Capítulo 02

Claire

Suas palavras foram o suficiente para selar nosso destino naquele fim de tarde até o cair da noite. O café se esvaziou ao nosso redor, mas nós permanecemos ali, presos em um jogo de olhares e palavras que pareciam desafiar as leis do tempo e do espaço enquanto falávamos sobre arte e um pouquinho de nada sobre mim e meus estudos.

Por um segundo, senti que estava falando muito e rápido demais. Estava começando a parecer exagerada. Então, eu me calei, suspirei fundo e tomei um gole do meu café que já estava gelado. Prova de que eu havia falado demais!

— Claire, posso lhe fazer uma pergunta? — perguntou Jean-Luc após um momento de silêncio carregado.

— Claro — respondi, sentindo meu coração bater mais rápido.

Ele estudou meu rosto por um instante, como se estivesse buscando algo nas linhas sutis de minha expressão.

— Por que Paris? Por que deixar sua família e vir para cá estudar arte?

A pergunta de Jean-Luc era direta e simples, mas carregava um peso que eu não esperava. Eu respirei fundo, reunindo minhas palavras como quem se prepara para mergulhar em águas profundas. Falar sobre minha família ou sobre um momento específico do meu passado era quase como me afogar. Eu sentia que podia morrer se falasse demais sobre isso. Mas eu não precisava dizer nada a ele, ainda um estranho. Ele queria apenas saber por que Paris.

— Paris era meu sonho desde criança. Um lugar onde a arte pulsa em cada esquina, onde os mestres deixaram sua marca inapagável. Eu queria aprender com os melhores, desafiar-me em um ambiente que respira criatividade. E, talvez, encontrar algo que eu não consegui encontrar em casa — confessei, sentindo-me vulnerável diante de sua intensa curiosidade.

Jean-Luc ouviu atentamente, seu olhar não mais como um predador, mas como alguém genuinamente interessado em compreender quem eu era além das aparências, além da falação sobre pinturas velhas.

— Claire... Você tem uma alma fascinante — disse ele suavemente, seus dedos traçando círculos imaginários na mesa entre nós. — Eu mal arranhei a superfície de quem você é, mas já sinto que há muito mais para descobrir e me interessar.

Se interessar... por mim?

Eu sorri timidamente, levemente emocionada com suas palavras. Em apenas um encontro... — isso era um encontro? Quer dizer... ele disse que procurou por mim. Isso faz dessa tarde um encontro, não é? — Jean-Luc havia conseguido desvendar camadas de minha essência mesmo que eu não quisesse.

— O que não encontrou em casa? — perguntou casualmente, dando um gole em seu café que também devia estar gelado.

Desviei meus olhos dele, sentindo-me encolher involuntariamente na cadeira.

— Liberdade... entre outras coisas — disse baixinho.

Jean-Luc ficou em silêncio por alguns segundos. Ergui a cabeça, encontrando um olhar levemente estreito para mim.

— A maioria das pessoas vem para Paris pela arte e pela comida, mas todas procuram desesperadamente por amor, o que não combina muito bem com liberdade. Enquanto você... quer apenas isso. Interessante. — Sorriu. — Mas está aberta? Para o amor?

Senti-me tensa.

— Eu não sei. — Foi tudo o que disse antes de virar o restante horrível daquele café de duas horas atrás. — Já está tarde — disse ao olhar as horas no celular. — Eu tenho que ir.

Jean-Luc assentiu, afastando o tronco da mesa. Ele acenou para a garçonete, que se aproximou rapidamente. Antes que eu conseguisse pegar o dinheiro na carteira, ele já havia pago os nossos cafés com seu smartwatch.

Ele sorriu educadamente e levantou-se, esperando por mim.

— Obrigada — murmurei, levantando-me.

Antes que eu fizesse, Jean-Luc apanhou meu livro sobre a mesa e analisou sua capa. Nenhuma expressão surgiu em seu rosto. Ele apenas olhou-me ao estendê-lo para mim. Eu o apanhei e, em silêncio, caminhamos juntos para a saída.

Quando nos despedimos na porta do café, Jean-Luc pegou-me de surpresa ao segurar minha mão. Ele continuou agarrado a ela por um momento a mais do que o necessário depois de beijar o meu dorso, enviando um arrepio pela minha espinha.

Sua mão era grande e guardava a minha no calor da sua de forma cativante e aconchegante. Imediatamente minha mente se perguntou como seria guardar meu corpo em seus braços. Eu caberia direito entre eles, recostada em seu peito largo de músculos marcados sob a camisa azul de algodão. Esse pensamento fez as minhas bochechas esquentarem. E, como se pudesse ler meus pensamentos, ele sorriu com humor, exibindo os dentes pela primeira vez.

— Até logo, Claire. — Soltou minha mão, dando um passo para trás. — Nos encontraremos novamente em breve, tenho certeza disso — disse ele, antes de desaparecer na noite.

Fiquei ali, sob a luz suave da rua, perguntando-me o que o futuro nos reservava. Porque eu esperava que nos reservasse algo, nem que fosse cafés gelados e conversa tola. Sexo também seria bom. Eu sentia falta dele. Já fazia meses que não me despia para ninguém. E tirar a roupa para Jean-Luc não seria nada mal.

Mordi o lábio inferior para conter um riso. Eu já queria saber quando o veria de novo, mesmo que uma coisinha, bem lá no fundo do peito, me dissesse que Jean-Luc Moreau era como uma tempestade iminente da qual talvez eu não estivesse pronta para enfrentar. Só o seu olhar já era prova da pura intensidade que se transbordava em cada movimento do seu maravilhoso corpo. Além do mistério que exalava junto ao perfume. Não falara muito de si. Ou melhor... não falara nada. Era impossível imaginar que me envolver com ele fosse como viver na calmaria de um borboletário quando só o seu calor fazia meu coração quase rasgar do peito.

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