Capítulo 03

Claire

O vento fresco da noite balançava as folhas das árvores ao redor enquanto eu observava Jean-Luc desaparecer na escuridão pela calçada. Suas palavras ressoavam em minha mente, misturando-se com as sensações turbulentas que ele despertara em mim.

— Tenho certeza disso... — repeti sua última frase. E ele de fato tinha. Era visível.

Repeti outra vez suas palavras silenciosamente, deixando-as ecoar pela mente. Caminhei devagar pelas ruas familiares do Marais, perdida em meus pensamentos. Paris parecia diferente naquela noite, mais viva e cheia de promessas desconhecidas. Ou de um desconhecido. Cada esquina, cada prédio histórico parecia sussurrar segredos que eu mal começava a compreender.

Cheguei em casa com o coração ainda acelerado, incapaz de ignorar a inexplicável conexão que havia surgido entre mim e Jean-Luc. Era idiota e assustador ao mesmo tempo. Fechei a porta do apartamento com um suspiro, sentindo-me empolgada com o que estava por vir, com o que sentia.

Sentando-me na pequena varanda, olhei para o céu estrelado de Paris. As luzes da cidade criavam um cenário mágico ao meu redor, mas meu pensamento estava fixo naquele homem enigmático que parecia ter o poder de virar meu mundo de cabeça para baixo se assim desejasse.

— Estou aberta para o amor? — repeti sua pergunta, sentindo a incerteza se agitar dentro de mim. Não era apenas sobre amor ou liberdade; era sobre confiar o suficiente para deixar novamente alguém entrar em minha vida, especialmente alguém tão complexo e intrigante como Jean-Luc.

Minhas mãos tremiam ligeiramente enquanto eu relembrava cada momento do nosso encontro. Suas palavras, seu sorriso, seu toque momentâneo ao se despedir. Tudo isso parecia uma dança cuidadosamente coreografada em que eu mal entendia os passos, mas estava disposta a seguir.

O telefone ao lado da cadeira vibrou suavemente, interrompendo meus devaneios. Olhei para o visor e vi o nome de Charlotte, minha melhor amiga desde os tempos de faculdade. Com um sorriso nervoso, atendi a ligação.

— Charlotte! Que surpresa — disse, tentando disfarçar a agitação em minha voz.

— Você não me liga há dois dias, Claire! Nem uma mensagem. — Seu tom era irritado.

— Desculpe. É que tem sido cansativo no trabalho. Ser professora não é bem uma coisa que gosto de fazer da vida, ainda mais tendo que ensinar adultos frustrados a pintar.

— Então desabafa. Conte-me como foi o seu dia — disse Charlotte, tentando ser uma boa amiga.

Balancei a cabeça, rindo baixinho para mim mesma. Embora Charlotte achasse que meu dia fora ruim, ele não foi. Bom, ao menos não depois das três da tarde em diante. Como eu poderia começar a explicar tudo o que havia acontecido naquele único encontro? Como explicar a intensidade dele?

— Eu trabalhei pela manhã. Almocei um sanduíche nas escadarias ao fundo da escola de arte, dei uma aula particular e às três fui até o café no fim da rua. E... encontrei alguém — disse, sentindo um sorriso tímido se formar em meus lábios enquanto começava a compartilhar minha história.

— O quê? — perguntou alto, quase em um berro. — Você teve um encontro?

— Mais ou menos isso. — Minha voz saiu suave, relembrando o encontro com Jean-Luc enquanto me recostava na cadeira da varanda, observando a cidade piscar ao longe.

— Claire Dubois! Você não me conta detalhes? Quem é ele? Como vocês se conheceram? Ele é bonito? — Charlotte bombardeou-me com perguntas, sua empolgação audível do outro lado da linha.

— Ele se chama Jean-Luc Moreau. Nos encontramos na Orfeu há duas noites.

— As suas fugas incessantes para aquela galeria tinham que resultar em algum encontro. — Riu. — Então ele te chamou para sair?

— Não. Ele foi embora. E hoje nos encontramos no café. Mas não sei se foi bem coincidência. Ele fez parecer que não.

— Ai, meu Deus! — Ela estava muito empolgada, dando gritinhos e gargalhando feliz do outro lado da linha. — Fala sobre ele.

— Ele é... intrigante. Um mistério ambulante. — Ri baixinho, sentindo-me como se estivesse confessando um segredo emocionante. — Falei tanto hoje e ele não falou nada de si. Não que eu tenha perguntado. Acha que eu devia ter perguntado?

— Acho que sim, mas... Uau! Isso soa como o começo de um romance! Tipo aquelas coisas que a gente lê — falou Charlotte, e eu pude ouvir o sorriso em sua voz. — E como foi? Ele é charmoso?

— Foi incrível. Ele me ouve de verdade. Não ficou entediado comigo e tampouco revirou os olhos para minha falação. E sim. Ele é muito charmoso. E educado. E... intenso. Parecia ler minha mente com seus olhos. — Suspirei, questionando-me se esse encontro já não estava virando minha vida de cabeça para baixo. Uma vida pacata e sem emoções, e, de repente, estou ao telefone com Charlotte cheia de empolgação falando de um homem que nunca imaginei que me daria atenção.

— Isso é tão romântico! Você já marcou outro encontro? — Charlotte era rápida em pular para as próximas etapas, sempre cheia de entusiasmo por histórias de amor. Por isso ela era uma romancista.

— Não, não marcamos nada ainda. Mas ele disse que nos encontraríamos novamente em breve. — Uma pontada de incerteza se misturou à minha voz. E se ele não me achasse? Por que diabos não pedi seu número de telefone? E se ele entendesse isso como uma falta de interesse minha? Oh, Deus! Meu coração acelerou. — Acho que estou um pouco nervosa, Charlotte. Eu não pedi o número dele ou dei o meu a ele.

— Ah, Claire, não se preocupe! As pessoas encontram uma as outras nas redes sociais. E você sabe o sobrenome dele. Procura no I*******m.

— E se eu tiver espantado ele com meu jeito exagerado, minha falação chata? Por isso ele não pediu o meu número!

— Relaxa, Claire! Sem neura, tá legal. Aproveite o momento. Deixe as coisas fluírem. Parece que você encontrou alguém legal. — A voz encorajadora de Charlotte fez com que eu me sentisse um pouco mais calma. — Ele é gostoso?

Gargalhei.

— Ele é muito gostoso! — Rimos por alguns segundos. Ela pediu que eu o descrevesse e assim fiz. Falei sobre sua pele alva, os cabelos loiro-escuros, os olhos azuis... Ah, os olhos. Os mais belos que já vi.

Suspirei.

— Eu tenho que desligar. Isso me deu um baita choque de inspiração. Mas prometa que vai me manter atualizada sobre esse Jean-Luc, okay? Estou super curiosa para saber como isso vai se desenrolar! E se ele te chamar para foder, vá!

Gargalhei outra vez.

— Já faz um tempo que não faço isso.

— Sim, e deve estar precisando.

— Eu prometo. Você será a primeira a saber de qualquer novidade.

Desligamos depois de nos despedirmos. Recostei o celular no peito e olhei para o céu estrelado novamente, sentindo-me mais confiante em explorar o que o futuro poderia trazer em relação a Jean-Luc. Eu sentia que ele seria como um enigma que eu certamente adoraria decifrar cada pedacinho, ainda mais se isso incluísse tirar suas roupas e colocar à mostra aquele corpo imenso. Mesmo que eu tivesse que andar por territórios desconhecidos.

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