ClaireO silêncio da manhã envolvia a casa como um véu delicado. Jean-Luc havia saído há pouco para buscar algo para comermos, deixando-me sozinha no escritório, ainda impregnada com os ecos da noite anterior. Minha mente ainda girava, confusa, tomada por uma tempestade de sentimentos conflitantes. O desejo bruto e desesperado que havíamos compartilhado ainda queimava sob minha pele, mas junto dele, algo mais sombrio começava a se formar. Algo que eu não conseguia nomear completamente.Eu me levantei do sofá, minha respiração um pouco descompassada, estava tomada por um ansiedade que não passava. Com passos cautelosos, vestindo apenas sua camisa, comecei a andar pelo escritório. O cheiro dele estava impregnado em toda parte. Devia passar muito tempo do seu dia aqui. Meus olhos percorreram o ambiente até pousarem na grande mesa de carvalho escuro. Respirei fundo antes de puxar a primeira gaveta. Meu estômago se revirou ao encontrar uma pasta de couro envelhecido com meu nome escrito em
ClaireUm soluço escapou dos meus lábios. O medo e a raiva colidiam dentro de mim, transformando-se em algo sufocante. Meu peito subia e descia em respirações ofegantes.— Eu não sou algo que você pode possuir — minha voz falhou. — Isso não é amor, Jean-Luc. Isso é uma doença.Ele piscou algumas vezes, como se estivesse tentando processar minhas palavras, balançando a cabeça em negação. O silêncio que se seguiu foi denso, doloroso.As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu tentava encontrar uma saída, enquanto tentava entender no que eu havia me metido. E, pela primeira vez desde que o conheci, tive certeza absoluta de que precisava fugir dele. Mas Jean-Luc estava ali, parado diante de mim, os olhos fixos nos meus, cheios de uma intensidade que me deixava atordoada.— Não faça isso. Não me deixe. Eu esperei pelo momento certo para me aproximar de você. Não sou louco. Só cuidei para que as coisas fossem boas e acontecem na maneira correta — Sua voz era um sussurro rouco, quase r
ClaireEu encarei meu reflexo no espelho, o rosto pálido e os olhos arregalados, ainda brilhando da torrente de emoções que Jean-Luc havia me feito sentir. Meu coração parecia uma criatura selvagem, batendo contra minhas costelas, sem rumo, sem lógica.Meus dedos deslizaram pela superfície fria da pia, tentando ancorar-me na realidade. Amar Jean-Luc era como ser tragada por um vendaval. Era intenso, visceral, uma força incontrolável que me puxava para dentro do abismo. E ainda assim, mesmo sabendo de tudo, mesmo sabendo o quão errado tudo começou, o quão perigoso ele era, eu o desejava. Deus, como eu o desejava.— O que há de errado comigo? — murmurei para o espelho.Eu queria acreditar que conseguiria me afastar. Que encontraria forças para me reconstruir longe dele. Mas a verdade se infiltrava em meu peito como um veneno. Eu o amava. Amava o homem que me vigiou por dois anos, que escondeu segredos aterradores de mim, que possuía uma vida da qual eu jamais deveria fazer parte. Era es
ClaireQuando abri a porta e vi Jean-Luc parado ali, algo dentro de mim se retorceu. Seus olhos me prenderam de imediato, e o peso do que havíamos vivido, das descobertas e das mentiras, pairava entre nós como uma tempestade prestes a desabar.Eu devia mandá-lo embora. Devia fechar aquela porta e fingir que ele nunca tinha existido. Mas não tinha essa opção quando ele me colocou na mira de uma russa sedenta de vingança.Sem dizer nada, me afastei para que ele entrasse. Ele hesitou por um segundo antes de cruzar a soleira, e eu fechei a porta atrás dele. O silêncio pesava tanto quanto minha própria respiração.Ele parou no meio da sala, as mãos nos bolsos do casaco, como se quisesse se segurar para não me tocar. Seus olhos percorriam meu rosto, como se buscassem alguma permissão para falar.— Como você está? — ele perguntou, baixo, quase num sussurro.Ri, sem humor.— Está mesmo me perguntando isso? — Minha voz saiu afiada, carregada de ironia e irritação.Jean-Luc suspirou, desviando
Jean-LucO chão parecia ruir sob meus pés. Eu a via diante de mim, ferida, assustada, desgostosa, e sentia meu mundo desmoronar. Claire queria partir. Eu não podia permitir.— Claire… — Minha voz saiu rouca, baixa, quase um sussurro de súplica. — Não me deixe.Eu me ajoelhei diante dela, submisso, sem orgulho, sem resistência, apenas com a verdade nua e crua: eu a amava mais do que um dia amei a mim mesmo. A amava de uma forma que queimava minha alma e destroçava qualquer senso de razão. O amor que carregava por ela era afiado, cortante, impossível de ser esquecido. Eu sentia como se tivesse sido marcado por esse sentimento desde o momento em que a vi. Não existia outro caminho para mim. Não existia outra vida que não fosse ao lado dela.— Eu te amo há tanto tempo… — continuei, minha voz embargada, meu peito apertado com um medo visceral. — Não posso fingir que posso viver sem você. Não posso suportar a ideia de te perder. Claire, por favor…Eu segurei sua mão, levei até meus lábios,
Jean-LucEu a beijo com a devoção de um homem que encontrou sua razão de existir. Claire está em meus braços, quente, macia, entregue, e eu a seguro como se pudesse fundi-la a mim. Meus dedos deslizam pelo contorno do seu rosto, descem pelo pescoço, sentindo sua pulsação acelerada.Ela me olha nos olhos, e naquele instante, eu sei. Sei que não existe mais barreira entre nós. Aos menos por hora. Que todas as palavras ditas, as confissões, o medo, a raiva e o desejo se misturaram em algo indestrutível. Meu peito aperta com a ansiedade do que sinto.Eu a deitei na cama, com cuidado, como se fosse algo precioso demais para ser tocado com brutalidade. Minhas mãos exploram sua pele com lentidão, apreciando cada curva, cada arrepio. Claire suspira quando meus lábios encontram sua clavícula, e um calor ardente toma conta do meu corpo. Eu me perco nela, em seu cheiro, no gosto de sua pele, na forma como seus dedos se entrelaçam nos meus cabelos, puxando-me para mais perto.Quero que esse momen
Jean-lucAs palavras de Claire me cortaram mais do que qualquer faca. Eu sabia que ela havia fugido, era claro no comportamento em relação a sua família. Mas nunca encontrei o porquê. Nunca soubera da dor que a forçara a partir, mas agora podia senti-la chegando devagar.Claire me encarou de novo.— Eu odeio a minha família. Se pudesse, teria uma vida diferente também. — Ela fez uma pausa, e foi como se o ar tivesse ficado mais espesso, mais difícil de respirar. — Eles são repulsivos. Até mais do que toda essa situação que você me colocou.Ela me olhava diretamente agora, e algo dentro de mim se rompeu. O peso de suas palavras foi esmagador. Eu senti a dor que se aproximava de nós ficar maior. Sentei-me na cama, virado para ela, dando-me toda a sua atenção.— Fui abusada pelo meu irmão mais velho quando tinha quatorze anos. — Todo o sangue de meu corpo esfriou. Meus pulmões paralisaram. Ela colocou-se de frente para mim, olhando-me nos olhos. — Aconteceu só uma vez, mas me marcou por
Jean-LucO dia passou devagar, uma sucessão de minutos que se arrastaram e me fizeram refletir em silêncio. A dor de cabeça ainda não tinha me deixado, e as palavras de Claire ecoavam na minha mente, implacáveis. Ela falara de sua dor, de um passado que eu não imaginava, e me sentia fraco por não poder mudar nada.Quando o final do dia chegou, eu sabia o que teria de fazer. Buscá-la. Ver como ela reagiria ao me ver. Eu sabia que ela estaria na escola de artes, então fui até lá, meu carro estacionado perto da entrada, aguardando sua saída. E então, quando a vi saindo do prédio, algo dentro de mim se acendeu. Eu a observei por um instante, até perceber o homem que ela mencionara antes, o tal sujeito que se aproximara dela ontem. Ele estava do outro lado da rua, testando os limites, buscando me instigar. Enquanto ela descia os degraus até mim, sem hesitar, sorri para ele, um sorriso maléfico que o dizia que mais um passo e ele teria a garganta rasgada no meio da rua, e acenei com um gest