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Um estranho no beco ( Amy)

Apesar de viver em um bairro perigoso, jamais imaginei que algum dia estaria diante de uma situação como a que agora estou. Observo apavorada o homem sentado numa poça de sangue, o seu próprio sangue, ele ainda está acordado, porém, sua respiração está bastante irregular, sua pele pálida como cera. Minha vontade é de sair correndo daquele beco sujo e deixá-lo lá, porém, minha consciência não me permite tal atitude covarde, ele é um ser humano e não posso simplesmente dar as costas e ir embora e deixá-lo ali para morrer. Que ser humano seria se fizesse isto?

Tiro o celular da bolsa e digito uma mensagem de texto no W******p, enviando para minha amiga que divide apartamento comigo, ela é minha última esperança no momento, felizmente a resposta veio rápida, curta e direta.

__"Estou indo!"

Notei que o ferimento do homem estava sangrando muito, logo tomei uma atitude extrema, retirei a sua camisa social azul claro e, embolando-a, coloco-a sobre seu ferimento. Fico segurando até que minha amiga chegue. Torço internamente para que seja rápido, ou o homem perderá todo o sangue.

Sorrio quando ouço a buzina familiar do carro de minha amiga, ela estacionou o carro no fim do beco e então veio caminhando até nós, sua reação não ver o homem baleado foi bem parecida com a minha.

- Santo Deus, Amy!

Movi minhas mãos ligeiramente, lhe dizendo o básico e ela assentiu.

- Temos que sair daqui depressa! - disse ela.

Abaixando, ela segurou o rosto do homem fazendo-o olhá-la.

- Olá? Sou Dafne e vou tentar ajudá-lo! Diga-me se você consegue caminhar?

- Posso…tentar! - ele respondeu.

Então, ela o segurou de um lado e eu de outro, o homem conseguiu se colocar de pé apoiando-se em nós duas. Foi doloroso tal ação e ele gemia sem parar, assim como nós duas, aquele homem era uma montanha de músculos. Quase que ele nos parte os ombros ao apoiar-se em nós.

- O carro está logo ali, você só tem que caminhar até lá!

Ele passou um braço em volta do meu pescoço e outro em volta do da Dafne e, assim apoiado em nós, duas ele conseguiu caminhar até o carro. Abri a porta de trás do carro. Ele se enfiou encostando no estofado da poltrona, me sentei na frente, ao lado de Dafne que pisou fundo no acelerador.

- Vou te levar para um hospital! - minha amiga cogitou.

O homem que tinha os olhos fechados, abriu-os ao ouvir a fala de Dafne.

- Hospital não!

- O que você quer então? Que te deixaremos sangrar até morrer?

- Se me internarem, quem fez isso comigo vai terminar o serviço!

Dafne e eu nos entreolhamos, sem saber o que fazer nalquele monemto, com aquele estranho.

- Então o que fazemos?

- Por favor, hospital não!

Esta foi sua última palavra ele desmaiou, soltei o que seria um grito, porém sem som.

- Será que ele morreu?

Movi minhas mãos formando a resposta à pergunta de Dafne:

- "Provavelmente ele só desmaiou por causa da perda de sangue."

- Vamos ter que levá-lo ao hospital...

Sacudi a cabeça negando, me lembrava da resistência persistente do homem em não ir e por alguma razão que não compreendia, achei certo atender seu pedido, toquei o ombro de Dafne fazendo com que ela desviasse o olhar da rua e fixasse em mim, então movi ligeiramente as mãos e ela soltou um palavrão.

- Droga Amy! Devagar com isso! - não entendi nada.

Quando estava nervosa tinha o hábito de mover as mãos muito rápido e minha amiga sempre reclamava, não era como se ela fosse especialista em libras. Na verdade, seu conhecimento na área era bem nada... sabia alguns sinais devido sua convivência comigo, logo fui obrigada corrigir meu gesto anterior.

- Você quer que o levemos para casa? - pergunta incrédula.

Balancei a cabeça afirmativamente e o homem no banco de trás, ele gemeu ruidosamente, ele havia acordado do desmaio.

Quando enfim chegamos em casa, nos deparamos com um segundo problema, não havia elevador e sim escadas e, morávamos no quarto andar.

- Ferrou Amy!

Irritada, chutei o pneu do carro, se pudesse falar, teria soltado um palavrão pavoroso. Encostei o rosto contra o ferro frio e assim fiquei um longo tempo até que uma ideia louca atravessou minha mente e, sem nada dizer, a Dafne subiu correndo até o segundo andar, batendo na porta. Logo que o rosto enrugado de Bob surgiu a minha frente, ele era o inquilino mais velho daqui do prédio.

- Menina Amy, aconteceu alguma coisa?

Comecei a mover minhas mãos tentando dizer a ele o que queria.

- Não estou entendendo nada...

Sem importar em parecer rude, entrei na sua casa indo direto para a lavanderia, ele me seguiu confuso. Logo apontei para o carrinho de mão encostado na parede.

- Você quer o carrinho de mão?

Eu sacudi afirmativamente a cabeça e ele sorriu amavelmente, me entregando o carrinho e eu desci o mais depressa possível, empurrando o carrinho. Dafne me fitava, aflita

- Que demora, hein, Amy! Achei que estivesse me abandonado aqui com o moribundo.

"Não seja tola!"

Sinalizei com os dedos e Dafne sorriu largamente, com trabalho colocamos o homem deitado dentro do carrinho ele gemia de dor. Demoramos horas para subir a escada empurrando o carrinho, uma hora eu empurrava em outra Dafne. Pelos sons que o homem fazia, tal subida também não estava sendo prazerosa para ele, finalmente em casa, ajudamos o homem a levantar-se do carrinho e, o levamos para minha cama que era a mais próxima. Depois limpei e desinfetei todo o ferimento.

- Chame o médico! - ele disse

- Nenhum médico virá aqui a essa hora e também, não temos dinheiro para pagar, por isso queríamos levá-lo ao hospital!

Olhando precisamente para mim ele me pediu.

- Pegue meu celular no meu bolso...

Enfiei a mão no seu bolso, retirando de lá um celular de última geração, lhe entreguei e o mesmo fez a senha e discou um número.

- "Mendonça falando!"

- Preciso de seus serviços agora...

- "Onde você está, Montenegro?"

Ele novamente olhou para mim, seus olhos que apesar de apagados, eram intensos:

- "Qual endereço?"

Dafne respondeu por mim, felizmente, não acho que ele soubesse libra, o doutor no outro lado da linha disse:

- "Em uma hora estarei aí!"

Ele desligou o celular e eu pegando de suas mãos, o coloquei sobre o criado mudo.

- Você tem um médico particular? - indaga Dafne

- É o médico da minha família…

- Você não quer que ligue para alguém da sua família?

- Melhor não, só me ajudem que quando sair dessa recompensarei vocês duas muito bem.

Dafne e eu nos entreolhamos, sabíamos pelo porte que era alguém importante, mas o quanto importante seria?

- Já não está mais sangrando! - disse ele.

Felizmente o sangramento havia sido estancado havia notado isso quando eu limpei e desinfetei o ferimento, uns quarenta e cinco minutos depois a campainha soou Dafne foi correndo para atender logo dois homens muito bem vestido e segurando maletas de médico entraram no meu pequeno quarto.

- Qual foi a loucura da vez Montenegro?

O homem na cama sorriu para o homem mais velho era um sorriso forçado sabia pela sua tez tensa que ele sentia dor.

- Levei um tiro, Mendonça!

Vi o tal Mendonça curvar e examinar minuciosamente, o furo no abdômen do homem.

- Vai precisar de cirurgia, Montenegro! Teremos que removê-lo imediatamente para minha clínica.

- Não vou a clínica nenhuma, faça o que quiser fazer aqui mesmo!

- Não seja cabeça dura você corre o risco de morrer...

- Eu…

Peguei a mão do homem entre as minhas, apertando firme. Seu olhar veio até o meu um brilho opaco ali, queria ter voz para falar, mas como não tinha apenas movi meus lábios dizendo mesmo sem som a palavra "vai"!

Ele entendeu a palavra e então olhando para o doutor Mendonça, balançou afirmativamente a cabeça e logo os dois homens o ergueram e o levaram dali. Antes de partir ele prometeu voltar para nos recompensar.

Sozinhas enfim, em casa sem aquele alvoroço, nos jogamos no sofá e ficamos fitando o teto pálido sem nada dizer, estava esgotada emocionalmente.

- Dia inesquecível hein, Amy?

Suspirei fundo, realmente este havia sido um dia em que ficaria para sempre na memória.

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