5

Daniel

— Senhor Ávila, eu faço o meu trabalho de modo impecável. Nunca tive qualquer reclamação sobre meus atos e nunca perdi dinheiro para nenhuma das empresas que representei, então…

— Foda-se as empresas que representou ou representa, Moris! A minha empresa eu administro como eu quero e você está demitido! — Vocifero, virando as costas para sair da sala.

— Não pode me demitir, Daniel Ávila!  — Ele rosna, me fazendo olhar para sua cara de puta. Sorrio.

— Eu não só posso, como já o demiti, senhor Moris. Por favor, passe no setor de RH para receber as suas contas. Eu não o quero aqui na minha empresa nem mais minuto! E você, —Aponto para Jonas que até o momento não disse uma palavra. — Tem vinte e quatro horas para encontrar outro administrador para essa conta, e vê se não erra dessa vez, Jonas, ou será o próximo a ir para o olho da rua! — Saio batendo a porta da sala de reuniões e volto imediatamente para o meu escritório.

— Senhor Ávila, me desculpe importuná-lo, mas…

— O que você quer, Estela? — questiono rigidamente, interrompendo-a e sem olhá-la, abro a porta do meu escritório, e entro logo em seguida.

— É a sua mãe, ela não poderá ir a reunião e...

— Peça para o Alfred para resolver isso para mim, Estela. Eu não tenho tempo.

— Mas, Alfred é apenas um motorista, e… — Olho para minha secretária e pelo visto consegui lhe passar o meu olhar frio e inquisidor, porque ela parou de falar bem na frase na metade do caminho. — E-eu v-vou avisar ao Alfred agora mesmo, senhor Ávila. Com licença! 

— Faça isso! — Ela assente e baixa a cabeça, saindo rapidamente da sala, fechando a porta atrás de si. Solto uma respiração profunda tentando controlar toda a agitação do meu corpo e quando já estou calmo o suficiente volto para o meu trabalho e mergulho nele o dia inteiro. Já são quase quatro da tarde quando dona Amélia, minha mãe liga para mim.

— Mãe? Fala logo, estou meio ocupado aqui.

— Querido, o seu pai não está muito bem esses dias. — Imediatamente me ajeito em cima da cadeira, um tanto preocupado.

— O que ele tem?

— Não sei, querido. Estou indo para clínica com fazer alguns exames e… — Ela hesita.

— E?

— Christopher, vai para sua casa.

— O quê? Mãe, eu não posso…

— Sim você pode, Dani! É só por alguns dias, Daniel, só até seu pai se recuperar. — Bufo audivelmente.

— Quantos dias?

— Eu não sei, filho! Assim que ele estiver bem, irei buscá-lo. E a reunião da escola do Cris? — Procura saber.

— Não poderei ir.

— Como assim não vai, filho? Daniel, Cris está com problemas na escola, ele precisa da nossa ajuda!

— Alfred resolverá isso por mim.

— Daniel Ávila, até quando fugirá das suas responsabilidades? — Escuto o som da sua respiração do outro lado da linha. — Já se passaram seis anos, filho. — Ela sussurra e eu fecho os olhos.

— Mãe, não! Eu não posso! Não estou preparado, não ainda!

— Quando então, Daniel? O tempo está passando e o seu filho está crescendo, e ele precisa de você.

— Mãe eu… tenho que desligar. Tenho uma reunião em alguns minutos — minto.

— Daniel, não se atreva…

— Tchau mãe, eu te amo! — Encerro a ligação e largo o aparelho de qualquer jeito em cima dos papéis em minha mesa. Levo minha cabeça as mãos e esfrego o meu rosto, tentando respirar melhor. Ter o Cris em minha casa não estava em meus planos. O garoto em tudo se parece com a mãe. Seus olhos, a boca, nariz, cabelos… tudo nele me lembra a Suzy e por esse motivo não suporto olhá-lo e lembrar que um dia ele tirou de mim a pessoa que eu mais amava no mundo. Por causa dele ela me deixou e eu não posso… eu não consigo chegar perto dele. Simplesmente não tenho forças para fazer isso. Fitar aquele menino me traz lembranças dolorosas, o momento da sua partida. Em seis anos, essa seria a minha primeira aproximação de verdade do garoto. Engulo em seco e volto a olhar as horas. Alfred já deve estar levando o garoto para casa agora. Com um suspiro alto, pego o telefone e ligo para a minha secretária.

— Sim, senhor Ávila! — Escuto a voz de Estela solicita ao telefone.

— Preciso de uma babá para o meu filho. Uma que fique por tempo integral na minha casa.

— O senhor quer dizer… agora? 

— Não, Estela, para ontem! — rosno sarcasticamente.

— Ah! — Ela diz desconcertada. — Desculpe, senhor Ávila, irei providenciar agora. — Desligo o telefone e tento focar em terminar o meu trabalho. Arrasto o expediente até perto das onze da noite e só então saio, deixando as luzes apagadas. No imenso saguão aceno para o segurança e do lado de fora, entro no meu carro, e o meu motorista me leva para o Club Bar, um barzinho que fica na orla marítima. Assim que entro no estabelecimento, sento-me próximo ao balcão e peço uma bebida, seguida de outra e mais outra. Em algum momento uma ruiva se aproxima e inicia uma conversa maliciosa. Suas mãos cheias de dedos acariciam o meu peito por cima da camisa, e inevitavelmente cobiço o seu corpo. A garota tem um jeitinho sedutor, é linda e gostosa pra caramba, 

Desde a morte da minha esposa decidi não me apegar a outra mulher. Eu não suportaria mais uma dor como a que passei e jamais conseguiria me apaixonar outra vez, então escolhi viver o amor do passado e ninguém nunca, jamais a substituirá. Suzy é única. Ela sempre será a única mulher que alcançou o meu coração. As outras são apenas como meus brinquedos que uso quando e como quero, e as abandono após enjoar. O amor não é para mim. 

Após mais alguns copos de uísque, saio do bar com a garota que nem sequer sei o nome. Não me interessa, não importa. Quero o que ela tem para me dar e lhe darei o que quer de mim, e isso é tudo. Depois, cada um segue o seu caminho. 

Chego em casa depois de uma e trinta da madrugada e encontro a casa em plena escuridão. Com certeza todos já estão dormindo, e sigo direto para o meu quarto, no terceiro andar. É claro que tropecei algumas vezes em minhas próprias pernas e assim que entrei no cômodo livrei-me das minhas roupas, largando-as em qualquer lugar. E praticamente caindo de embriaguez, me jogo na cama, apagando completamente como em todas as noites, e a escuridão me traz a paz que preciso.

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