Capítulo 01

Claire

Os dias que se seguiram foram marcados por uma inquietante sensação de expectativa. Cada pensamento meu era tomado por Jean-Luc Moreau, seu sorriso enigmático e os olhos que pareciam sondar minha alma enquanto falávamos de arte. Eu tentava afastá-lo de minha mente; era ridículo pensar tanto em alguém que conheci por menos de meia hora, mas ele insistia em ocupar meus pensamentos como uma obra inesquecível.

Naquela tarde de céu nublado, eu estava em um pequeno café no Marais, tentando concentrar-me em um livro que mal conseguia ler. Minhas mãos tremiam de modo quase imperceptível ao passar as páginas. Meu coração estava acelerado como se o amontoado de palavras no papel estivesse prestes a me levar a embarcar em uma aventura desconhecida.

Então, ele apareceu.

O sino acima da porta anunciou a chegada de alguém junto a um leve arrepio nos meus braços. Imediatamente olhei para a entrada a tempo de ver Jean-Luc atravessar pela porta com uma elegância natural. Seus passos determinados ecoaram no piso de madeira. E como puxado por um fio invisível, seu olhar encontrou o meu instantaneamente, como se soubesse exatamente para onde olhar ao entrar. Como se soubesse onde eu estava sentada.

Ele girou o corpo imenso e musculoso na minha direção e se aproximou da minha mesa com um sorriso sutil nos lábios, uma mistura de confiança e cautela que me intrigava profundamente.

— Claire, que prazer encontrá-la novamente — disse ele, sua voz suave como um sussurro de seda.

Meu nome em seus lábios era como uma carícia inesperada, despertando sensações que eu lutava para entender. Forcei-me a retribuir seu sorriso para não parecer mais patética do que já era, sentindo uma mistura de nervosismo e excitação.

— Oi. — Engoli em seco. — Que coincidência. — Fechei o livro com um suspiro resignado.

— Não — disse ele, ainda sorrindo. — Eu estava procurando por você.

Meus olhos se arregalaram e não consegui esconder meu espanto com sua frase. Meu coração bateu mais rápido.

— Por quê? Por que procurou por mim?

— E... como soube onde me encontrar?

Ele se inclinou ligeiramente, seu olhar intensificando-se com um brilho misterioso, desfazendo o sorriso.

— Digamos que possuo a arte de estar nos lugares certos, nos momentos certos — respondeu com um olhar levemente estreito.

Jean-Luc pediu um café e se sentou à minha frente, criando um espaço íntimo entre nós que parecia carregado de eletricidade.

— O que está lendo? — Olhou para o livro fechado sobre a mesa, com a contracapa para cima.

— Só uma fantasia idiota. — Forcei um sorriso.

Ele fez o mesmo.

— Não acho que seja idiota. Já está quase acabando a história. — Encarou o marcador que denunciava onde a leitura havia sido interrompida.

— Só quis dizer que não é interessante... para você. Ao menos acho que não seria. — Desviei meus olhos dos seus, que encaravam os meus penetrando fundo. — Não tem cara que goste de romance feérico. — Tentei sorrir outra vez. Estranhamente me sentia acuada e com um pouco de vergonha.

— Tem razão, eu não leria. Mas isso não significa que eu não queira saber o que você lê.

Olhei-o novamente. Acho que havia uma interrogação estampada em meu semblante, fazendo-o sentir a necessidade de se explicar.

— Tenho curiosidade em saber mais, talvez saber de tudo sobre você. — Tomou um gole do café que fora servido a ele. — Claire, há algo em você que me intriga profundamente — confessou Jean-Luc, seus olhos fixos nos meus com uma intensidade que me fez perder o fôlego por um instante.

Eu segurei seu olhar, sem palavras para expressar o turbilhão de emoções que lutavam dentro de mim. O que era isso entre nós, além de uma atração inexplicável que me puxava para perto dele, mesmo quando algo em minha mente alertava para os perigos de me envolver com alguém como Jean-Luc? Um homem pouco mais velho, claramente rico, pertencente a um lado da sociedade que eu jamais visitara.

— Não tenho muita coisa impressionante sobre mim para dizer — falei baixinho, intimidada com suas últimas palavras. Além de inesperadas, eram profundas.

Ele sorriu, um sorriso que alcançou seus olhos desta vez.

— Acredito que esteja enganada. — Escorou-se na cadeira. — Vamos lá. Fale-me de você.

— O que quer saber?

— Você não é de Paris, é?

Neguei com a cabeça.

— Saint-Étienne.

— Está bem longe de casa, Claire. — Estreitou os olhos ao dizer.

— Acho que essa era a intenção — disse baixinho.

— Me diga... Quando surgiu a paixão por arte?

Sorri.

— Eu nem me lembro. Só sei que sempre esteve comigo. Arte, em particular, pinturas do período renascentista, me fascinam — falei um pouco empolgada, com um tom mais alto.

Jean-Luc nem mesmo piscava, olhando-me com um olhar compenetrado, estudioso, inclinando levemente a cabeça para o lado.

— E você? — perguntei, contendo minha euforia que começava a aflorar.

O canto esquerdo de seu lábio se ergueu.

— Um certo dia, há alguns anos, descobri que servem como um calmante natural poder observá-las.

— Para mim também — sussurrei.

Ele continuou a falar:

— No entanto, sou mais ligado ao período moderno. Mas gosto das esculturas de Michelangelo. — Piscou para mim, e eu quase suspirei.

Ele se inclinou sobre a mesa, apoiando os dois antebraços em sua beirada, chegando o seu tronco para mais perto. Seu calor se estendeu até mim e foi muito reconfortante. Seu cheiro era viril e quente. A fragrância de seu perfume fazia jus ao homem robusto e intrigante que era.

— Fale-me mais sobre arte — pediu ele, com a voz suave e baixa.

— Eu me empolgo quando falo sobre isso.

— Dê-me toda a sua empolgação. — Sorriu sedutor.

Meus olhos se prenderam nos seus lábios perfeitamente desenhados e de uma coloração rosa-clara, sutil. Então, subiram por sua face até os olhos cristalinos. Encará-lo tão de perto quase me tirou o fôlego. Namorei por alguns segundos as sobrancelhas grossas e escuras, e as sardas quase imperceptíveis no alto das maçãs de seu rosto. Quando encarei novamente suas órbitas, vi as pupilas dilatarem, deixando seu olhar sombrio.

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