Claire
Paris, 2018.
A noite caía suavemente sobre a Cidade das Luzes, derramando sombras longas pelas ruas estreitas e antigas. Eu sentia o frio úmido penetrando minha pele, mas meu coração ardia com uma inquietude que nenhuma estação poderia acalmar. Caminhava apressada pelo Boulevard Saint-Germain, com meus pensamentos dispersos como as folhas de outono aos meus pés.
A galeria onde eu costumava buscar inspiração estava a poucos metros de distância, e eu ansiava pelo refúgio silencioso que as pinturas ofereciam. Eu precisava escapar das memórias que me assombravam, das incertezas que pendiam sobre meu futuro como uma espada invisível. As ruas de Paris, embora familiares, pareciam mais solitárias naquela noite.
Entrei na galeria, e o cheiro familiar de tinta e madeira velha me acolheu imediatamente. Passei pelas obras conhecidas, cada pincelada contando uma história, mas naquela noite, uma sensação de antecipação rastejava pela minha mente. Meus olhos começaram a percorrer ao redor. Eu não sabia exatamente o que estava procurando, mas sentia que algo – ou alguém – estava prestes a cruzar meu caminho.
O som suave dos meus passos ecoava pelas paredes da galeria vazia. As luzes difusas criavam sombras dançantes nas pinturas, conferindo-lhes uma vida própria. Eu me aproximei de uma das minhas obras favoritas, uma paisagem abstrata que sempre conseguia acalmar meu espírito ansioso. As cores vibrantes e as formas caóticas me lembravam de que a beleza pode surgir mesmo do caos.
E então, eu o vi. Corpo alto e forte. Ombros esguios. Fios de cabelo loiro-escuro caíam lisos ao redor dos olhos. Ele estava parado diante de uma grande tela abstrata, o terno impecável contrastando com a desordem colorida da pintura. Seus olhos, profundos e enigmáticos, pareciam absorver cada detalhe da obra, mas quando ele se virou e nossos olhares se encontraram, percebi que ele havia capturado algo muito mais interessante: minha atenção.
Eu nunca havia visto alguém tão hipnotizante. A forma como ele se movia, a confiança em seu semblante, tudo nele exalava um perigo irresistível. Meu coração acelerou, e por um breve momento, o mundo ao meu redor desapareceu. Eu senti, instintivamente, que a partir daquele momento, minha vida nunca mais seria a mesma. Loucura, eu sei. Mas senti!
Havia algo nos seus olhos absurdamente azuis. Um mistério profundo que me atraía como um ímã. Ele se aproximou em um passo, e eu senti um arrepio percorrer minha espinha.
— Interessante, não é? — Sua voz era baixa e suave, com um sotaque que denotava sofisticação. — Essa pintura parece capturar a essência da desordem humana. Eu mal conseguia encontrar minha voz.
— Sim... é uma das minhas favoritas — respondi, tentando manter a compostura. — Acho fascinante como o caos pode ser transformado em algo tão bonito.
Ele sorriu, um sorriso que não alcançou seus olhos.
— Você parece entender a arte em um nível profundo. Muitos não conseguem.
Conversamos por dez ou quinze minutos, trocando impressões rápidas sobre as obras ao nosso redor, mas sem nos aproximar. Cada palavra sua era cuidadosamente escolhida, como se ele estivesse preocupado em dizer aquilo que eu gostaria de ouvir. Havia uma aura levemente sufocante ao seu redor, algo que me impedia de querer arredar os pés dali, sair de perto dele.
Sentia uma mistura de excitação e medo. Quem era aquele homem? Eu nunca tinha o visto ali. E por que eu estava tão repentinamente atraída por ele? Enquanto conversávamos, percebi que ele evitava perguntas pessoais como: você vem sempre aqui? Trabalha por perto? Estudou arte?, desviando habilmente o assunto para mim ou para a arte. Não que eu estivesse falando muito sobre minha pessoa, embora tenha percebido que ele quisesse saber. O homem sabia bem como desenrolar uma boa conversa, e eu me vi sendo puxada cada vez mais para sua órbita, mesmo que ainda estivéssemos parados no mesmo lugar.
— Você não... não disse o seu nome.
Ele sorriu outra vez.
— Meu nome é Jean-Luc. Jean-Luc Moreau. — A forma firme como ele pronunciou seu nome, me enviou um arrepio pela minha espinha. — E você, mademoiselle, como se chama?
— Claire. Claire Dubois — respondi, sentindo uma estranha sensação de inevitabilidade ao dizer meu nome.
Jean-Luc então se moveu, caminhando em minha direção. Passos calmos e firmes. Quanto mais ele se aproximava mais meu interior vibrava de forma estranha e desconhecida. Quanto mais perto, maior e mais intimidante ele se tornava. Engoli em seco quando parou à minha frente. Cuidadosamente, ele apanhou minha mão, e eu senti o calor de sua palma contra a minha.
Meus olhos não piscavam. Minhas órbitas ardiam secas. Eu de fato estava hipnotizada por ele. Quando seus lábios tocaram o dorso de minha mão, meu coração disparou. Senti-o bater freneticamente na garganta, abalando o peito. Eu só havia sentido isso uma única vez na vida. O dia em que me apaixonei pelo cara errado.
— É um prazer conhecê-la, Claire. Espero que possamos nos encontrar novamente.
Enquanto ele se afastava, eu fiquei ali, tentando processar o que havia acabado de acontecer. A conversa e o toque dos lábios de um desconhecido em minha pele. O ar escapou de meus pulmões. O ar que eu prendera todo o tempo enquanto ele estava próximo.
Jean-Luc Moreau. O nome ressoava na minha mente como uma melodia inacabada. Algo me dizia que aquele encontro fortuito não era apenas uma coincidência. Eu sentia que o universo havia conspirado para isso. Acreditava nisso.
Saí da galeria naquela noite com uma sensação de inquietude. O homem misterioso esperava me encontrar de novo. E eu já ansiava por isso. Um sorriso ingênuo estampou o meu rosto. Sentia-me feliz que alguém como ele – um homem de beleza tão invejável que poderia perder seu tempo com alguém mais atraente do que eu – havia se interessado por mim, a garota sem graça que tinha como único assunto falar sobre arte. Ele parecia ser demais para minha pessoa, mas não queria pensar nisso naquele momento.
Sentia um lampejo no peito que mostrava que minha vida estava prestes a mudar de alguma maneira. Arrepios se arrastavam pelo corpo eriçando cada fio em minha cabeça, subindo pela nuca. No fundo, uma voz silenciosa sussurrava que eu estava prestes a me envolver em algo muito maior do que eu podia ver.
ClaireOs dias que se seguiram foram marcados por uma inquietante sensação de expectativa. Cada pensamento meu era tomado por Jean-Luc Moreau, seu sorriso enigmático e os olhos que pareciam sondar minha alma enquanto falávamos de arte. Eu tentava afastá-lo de minha mente; era ridículo pensar tanto em alguém que conheci por menos de meia hora, mas ele insistia em ocupar meus pensamentos como uma obra inesquecível. Naquela tarde de céu nublado, eu estava em um pequeno café no Marais, tentando concentrar-me em um livro que mal conseguia ler. Minhas mãos tremiam de modo quase imperceptível ao passar as páginas. Meu coração estava acelerado como se o amontoado de palavras no papel estivesse prestes a me levar a embarcar em uma aventura desconhecida. Então, ele apareceu. O sino acima da porta anunciou a chegada de alguém junto a um leve arrepio nos meus braços. Imediatamente olhei para a entrada a tempo de ver Jean-Luc atravessar pela porta com uma elegância natural. Seus passos determina
ClaireSuas palavras foram o suficiente para selar nosso destino naquele fim de tarde até o cair da noite. O café se esvaziou ao nosso redor, mas nós permanecemos ali, presos em um jogo de olhares e palavras que pareciam desafiar as leis do tempo e do espaço enquanto falávamos sobre arte e um pouquinho de nada sobre mim e meus estudos. Por um segundo, senti que estava falando muito e rápido demais. Estava começando a parecer exagerada. Então, eu me calei, suspirei fundo e tomei um gole do meu café que já estava gelado. Prova de que eu havia falado demais! — Claire, posso lhe fazer uma pergunta? — perguntou Jean-Luc após um momento de silêncio carregado. — Claro — respondi, sentindo meu coração bater mais rápido. Ele estudou meu rosto por um instante, como se estivesse buscando algo nas linhas sutis de minha expressão. — Por que Paris? Por que deixar sua família e vir para cá estudar arte? A pergunta de Jean-Luc era direta e simples, mas carregava um peso que eu não esperava. Eu r
ClaireO vento fresco da noite balançava as folhas das árvores ao redor enquanto eu observava Jean-Luc desaparecer na escuridão pela calçada. Suas palavras ressoavam em minha mente, misturando-se com as sensações turbulentas que ele despertara em mim. — Tenho certeza disso... — repeti sua última frase. E ele de fato tinha. Era visível. Repeti outra vez suas palavras silenciosamente, deixando-as ecoar pela mente. Caminhei devagar pelas ruas familiares do Marais, perdida em meus pensamentos. Paris parecia diferente naquela noite, mais viva e cheia de promessas desconhecidas. Ou de um desconhecido. Cada esquina, cada prédio histórico parecia sussurrar segredos que eu mal começava a compreender. Cheguei em casa com o coração ainda acelerado, incapaz de ignorar a inexplicável conexão que havia surgido entre mim e Jean-Luc. Era idiota e assustador ao mesmo tempo. Fechei a porta do apartamento com um suspiro, sentindo-me empolgada com o que estava por vir, com o que sentia. Sentando-me na
ClaireAcordei com a luz do sol entrando pelas cortinas. Durante o café da manhã, não consegui evitar que meus pensamentos voltassem para Jean-Luc. Já fazia três dias que o havia visto, e ele não tinha me encontrado como prometera. Tinha medo de que estivesse me iludindo ou ficando obcecada por alguém que vi duas vezes na vida. Será que eu havia imaginado a conexão entre nós? Será que ele também a sentia? Sentia a atração? Na mesa da cozinha, tentava me concentrar nas tarefas do dia. Mas a imagem de Jean-Luc continuava a invadir meus pensamentos. Sacudi a cabeça, tentando me livrar da sua figura ou da lembrança do toque de seus lábios no dorso de minha mão. — Preciso focar — murmurei para mim mesma, tentando afastar a distração. Mas era inútil. Cada vez que tentava me concentrar, lembrava de seus olhos, de seu sorriso. Tinha algumas aulas para elaborar. Naquela manhã começaria com uma nova turma. Pessoas da terceira idade. Gostava deles. Pelo menos não passavam uma hora falando mal
ClaireRespirei fundo e vagarosamente, tentando processar as palavras de Jean-Luc. Havia algo intrigante e ao mesmo tempo aterrorizante sobre ele. Mas não podia negar a minha curiosidade crescente sobre o homem ao meu lado. — Jean-Luc, eu... — comecei, mas fui interrompida pelo garçom, que trouxe o seu café. Ele agradeceu ao garçom e se voltou para mim, fixando seus olhos nos meus novamente. — Claire, eu não sei se tudo isso também parece repentino e intenso para você — disse ele suavemente. — Mas quero que saiba que minhas intenções são sinceras. Não estou aqui para te assustar ou te fazer mal. Como eu disse... só quero a chance de te conhecer melhor, de descobrir quem você é. Eu te achei fascinante desde o primeiro segundo que a vi. Você me atraiu de modo inesperado. E gosto disso. Gosto de você. Havia uma sinceridade em suas palavras que me fez relaxar um pouco. Jean-Luc estava interessado em mim de uma maneira que eu não estava acostumada. Ele queria me dar uma atenção pela qua
ClaireDepois que Jean-Luc se despediu com aquele beijo prolongado em minha mão, entrei na escola de arte com o coração batendo descontroladamente. As pernas chegaram a ficar bambas. Ele tinha uma presença avassaladora, algo que me deixava intrigada e um pouco assustada. Eu nunca imaginei por um minuto sequer que pudesse existir alguém como ele na Terra. — Uh! Como ela está coradinha — disse a senhora Petit ao entrar na sala, fazendo-me rir. Tomei um copo d’água e respirei fundo, preparando-me para a aula. Às cinco e meia, quando estava guardando os materiais e fechando a sala, senti uma ansiedade crescente. Era um misto de expectativa e nervosismo, algo que não experimentava há muito tempo. Saí da escola e encontrei Jean-Luc encostado em um Rolls-Royce conversível de cor vermelho sangue e capô preto. Quando me viu, um sorriso surgiu em seus lábios, fazendo meu coração acelerar ainda mais. — Pontual como um relógio — disse ele, abrindo a porta do carro para mim. — Tentei não me atr
ClaireDepois do jantar, Jean-Luc me guiou até uma sala de estar aconchegante, com uma lareira acesa e poltronas confortáveis. Sentamos próximos um do outro, a tensão entre nós crescendo a cada momento. Não uma tensão ruim. Mas uma que me fazia querer chegar mais perto, tocá-lo... beijá-lo. — Há algo que quero te mostrar — disse ele, levantando-se e pegando um caderno de esboços de uma estante próxima. — Eu não desenho tão bem quanto você, mas gosto de rabiscar de vez em quando. — Você não para de me surpreender. Ele abriu o caderno e o entregou para mim. Coloquei a taça na mesinha ao lado e encarei as páginas, folheando-as. Cada uma revelava uma série de desenhos intricados feitos com grafite. A maioria eram paisagens, outros retratos, mas todos tinham uma profundidade e uma emoção que me surpreenderam. — São maravilhosos, Jean-Luc — disse, tocando levemente um dos desenhos. — Você tem um talento incrível. — Era uma boa válvula de escape para mim quando criança. Olhei-o, surpres
ClaireCom um olhar escuro e baixo, ele se aproximou, prendendo-me cuidadosamente contra a porta, colocando uma mão espalmada ao lado de minha cabeça e a outra em minha cintura. O canto esquerdo do seu lábio se ergueu em um sorriso malicioso. Seus olhos passearam pela minha face, descendo para o peito que arfava mais ofegante do que minutos atrás. A mão em minha cintura deslizou para cima, espalmando-se sobre meu coração acelerado, cobrindo todo o seio. Suspirei ao sentir seu toque sobre o mamilo entumecido. Jean-Luc fechou os olhos e também suspirou. — Quero eles em minha boca... — sussurrou, abrindo lentamente as pálpebras, revelando as pupilas dilatadas. Meu coração bateu mais rápido. Jean-Luc sentiu. Ele sorriu, e um riso convencido escapou pelo nariz. Senti-me ainda mais nervosa. Fazia anos que um homem não me desejava ou declarava querer meu seio em sua boca. Ainda mais um que eu estivesse desejando também. Engoli em seco e respirei fundo. — Vem — disse ele, afastando-se e