Daniel
*Memórias.Seis anos antes.— Amor, acorda! A-aiiii! Daniel, por favor acorde, amor!— Hum? — Acordo com a voz de Suzy levemente desesperada ao meu lado na cama. Ainda sonolento, olho as horas no despertador e percebo que ainda é madrugada. — O que foi, querida? — pergunto atordoado e me sento no colchão, esfregando os olhos para despertar.— A-aaiii! Acho que está na hora, Dani. — Ela diz, eu franzo o cenho.— Na hora? — Sim, Dani! A-acho que a bolsa... A-aaii! Oh, Deus a bolsa estourou! — Ela geme as palavras, contorcendo-se um pouco. Droga! Imediatamente acendo a luz do abajur e só então noto a cama molhada. Suzy volta a se contorcer de dor ao meu lado. Eu respiro fundo para tentar manter a calma e não a agitá-la ainda mais.— Respire, querida — peço Lembrando-me dos exercícios de respiração que ensaiamos por meses. —A quanto tempo está sentindo as dores? — Aiii! Eu não sei. Só… está muito forte, Dani! Me leva para a maternidade agora, por favor! — Tudo bem, querida! Só tenta manter a calma, está bem? Vou pôr uma roupa rapidinho e pegar a malinha do Cris. Respira e expira… respira e expira… — falo, enquanto caminho apressado para o closet. Visto a primeira roupa que vejo na minha frente e pego a malinha do bebê que já está preparada há algumas semanas. — Pronto! Agora venha, querida, vou te ajudar a descer as escadas. — Ajudo-a a sair da cama, ajeitando a alça da mala no meu ombro e uma mão na sua cintura, e logo estamos andando pelo corredor. A previsão da chegada do nosso pequeno Christopher era para daqui há duas semanas, mas pelo visto o nosso garoto tem pressa de chegar. Com cuidado coloco Suzy nos braços e desço as escadas devagar, e logo estamos dentro do meu carro e a caminho da maternidade mais próxima. As contratações aumentam a cada minuto e percebo o quanto minha garota está sofrendo. Assim que chegamos ao hospital, ela passa por um rápido processo de triagem e não demora muito para estarmos na sala de parto. Como havíamos planejado, estou com uma câmera filmando cada segundo desse momento tão esperado. É doloroso vê-la sofrer assim e o tempo parece não passar nunca. Os minutos se arrastam e cada grito de dor que ela solta faz o meu coração se apertar no peito, porém, sei que ela é forte e que conseguirá trazer o nosso bebê ao mundo.— Só mais um pouco, Suzy. Vamos, o seu filho quer vir ao mundo, querida. — Doutor Samuel pede, incentivando-a. Mas algo está errado, eu sei que sim, pois a minha esposa começa a ficar pálida e preocupado, eu largo a câmera para ficar ao seu lado.— Eu não consigo, doutor! — Ela reclama. Parece cansada. Sua respiração agora está pesada e percebo que ela está quase sem forças também. Definitivamente Suzy não parece nada bem. Beijo calidamente o seu rosto suado e ela me olha com olhos molhados de lágrimas.— Estou bem aqui com você, querida. Eu sei que você consegue — sibilo para encorajá-la, mas ela faz não com a cabeça.— Eu não consigo Dani — sussurra e imediatamente encaro o médico do outro lado da cama.— Suzy, se você desistir agora ou seu bebê morrerá. Você precisa lutar por ele! — Samuel insiste e ela concorda fazendo ainda mais força quando a contratação vem ainda mais forte. Meu coração acelera forte demais quando escuto o choro agudo do nosso bebê. Sorrio amplamente e seguro a câmera direcionando-a para nosso garoto que grita a todos pulmões em um choro compulsivo.— Ele é lindo, meu amor! — falo emocionado, sem parar de filmar. Ele está todo sujo e lutando para sobreviver. Eu não podia estar mais feliz! Penso, olhando para o fruto do nosso amor. O filho que ela tanto quis e lutou por ele — comento virando a câmera agora para ela. Contudo, toda a minha alegria se transforma em dor quando vejo a minha luz transformar-se em escuridão. As máquinas que a monitoram começam a fazer um barulho irritante, avisando que algo está errado. A câmera vai ao chão e eu corro para perto da minha esposa desacordada. — Não consigo conter a hemorragia! — Samuel rosna com o seu tom profissional, porém, dá para sentir a sua preocupação diante desse quadro. — Depressa, chamem a doutora Carmem, diga que é urgente! — Ele ordena para uma enfermeira que sai apressada da sala de parto.— O que está acontecendo, Samuel? — Procuro saber em meio ao meu desespero.— Tirem-no daqui! — ordena.— Não! Não vou sair daqui, Samuel! Me diga o que houve! — exijo ainda mais alto.— Mas, que droga, tirem esse homem da sala, porra! — Ele berra para a sua equipe. Dois homens me puxam bruscamente para fora da sala, embora eu lute e grite por minha esposa. Entretanto a porta se fecha, mas o som do bip arrastado ainda está zunindo nos meus ouvidos. Nervoso, ligo para os meus pais e para os pais de Suzy, e aviso do nascimento do Cris, mas com pesar conto aconteceu após o parto. As horas passam e nenhuma notícia da minha esposa chega, e isso me deixa ainda cada vez mais angustiado. — Calma, meu filho, ela vai ficar bem! — Meu pai interpele, sentando-se ao meu lado, pois eu não sinto que tudo ficará bem, porque a vi quase sem vida.— Por que não me deixam ir vê-la, pai? Por que eles não falam nada? — questiono e seco as lágrimas que insistem em cair.— Já viu o seu filho, querido? Ele é tão lindo! — Minha mãe pergunta. Eu sei que ela quer me distrair e tentar me tranquilizar, mas nesse momento o meu foco é a mulher da minha vida. Meneio a cabeça fazendo um não para ela.— Ainda não, mãe. Quando ela estiver bem, o veremos juntos. — Filho, quem sabe se você for vê-lo um pouco… talvez se acalme e… — Meu pai insiste.— Eu já disse que não, pai! — rosno ríspido dessa vez. — Não quero vê-lo enquanto não tiver notícias dela! — repito áspero. Papai respira fundo e troca olhares com a minha mãe.— Alguma notícia da minha filha? — Magdala indaga assim que entra na sala de espera. Ela não esconde o seu desespero— Em resposta, apenas meneio a cabeça negativamente.— Já tem quase uma hora que estão lá dentro com ela — resmungo contendo a minha aflição.— Ou, meu Deus! — Ela geme abraçando o marido que tem uma cara fechada para mim.— Se alguma coisa acontecer com a minha filha, a culpa é sua, Daniel! Eu disse para não insistir com essa m*****a gravidez! — Paulo rosna entre dentes.— Paulo, por favor! Não é culpa do Dani, você sabe que a Suzy insistiu com isso desde o início. — Magdala o repreende.— Não ouse defender esse homem! Ele sabia que ela não podia engravidar, era responsabilidade dele ter evitado isso!Daniel O pior de tudo é que ele tem toda razão. Suzy tinha problemas cardíacos e não devíamos ter levado essa gravidez a diante. Mas como a mãe dela acabou de falar, ela insistiu tanto que eu não pude dizer-lhe não. Não quando ser mãe era tudo o que ela mais queria essa vida. Minha esposa foi bem assistida e acompanhada de perto pelos melhores médicos obstetras e cardiologistas do país e tudo correu muito bem durante toda a gestação. Uma gestação tranquila em todas as suas fases, com alimentação balanceada e pouco esforço. Realmente não dá pra entender o que deu errado. As portas brancas se abrem de repente e o doutor Samuel passa por elas. Ele parece cansado, seu semblante está sério e caído. Engulo em seco e me levanto no mesmo instante para ir ao seu encontro. Nervoso, levo as mãos aos bolsos da calça e fito os seus olhos.— Como ela está, Samuel? — pergunto sem rodeios, agarrando-me a um fio de esperança, porém, o meu coração está oprimido. Seguro a respiração quando a angústia
Isabelly Como posso iniciar essa conversa? Não sei, talvez falando para vocês sobre minha vida? Ou sobre o meu modo de vida? Talvez sobre a minha pessoa ou sobre o meu trabalho que eu amo tanto. Quem sabe um pouco de tudo? É isso. Um pouco de cada coisa. Vamos lá. Eu sou Isabelly Sampaio Albuquerque. Na verdade, o nome Albuquerque veio do meu pai lindo e maravilhoso Marcos Albuquerque, que não é o meu pai de verdade… quero dizer biológico. Sampaio é o nome da minha mãe biológica e da não biológica também Complicado? Espera que vou descomplicar. Sou sobrinha de Mônica Sampaio que é irmã da minha mãe que me abandonou ainda muito pequenina. Vale salientar que eu tinha apenas quinze dias de nascida nessa época. A minha tia que agora é a minha mãe me criou. Descomplica? Espero que sim. Vamos pular essa parte chata da minha vida e vamos para uma mais badalada. Eu sou formada em administração de empresas, com MBA nos Estados Unidos e fiz alguns estágios na França e na Alemanha. Me acho
Dias atuais. Isabelly SampaioSinto muitos beijos delicados e molhados em meu rosto e mãos grandes, e fortes envolverem o meu quadril e de repente uma leve mordidinha, seguida de um chupão nos meus seios. Abro os meus olhos preguiçosamente e me deparo com o belo par de olhos castanhos escuros de Greg sorrindo para mim e sorrio para o meu futuro marido, beijando-o carinhosamente na boca em seguida.— Bom dia, princesa! — Ele diz com voz grossa e rouca e seu corpo grande, e forte logo para sobre o meu.— Bom dia, querido! — Envolvo o seu quadril com as minhas pernas e meus braços em seu pescoço, e volto a lhe beijar, dessa vez com posse. Minha língua busca a sua com avidez, porém, Greg interrompe o beijo e me olha nos olhos.— Sabe que tenho que ir, né? — Reviro os olhos e faço um biquinho manhoso logo em seguida para ele.— Aah, por que você tem que ir? Estamos noivos e hoje é sábado. Podíamos aproveitar e curtir um ao outro. Hum? O que você acha? — Tento dissuadi-lo.— Não dá, princes
Isabelly Observo a área da piscina que que essa hora já tem uma movimentação legal a procura das minhas amigas e sorrio amplamente quando vejo uma mulher negra, alta, magra e linda, com seu cabelo afro amarrado com um lenço no topo da cabeça, sendo explicitamente cobiçada por um loiro robusto ainda mais alto do que ela. O homem está praticamente babando em cima da minha amiga. Passo por ela e pisco o olho sutilmente, fazendo um gesto com o polegar que diz que a sua escolha está mais que aprovada. O mulherão sorrir discretamente e volta a conversa com seu deus loiro. Encontro Shirley despojada em sua maravilhosa espreguiçadeira com seu habitual fone de ouvidos, óculos escuros e usando um mini biquíni branco que contrasta perfeitamente com a sua pele morena. Os cabelos longos e cacheados estão presos em um coque frouxo e algumas mechas fogem do seu penteado, emoldurando o seu rosto em formato de coração. Shirley é designer de modas. Ela trabalha para um estilista francês, o Françoise,
Isabelly — Terra para Belly! Isabelly, pelo amor de Deus! — O quê? — Faz tempo que estou falando com você, e você não me escuta! Onde está com a cabeça? — Onde acha que ela está? — Rio e minha amiga revira os olhos. — Estou indo, você vem? — Vou, mas estou indo para casa dos meus pais. Prometi para eles que jantaria em casa essa noite. *** Jantar na casa dos meus pais me deixa um tanto dividida. Entendam, eu os amo de paixão, porém, me reunir com a família Albuquerque tem sido um martírio para a minha vida pessoal. — Mãe, por favor não vamos mais falar sobre isso de novo, está bem? — Isabelly, não é fugindo do assunto que você vai mudar as coisas! — Ela insiste. — Mãe, o Greg e eu nos damos muito bem do jeito que as coisas estão. — Até quando? Filha, eu só quero o seu bem! — Tudo bem, eu vou falar com ele e marcar um jantar aqui em casa. Melhorou? Você vai poder conversar com ele, tirar todas as suas dúvidas, mas por hora podemos encerrar esse assunto? — Podemos. Por enq
Daniel Olho para o maldito jornal outra vez e não acredito no comentário que o cretino fez durante a entrevista. Puto da vida, jogo o papel em cima da minha mesa e a porta do meu escritório se abre no mesmo instante. Jonas Brito, meu assessor adentra a minha sala e seus olhos cautelosos me encaram por trás da armação dos óculos de grau, acompanhando cada gesto meu, ainda sentado em minha cadeira de couro negro. Enquanto giro-a lentamente de um lado para o outro e o meu dedo indicador roça a barba por fazer, demonstrando a minha paciência que já está no limite.— Mandou me chamar, senhor Ávila? — O tom de voz cauteloso, me faz fechar as mãos em punho.— Sente-se! — ordeno com um tom seco e duro. O rapaz engole em seco e se senta na cadeira de frente da minha mesa, sem desgrudar os seus olhos de cima de mim. Ele sabe que não tolero erros e principalmente, sabe o quanto sou exigente com os meus empregados.— Aconteceu alguma coisa, senhor? — inquire com voz levemente trêmula. Em respos
Daniel— Senhor Ávila, eu faço o meu trabalho de modo impecável. Nunca tive qualquer reclamação sobre meus atos e nunca perdi dinheiro para nenhuma das empresas que representei, então…— Foda-se as empresas que representou ou representa, Moris! A minha empresa eu administro como eu quero e você está demitido! — Vocifero, virando as costas para sair da sala.— Não pode me demitir, Daniel Ávila! — Ele rosna, me fazendo olhar para sua cara de puta. Sorrio.— Eu não só posso, como já o demiti, senhor Moris. Por favor, passe no setor de RH para receber as suas contas. Eu não o quero aqui na minha empresa nem mais minuto! E você, —Aponto para Jonas que até o momento não disse uma palavra. — Tem vinte e quatro horas para encontrar outro administrador para essa conta, e vê se não erra dessa vez, Jonas, ou será o próximo a ir para o olho da rua! — Saio batendo a porta da sala de reuniões e volto imediatamente para o meu escritório.— Senhor Ávila, me desculpe importuná-lo, mas…— O que você q
Isabelly Não acredito que Jonas me convenceu a fazer isso! Resmungo internamente. Se ele sonhasse o quanto estou sobrecarregada com as contas das empresas japonesas e da França, e agora mais essa! Bufo e me sento na cadeira da mesa de sempre na minha sorveteria preferida e peço o meu habitual sorvete de baunilha que eu amo! Enquanto aguardo o meu pedido, olho rapidamente através da janela de vidro transparente de onde posso observar as pessoas nas ruas. Olho as horas em meu relógio de pulso e vejo que já passa das sete da noite. Irritada, tiro o celular de dentro da minha bolsa para ligar para o meu noivo desconectado do mundo. Para a minha completa frustração, a ligação cai direto na caixa postal.— Onde está você? — Decido deixar uma mensagem, mantenho a minha voz calma. Contudo, a minha paciência já estou no meu limite com suas gafes e atrasos. Enfim, mesmo após um dia corrido no escritório, marquei com o Greg aqui na sorveteria às seis e vinte, e até agora nada. Nenhuma mensagem,