Daniel
— Senhor Ávila, eu faço o meu trabalho de modo impecável. Nunca tive qualquer reclamação sobre meus atos e nunca perdi dinheiro para nenhuma das empresas que representei, então…— Foda-se as empresas que representou ou representa, Moris! A minha empresa eu administro como eu quero e você está demitido! — Vocifero, virando as costas para sair da sala.— Não pode me demitir, Daniel Ávila! — Ele rosna, me fazendo olhar para sua cara de puta. Sorrio.— Eu não só posso, como já o demiti, senhor Moris. Por favor, passe no setor de RH para receber as suas contas. Eu não o quero aqui na minha empresa nem mais minuto! E você, —Aponto para Jonas que até o momento não disse uma palavra. — Tem vinte e quatro horas para encontrar outro administrador para essa conta, e vê se não erra dessa vez, Jonas, ou será o próximo a ir para o olho da rua! — Saio batendo a porta da sala de reuniões e volto imediatamente para o meu escritório.— Senhor Ávila, me desculpe importuná-lo, mas…— O que você quer, Estela? — questiono rigidamente, interrompendo-a e sem olhá-la, abro a porta do meu escritório, e entro logo em seguida.— É a sua mãe, ela não poderá ir a reunião e...— Peça para o Alfred para resolver isso para mim, Estela. Eu não tenho tempo.— Mas, Alfred é apenas um motorista, e… — Olho para minha secretária e pelo visto consegui lhe passar o meu olhar frio e inquisidor, porque ela parou de falar bem na frase na metade do caminho. — E-eu v-vou avisar ao Alfred agora mesmo, senhor Ávila. Com licença! — Faça isso! — Ela assente e baixa a cabeça, saindo rapidamente da sala, fechando a porta atrás de si. Solto uma respiração profunda tentando controlar toda a agitação do meu corpo e quando já estou calmo o suficiente volto para o meu trabalho e mergulho nele o dia inteiro. Já são quase quatro da tarde quando dona Amélia, minha mãe liga para mim.— Mãe? Fala logo, estou meio ocupado aqui.— Querido, o seu pai não está muito bem esses dias. — Imediatamente me ajeito em cima da cadeira, um tanto preocupado.— O que ele tem?— Não sei, querido. Estou indo para clínica com fazer alguns exames e… — Ela hesita.— E?— Christopher, vai para sua casa.— O quê? Mãe, eu não posso…— Sim você pode, Dani! É só por alguns dias, Daniel, só até seu pai se recuperar. — Bufo audivelmente.— Quantos dias?— Eu não sei, filho! Assim que ele estiver bem, irei buscá-lo. E a reunião da escola do Cris? — Procura saber.— Não poderei ir.— Como assim não vai, filho? Daniel, Cris está com problemas na escola, ele precisa da nossa ajuda!— Alfred resolverá isso por mim.— Daniel Ávila, até quando fugirá das suas responsabilidades? — Escuto o som da sua respiração do outro lado da linha. — Já se passaram seis anos, filho. — Ela sussurra e eu fecho os olhos.— Mãe, não! Eu não posso! Não estou preparado, não ainda!— Quando então, Daniel? O tempo está passando e o seu filho está crescendo, e ele precisa de você.— Mãe eu… tenho que desligar. Tenho uma reunião em alguns minutos — minto.— Daniel, não se atreva…— Tchau mãe, eu te amo! — Encerro a ligação e largo o aparelho de qualquer jeito em cima dos papéis em minha mesa. Levo minha cabeça as mãos e esfrego o meu rosto, tentando respirar melhor. Ter o Cris em minha casa não estava em meus planos. O garoto em tudo se parece com a mãe. Seus olhos, a boca, nariz, cabelos… tudo nele me lembra a Suzy e por esse motivo não suporto olhá-lo e lembrar que um dia ele tirou de mim a pessoa que eu mais amava no mundo. Por causa dele ela me deixou e eu não posso… eu não consigo chegar perto dele. Simplesmente não tenho forças para fazer isso. Fitar aquele menino me traz lembranças dolorosas, o momento da sua partida. Em seis anos, essa seria a minha primeira aproximação de verdade do garoto. Engulo em seco e volto a olhar as horas. Alfred já deve estar levando o garoto para casa agora. Com um suspiro alto, pego o telefone e ligo para a minha secretária.— Sim, senhor Ávila! — Escuto a voz de Estela solicita ao telefone.— Preciso de uma babá para o meu filho. Uma que fique por tempo integral na minha casa.— O senhor quer dizer… agora? — Não, Estela, para ontem! — rosno sarcasticamente.— Ah! — Ela diz desconcertada. — Desculpe, senhor Ávila, irei providenciar agora. — Desligo o telefone e tento focar em terminar o meu trabalho. Arrasto o expediente até perto das onze da noite e só então saio, deixando as luzes apagadas. No imenso saguão aceno para o segurança e do lado de fora, entro no meu carro, e o meu motorista me leva para o Club Bar, um barzinho que fica na orla marítima. Assim que entro no estabelecimento, sento-me próximo ao balcão e peço uma bebida, seguida de outra e mais outra. Em algum momento uma ruiva se aproxima e inicia uma conversa maliciosa. Suas mãos cheias de dedos acariciam o meu peito por cima da camisa, e inevitavelmente cobiço o seu corpo. A garota tem um jeitinho sedutor, é linda e gostosa pra caramba, Desde a morte da minha esposa decidi não me apegar a outra mulher. Eu não suportaria mais uma dor como a que passei e jamais conseguiria me apaixonar outra vez, então escolhi viver o amor do passado e ninguém nunca, jamais a substituirá. Suzy é única. Ela sempre será a única mulher que alcançou o meu coração. As outras são apenas como meus brinquedos que uso quando e como quero, e as abandono após enjoar. O amor não é para mim. Após mais alguns copos de uísque, saio do bar com a garota que nem sequer sei o nome. Não me interessa, não importa. Quero o que ela tem para me dar e lhe darei o que quer de mim, e isso é tudo. Depois, cada um segue o seu caminho. Chego em casa depois de uma e trinta da madrugada e encontro a casa em plena escuridão. Com certeza todos já estão dormindo, e sigo direto para o meu quarto, no terceiro andar. É claro que tropecei algumas vezes em minhas próprias pernas e assim que entrei no cômodo livrei-me das minhas roupas, largando-as em qualquer lugar. E praticamente caindo de embriaguez, me jogo na cama, apagando completamente como em todas as noites, e a escuridão me traz a paz que preciso.Isabelly Não acredito que Jonas me convenceu a fazer isso! Resmungo internamente. Se ele sonhasse o quanto estou sobrecarregada com as contas das empresas japonesas e da França, e agora mais essa! Bufo e me sento na cadeira da mesa de sempre na minha sorveteria preferida e peço o meu habitual sorvete de baunilha que eu amo! Enquanto aguardo o meu pedido, olho rapidamente através da janela de vidro transparente de onde posso observar as pessoas nas ruas. Olho as horas em meu relógio de pulso e vejo que já passa das sete da noite. Irritada, tiro o celular de dentro da minha bolsa para ligar para o meu noivo desconectado do mundo. Para a minha completa frustração, a ligação cai direto na caixa postal.— Onde está você? — Decido deixar uma mensagem, mantenho a minha voz calma. Contudo, a minha paciência já estou no meu limite com suas gafes e atrasos. Enfim, mesmo após um dia corrido no escritório, marquei com o Greg aqui na sorveteria às seis e vinte, e até agora nada. Nenhuma mensagem,
Isabelly — Desculpe, Belly! Eu juro que tentei chegar a tempo, mas fiquei preso em uma reunião que só acabou a poucos minutos. Onde você está, amor? — O seu tom carinho me faz suspirar e me repreendo pela explosão sem cabimento, a final, ele não tem culpa.— Estou em casa! — respondo mais calma agora e me acomodo no sofá camurçado, vermelho púrpura.— Estou te ligando para avisar que não poderei ir para sua casa hoje. Te vejo amanhã? — O quê? Como assim?— Greg, nós precisamos conversar! — insisto. Ele solta uma respiração audível do outro lado.— Amanhã, querida, eu prometo! — Puxo uma respiração consternada e tento me conformar.— Promete que não passa de amanhã, Greg?— Eu prometo! Olha só, vou pedir para minha secretária cancelar qualquer compromisso de amanhã. Melhor assim? — Inevitavelmente abro um grande sorriso.— Bem melhor assim, meu amor!— Até amanhã! Eu te ligo, tudo bem?— Vou ficar esperando. Eu te amo, Greg!— Eu também. — E encerra a ligação junto com a nossa convers
Isabelly — V- vocês se co-conhecem? — Brito gagueja uma pergunta. Ele deve estar em pânico. Isso sempre acontece quando ele está nervoso ou em pânico. Contudo, eu não consigo tirar os meus olhos de cima do ogro a minha frente. Sério, o homem é estupidamente lindo, gostoso, forte, elegante e esses olhos? Caramba, são os mais lindos que já vi! A boca tem um tom de vermelho que chega a dar vontade de morder. Droga, e esses cabelos? Negros, lisos e cheios. As minhas mãos coçam de vontade de tocá-los, de puxá-los e… Opa! Freio aí, dona Isabelly! Freio e foco!— O que você faz aqui? — O ogro rosna de maneira rude e sem tirar seus olhos de mim. Entretanto, enfrento o seu olhar.— Desculpe, senhor Ávila! Essa é Isabelly, a nova administradora da sua conta. — Seus olhos demostram a surpresa ao receber tal informação. Seus olhos verdes-escuros passeiam rapidamente por meu corpo, começando na cabeça até os pés e voltam todo o trajeto encontrando os meus olhos outra vez.— Imagino que trouxe um
Daniel.— Oi, Alex! — falo mal-humorado para o meu amigo.— Uau, o dia mal amanheceu e você já está com esse humor canino?— Como está Amanda? — Ignoro o seu comentário irônico. Alex Village é uma cara formidável, eu o conheço a mais de sete anos. Na verdade, nos conhecemos em mais um daqueles eventos da alta sociedade onde grandes empresários de vários ramos se encontram e trocam experiências, ou acabou se associando a outros setores. Através dele conheci Nick o irmão de Amanda que além de ser um excelente profissional na área de fotografias também trabalha para mim.— Vai me contar por que está assim? — inquire.— Acabei de fazer uma nova contratação.— O novo administrador para Drin'ks Drive?— Isso.— E não gostou da nova contratação?— Gostei até mais do que deveria.— Não entendi, onde está o problema?— Ela é atrevida demais para o meu gosto.— Ela? — Faço um gesto positivo para ele e o idiota gargalha bem na minha cara. Bufo contrariado.— O problema é que a conheci por aciden
DanielDois dias depois…Olho para o relógio com impaciência mais uma vez. Odeio atrasos e odeio ainda mais ter que esperar! O garçom vem pela segunda vez a mesa e pergunta se desejo fazer o meu pedido.— Ainda não, estou aguardando uma pessoa e assim que ela chegar faremos os pedidos — digo com um tom seco. O rapaz assente e se afasta da mesa sem graça. No mesmo instante a uma mulher com um vestido branco e colado ao corpo entra no estabelecimento. Observo atentamente a barra do vestido acima do joelho, deixando a mostra as pernas lindas e torneadas. Meus olhos sobem pelo seu corpo e paro nos cabelos soltos, caindo como uma cascata dourada pouco abaixo dos seus ombros. Os óculos escuros escondem o azul dos seus olhos e ela caminha em minha direção. Contudo, não pude deixar de observar o quanto está ofegante e os seus seios sobem e descem com uma respiração descompassada. Ela se senta à minha frente e tira os seus óculos, me olha nos olhos e antes que diga qualquer coisa eu falo:— Es
Isabelly.Sentir seu corpo duro e firme bater contra o meu e suas mãos grandes, e quentes apertar a minha cintura. A sua respiração quente afagou a minha pele e Deus, sinto que estou derretendo de tão quente que estou ficando. Por fim, o perfume cítrico invadiu os meus sentidos, fazendo o meu coração bater mais forte dentro do meu peito. Suas írises azuis parecem querer desvendar a minha alma. Isso é aterrorizante, embora eu nem tenha tantos segredos assim. Contudo, ofego quando os seus olhos encontram a minha boca e se mantém ali por longos e desejosos segundos. Eu não deveria, não posso na verdade, mas devo confessar, nesse momento estou ávida por um beijo seu que está prestes a acontecer. Droga, Amanda, você está noiva e deveria se afastar! A voz da razão aponta, mas, a merda toda é que eu quero muito esse beijo, quero sentir o seu gosto na minha boca, na minha língua. Ou, Deus, que maluquice é essa que eu estou pensando? Rogo mentalmente. No entanto, somos interrompidos por uma bu
Isabelly Eu entendo que o meu noivo é um homem extremamente ocupado e entendo a sua dificuldade em conversar, em se abrir. Entendo o fato de ele ser um cara importante, sempre solicitado, mas porra, parece que só existe eu nessa relação, parece que só eu me preocupo com o contato, o carinho, a atenção e essa droga de jantar! Respiro fundo e largo o telefone em cima da minha mesa. Eu realmente espero que esteja lá Greg, porque com certeza toda a família estará e se você não aparecer, será a maior de todas as decepções da minha vida. Penso. Saio do meu escritório quando tudo já está escuro e dirijo pelo trânsito caótico do Rio, me sentindo frustrada. Longos minutos depois, estou no meu apartamento. No banheiro, livro-me das minhas roupas e tomo um banho demorado. Debaixo d’água, os meus pensamentos são invadidos por um certo senhor ogro e droga, ainda consigo sentir o seu hálito quente em minha pele, a boca sedenta pelo beijo não dado, o seu toque firme nas minhas carnes.— Ou, merda!
Daniel— Maluca, neurótica! — Resmungo enquanto volto dentro do restaurante. Rio sem vontade. — Só pode ser uma louca pensar que eu fiz aquilo de propósito. — Pago a conta e vou para o meu carro. Dirijo direto para a vinícola, pois preciso acompanhar de perto o andamento das coisas por lá. Em meia hora estou passando com meu carro por uma comprida estrada de barro ladeada por incontáveis vinhedos dos dois lados. Uma imensidão em hectares de pés de uvas que vão além de onde a vista consegue alcançar. Fito com muito orgulho essa conquista e penso que ela só existe por causa dela... Susy. Foi através da minha esposa que adquiri o bom gosto pelo vinho. Ela sim, era expert em degustar os melhores e foi por isso que investi no ramo dos vinhos. Comprei as terras, contratei lavradores e instalei a vinícola apenas para presenteá-la em nosso aniversário de casamento. O que me machuca é saber que ela nem chegou a conhecer esse lugar, isso só ia acontecer um mês depois do nascimento do Cris, mas