IsabellyNúmero desconhecido:Isabelly, nós precisamos conversar.Estou a quase vinte minutos olhando para essa mensagem. O número é desconhecido, mas eu sei exatamente quem é a pessoa do outro lado e por um momento de raiva apenas bloqueio o contato e largo o celular em cima da cama. Entro no banheiro, tomo um banho demorado e me pergunto o que mais esse infeliz teria para me dizer. Porra ele me deixou para trás e eu já descobri toda a sua safadeza. O que ele teria para me dizer? Ele acha que existe uma explicação para o que me fez? Pior ainda, ele acredita que existe perdão? Pois não tem! Volto para o quarto e escolho um short jeans, uma blusa básica e um par de rasteirinhas para uma tarde completamente diferente. Me olho no espelho fazendo uma careta para look nada sofisticado, mas sorrio pensando na tarde divertida que terei com o Cris na casa de Daniel. Tenho certeza de que curtirei cada minuto com o meu pequeno amigo. De verdade, estou ansiosa para entregar-lhe o meu presente. E
Isabelly — Vem se esconder comigo, Sorvetinho. — Mas o seu avô já vai terminar a contagem.— Então vem logo! — Seguro a sua mão e Cris me leva para uma portinha abaixo da escadaria. — Entra logo! — Ele pede e eu faço, mas para a minha surpresa encontro o seu pai dentro de um ambiente apertado. — Esperem aqui, eu volto logo. — O que? Não! Meu subconsciente protesta, mas é tarde demais. Uma troca de olhares e minha pulsação vai a mil. Desvio os meus olhos e foco nas coisas aqui dentro, mas está difícil respirar e nem é por causa do aperto, ou pelo cheiro dos produtos e sim pela sua presença tão próxima. Os minutos passam, mas nada acontece, ninguém aparece e sem conseguir desviar os meus olhos, fito o homem lindamente despojado usando uma roupa casual e chinelos de dedo. Seus cabelos estão bagunçados e a barba para fazer. Inevitavelmente cenas de nós dois em Portugal me invadem e eu ofego. Droga, eu preciso sair daqui antes que... Ao descer do pequeno balcão me desequilibro e cá estou
Isabelly — O que você faz aqui? — O tom rude e frio me causa um arrepio na espinha e automaticamente sinto uma invasora. Onde eu estava com a cabeça quando entrei nesse quarto? É claro que invadi a sua privacidade.— Eu... — balbucio.— Estamos montando o trem, Papai, ele não é lindo? — Cris sibila empolgado, mas o seu pai não tira os seus olhos de cima de mim.— Eu não te dei permissão para entrar em meu quarto. — Ele rosna e eu engulo em seco.— Me desculpe, Daniel! Eu não tinha a intensão de...— Saia agora! — Ele ordena me interrompendo. Eu simplesmente puxo a respiração e tento me acalmar, mas saio do quarto e desço as escadas apressada. Pego a minha bolsa em cima do aparador e ando em direção a porta.— Isabelly, o que houve? — Dona Laura inquire assim que me ver.— Eu estou indo dona Laura. Me desculpe, eu realmente preciso ir! — Viro-me para porta e seguro a maçaneta.— Foi o Daniel? Ele disse alguma coisa que... — Não foi nada. — Saio da casa e ando apressada pela passarel
Daniel.Depois que Isabelly sair correndo do meu quarto, Cris simplesmente me encarou com raiva e saiu logo atrás dela sem dizer nada. Puxo uma respiração profunda e olho o brinquedo montado pelo chão. Um trem antigo correndo a todo vapor pelos trilhos e túneis. O controlo remoto está largado perto de uma pequena árvore artificial. É realmente um brinquedo fascinante. Penso. Solto outra respiração audível e olho para o cômodo sentindo-me desolado e invadido de uma forma brutal. É como se a minha alma tivesse sido rasgada ao meio e todas as suas doces lembranças violadas. Eles nunca entenderão que esse espaço sempre foi e será só meu e dela. O meu mundo particular onde vivo os melhores momentos com ela. Deveria ser imaculado, intocado, por isso nunca permiti que mulher alguma entrasse aqui. Esfrego o rosto entre uma respiração e outra. Mas bastou aquela mulher petulante entrar no meu caminho, para invadir o meu espaço sem a minha permissão. Garota atrevida, petulante e birrenta. Pego o
Daniel— Débora, pode nos deixar a sós? — peço entrando no quarto. Ela assente e sai. Cris permanece deitado de bruços na cama e olhando pela janela com as mãozinhas por baixo do queixo. Forço um sorriso pra ele. — E aí rapaz, como você está? — Início uma conversa, mas ele permanece na mesma posição e não me responde. — Eu estive pensando, o que você acha de um banho de piscina? — Ele se vira para mim, mas permanece sério.— No clube? — meu sorriso se amplia.— Por que em um clube se temos uma piscina grande aqui só pra nós dois? — Ele volta a se deitar e olhar pela janela. Bufo mentalmente e me sento ao seu lado.— Não tem graça. — Cris resmunga.— Bom, nesse caso podemos ir a um clube já que você quer tanto. — Dou de ombros. Cris se senta na cama e abre um sorriso grande como eu gosto e só com esse gesto eu já ganhei o meu dia.— Squach. — diz.— O que?— Vamos para o Squach.— Tá, tudo bem. Vai se vestir, eu vou preparar algumas coisas pra levar. — O menino pula para fora da cama e
Daniel — Eu não queria agir daquela maneira com você, Isa. Eu juro que não, mas me senti invadido...— Você ainda a ama? — Sua indagação me deixa sem ação, então eu me afasto para olhá-la.— Sim... quer dizer... eu não sei, Isa. Eu... não sei! — Seus olhos dançam fitando-me.— Isso não é amor, Daniel, é obsessão e é doentio — diz com raiva, porém, a sua voz está embargada, e a formação de algumas lágrimas não derramadas fazem os seus olhos brilharem. — Ela te deixou! — Exclama e eu me pergunto de onde porra ela tirou essa sandice. — Ela te abandonou com uma criança pequena. Como pode amá-la por todos esses anos?— Você não sabe do que está falando, Isabelly! — rosno ríspido, mas em tom baixo. A garota me encara silenciosa e eles tentam me desnudar, me invadir, descobrir os meus segredos.— Então me conte. Diga-me que estou enganada. Eu estou cansada de ser tratada como uma flor delicada em um momento e no outro sou tratada como um capacho seu. — Ouvir isso da sua boca me mata por den
Bônus de Christopher Ávila.Desde que nasci escuto minha avó dizer que o meu pai me ama, que ele tem muitos problemas e que por isso nunca se aproximou de mim. Eu tenho só seis anos, não vivi muita coisa na vida, mas posso dizer que esperei a minha vida inteira por um pouco da sua atenção, um pouquinho do seu tempo para mim, uma palavra, um olhar de pai... Quando conheci a Sorvetinho na sorveteria, ela foi um amor comigo mesmo não me conhecendo e eu pensei que nunca mais a veria de novo. Até porque eu a escutei dizer que o meu pai era um ogro. Não sei o que isso quer dizer, mas achei engraçado ouvi-la chamá-lo assim. A Sorvetinho é bem brava e rela responde ao meu pai como uma pirralha birrenta. Vovô me explicou que ogro é um monstro malvado que só existe nos filmes de fantasia. Eu não acho que ele seja um monstro. Penso que o meu papai precisa de carinho, porque ele sente muita falta da mamãe. A mamãe era muito bonita. Eu sei por que eu consegui uma foto dela para mim. Um dia quando
Isabelly Mãos trêmulas, pernas bambas, coração agitado e angustiado no peito. Foi exatamente assim que saí do banheiro do balneário, mas acima de tudo, mantive-me firme em cima do salto e com uma pouse elegante, a final de contas ninguém precisava saber o que realmente aconteceu lá dentro. Se estou satisfeita de ter descoberto os seus segredos mais obscuros? Estou satisfeitíssima! Principalmente de saber que Daniel não é tão indiferente assim a mim. O que me incomoda é constatar que ele também mexe comigo. Seria tão simples nos entregarmos e darmos uma chance aos nossos corações quebrados, porém, antes de qualquer passo ele precisa aceitar que precisa de ajuda e não serei eu o seu bote salva vidas. Não, ele precisa da ajuda de um profissional. Seis longos anos. Penso enquanto caminho até a minha amiga e o seu marido. Seis anos vivendo um amor impossível, amando uma pessoa que nem está mais entre nós, um fantasma. De forma alguma isso é normal. Eu sei o que vi em Minas diante daquele