Jean-LucO chão parecia ruir sob meus pés. Eu a via diante de mim, ferida, assustada, desgostosa, e sentia meu mundo desmoronar. Claire queria partir. Eu não podia permitir.— Claire… — Minha voz saiu rouca, baixa, quase um sussurro de súplica. — Não me deixe.Eu me ajoelhei diante dela, submisso, sem orgulho, sem resistência, apenas com a verdade nua e crua: eu a amava mais do que um dia amei a mim mesmo. A amava de uma forma que queimava minha alma e destroçava qualquer senso de razão. O amor que carregava por ela era afiado, cortante, impossível de ser esquecido. Eu sentia como se tivesse sido marcado por esse sentimento desde o momento em que a vi. Não existia outro caminho para mim. Não existia outra vida que não fosse ao lado dela.— Eu te amo há tanto tempo… — continuei, minha voz embargada, meu peito apertado com um medo visceral. — Não posso fingir que posso viver sem você. Não posso suportar a ideia de te perder. Claire, por favor…Eu segurei sua mão, levei até meus lábios,
Jean-LucEu a beijo com a devoção de um homem que encontrou sua razão de existir. Claire está em meus braços, quente, macia, entregue, e eu a seguro como se pudesse fundi-la a mim. Meus dedos deslizam pelo contorno do seu rosto, descem pelo pescoço, sentindo sua pulsação acelerada.Ela me olha nos olhos, e naquele instante, eu sei. Sei que não existe mais barreira entre nós. Aos menos por hora. Que todas as palavras ditas, as confissões, o medo, a raiva e o desejo se misturaram em algo indestrutível. Meu peito aperta com a ansiedade do que sinto.Eu a deitei na cama, com cuidado, como se fosse algo precioso demais para ser tocado com brutalidade. Minhas mãos exploram sua pele com lentidão, apreciando cada curva, cada arrepio. Claire suspira quando meus lábios encontram sua clavícula, e um calor ardente toma conta do meu corpo. Eu me perco nela, em seu cheiro, no gosto de sua pele, na forma como seus dedos se entrelaçam nos meus cabelos, puxando-me para mais perto.Quero que esse momen
Jean-lucAs palavras de Claire me cortaram mais do que qualquer faca. Eu sabia que ela havia fugido, era claro no comportamento em relação a sua família. Mas nunca encontrei o porquê. Nunca soubera da dor que a forçara a partir, mas agora podia senti-la chegando devagar.Claire me encarou de novo.— Eu odeio a minha família. Se pudesse, teria uma vida diferente também. — Ela fez uma pausa, e foi como se o ar tivesse ficado mais espesso, mais difícil de respirar. — Eles são repulsivos. Até mais do que toda essa situação que você me colocou.Ela me olhava diretamente agora, e algo dentro de mim se rompeu. O peso de suas palavras foi esmagador. Eu senti a dor que se aproximava de nós ficar maior. Sentei-me na cama, virado para ela, dando-me toda a sua atenção.— Fui abusada pelo meu irmão mais velho quando tinha quatorze anos. — Todo o sangue de meu corpo esfriou. Meus pulmões paralisaram. Ela colocou-se de frente para mim, olhando-me nos olhos. — Aconteceu só uma vez, mas me marcou por
Jean-LucO dia passou devagar, uma sucessão de minutos que se arrastaram e me fizeram refletir em silêncio. A dor de cabeça ainda não tinha me deixado, e as palavras de Claire ecoavam na minha mente, implacáveis. Ela falara de sua dor, de um passado que eu não imaginava, e me sentia fraco por não poder mudar nada.Quando o final do dia chegou, eu sabia o que teria de fazer. Buscá-la. Ver como ela reagiria ao me ver. Eu sabia que ela estaria na escola de artes, então fui até lá, meu carro estacionado perto da entrada, aguardando sua saída. E então, quando a vi saindo do prédio, algo dentro de mim se acendeu. Eu a observei por um instante, até perceber o homem que ela mencionara antes, o tal sujeito que se aproximara dela ontem. Ele estava do outro lado da rua, testando os limites, buscando me instigar. Enquanto ela descia os degraus até mim, sem hesitar, sorri para ele, um sorriso maléfico que o dizia que mais um passo e ele teria a garganta rasgada no meio da rua, e acenei com um gest
Jean-Luc— Ele deve ter imaginado que eu sabia sobre as armas, porque pirou. Então, me bofeteou e me arrastou para o banheiro, gritando que eu não iria ferrar com ele. No corredor, vi algumas malas. Me lembro de ter estranho. Acho que perguntei para ele sobre elas. Então, Thierry me trancou no banheiro, dizendo que a discussão tinha acabado. E, minutos depois, eu escutei o cheiro de fumaça. O alarme de incêndio na cozinha... e logo vi as chamas por debaixo da porta. Eu... eu desmaiei depois de tanto berrar por ajuda e ninguém me ouvir.— Eu ouvi. Eu apareci — disse, sem forças para dizer mais nada.Ela assentiu, mas sua expressão foi de uma calma desconcertante.— Eu estou aqui agora. Com você. Se quiser me beijar, eu vou permitir. Se quiser transar comigo, sou toda sua — ela disse, com uma frieza que me fez tremer. — Mas quero que saiba que não é tão diferente dos outros que me machucaram. Se vou ter que conviver com a merda na qual me colo
Jean-LucClaire olhava para frente outra vez. Ajeitou-se na poltrona, reclinando-a. depois de alguns minutos em silêncio ela tornou a falar, como se já tivesse acabado de digerir a última informação lançada.— Então Franz é como um deus no submundo.Ri baixo, assentindo.— Quase isso.Outro gole no uísque.Ela suspirou, pensativa.— Existem algumas obras de arte roubadas há décadas na casa dele. Alguma chance de devolvê-las?Ri novamente, balançando a cabeça em negativa. O tom leve da conversa agora parecia um presente raro nos últimos dias. Movido por um impulso incontrolável, inclinei-me e a beijei delicadamente. Claire não resistiu. Sua resposta foi imediata, intensa, quebrando a barreira entre nós.O beijo evoluiu, tornando-se mais profundo, mais urgente. E nesse momento me perguntei se apenas o sexo agora seria capaz de fazer essa barreira abaixar por uma hora ou duas. Isso me entristecia
ClaireJean-Luc deu de ombros, o desdém habitual que tinha por algumas coisas.— Ele achou que você gostou mais do quadro do que ele mesmo.O absurdo da situação me atingiu com força, como um soco invisível. Era como se o mundo tivesse virado de cabeça para baixo, e eu estivesse presa em uma realidade distorcida onde presentes eram obras de arte roubadas e compromissos surgiam sem consentimento. O contraste entre o luxo do Monet e a brutalidade na vida de Jean-Luc me fez sentir uma intrusa em um universo que não era meu. Lembrando-me mais uma vez no dia que eu estava amarrada a isso. O sentimento de impotência e o medo criaram um nó no meu peito, tornando difícil até respirar.— Eu não quero isso — murmurei, a voz mais fraca do que pretendia.Virei-me para sair quando Jean-Luc perguntou:— O que você quer que eu faça?— Devolva para Franz.— Isso seria ofensivo.Parei na porta, encarando-o, tentando decifra
Claire Quando saí do banho, o relógio marcava cinco e meia da manhã. O vapor ainda pairava no ar, mas o frio que senti vinha de dentro. Um vazio sufocante se espalhava no peito, uma sensação que nem a água quente conseguiu dissipar. O sono me abandonou, e o cansaço parecia um fardo inútil. O alarme tocou pouco depois, um som estridente que me fez estremecer, mesmo já acordada. Vesti-me apressada, cada movimento mecânico, e saí sem esperar para me despedir de Jean-Luc. O peso do seu olhar seria insuportável agora. O dia se arrastou em um torpor opressor. A sala na escola parecia menor, as paredes mais próximas, e o ar, mais denso. Tentei me esconder atrás da tela de esboço 40x50 no meio do espaço, mas meu rosto me traía. Tinha certeza de que se alguém me olhasse por mais de cinco segundos, saberiam que algo me atormentava.As mãos tremiam levemente, e a mente era um redemoinho de pensamentos que me irritavam e causavam um pouco de pânico. O relógio se recusava a avançar