Dia do conselho...
Eu quase não dormi a noite. Percebi Zafir agitado também. Ele se levantou muitas vezes da cama. O semblante dele era de um encarcerado. Eu me sentia como ele. Não era fácil assistir à queda de Jamile. Eu não queria estar na pele dela nessa hora.
Antes das oito horas da manhã estávamos já em pé para receber nossos familiares, homens e suas esposas, das três famílias envolvidas, a minha, de Zafir e de Jamile.
Para tudo ficar mais trágico, Zafir vestiu uma roupa típica árabe, o Dishdasha. Ele me olhou com a expressão carregada, estava tenso.
—Vista algo bem sóbrio.
Eu nem consegui ouvir ele direito e corri para o banheiro, e vomitei. A mistura do meu nervosismo e a gravidez contribuíram para isso. Zafir se agachou ao meu lado.
—Se eu pudesse te pouparia de tudo isso.
Seis meses depois...Dei uma checada rápida na minha aparência no espelho do banheiro, peguei a escova de cabelos e os escovei até ficarem brilhantes. Zafir apareceu no reflexo dele sorrindo. Me abraçando por trás colocou a mão na minha barriga.—Você está cada dia mais bonita. Radiante.Eu me virei para ele.—É a felicidade.Ele me beijou e foi o suficiente para logo nossas bocas se procurassem famintas. Como era bom tê-lo assim, só para mim. Sem recriminações, sem lutas...A felicidade que eu sentia era tanta, que parecia não caber dentro de mim.—Vamos? Papai e mamãe já devem ter chegado.—Seu pai ficará alucinado por saber que é estou esperando gêmeos. Quem diria, para quem não tinha filhos. Dois? Um menino e uma menina. Para não brigarmos na preferência dos sex
Um ano depois... Jamile Triste, cansada e acalorada, me sentei no banco. Fitei o pátio, a simetria dominava tudo. Rodeado por uma galeria de arcos, sustentado por quatro colunas em cada um dos cantos. Azulejos azuis e brancos reproduziam como um espelho os desenhos da fonte que ficava no meio dele. Enxuguei minhas lágrimas.... Sequências indesejadas de fatos me levaram a muitos erros. Estava no meu sangue ser conquistada e venerada. Jamais passou pela minha cabeça que eu teria que conquistar o amor do meu marido. Ryan fez aquilo que eu esperava de Zafir, me olhou com paixão, me desejou. Agora tentava alcançar um estado de ânimo humilde e aceitar meu destino. Aprendi que a transgressão só leva ao arrependimento e à infelicidade. Passei o limite, fui atrás do proibido por ser orgulhosa. Burra! —Jamile! Por que está sentada aí? —Minha tia rabugenta disse no árabe. —Vamos! Quero esse pátio todo limpo! Resp
Vestida com roupas discretas, que não valorizavam em nada minhas formas, cheguei da rua e entrei no hall da casa de tio Ali. Minha liberdade há tempos estava comprometida. Estava vestida com roupas escolhidas pelos meus tios. Minhas lindas roupas se foram, agora eu vestia para agradá-los. Meus tios eram tradicionais, austeros seguiam os costumes.O cheiro forte de incenso indicava que alguma coisa estava diferente. Meu tio recebia alguma visita. Lembrei-me do carro preto e imponente estacionado em frente à garagem.Era um clima inconfundível de recepção a alguém importante. Uma nuvem negra passou na minha mente quando me lembrei de que —meu tio sempre que podia batia na mesma tecla —eu já estava na idade de me casar. Ele vivia me preparando psicologicamente para isso.Com essa sensação de mudança que eu teria na minha vida, eu estaquei. Senti um nó na garganta
Esta reunião não era como eu queria terminar o meu dia de trabalho. Eu olhei com enfado o Controller e para o meu pessoal administrativo. Isso estava se estendendo demais. Essa era a quinta reunião que eu participava hoje. Eu me sentia dentro de um purgatório enfurnado naquele escritório.Um trabalhador forçado.Comecei a rabiscar meu bloco de notas escutando Roger Willians me falando de uma melhor maneira de potencializar nossos lucros. Uma dor lancinante na cabeça me fez fechar os olhos por um momento e passei a mão neles.Enxaqueca agora, não!Se já não bastassem meu dia a dia corrido e a pressão que eu estava recebendo de meus pais para me casar novamente por causa da esterilidade de Jamile, enfrentá-la agora com questionamentos, era sair do purgatório e entrar no inferno.Minha cabeça ainda latejava quando a reunião te
Zafir Youseef XarifEla estava tagarelando enquanto eu dirigia para casa. Os quilômetros passavam lentamente, embora eu apertasse fundo o acelerador. Eu permaneci em silêncio enquanto Jamile comentava da festa que acabamos de sair, de final de ano, que dei para meu Staff. Ela então se irritou quandome perguntou algo e eu não lhe dei uma resposta.Eu estava lento, cansado, compareci a essa festa movido pela obrigação. Jamile furiosa virou o rosto para a janela. Recusei-me a deixá-la me afetar pelo seu temperamento.Ela não enxergava que eu andava um caco?Que eu mais queria era dormir?Eu andava ultimamente esgotado. Ela não via minhas olheiras? Como eu estava mais magro?Meu Deus,minha mente estava entretida em outros assuntos. Daqui a dois dias era meu casamento. Amanhã cedo eu viajar
KhadijaO suor frio escorreu na minha testa. Minhas pernas tremiam tanto que eu tive medo que elas não me sustentariam quando eu me levantasse daquele sofá. Titia estava ao meu lado, segurando a minha mão. O contrato estava sendo lido agora em uma sala cheias de testemunhas. Ela traduzia, mas eu não conseguia ouvir nada, pois tudo no meu corpo parecia doer, as lágrimas borravam minha visão e minhas costas estavam tensas.Cansada e desgastada era assim que me eu me sentia. Exausta. Nadando contra a maré, mas precisava seguir em frente. Respirei fundo! Penso enxugando as lágrimas. A maquiagem era à prova d'água, acho que estava mais para à prova de noiva amargurada.Eu era um descendente árabe que no máximo que eu falava e entendia da língua eram algumas expressões. Minha mãe inglesa teve uma grande influência sobre m
KhadijaCaminhei me sentindo dentro de um ritual de abate, onde o cordeiro seria sacrificado, no caso "eu".Meu destino?Unir-me a um homem que nunca vi na vida.Eu não o conheço.Estremeci pensando nisso. Minhas pernas quase falharam na breve caminhada até a porta em formato de arco, que foi logo aberta por uma das mulheres. Eu caminhei até ela como uma condenada, meus pés pesados como se estivessem presos em correntes, carregando duas bolas de chumbo.No momento que pisei na sala, eu o avistei. Ele era alto. Os cabelos grossos como carvão. Passei meus olhos pela sua calça social preta que envolvia suas pernas e acentuava sua estreita cintura. A camisa branca não era apertada, mas realçava seu corpo. O casaco preto e a gravata preta completavam o visual e emanava poder e sexo. Ele estava de perfil,
KhadijaO jardim estava banhado de sol naquele fim de tarde. Sereno, verde e dourado. Me afastei da janela e sentei na minha cama.Uma coisa eu tinha que reconhecer, nosso povo era muito amistoso. As mulheres, mesmo que não falassem minha língua, não sabiam o que fazer para eu me sentir feliz e confortável.Titia nem se deu ao trabalho de ficar comigo, estava aproveitando as despesas pagas pelo meu noivo, agora marido, e batendo perna na Medina.A porta se abriu e minha tia entrou no meu quarto, sorriu quando me viu. Tirando o lenço preto que usava na cabeça suspirou:—Allah! Aqui é tudo tão lindo. Essa casa, então, maravilhosa.—Gostei muito da tia de Zafir. Uma pessoa simples e prestativa. Tem uma casa tão grande e nem parece dona dela.Zilá se aproximou de mim com uma sacola na mão.—E dele? Vo