Daniel
Olho para o maldito jornal outra vez e não acredito no comentário que o cretino fez durante a entrevista. Puto da vida, jogo o papel em cima da minha mesa e a porta do meu escritório se abre no mesmo instante. Jonas Brito, meu assessor adentra a minha sala e seus olhos cautelosos me encaram por trás da armação dos óculos de grau, acompanhando cada gesto meu, ainda sentado em minha cadeira de couro negro. Enquanto giro-a lentamente de um lado para o outro e o meu dedo indicador roça a barba por fazer, demonstrando a minha paciência que já está no limite.
— Mandou me chamar, senhor Ávila? — O tom de voz cauteloso, me faz fechar as mãos em punho.— Sente-se! — ordeno com um tom seco e duro. O rapaz engole em seco e se senta na cadeira de frente da minha mesa, sem desgrudar os seus olhos de cima de mim. Ele sabe que não tolero erros e principalmente, sabe o quanto sou exigente com os meus empregados.— Aconteceu alguma coisa, senhor? — inquire com voz levemente trêmula. Em resposta, jogo o jornal em sua direção. Ele o segura, mas ainda não compreende o que pode ter me levado ao limite.— Leia! — Dou outra ordem fria. Ele limpa a garganta, se ajeita em cima da cadeira e abre o jornal na primeira página, fixando os seus olhos nele.— Eu não entendo, senhor Ávila — sibila. — O que você não entendeu, Jonas?— É que... não foi isso que combinei com Adrian Moris. Ele saiu daqui com as palavras decoradas, sabia exatamente o que falar e o que não falar. Não entendo por que ele disse isso. — Inclino-me sobre o tampo da mesa, apoiando as minhas mãos sobre a mesma e chego mais perto do meu assessor.— Quero uma reunião com esse imbecil ainda hoje. Quero saber por que falou sobre o projeto antes do lançamento de marketing e pior, antes de chegar ao mercado. O que é isso, Jonas? — questiono furioso, puxando o jornal das suas mãos e o amasso bem na sua frente. — Espionagem, porra? Querem derrubar o meu nome, o meu império? — rujo em fúria.— Nã-não, s-senhor Ávila! Nunca! Isso jamais! — Fico de pé, agigantando-me diante do homem e este parece se encolher em cima da cadeira.— Ligue para Adrian agora, quero aquele idiota aqui em dez minutos! — berro alto. Jonas levanta da cadeira em um rompante e sai da sala como um raio. Volto a sentar-me na minha cadeira e giro a mesma na direção das paredes de vidro. Daqui posso ver todo o Rio de Janeiro quase que inteiro. A imensa e poluída cidade, o seu trânsito caótico. Tudo parece tão pequenino e tão distante de mim. Respiro fundo e me deixo levar para dias felizes que já não tenho mais. (Memórias...)— Querida, já cheguei! — falo assim que entro na sala do apartamento que acabamos de comprar. Faz cinco meses que estamos casados e posso afirmar que somos o casal mais feliz desse mundo. Eu a amo tanto que chega a doer dentro do meu peito. Largo a pequena valise em cima do sofá da sala e afrouxo a gravata de seda em meu pescoço. Suzy surge na sala com seu lindo sorriso de menina nos lábios. Ela está usando um vestido justo em sua cintura e rodado na parte de baixo. Enquanto caminho em sua direção, abro os dois primeiros botões da minha camisa e me aproximo-me da minha linda esposa, levando as mãos a sua cintura.— Estava contando os minutos para você chegar — confessa, acariciando os meus cabelos. Eu a beijo de leve e inalo o seu cheiro suave de flores do campo, sentindo-me em casa outra vez.— Passei o dia inteiro pensando em você, meu amor. Foram horas terríveis até chegar aqui. — Seu sorriso cresce e ela morde o lábio inferior.— Ount, sentiu saudades? — Ela praticamente geme a indagação, fazendo o meu coração bater feito um louco.— Muita. — Tomo sua boca na minha em um beijo sôfrego e cheio de saudades.— Tenho uma surpresa para você… Sou despertado pelo barulho do telefone em cima da minha mesa e bufo audivelmente, atendendo logo em seguida.— Fala, Estela. — Doutor Ávila, o senhor Brito pediu para avisá-lo que o senhor Moris já está vindo para a empresa. — Minha secretária avisa.— Prepare a sala de reuniões. E, não quero ser interrompido por ninguém enquanto estiver com ele — peço.—Sim, senhor Ávila! Só para lembrar, o senhor tem uma reunião na escola do pequeno Christopher. — Fecho os olhos e esfrego o meu rosto.— Não vou poder ir, Estela. Ligue para minha mãe e peça para ela resolver essa pendência, por favor!— Mas, senhor Á… — Desligo o telefone, porque não quero ouvir as suas insistências. Desde que Suzy morreu naquela m*****a sala de parto, entreguei os cuidados de Christopher aos meus pais, e, embora eles insistam que eu me aproxime do meu filho, eu não consigo, não tenho forças para olhá-lo nos olhos, nem mesmo para ouvir o som da sua voz. Sempre estou empenhado no meu trabalho. Quando saio de casa ele ainda está dormindo e quando volto o encontro dormindo também, assim, mantenho a distância que preciso dele. Me levanto da cadeira e pego o outro jornal que está dobrado sobre a mesinha de centro, e saio da sala sem olhar para minha secretária em sua mesa. Sigo direto para sala de reuniões, abro a porta e vejo a causa da minha dor de cabeça sentado em uma das cadeiras da imponente mesa de reuniões mexendo em seu celular distraidamente. Fito Jonas, que ao perceber minha presença logo se põe de pé.— Senhor Ávila! — Ele diz com voz estremecida, chamando a atenção de Moris, que apressadamente guarda o celular no bolso da calça e levanta-se da sua cadeira. Ele abre um sorriso falso me estendendo uma mão.— Senhor Daniel Ávila, que imenso prazer! Gostou da nossa entrevista? — inquire. O imbecil não esconde a sua felicidade ao tocar no assunto.— Fala dessa merda aqui? — rosno, jogando o jornal em sua cara. Ele segura as folhas que caem desordenadas e assisto o seu sorriso desaparecer do rosto quadrado e empalidece em seguida. — Que porra você pensou que estava fazendo divulgando um produto que nem se quer lhe dei autorização para ser citado?! — Ele balbucia algumas vezes.— Senhor Ávila, é tudo uma questão de marketing…— Marketing? — rosno. —Marketing, senhor Moris? — Chego tão perto do seu rosto, que posso sentir a sua respiração ofegante bater em minha pele e mantenho os meus olhos formes nos seus. — Não sei se percebeu, mas aqui nessa porra toda quem manda e desmanda sou eu! E se eu mandar você respirar, você respira, senhor Moris! Se eu ordenar que pule de um prédio de vinte quatro andares, você pula! Então não me venha falar de marketing, porque eu não me lembro de ter lhe dado qualquer autorização para isso. — Seus olhos vacilam e ele se afasta um pouco de mim, ajeitando o seu terno em seu corpo e respira fundo.Daniel— Senhor Ávila, eu faço o meu trabalho de modo impecável. Nunca tive qualquer reclamação sobre meus atos e nunca perdi dinheiro para nenhuma das empresas que representei, então…— Foda-se as empresas que representou ou representa, Moris! A minha empresa eu administro como eu quero e você está demitido! — Vocifero, virando as costas para sair da sala.— Não pode me demitir, Daniel Ávila! — Ele rosna, me fazendo olhar para sua cara de puta. Sorrio.— Eu não só posso, como já o demiti, senhor Moris. Por favor, passe no setor de RH para receber as suas contas. Eu não o quero aqui na minha empresa nem mais minuto! E você, —Aponto para Jonas que até o momento não disse uma palavra. — Tem vinte e quatro horas para encontrar outro administrador para essa conta, e vê se não erra dessa vez, Jonas, ou será o próximo a ir para o olho da rua! — Saio batendo a porta da sala de reuniões e volto imediatamente para o meu escritório.— Senhor Ávila, me desculpe importuná-lo, mas…— O que você q
Isabelly Não acredito que Jonas me convenceu a fazer isso! Resmungo internamente. Se ele sonhasse o quanto estou sobrecarregada com as contas das empresas japonesas e da França, e agora mais essa! Bufo e me sento na cadeira da mesa de sempre na minha sorveteria preferida e peço o meu habitual sorvete de baunilha que eu amo! Enquanto aguardo o meu pedido, olho rapidamente através da janela de vidro transparente de onde posso observar as pessoas nas ruas. Olho as horas em meu relógio de pulso e vejo que já passa das sete da noite. Irritada, tiro o celular de dentro da minha bolsa para ligar para o meu noivo desconectado do mundo. Para a minha completa frustração, a ligação cai direto na caixa postal.— Onde está você? — Decido deixar uma mensagem, mantenho a minha voz calma. Contudo, a minha paciência já estou no meu limite com suas gafes e atrasos. Enfim, mesmo após um dia corrido no escritório, marquei com o Greg aqui na sorveteria às seis e vinte, e até agora nada. Nenhuma mensagem,
Isabelly — Desculpe, Belly! Eu juro que tentei chegar a tempo, mas fiquei preso em uma reunião que só acabou a poucos minutos. Onde você está, amor? — O seu tom carinho me faz suspirar e me repreendo pela explosão sem cabimento, a final, ele não tem culpa.— Estou em casa! — respondo mais calma agora e me acomodo no sofá camurçado, vermelho púrpura.— Estou te ligando para avisar que não poderei ir para sua casa hoje. Te vejo amanhã? — O quê? Como assim?— Greg, nós precisamos conversar! — insisto. Ele solta uma respiração audível do outro lado.— Amanhã, querida, eu prometo! — Puxo uma respiração consternada e tento me conformar.— Promete que não passa de amanhã, Greg?— Eu prometo! Olha só, vou pedir para minha secretária cancelar qualquer compromisso de amanhã. Melhor assim? — Inevitavelmente abro um grande sorriso.— Bem melhor assim, meu amor!— Até amanhã! Eu te ligo, tudo bem?— Vou ficar esperando. Eu te amo, Greg!— Eu também. — E encerra a ligação junto com a nossa convers
Isabelly — V- vocês se co-conhecem? — Brito gagueja uma pergunta. Ele deve estar em pânico. Isso sempre acontece quando ele está nervoso ou em pânico. Contudo, eu não consigo tirar os meus olhos de cima do ogro a minha frente. Sério, o homem é estupidamente lindo, gostoso, forte, elegante e esses olhos? Caramba, são os mais lindos que já vi! A boca tem um tom de vermelho que chega a dar vontade de morder. Droga, e esses cabelos? Negros, lisos e cheios. As minhas mãos coçam de vontade de tocá-los, de puxá-los e… Opa! Freio aí, dona Isabelly! Freio e foco!— O que você faz aqui? — O ogro rosna de maneira rude e sem tirar seus olhos de mim. Entretanto, enfrento o seu olhar.— Desculpe, senhor Ávila! Essa é Isabelly, a nova administradora da sua conta. — Seus olhos demostram a surpresa ao receber tal informação. Seus olhos verdes-escuros passeiam rapidamente por meu corpo, começando na cabeça até os pés e voltam todo o trajeto encontrando os meus olhos outra vez.— Imagino que trouxe um
Daniel.— Oi, Alex! — falo mal-humorado para o meu amigo.— Uau, o dia mal amanheceu e você já está com esse humor canino?— Como está Amanda? — Ignoro o seu comentário irônico. Alex Village é uma cara formidável, eu o conheço a mais de sete anos. Na verdade, nos conhecemos em mais um daqueles eventos da alta sociedade onde grandes empresários de vários ramos se encontram e trocam experiências, ou acabou se associando a outros setores. Através dele conheci Nick o irmão de Amanda que além de ser um excelente profissional na área de fotografias também trabalha para mim.— Vai me contar por que está assim? — inquire.— Acabei de fazer uma nova contratação.— O novo administrador para Drin'ks Drive?— Isso.— E não gostou da nova contratação?— Gostei até mais do que deveria.— Não entendi, onde está o problema?— Ela é atrevida demais para o meu gosto.— Ela? — Faço um gesto positivo para ele e o idiota gargalha bem na minha cara. Bufo contrariado.— O problema é que a conheci por aciden
DanielDois dias depois…Olho para o relógio com impaciência mais uma vez. Odeio atrasos e odeio ainda mais ter que esperar! O garçom vem pela segunda vez a mesa e pergunta se desejo fazer o meu pedido.— Ainda não, estou aguardando uma pessoa e assim que ela chegar faremos os pedidos — digo com um tom seco. O rapaz assente e se afasta da mesa sem graça. No mesmo instante a uma mulher com um vestido branco e colado ao corpo entra no estabelecimento. Observo atentamente a barra do vestido acima do joelho, deixando a mostra as pernas lindas e torneadas. Meus olhos sobem pelo seu corpo e paro nos cabelos soltos, caindo como uma cascata dourada pouco abaixo dos seus ombros. Os óculos escuros escondem o azul dos seus olhos e ela caminha em minha direção. Contudo, não pude deixar de observar o quanto está ofegante e os seus seios sobem e descem com uma respiração descompassada. Ela se senta à minha frente e tira os seus óculos, me olha nos olhos e antes que diga qualquer coisa eu falo:— Es
Isabelly.Sentir seu corpo duro e firme bater contra o meu e suas mãos grandes, e quentes apertar a minha cintura. A sua respiração quente afagou a minha pele e Deus, sinto que estou derretendo de tão quente que estou ficando. Por fim, o perfume cítrico invadiu os meus sentidos, fazendo o meu coração bater mais forte dentro do meu peito. Suas írises azuis parecem querer desvendar a minha alma. Isso é aterrorizante, embora eu nem tenha tantos segredos assim. Contudo, ofego quando os seus olhos encontram a minha boca e se mantém ali por longos e desejosos segundos. Eu não deveria, não posso na verdade, mas devo confessar, nesse momento estou ávida por um beijo seu que está prestes a acontecer. Droga, Amanda, você está noiva e deveria se afastar! A voz da razão aponta, mas, a merda toda é que eu quero muito esse beijo, quero sentir o seu gosto na minha boca, na minha língua. Ou, Deus, que maluquice é essa que eu estou pensando? Rogo mentalmente. No entanto, somos interrompidos por uma bu
Isabelly Eu entendo que o meu noivo é um homem extremamente ocupado e entendo a sua dificuldade em conversar, em se abrir. Entendo o fato de ele ser um cara importante, sempre solicitado, mas porra, parece que só existe eu nessa relação, parece que só eu me preocupo com o contato, o carinho, a atenção e essa droga de jantar! Respiro fundo e largo o telefone em cima da minha mesa. Eu realmente espero que esteja lá Greg, porque com certeza toda a família estará e se você não aparecer, será a maior de todas as decepções da minha vida. Penso. Saio do meu escritório quando tudo já está escuro e dirijo pelo trânsito caótico do Rio, me sentindo frustrada. Longos minutos depois, estou no meu apartamento. No banheiro, livro-me das minhas roupas e tomo um banho demorado. Debaixo d’água, os meus pensamentos são invadidos por um certo senhor ogro e droga, ainda consigo sentir o seu hálito quente em minha pele, a boca sedenta pelo beijo não dado, o seu toque firme nas minhas carnes.— Ou, merda!