Capítulo 04

Claire

Acordei com a luz do sol entrando pelas cortinas. Durante o café da manhã, não consegui evitar que meus pensamentos voltassem para Jean-Luc. Já fazia três dias que o havia visto, e ele não tinha me encontrado como prometera. Tinha medo de que estivesse me iludindo ou ficando obcecada por alguém que vi duas vezes na vida. Será que eu havia imaginado a conexão entre nós? Será que ele também a sentia? Sentia a atração?

Na mesa da cozinha, tentava me concentrar nas tarefas do dia. Mas a imagem de Jean-Luc continuava a invadir meus pensamentos. Sacudi a cabeça, tentando me livrar da sua figura ou da lembrança do toque de seus lábios no dorso de minha mão.

— Preciso focar — murmurei para mim mesma, tentando afastar a distração. Mas era inútil. Cada vez que tentava me concentrar, lembrava de seus olhos, de seu sorriso.

Tinha algumas aulas para elaborar. Naquela manhã começaria com uma nova turma. Pessoas da terceira idade. Gostava deles. Pelo menos não passavam uma hora falando mal de seus cônjuges ou compartilhando histórias trágicas de casamento.

Às oito e meia, saí de casa rumo à escola de arte. O dia passou lentamente, cada hora se arrastando. À tarde, decidi sair para dar uma caminhada, antes da turma das quatro que tinha às quartas-feiras. Esperava que o ar fresco me ajudasse a clarear a mente. Tinha vinte e cinco anos, não era mais uma adolescente para me perder em tantos pensamentos assim.

As ruas do Marais estavam movimentadas, cheias de turistas e locais aproveitando o dia levemente ensolarado do outono. Passei por lojas de antiguidades e cafés charmosos, tentando me perder na beleza de Paris. Quem sabe assim esquecia Jean-Luc.

Enquanto caminhava, meu celular vibrou no bolso. Rapidamente o apanhei na esperança de que fosse Charlotte. Precisava dela para me distrair um pouco mais. Mas era minha mãe quem ligava. Não nos falávamos há meses. Aprendi o quão saudável era para mim ignorar as suas chamadas e mensagens.

Parei em um café próximo à Place des Vosges, sentando-me em uma mesa na calçada. Pedi um expresso e observei as pessoas passarem, cada uma com suas próprias histórias e preocupações.

— Obrigada — disse para a garçonete, ao colocar a xícara à minha frente. — Pode trazer guardanapos, por favor?

Ela assentiu e se foi, retornando minutos depois. Dei-lhe um pequeno sorriso em agradecimento, e apanhei na bolsa uma caneta. Peguei uma folha do guardanapo, abri-o e comecei a desenhar qualquer coisa enquanto bebericava o expresso.

— Claire?

O pronunciar do meu nome fez com que minhas costas se eriçassem, arrepiando até o couro cabeludo. Meus ombros chegaram a estremecer levemente.

Virei-me lentamente para trás sabendo exatamente quem eu encontraria. Jean-Luc estava parado ali, com aquele sorriso enigmático nos lábios. Meu coração disparou, e por um momento, não consegui encontrar as palavras. Levei segundos para conseguir dizer qualquer coisa.

— Jean-Luc! — Finalmente consegui responder, tentando esconder a surpresa e a emoção em minha voz. Eu estava aliviada e feliz em vê-lo, mas ele não precisava saber disso. — O que você está fazendo aqui?

— Eu disse que nos encontraríamos novamente em breve, não disse? — Ele sorriu, puxando uma cadeira para se sentar à minha direita.

— Você estava me procurando? — perguntei, ainda tentando processar sua presença inesperada.

— Talvez — disse ele, com seus olhos fixos nos meus.

O garçom se aproximou e Jean-Luc fez seu pedido, enquanto eu tentava controlar o nervosismo de estar com ele outra vez. Ele estava ali, sentado ao meu lado, e isso quase se parecia com um sonho.

O garçom se afastou e a atenção dele voltou para mim. Seus olhos desceram até o guardanapo sobre a mesa. Sutilmente, espalmei a minha mão sobre ele.

— Deixe-me ver — pediu com a voz suave e gentil.

Eu hesitei por alguns segundos, mas por fim retirei a mão exibindo o rabisco. Jean-Luc puxou o guardanapo para ele e sorriu. Era apenas um esboço do que eu via adiante na calçada.

— Vai me pintar um dia? — perguntou ele, voltando seu olhar para mim.

Senti-me ainda mais nervosa. Nunca havia pintado alguém em específico como fez Da Vinci com Monalisa.

— Talvez um dia. — Foi tudo o que eu disse.

— Como foi o seu dia?

Fiquei surpresa com sua pergunta.

— Ah... normal... Trabalho, algumas aulas para preparar... Ainda vou dar outra aula daqui uma hora — respondi, tentando soar casual, mas meu coração estava disparado. Como ele havia me encontrado novamente? Como ele fazia isso?

Jean-Luc sorriu, e mais uma vez senti aquela mistura de fascínio e apreensão. Ele parecia tão à vontade, como se fosse rotineiro surgir à minha frente sempre que quisesse, como uma presença constante e inescapável.

— E o seu dia? — perguntei, tentando me acalmar e manter a conversa fluindo naturalmente. Se percebia meu nervosismo, devia me achar uma idiota.

— Passei a manhã resolvendo alguns assuntos, mas não consegui parar de pensar em você — disse ele, seus olhos penetrantes fixos nos meus. Meu coração cavalgou muito rápido em meu peito, fazendo a carótida pulsar alto. Puxei o cabelo cobrindo o pescoço para que ele não pudesse ver. — Por isso, decidi caminhar pelo Marais, para te ver novamente.

Minha mente corria. Ele parecia tão seguro de si, tão determinado. Uma parte de mim se sentia lisonjeada, mas outra parte estava inquieta, assustada. Como ele sabia que eu estaria ali? Será que me seguia?

— Você parece... surpresa — comentou Jean-Luc, inclinando-se ligeiramente para a frente.

— Um pouco — admiti, tentando não demonstrar meu nervosismo. — É... inesperado, eu diria.

— Saber que pensei em você? — Ele riu baixinho, um som que enviou um arrepio para dentro de mim.

— É. — Engoli em seco.

— Espero que seja uma surpresa agradável, então — disse ele, seus dedos traçando novamente padrões invisíveis na mesa entre nós.

— Só não estou acostumada com isso — respondi, forçando um sorriso.

— Com um homem pensando em você? Eu duvido muito. Linda do jeito que é, tenha certeza de que ocupa a mente de muitos por aí.

Neguei com a cabeça.

— Ao menos ninguém nunca comentou. — Forcei outro sorriso. — Como sabia que eu estaria aqui? — Tive a coragem de perguntar.

— Tenho olhos e ouvidos por toda Paris. Só preciso de uma ligação para saber onde está quem desejo ver.

Okay. Assustador. Assustador para caralho. Mas... ainda assim... sentia-me atraída por ele. Será isso falta de sanidade mental?

— Você parece assustada.

Respirei fundo.

— É um pouco... assustador, para ser honesta.

Jean-Luc assentiu lentamente, seus olhos se suavizando.

— Entendo — disse ele, sua voz baixa e calmante. — Não quero te assustar, Claire. Só estou muito interessado em conhecer você melhor.

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