ClaireUm soluço escapou dos meus lábios. O medo e a raiva colidiam dentro de mim, transformando-se em algo sufocante. Meu peito subia e descia em respirações ofegantes.— Eu não sou algo que você pode possuir — minha voz falhou. — Isso não é amor, Jean-Luc. Isso é uma doença.Ele piscou algumas vezes, como se estivesse tentando processar minhas palavras, balançando a cabeça em negação. O silêncio que se seguiu foi denso, doloroso.As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu tentava encontrar uma saída, enquanto tentava entender no que eu havia me metido. E, pela primeira vez desde que o conheci, tive certeza absoluta de que precisava fugir dele. Mas Jean-Luc estava ali, parado diante de mim, os olhos fixos nos meus, cheios de uma intensidade que me deixava atordoada.— Não faça isso. Não me deixe. Eu esperei pelo momento certo para me aproximar de você. Não sou louco. Só cuidei para que as coisas fossem boas e acontecem na maneira correta — Sua voz era um sussurro rouco, quase r
ClaireEu encarei meu reflexo no espelho, o rosto pálido e os olhos arregalados, ainda brilhando da torrente de emoções que Jean-Luc havia me feito sentir. Meu coração parecia uma criatura selvagem, batendo contra minhas costelas, sem rumo, sem lógica.Meus dedos deslizaram pela superfície fria da pia, tentando ancorar-me na realidade. Amar Jean-Luc era como ser tragada por um vendaval. Era intenso, visceral, uma força incontrolável que me puxava para dentro do abismo. E ainda assim, mesmo sabendo de tudo, mesmo sabendo o quão errado tudo começou, o quão perigoso ele era, eu o desejava. Deus, como eu o desejava.— O que há de errado comigo? — murmurei para o espelho.Eu queria acreditar que conseguiria me afastar. Que encontraria forças para me reconstruir longe dele. Mas a verdade se infiltrava em meu peito como um veneno. Eu o amava. Amava o homem que me vigiou por dois anos, que escondeu segredos aterradores de mim, que possuía uma vida da qual eu jamais deveria fazer parte. Era es
ClaireQuando abri a porta e vi Jean-Luc parado ali, algo dentro de mim se retorceu. Seus olhos me prenderam de imediato, e o peso do que havíamos vivido, das descobertas e das mentiras, pairava entre nós como uma tempestade prestes a desabar.Eu devia mandá-lo embora. Devia fechar aquela porta e fingir que ele nunca tinha existido. Mas não tinha essa opção quando ele me colocou na mira de uma russa sedenta de vingança.Sem dizer nada, me afastei para que ele entrasse. Ele hesitou por um segundo antes de cruzar a soleira, e eu fechei a porta atrás dele. O silêncio pesava tanto quanto minha própria respiração.Ele parou no meio da sala, as mãos nos bolsos do casaco, como se quisesse se segurar para não me tocar. Seus olhos percorriam meu rosto, como se buscassem alguma permissão para falar.— Como você está? — ele perguntou, baixo, quase num sussurro.Ri, sem humor.— Está mesmo me perguntando isso? — Minha voz saiu afiada, carregada de ironia e irritação.Jean-Luc suspirou, desviando
ClaireParis, 2018. A noite caía suavemente sobre a Cidade das Luzes, derramando sombras longas pelas ruas estreitas e antigas. Eu sentia o frio úmido penetrando minha pele, mas meu coração ardia com uma inquietude que nenhuma estação poderia acalmar. Caminhava apressada pelo Boulevard Saint-Germain, com meus pensamentos dispersos como as folhas de outono aos meus pés. A galeria onde eu costumava buscar inspiração estava a poucos metros de distância, e eu ansiava pelo refúgio silencioso que as pinturas ofereciam. Eu precisava escapar das memórias que me assombravam, das incertezas que pendiam sobre meu futuro como uma espada invisível. As ruas de Paris, embora familiares, pareciam mais solitárias naquela noite. Entrei na galeria, e o cheiro familiar de tinta e madeira velha me acolheu imediatamente. Passei pelas obras conhecidas, cada pincelada contando uma história, mas naquela noite, uma sensação de antecipação rastejava pela minha mente. Meus olhos começaram a percorrer ao redor.
ClaireOs dias que se seguiram foram marcados por uma inquietante sensação de expectativa. Cada pensamento meu era tomado por Jean-Luc Moreau, seu sorriso enigmático e os olhos que pareciam sondar minha alma enquanto falávamos de arte. Eu tentava afastá-lo de minha mente; era ridículo pensar tanto em alguém que conheci por menos de meia hora, mas ele insistia em ocupar meus pensamentos como uma obra inesquecível. Naquela tarde de céu nublado, eu estava em um pequeno café no Marais, tentando concentrar-me em um livro que mal conseguia ler. Minhas mãos tremiam de modo quase imperceptível ao passar as páginas. Meu coração estava acelerado como se o amontoado de palavras no papel estivesse prestes a me levar a embarcar em uma aventura desconhecida. Então, ele apareceu. O sino acima da porta anunciou a chegada de alguém junto a um leve arrepio nos meus braços. Imediatamente olhei para a entrada a tempo de ver Jean-Luc atravessar pela porta com uma elegância natural. Seus passos determina
ClaireSuas palavras foram o suficiente para selar nosso destino naquele fim de tarde até o cair da noite. O café se esvaziou ao nosso redor, mas nós permanecemos ali, presos em um jogo de olhares e palavras que pareciam desafiar as leis do tempo e do espaço enquanto falávamos sobre arte e um pouquinho de nada sobre mim e meus estudos. Por um segundo, senti que estava falando muito e rápido demais. Estava começando a parecer exagerada. Então, eu me calei, suspirei fundo e tomei um gole do meu café que já estava gelado. Prova de que eu havia falado demais! — Claire, posso lhe fazer uma pergunta? — perguntou Jean-Luc após um momento de silêncio carregado. — Claro — respondi, sentindo meu coração bater mais rápido. Ele estudou meu rosto por um instante, como se estivesse buscando algo nas linhas sutis de minha expressão. — Por que Paris? Por que deixar sua família e vir para cá estudar arte? A pergunta de Jean-Luc era direta e simples, mas carregava um peso que eu não esperava. Eu r
ClaireO vento fresco da noite balançava as folhas das árvores ao redor enquanto eu observava Jean-Luc desaparecer na escuridão pela calçada. Suas palavras ressoavam em minha mente, misturando-se com as sensações turbulentas que ele despertara em mim. — Tenho certeza disso... — repeti sua última frase. E ele de fato tinha. Era visível. Repeti outra vez suas palavras silenciosamente, deixando-as ecoar pela mente. Caminhei devagar pelas ruas familiares do Marais, perdida em meus pensamentos. Paris parecia diferente naquela noite, mais viva e cheia de promessas desconhecidas. Ou de um desconhecido. Cada esquina, cada prédio histórico parecia sussurrar segredos que eu mal começava a compreender. Cheguei em casa com o coração ainda acelerado, incapaz de ignorar a inexplicável conexão que havia surgido entre mim e Jean-Luc. Era idiota e assustador ao mesmo tempo. Fechei a porta do apartamento com um suspiro, sentindo-me empolgada com o que estava por vir, com o que sentia. Sentando-me na
ClaireAcordei com a luz do sol entrando pelas cortinas. Durante o café da manhã, não consegui evitar que meus pensamentos voltassem para Jean-Luc. Já fazia três dias que o havia visto, e ele não tinha me encontrado como prometera. Tinha medo de que estivesse me iludindo ou ficando obcecada por alguém que vi duas vezes na vida. Será que eu havia imaginado a conexão entre nós? Será que ele também a sentia? Sentia a atração? Na mesa da cozinha, tentava me concentrar nas tarefas do dia. Mas a imagem de Jean-Luc continuava a invadir meus pensamentos. Sacudi a cabeça, tentando me livrar da sua figura ou da lembrança do toque de seus lábios no dorso de minha mão. — Preciso focar — murmurei para mim mesma, tentando afastar a distração. Mas era inútil. Cada vez que tentava me concentrar, lembrava de seus olhos, de seu sorriso. Tinha algumas aulas para elaborar. Naquela manhã começaria com uma nova turma. Pessoas da terceira idade. Gostava deles. Pelo menos não passavam uma hora falando mal