Mesmo horário, mesmo quarto. Seu coração parou por um segundo. Era ele. Yanek Kovalev-Harris.Babi encarou a mensagem por um longo momento antes de finalmente decidir responder. Babi: Hoje não posso. Trabalho até as 11 da noite. Ela esperou, mas não houve resposta. A tela do celular continuou imóvel, sem notificações. Nenhuma confirmação, nenhum "ok", nada. Babi sentiu um incômodo crescer dentro dela. Como alguém podia ser tão arrogante a ponto de nem se dar ao trabalho de responder? Ele achava que ela simplesmente largaria tudo para ir ao encontro dele? Bufou, irritada, e guardou o celular de volta no bolso do avental. Mais tarde, contou a Zoe o que aconteceu. — Sério, ele nem se deu ao trabalho de responder? — Zoe balançou a cabeça, incrédula. — Esses caras ricos são todos assim, amiga. Acham que o mundo gira ao redor deles. — Pois é. Como se eu não tivesse uma vida — resmungou Babi. Zoe fez um biquinho. — Mas, sinceramente? Eu já sabia que ele ia querer te ver de novo. Você é demais. Babi revirou os olhos, mas sorriu um pouco. — É, claro. O cara ma
Babi sentiu o olhar intenso de Yanek queimando sua pele. Ele a observava com calma, como se estivesse esperando alguma reação. Seu rosto era impenetrável, mas seus olhos azul-escuros tinham um brilho enigmático, como se divertissem com a confusão dela. Ela cruzou os braços, tentando disfarçar o incômodo. — Vai me explicar o que acabou de acontecer? — Sua voz era firme, mas por dentro ela estava em choque. Yanek deslizou para a cadeira que Michael havia desocupado e recostou-se com a elegância natural de alguém acostumado a dominar qualquer ambiente. — Você deveria me agradecer — disse ele, casualmente. — Acabei de te salvar de uma grande encrenca. Babi franziu a testa. — Me salvar? Eu estava apenas jantando. — Jantando com um grande babaca — ele rebateu, levantando a mão para chamar o garçom. Babi abriu a boca para retrucar, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Yanek já estava pedindo um vinho caro, mencionando uma safra que ela jamais teria dinheiro para pagar. O garço
Babi passou a noite rolando na cama, incapaz de pegar no sono. Seus pensamentos estavam inquietos, girando em torno de Yanek, do encontro inesperado no restaurante e do que aquilo significava. O fato de ele ter “interrompido” seu jantar com Michael era algo que ela ainda não entendia completamente.Mas, no fundo, sentia-se estranhamente agradecida. Mesmo sem conhecê-lo direito, alguma coisa lhe dizia que Yanek não estava exagerando.Por volta das duas da manhã, pegou o celular e mandou uma mensagem para Zoe:Babi: "Ei, estou em casa. Você não vai acreditar no que aconteceu."Zoe: "O quê? Me conta!!!"Babi resumiu tudo — o encontro com Michael, Yanek aparecendo do nada, a conversa tensa e o convite para um novo encontro pela manhã. Zoe surtou.Zoe: "MENINA!!! Você TEM que aproveitar isso! Você tem ideia de quantas garotas dariam tudo pra estar no seu lugar??"Babi: "Sei lá, Zoe. Ele é tão... complicado."Zoe: "Complicado e rico! Se joga!"Elas conversaram mais um pouco, e Babi menciono
A caneca de café quase escorregou da mão de Babi quando o cliente ranzinza da mesa 4 resmungou outra reclamação. — Moça, eu pedi esse café com menos açúcar! Quer me matar de diabetes? Babi forçou um sorriso enquanto pegava a xícara de volta. — Claro, senhor. Vou trazer outro pra você. Virou-se com um suspiro exasperado, caminhando até o balcão, onde sua amiga Zoe terminava um pedido. Quando os olhares se encontraram, Babi revirou os olhos, e Zoe teve que morder o lábio para não rir. — Mais um reclamão? — Zoe perguntou, balançando a cabeça. — O de sempre — Babi respondeu, despejando o café na pia com um pouco mais de agressividade do que o necessário. O celular vibrou no bolso do avental. Ela o puxou com um pressentimento ruim e, quando viu o nome do senhor Vasquez, seu senhorio, um frio percorreu sua espinha. Com um suspiro, abriu a mensagem. Vasquez: Babi, aluguel tá atrasado. Preciso desse dinheiro até sexta, senão vou ter que procurar outro inquilino. Nada pessoal
O silêncio do apartamento era opressor. Babi se espreguiçou no sofá velho e olhou para o teto manchado, perdida em pensamentos. A conversa com Zoe ainda ecoava na sua cabeça, mas outra lembrança começou a tomar espaço, uma que nunca a abandonava de verdade. Ela fechou os olhos e viu sua mãe. Nos últimos anos de vida, a doença a consumiu rapidamente. Primeiro, era só uma tosse ocasional, algo que os médicos pareciam não levar tão a sério. Mas então vieram os acessos de falta de ar, as noites intermináveis de tosse seca e dolorosa. O diagnóstico veio tarde demais: fibrose pulmonar. Os médicos disseram que não havia muito o que fazer. O ar começou a lhe faltar mais do que nunca, e, em pouco tempo, sua mãe já não conseguia andar sem perder o fôlego. Babi tinha apenas doze anos quando a viu definhar. As mãos da mãe, antes fortes, tornaram-se frágeis, ossudas. Seu olhar, que um dia brilhava com vida e afeto, ficou opaco, resignado. No fim, ela mal conseguia falar sem se engasgar com
Babi ficou encarando a tela do notebook, o cursor piscando como se zombasse dela. Depois de respirar fundo, ela anexou a única foto que achou adequada. Estava de lado, com o rosto meio escondido pelo cabelo, usando um cropped preto de manga longa que desenhava sua cintura e uma calcinha preta simples. Não era nada vulgar, mas havia algo de sutilmente sexy na imagem. Ela não se achava sexy. Na verdade, nunca tinha pensado muito nisso. Só tinha ficado com alguns garotos, beijos trocados em festas ou encontros casuais, mas nada marcante. Sua primeira vez tinha sido aos 19, uma experiência desajeitada com um colega da lanchonete, sem nada de especial. A ideia de homens ricos e mais velhos desejando sua companhia parecia distante demais da vida real. Preencheu o restante do perfil com informações básicas — idade, hobbies, o que esperava da experiência. Escreveu que gostava de livros, filmes antigos e café, tentando parecer interessante sem revelar muito. Depois, clicou em "Salva
O sábado passou arrastado. Babi tentou não pensar muito no encontro, mas era impossível. Desde o momento em que acordou, sentia uma ansiedade esquisita no estômago. Às vezes se perguntava o que estava fazendo. Outras vezes tentava se convencer de que era só um jantar, uma conversa. Não significava nada além disso. Recebeu mais algumas mensagens no site, mas decidiu não responder. Primeiro, precisava ver no que aquilo ia dar. Mandou uma mensagem para Zoe: Babi: O encontro é às 8. Se eu não te mandar nada depois das 11, me liga, tá? Zoe: Relaxa, amiga. Você vai se sair bem. Mas se precisar, já sabe: código vermelho e eu invado esse hotel de salto e spray de pimenta! Babi sorriu, mas a tensão no peito não diminuiu. Para se distrair, passou boa parte do dia organizando o pequeno apartamento. Limpou a pia da cozinha, arrumou o armário, dobrou as roupas que sempre deixava jogadas. A cada hora que passava, sentia o tempo se esgotando. Às sete da noite, foi até o espelho e c