Capítulo 4

Por que ela não apareceu logo depois de adulta? Além disso, ela era humana, para ficar comigo eu teria que transformá-la, ou seria uma relação bem curta. Que profecia mais sem sentido.

Tenho certeza de que Allan resmungava em pensamento, dizendo que eu quem pedi para que a trouxesse até a mim assim que despertasse. Não preciso ler pensamentos para saber disso. O idiota me olha com um sorriso ladino e os olhos castanhos brilhando de empolgação. Esse maldito adora uma confusão. Eu bem que podia furar seus olhos. Ou arrancar alguns dentes para que deixe de sorrir feito um babaca.

Realmente pedi que a trouxesse no momento em que despertasse, só que eu esperava que ela fosse despertada quando já estivesse pronta para os meus caprichos. Assim, ainda que o amor fosse uma mentira de uma profecia de merda, ainda haveria luxúria, e essa eu faria ser real. Agora... O que eu faço com esse ser humano em miniatura?

Afastei a vontade de abrir a cabeça de Allan com um machado e o ouvi dizer:

— Também acho que não é uma boa ideia você no papel de pai dela. Minha afilhada precisa de uma família completa e estável. Precisa de pai e mãe. Não de um relacionamento esquisito que vai ficar mais esquisito ainda quando ela se tornar mulher e começar a desejar você. Já pensou o que vai virar a cabeça da garota?

Passo a mão na cabeça, bagunçando meus cabelos.

Esse idiota está certo.

Até que Allan se mostrou um ótimo possível padrinho. A sugestão dele era a ideal. Essa criança precisa de pais.

Logo me lembrei dos pais de Agatha que moravam na cidade. Tenho certeza que com um bom incentivo financeiro ele cuidariam bem da pequena humana.

A chamei através de um bip e ela apareceu rapidamente.

— Pois não, senhor?

— Como é o lugar onde seus pais moram?

Ela demora alguns segundos tentando entender o motivo da pergunta, mas parece notar minha falta de paciência rapidamente e responde:

— É tranquilo. Apesar de não ser de pessoas ricas tem toda a estrutura para se viver bem e em segurança — ela respondeu sem questionar. Por isso era a minha favorita. Me obedecia no trabalho e na cama de forma objetiva.

— Você já deve ter visto a criança que chegou nessa casa. Quero que diga aos seus pais para virem aqui. Tenho uma proposta para eles.

— Sim, senhor.

Agatha ligou para os pais e eles chegaram quase uma hora depois. Hora que passei na sala olhando Allan beber tranquilamente.  Desejei que ele pudesse ficar bêbado só para ter uma bela ressaca e sentir pelo menos um pouquinho do meu desespero. Como se o meu desespero se comparasse com uma ressaca!

Os pais de Agatha chegaram. A mãe dela é quase uma cópia da filha, é uma loba de uma família tradicional, que reproduzem apenas entre si, então permanecem jovens pelo tempo em que viverem. Meus pais teriam orgulho de uma família assim. Aqueles malditos que foderam com a minha cabeça. Levei centenas de anos, mas desaprendi tudo que me ensinaram. Por isso nunca mais me casei. Eu não teria uma mulher ao meu lado se não a amasse, preferia uma eternidade de solidão.

Fiz a proposta aos pais da Agatha, que foi aceita imediatamente. Se foi por medo ou pelo dinheiro, tanto faz. Alma Demise seria a filha deles pelos próximos anos. Viveria sem saber de profecia alguma, pelo menos até o momento em que ela pudesse entender o significado disso. Eles receberiam uma quantia mensal e me informariam sobre tudo que acontecesse na vida dela.

Negociações feitas, era hora da despedida. A mãe de Agatha se aproximou com Alma, na mesma manta em que ela chegou. Olhei para a bebê, que dormia, por alguns instantes, mas não disse nada. Apenas em meus pensamentos, prometia zelar por ela sempre. Daria a ela tudo que neguei a Juliette, Louise e ao meu filho que nunca nasceu.

Nos vemos em breve, Alma Demise. Virei as costas e sai da sala, deixando Allan cuidar de guiar aquelas pessoas até a saída.

Agora me resta esperar. O que o futuro me reserva?

O tempo passa lento. Todos os dias recebo um relatório sobre os acontecimentos na vida de Alma. Já se passaram cinco anos. E só acompanho a vida dela através desses relatórios e de fotos. Ao contrário de Allan, que a visita regularmente, sempre mantendo distância para não confundir sua mente infantil.

— Como ela está? — pergunto quando ele entra no vestiário da Alpha Power. Onde estou me preparando para mais um desafiante.

Quando criei o Alpha Power minha intenção era ser um clube exclusivo para híbridos, mesmo que tenha criado ao lado de Allan Jhones, um lobo. Ele não luta, não permito.

— Espoleta. Observei ela fazer birra para não voltar do parquinho. A babá que foi contratada ano passado está passando por maus momentos. Se eu não soubesse da história diria que é uma cópia sua. — Ele ri.

— Engraçado demais! 

— Sei que sou. — O sorriso some. — Nem um movimento daqueles velhos ainda? — Nego brevemente com a cabeça. — Detesto isso de não saber o que vão aprontar e quando vão aprontar.

— Vamos continuar de olho neles e antecipar qualquer ataque. — Levanto. Está na hora de ganhar de mais um desafiante.

Allan anda comigo para fora do lugar. E quando chego onde posso ver o público, noto a presença.

— O que sua mulher faz aqui quando nem você deveria frequentar?

— Abra uma exceção. Lynda está jogando demais. É minha tentativa de fazer ela se interessar por outras coisas.

— Um clube de lobos não seria o ideal?

— Nenhum clube de lobo tem o melhor dos melhores aceitando desafios.

— Some, Allan! Antes que eu te coloque no ringue e acabe com sua raça.

— Você não faria isso. Só híbridos lutam, esqueceu?

Viro para ele com um olhar mortal. Ele só levanta os braços em rendição e sai rindo. Juro que não sei porque ainda não matei esse maldito palhaço.

Vou para o ringue e demoro um pouco a derrubar meu desafiante. Só para dar um gostinho ao público, porque o cara é um fracote. Enquanto isso penso em Alma e em tudo que pode acontecer.

O que será que aqueles inúteis do Conselho estão aprontando?

Durante esses anos, nada de movimentação por parte deles.

Vamos esperar. Não importa o que aprontem, estarei pronto para proteger Alma e revidar.

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