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ClaireParis, 2018. A noite caía suavemente sobre a Cidade das Luzes, derramando sombras longas pelas ruas estreitas e antigas. Eu sentia o frio úmido penetrando minha pele, mas meu coração ardia com uma inquietude que nenhuma estação poderia acalmar. Caminhava apressada pelo Boulevard Saint-Germain, com meus pensamentos dispersos como as folhas de outono aos meus pés. A galeria onde eu costumava buscar inspiração estava a poucos metros de distância, e eu ansiava pelo refúgio silencioso que as pinturas ofereciam. Eu precisava escapar das memórias que me assombravam, das incertezas que pendiam sobre meu futuro como uma espada invisível. As ruas de Paris, embora familiares, pareciam mais solitárias naquela noite. Entrei na galeria, e o cheiro familiar de tinta e madeira velha me acolheu imediatamente. Passei pelas obras conhecidas, cada pincelada contando uma história, mas naquela noite, uma sensação de antecipação rastejava pela minha mente. Meus olhos começaram a percorrer ao redor.
ClaireOs dias que se seguiram foram marcados por uma inquietante sensação de expectativa. Cada pensamento meu era tomado por Jean-Luc Moreau, seu sorriso enigmático e os olhos que pareciam sondar minha alma enquanto falávamos de arte. Eu tentava afastá-lo de minha mente; era ridículo pensar tanto em alguém que conheci por menos de meia hora, mas ele insistia em ocupar meus pensamentos como uma obra inesquecível. Naquela tarde de céu nublado, eu estava em um pequeno café no Marais, tentando concentrar-me em um livro que mal conseguia ler. Minhas mãos tremiam de modo quase imperceptível ao passar as páginas. Meu coração estava acelerado como se o amontoado de palavras no papel estivesse prestes a me levar a embarcar em uma aventura desconhecida. Então, ele apareceu. O sino acima da porta anunciou a chegada de alguém junto a um leve arrepio nos meus braços. Imediatamente olhei para a entrada a tempo de ver Jean-Luc atravessar pela porta com uma elegância natural. Seus passos determina
ClaireSuas palavras foram o suficiente para selar nosso destino naquele fim de tarde até o cair da noite. O café se esvaziou ao nosso redor, mas nós permanecemos ali, presos em um jogo de olhares e palavras que pareciam desafiar as leis do tempo e do espaço enquanto falávamos sobre arte e um pouquinho de nada sobre mim e meus estudos. Por um segundo, senti que estava falando muito e rápido demais. Estava começando a parecer exagerada. Então, eu me calei, suspirei fundo e tomei um gole do meu café que já estava gelado. Prova de que eu havia falado demais! — Claire, posso lhe fazer uma pergunta? — perguntou Jean-Luc após um momento de silêncio carregado. — Claro — respondi, sentindo meu coração bater mais rápido. Ele estudou meu rosto por um instante, como se estivesse buscando algo nas linhas sutis de minha expressão. — Por que Paris? Por que deixar sua família e vir para cá estudar arte? A pergunta de Jean-Luc era direta e simples, mas carregava um peso que eu não esperava. Eu r
ClaireO vento fresco da noite balançava as folhas das árvores ao redor enquanto eu observava Jean-Luc desaparecer na escuridão pela calçada. Suas palavras ressoavam em minha mente, misturando-se com as sensações turbulentas que ele despertara em mim. — Tenho certeza disso... — repeti sua última frase. E ele de fato tinha. Era visível. Repeti outra vez suas palavras silenciosamente, deixando-as ecoar pela mente. Caminhei devagar pelas ruas familiares do Marais, perdida em meus pensamentos. Paris parecia diferente naquela noite, mais viva e cheia de promessas desconhecidas. Ou de um desconhecido. Cada esquina, cada prédio histórico parecia sussurrar segredos que eu mal começava a compreender. Cheguei em casa com o coração ainda acelerado, incapaz de ignorar a inexplicável conexão que havia surgido entre mim e Jean-Luc. Era idiota e assustador ao mesmo tempo. Fechei a porta do apartamento com um suspiro, sentindo-me empolgada com o que estava por vir, com o que sentia. Sentando-me na
ClaireAcordei com a luz do sol entrando pelas cortinas. Durante o café da manhã, não consegui evitar que meus pensamentos voltassem para Jean-Luc. Já fazia três dias que o havia visto, e ele não tinha me encontrado como prometera. Tinha medo de que estivesse me iludindo ou ficando obcecada por alguém que vi duas vezes na vida. Será que eu havia imaginado a conexão entre nós? Será que ele também a sentia? Sentia a atração? Na mesa da cozinha, tentava me concentrar nas tarefas do dia. Mas a imagem de Jean-Luc continuava a invadir meus pensamentos. Sacudi a cabeça, tentando me livrar da sua figura ou da lembrança do toque de seus lábios no dorso de minha mão. — Preciso focar — murmurei para mim mesma, tentando afastar a distração. Mas era inútil. Cada vez que tentava me concentrar, lembrava de seus olhos, de seu sorriso. Tinha algumas aulas para elaborar. Naquela manhã começaria com uma nova turma. Pessoas da terceira idade. Gostava deles. Pelo menos não passavam uma hora falando mal
ClaireRespirei fundo e vagarosamente, tentando processar as palavras de Jean-Luc. Havia algo intrigante e ao mesmo tempo aterrorizante sobre ele. Mas não podia negar a minha curiosidade crescente sobre o homem ao meu lado. — Jean-Luc, eu... — comecei, mas fui interrompida pelo garçom, que trouxe o seu café. Ele agradeceu ao garçom e se voltou para mim, fixando seus olhos nos meus novamente. — Claire, eu não sei se tudo isso também parece repentino e intenso para você — disse ele suavemente. — Mas quero que saiba que minhas intenções são sinceras. Não estou aqui para te assustar ou te fazer mal. Como eu disse... só quero a chance de te conhecer melhor, de descobrir quem você é. Eu te achei fascinante desde o primeiro segundo que a vi. Você me atraiu de modo inesperado. E gosto disso. Gosto de você. Havia uma sinceridade em suas palavras que me fez relaxar um pouco. Jean-Luc estava interessado em mim de uma maneira que eu não estava acostumada. Ele queria me dar uma atenção pela qua
ClaireDepois que Jean-Luc se despediu com aquele beijo prolongado em minha mão, entrei na escola de arte com o coração batendo descontroladamente. As pernas chegaram a ficar bambas. Ele tinha uma presença avassaladora, algo que me deixava intrigada e um pouco assustada. Eu nunca imaginei por um minuto sequer que pudesse existir alguém como ele na Terra. — Uh! Como ela está coradinha — disse a senhora Petit ao entrar na sala, fazendo-me rir. Tomei um copo d’água e respirei fundo, preparando-me para a aula. Às cinco e meia, quando estava guardando os materiais e fechando a sala, senti uma ansiedade crescente. Era um misto de expectativa e nervosismo, algo que não experimentava há muito tempo. Saí da escola e encontrei Jean-Luc encostado em um Rolls-Royce conversível de cor vermelho sangue e capô preto. Quando me viu, um sorriso surgiu em seus lábios, fazendo meu coração acelerar ainda mais. — Pontual como um relógio — disse ele, abrindo a porta do carro para mim. — Tentei não me atr
ClaireDepois do jantar, Jean-Luc me guiou até uma sala de estar aconchegante, com uma lareira acesa e poltronas confortáveis. Sentamos próximos um do outro, a tensão entre nós crescendo a cada momento. Não uma tensão ruim. Mas uma que me fazia querer chegar mais perto, tocá-lo... beijá-lo. — Há algo que quero te mostrar — disse ele, levantando-se e pegando um caderno de esboços de uma estante próxima. — Eu não desenho tão bem quanto você, mas gosto de rabiscar de vez em quando. — Você não para de me surpreender. Ele abriu o caderno e o entregou para mim. Coloquei a taça na mesinha ao lado e encarei as páginas, folheando-as. Cada uma revelava uma série de desenhos intricados feitos com grafite. A maioria eram paisagens, outros retratos, mas todos tinham uma profundidade e uma emoção que me surpreenderam. — São maravilhosos, Jean-Luc — disse, tocando levemente um dos desenhos. — Você tem um talento incrível. — Era uma boa válvula de escape para mim quando criança. Olhei-o, surpres