Capítulo 1

Aquele momento temido e esperado chegou.

E agora?

Serei seu escravo

Ou você será o meu amor?

Christopher Vilard

Muitos anos se passaram depois que fui transformado em vampiro e depois em híbrido. Agora existe tecnologias que nem sonhava existir naquela época. Todos os seres são dominados por uma coisa chamada tecnologia. E o mais engraçado são as desculpas que inventam para continuar fabricando cada vez mais coisas que os prendem no ócio.

Não vou dizer que me esquivo completamente a essas coisas, seria mentira, afinal ter um aparelho que te conecta com pessoas do mundo inteiro pode ser muito útil. Só que o meu aparelho está enferrujado, pois não tenho ninguém para quem eu deseje ligar. Nunca deixarei que saibam disso, mas tenho inveja dos seres inferiores que tem alguém que se preocupa em saber como estão sentindo, alguém que espera entre lençóis ou alguém que lute ao meu lado. Ninguém precisa saber que as palavras do lobo maldito que me transformou se concretizaram.

Eu desejo, com todo o meu ser, amar alguém, não desejar, isso faço todos os dias e com várias mulheres diferentes. Eu quero alguém para brigar comigo por ciúmes e fazermos as pazes completamente nus, ou talvez nem tanto... Gosto de sexo semivestido. Eu quero alguém que me olhe com carinho, alguém que eu proteja com toda minha alma corrompida. Eu quero amar, tanto quanto quero saber o que é ser amado. Mas isso me foi negado.

Chega merda, não quero mais pensar nisso! Preciso focar no presente. O gosto de sangue na minha boca indicava isso, pois era o gosto do meu sangue.

Meu oponente se agitava de um lado para o outro no ringue como se seus pés pegassem fogo.

O que será que esse idiota pensa? Será que ele é iludido ao ponto de acreditar que seus movimentos ridículos me assustam? Deve ter se iludido pelo fato de me acertar. Muitos não conseguiam isso e posso ver que muitos eram mais fortes que esse idiota.

Alguém iria pagar. Exigi que me enviassem seu melhor lutador e eles me mandam esse imbecil. Nem parece um híbrido. Sem paciência, acertei um soco, derrubando-o antes mesmo que ele tentasse me atacar novamente. Tinha que sair daqui e transar com uma humana ou duas ou três. Lembrar do passado e me sentir sozinho era a minha única fraqueza. Durante centenas de anos vivi entre agradecer e amaldiçoar a minha condição de “imortal”. Ao agradecer me esbaldava em sexo e ao amaldiçoar me esbaldava em sangue, muitas vezes no mesmo momento, trazendo para mim ira e medo. Eu não sou uma boa pessoa, sequer sou uma pessoa.

— Se nem consegue se defender, não deveria sair de casa. — Virei as costas escutando o barulho das pessoas ao redor e do homem que contava inutilmente, pois o meu oponente não teria condições de lutar.

Comecei a sair do ringue sem esperar o fim da contagem. Aquele lugar já não me atraia mais hoje. Enquanto andava, olhei ao meu redor em busca de uma humana que pudesse esquentar a minha cama. Elas eram as melhores quando o assunto era sexo. Tão frágeis e sensíveis.

Mas o que vi me fez estremecer. Havia membros do conselho espalhados entre a plateia. Era mais de cinco, contei nove. Apostaria minha alma, se tivesse uma, que eles queriam falar sobre a tal profecia. Não sei se acredito neles. Só vou saber se realmente é verdadeira em três dias, quando finalmente completo mil anos de existência.

Até pensei em tentar fugir da conversa dessa vez. Poderia matar alguns deles antes de ser subjugado. Apesar de ser o mais forte entre eles, sabia das minhas limitações, muitos deles poderiam me segurar. A quantidade era o fator primordial nesse momento. Por isso me decidi.

Simplesmente caminhei até Dougllas, o vampiro do conselho.

— Vieram ver a luta? — caprichei no cinismo.

— Não. Seria um desperdício pagar por algo tão rápido. O que foi? Ejaculação precoce?

Rindo da sua ousadia, comentei:

— Apenas tédio. Acho melhor lutar com algumas morenas em uma cama redonda.

— Vai ter que adiar sua orgia do dia. Precisamos conversar. Ainda não acabou.

Dei de ombros.

— Claro. Me siga.

Não olhei para trás enquanto andava, mas sabia que todos eles me seguiam.  Inclusive Allan Jhones, meu único amigo, que viu a movimentação.

Em uma sala onde apostadores se reuniam para decidir sobre as lutas, escutei Dougllas dizer:

— Viemos comunicá-lo que os conselheiros se reuniram e decidiram que temos interesse na mulher da profecia.

Revirei os olhos e cruzei os braços na intenção de dizer que não ligava para profecia alguma, que eles poderiam fazer o que quisessem com a tal mulher.

Mas parece que eles não entenderam, pois ele continuou:

— Nós sabemos que você não tem interesse em comandar mundo algum, então decidimos que podemos evitar que você seja escravizado pelo amor.

— Escravizado? — foi Allan Jhones que perguntou. Às vezes acho que ele tem acesso aos meus pensamentos, pois era exatamente o que eu pretendia perguntar. Por isso eu o considerava o meu melhor amigo, apesar de tê-lo ao meu lado quase como uma tortura, pois ele é um lobo apaixonado por sua esposa e me lembra a todo momento que posso ter tudo, menos amor verdadeiro.

— O nosso sonho foi bem claro, a mulher da profecia não é uma benção para você. Ela é mais uma punição que virá com o intuito de fazê-lo pagar pela dor das mulheres que o rodearam e sofreram. Você vai amá-la e ela vai amá-lo, mas isso será o seu fim.

— Não acredito em nada do que diz.

— Mais tarde vai acreditar e se arrepender.

— Isso é problema meu. Esqueçam qualquer possibilidade de acordo. E se não tiverem mais nada para dizer, preciso cuidar dos meus assuntos.

— É a sua palavra final?

Apenas balancei a cabeça confirmando. Em meu rosto um sorriso de canto para provocá-los.

— Como eu disse, você vai se arrepender. — Com essa ameaça explicita, Dougllas saiu e os outros o seguiram como cães comandados pelo adestrador.

Allan Jhones permaneceu parado no mesmo lugar, encostado na parede. Até que eu ordenei:

— Procure essa garota e traga para mim. Vamos acabar logo com essa palhaçada de profecia. — Ainda não acredito em tal profecia, mas é melhor prevenir. Meu desejo era descobrir se ela existia e o que ela era capaz. E se o despertar fosse em uma gostosa, melhor ainda... Ou era a minha vontade de amar que falava mais alto? Quem sabe? Eu não.

Allan não respondeu. Nem precisava. Se ela existisse, ele encontraria. Allan Jhones não é o tipo que desiste ou que não cumpre uma ordem perfeitamente. Era o único ser ao qual eu confiava a minha existência. Esse lobo sabe meus piores segredos e pesadelos.

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