Por que ela não apareceu logo depois de adulta? Além disso, ela era humana, para ficar comigo eu teria que transformá-la, ou seria uma relação bem curta. Que profecia mais sem sentido.
Tenho certeza de que Allan resmungava em pensamento, dizendo que eu quem pedi para que a trouxesse até a mim assim que despertasse. Não preciso ler pensamentos para saber disso. O idiota me olha com um sorriso ladino e os olhos castanhos brilhando de empolgação. Esse maldito adora uma confusão. Eu bem que podia furar seus olhos. Ou arrancar alguns dentes para que deixe de sorrir feito um babaca.
Realmente pedi que a trouxesse no momento em que despertasse, só que eu esperava que ela fosse despertada quando já estivesse pronta para os meus caprichos. Assim, ainda que o amor fosse uma mentira de uma profecia de merda, ainda haveria luxúria, e essa eu faria ser real. Agora... O que eu faço com esse ser humano em miniatura?
Afastei a vontade de abrir a cabeça de Allan com um machado e o ouvi dizer:
— Também acho que não é uma boa ideia você no papel de pai dela. Minha afilhada precisa de uma família completa e estável. Precisa de pai e mãe. Não de um relacionamento esquisito que vai ficar mais esquisito ainda quando ela se tornar mulher e começar a desejar você. Já pensou o que vai virar a cabeça da garota?
Passo a mão na cabeça, bagunçando meus cabelos.
Esse idiota está certo.
Até que Allan se mostrou um ótimo possível padrinho. A sugestão dele era a ideal. Essa criança precisa de pais.
Logo me lembrei dos pais de Agatha que moravam na cidade. Tenho certeza que com um bom incentivo financeiro ele cuidariam bem da pequena humana.
A chamei através de um bip e ela apareceu rapidamente.
— Pois não, senhor?
— Como é o lugar onde seus pais moram?
Ela demora alguns segundos tentando entender o motivo da pergunta, mas parece notar minha falta de paciência rapidamente e responde:
— É tranquilo. Apesar de não ser de pessoas ricas tem toda a estrutura para se viver bem e em segurança — ela respondeu sem questionar. Por isso era a minha favorita. Me obedecia no trabalho e na cama de forma objetiva.
— Você já deve ter visto a criança que chegou nessa casa. Quero que diga aos seus pais para virem aqui. Tenho uma proposta para eles.
— Sim, senhor.
Agatha ligou para os pais e eles chegaram quase uma hora depois. Hora que passei na sala olhando Allan beber tranquilamente. Desejei que ele pudesse ficar bêbado só para ter uma bela ressaca e sentir pelo menos um pouquinho do meu desespero. Como se o meu desespero se comparasse com uma ressaca!
Os pais de Agatha chegaram. A mãe dela é quase uma cópia da filha, é uma loba de uma família tradicional, que reproduzem apenas entre si, então permanecem jovens pelo tempo em que viverem. Meus pais teriam orgulho de uma família assim. Aqueles malditos que foderam com a minha cabeça. Levei centenas de anos, mas desaprendi tudo que me ensinaram. Por isso nunca mais me casei. Eu não teria uma mulher ao meu lado se não a amasse, preferia uma eternidade de solidão.
Fiz a proposta aos pais da Agatha, que foi aceita imediatamente. Se foi por medo ou pelo dinheiro, tanto faz. Alma Demise seria a filha deles pelos próximos anos. Viveria sem saber de profecia alguma, pelo menos até o momento em que ela pudesse entender o significado disso. Eles receberiam uma quantia mensal e me informariam sobre tudo que acontecesse na vida dela.
Negociações feitas, era hora da despedida. A mãe de Agatha se aproximou com Alma, na mesma manta em que ela chegou. Olhei para a bebê, que dormia, por alguns instantes, mas não disse nada. Apenas em meus pensamentos, prometia zelar por ela sempre. Daria a ela tudo que neguei a Juliette, Louise e ao meu filho que nunca nasceu.
Nos vemos em breve, Alma Demise. Virei as costas e sai da sala, deixando Allan cuidar de guiar aquelas pessoas até a saída.
Agora me resta esperar. O que o futuro me reserva?
O tempo passa lento. Todos os dias recebo um relatório sobre os acontecimentos na vida de Alma. Já se passaram cinco anos. E só acompanho a vida dela através desses relatórios e de fotos. Ao contrário de Allan, que a visita regularmente, sempre mantendo distância para não confundir sua mente infantil.
— Como ela está? — pergunto quando ele entra no vestiário da Alpha Power. Onde estou me preparando para mais um desafiante.
Quando criei o Alpha Power minha intenção era ser um clube exclusivo para híbridos, mesmo que tenha criado ao lado de Allan Jhones, um lobo. Ele não luta, não permito.
— Espoleta. Observei ela fazer birra para não voltar do parquinho. A babá que foi contratada ano passado está passando por maus momentos. Se eu não soubesse da história diria que é uma cópia sua. — Ele ri.
— Engraçado demais!
— Sei que sou. — O sorriso some. — Nem um movimento daqueles velhos ainda? — Nego brevemente com a cabeça. — Detesto isso de não saber o que vão aprontar e quando vão aprontar.
— Vamos continuar de olho neles e antecipar qualquer ataque. — Levanto. Está na hora de ganhar de mais um desafiante.
Allan anda comigo para fora do lugar. E quando chego onde posso ver o público, noto a presença.
— O que sua mulher faz aqui quando nem você deveria frequentar?
— Abra uma exceção. Lynda está jogando demais. É minha tentativa de fazer ela se interessar por outras coisas.
— Um clube de lobos não seria o ideal?
— Nenhum clube de lobo tem o melhor dos melhores aceitando desafios.
— Some, Allan! Antes que eu te coloque no ringue e acabe com sua raça.
— Você não faria isso. Só híbridos lutam, esqueceu?
Viro para ele com um olhar mortal. Ele só levanta os braços em rendição e sai rindo. Juro que não sei porque ainda não matei esse maldito palhaço.
Vou para o ringue e demoro um pouco a derrubar meu desafiante. Só para dar um gostinho ao público, porque o cara é um fracote. Enquanto isso penso em Alma e em tudo que pode acontecer.
O que será que aqueles inúteis do Conselho estão aprontando?
Durante esses anos, nada de movimentação por parte deles.
Vamos esperar. Não importa o que aprontem, estarei pronto para proteger Alma e revidar.
Por que ser princesa se posso ser heroína?Por que esperar o príncipe se posso resgatá-lo?Por que esperar o amor se posso simplesmente amar?Alma DemiseAnos depois...Sai do meu colégio tão distraída que quase não notei a grandiosa limusine parada no portão. Aquilo era muito estranho. O que um veículo daquele fazia em frente a uma escola pública? Era chamativo, mas nada mais me importava, além do meu aniversário de oito anos que aconteceria amanhã. Todas as minhas amigas iriam, até as chatas que ficam zoando o meu tamanho, por ser a mais baixinha do colégio. Quero que tudo saia perfeito e que elas me invejem.— Ainda bem que meus pais não leem pensamentos ou adeus festa — comentei com a minha melhor amiga, Lin. Uma menina linda de descendência japonesa. Ela tinha os olhos puxados, os cabelos negros e lisos, e pele branquíssima. Parecia uma boneca. Mas uma boneca mais alta que eu.— Os pais já tiveram a nossa idade e insistem em fingir que sempre foram maduros. Fingem que nunca senti
Tudo parece mais intensoMais complicado.Quem inventou a adolescência deveria ser punido.Alma Demise— Ela está acordando? — ouvi a voz da minha mãe.— O que houve? — abri os olhos e percebi que estava no meu quarto. — Como cheguei aqui?— Policiais te trouxeram. Houve uma tentativa de sequestro. Parece que era para pegar a menina que os pais ganharam na loteria.— E o coreano?— Que coreano?— Havia um homem coreano no carro. Eu vi. E havia dois lobos.— Acho que anda perdendo muito tempo com esse tal de k-pop. Ao ponto de delirar — minha mãe disse rudemente.— Eu vi, mãe! — a forma como ela debochava das minhas palavras era irritante.— O que a nossa princesa viu? — meu pai entrou no quarto.— Ela ainda está impressionada e diz que viu lobos e coreanos durante o sequestro.— Os policiais não falaram nada. — Meu pai balança a cabeça negativamente.— Vocês estão escondendo alguma coisa. Por que aquelas pessoas na limusine estavam me seguindo?— Pelo amor de Deus, que pessoas? — minh
Foram poucos minutos até o tal galpão. Não tentei lutar enquanto era levada nos ombros do brutamonte e deixada em um canto, perto de algumas caixas. O lugar sujo e cheio de coisas quebradas dava uma sensação de abandono que enchia minha mente de pensamentos nada agradáveis sobre coisas horríveis que eles podiam fazer comigo.— Vigiem a entrada. Vou ficar com ela.Mal os caras saíram, ouvi um uivo alto e barulho de coisas caindo.O brutamonte permaneceu em seu lugar, imóvel. Parecia não ter a mínima intenção de ajudar os colegas e me dar a chance de fugir. Ou será que o barulho ela feito pelos colegas dele? Eu queria que fosse um herói para me salvar, queria que fossem meus pais com a polícia.O cara só fez movimentos quando vi dois lobos entrando no lugar. Um era cinza e o outro negro, como o daquela vez em que delirei. Lobos imensos.Não tive tempo de sequer entrar em estado de pavor. Eles atacaram o homem e puxaram para fora sem muita dificuldade. Fiquei parada ouvindo os sons sinis
Quando ela chegou Trouxe um furacão Toda minha existência transformada em um brinquedo em suas mãos delicadas e cruéisNão me iludoEla pode me destruir Ela pode me fazer amarChristopher Vilard— Eu não sou o seu pai, Alma. E não vou explicar nada para você agora — declarei passando a mão no rosto, onde ela cuspiu. — Saiba apenas que você vai morar nessa casa a partir de agora. Agatha, mostre a ela o quarto que vai ocupar e chame o Dr. Diaz para cuidar dos ferimentos.Minha paciência já havia ultrapassado o limite há tempos. Só de imaginar que quase a perdi, tenho vontade de incendiar o maldito Conselho. Aqueles idiotas me fizeram ir até eles simplesmente para me desviar do que fariam. Eu devia ter desconfiado quando exigiram a presença de Allan. Se eu não tivesse escutado a conversa de um deles no telefone, poderia nunca mais vê-la.Tudo foi sorte e não quero mais contar com isso. Pouco após ouvir a ligação por acidente, Henri ligou para Allan pedindo ajuda e o ajudei a despistar
Algum tempo depois...Não pensei que fosse fácil, porém não me prepararam para o furacão em minha existência. Estou a ponto de dar umas boas palmadas em Alma. Ela ficou praticamente um mês enclausurada no quarto. Só saiu quando me dei conta que precisava fazer alguma coisa e proibi os empregados de levarem comida para ela.Quando a fome apertou, ela vai cedeu.O nosso primeiro jantar sozinhos foi um desastre, porém foi esclarecedor. Ela entrou na sala de jantar usando baby-doll preto. Algo que a cor só podia ser um protesto. Fingi nem notar. Pelo menos era mais decente que a roupa com a qual foi sequestrada, pois o short não mostrava tanto das suas coxas e a blusa cobria sua barriga.Comemos em silêncio. Um silêncio tão pesado que cheguei ao cúmulo de sentir falta dos seus gritos e reclamações.— Cansou de brincar de menina birrenta? — nem acreditei no que saiu da minha boca. Eu a estava provocando? Eu sou a porra de um homem com mil anos e estou provocando uma ninfeta? Só posso estar
Talvez você nem queiraMas alguém insiste tanto em te afastar Que o objeto acaba sendo desejado.Alma DemiseNunca pensei que pudesse sentir tanta raiva de alguém, meu corpo parecia prestes a explodir vendo meus pais me abandonarem nas mãos de um desconhecido. Quando o homem tatuado bateu na porta e entrou, pensei em colocá-lo para correr, mas não me movi, continuei deitada na mesma posição.Ele se sentou em uma poltrona que havia perto da cama e contou uma história surreal sobre uma profecia, sobre o fato de que as pessoas que achei serem meus pais terem sido contratadas para cuidar de mim. Na verdade, eles eram pais da loba que me levou até o quarto. A mulher com cara de quem vive chupando limão.Minha mãe de verdade estava morta e ninguém sabia quem era o meu pai. Chorei silenciosamente enquanto ouvia tudo. Ele tentou me fazer dizer alguma coisa, mas eu simplesmente não conseguia.Quando ele saiu, chorei muito mais... tudo que podia.Nos dias que se seguiram simplesmente não conse
— O que está acontecendo aqui? — questionou olhando de Agatha para mim.A vadia se levantou rapidamente a se agarrou a um dos braços musculosos dele.Olhei os dois com raiva. Quando ela começou a se rasgar eu já tinha entendido que queria fazer um teatro. E pelo que percebo, deu certo seu show.— Não vou entrar nesse jogo — disse e me sentei na cama. — Saiam do meu quarto.— Senhor, me perdoe, eu não quis provocá-la. Só queria saber se ela queria que lavassem suas roupas... e fui atacada.Ao ouvir a voz chorosa, acabei rindo.— Eu disse que era só uma empregada nessa casa, mas ela... ela... — e começou a chorar compulsivamente.— Você é mais que uma funcionária, é minha amiga. — Christopher parecia furioso.Apontei para ele, tremendo de raiva diante dessa situação de merda.— Esse teatro todo faria sentido se eu quisesse algo com você, seu ridículo. Basta abrir a porta que sairei — disse devolvendo o olhar de ira.— Vamos cuidar do seu rosto — ele disse para Agatha e se virou para mim
Aqueles que não se valorizamNão merecem valorAqueles que não se amamNão merecem amorChristopher VilardCumprir o que falei para Alma estava cada vez mais difícil. Principalmente nos momentos em que ela estava na escola, pois era nesses momentos em que Agatha se insinuava mais, eu não posso negar que ela é uma tentação.Não falei com Agatha que não podíamos mais ficar. Simplesmente não a procurei mais e disse não quando se ofereceu. O que foi uma vez por dia nas últimas semanas. Apesar de toda tentação e das roupas provocantes da loba, era uma colegial de uniforme meu maior problema. Quando ela estivesse pronta me pagaria por toda a provocação, pagaria usando aquele uniforme. Saia preta de pregas na altura dos joelhos, blusa branca de botões, meias longas e sapatos de salto baixo pretos. Quem inventou essa porra de uniforme sexy?Era sexta-feira e estava anoitecendo, e nada de Alma chegar da escola. Liguei para Allan e o infeliz não me atendeu. Eu estava pronto para ir atrás deles