Por que ser princesa se posso ser heroína?
Por que esperar o príncipe se posso resgatá-lo? Por que esperar o amor se posso simplesmente amar?Alma DemiseAnos depois...
Sai do meu colégio tão distraída que quase não notei a grandiosa limusine parada no portão. Aquilo era muito estranho. O que um veículo daquele fazia em frente a uma escola pública? Era chamativo, mas nada mais me importava, além do meu aniversário de oito anos que aconteceria amanhã. Todas as minhas amigas iriam, até as chatas que ficam zoando o meu tamanho, por ser a mais baixinha do colégio. Quero que tudo saia perfeito e que elas me invejem. — Ainda bem que meus pais não leem pensamentos ou adeus festa — comentei com a minha melhor amiga, Lin. Uma menina linda de descendência japonesa. Ela tinha os olhos puxados, os cabelos negros e lisos, e pele branquíssima. Parecia uma boneca. Mas uma boneca mais alta que eu. — Os pais já tiveram a nossa idade e insistem em fingir que sempre foram maduros. Fingem que nunca sentiram inveja, raiva, nunca fizeram birra. — Pois acho que eles fazem até hoje — comentei, e rimos. — Esquece os velhos! Quem será que está usando essa limosine? Acho que é a Vicky. Dizem que os pais dela ganharam na loteria. Deve estar ostentando — ela comentou olhando o veículo que ficava para trás. — Nem ligo. Está na hora do nosso ritual — mostrei o celular e o fone para ela. Lin também pegou o seu e começamos a ouvir a nossa música favorita do BTS pela enésima vez. Eu sou curiosa, mas não o bastante para ser enxerida. O celular de segunda mão me dava a opção de colocar para repetir e era isso que eu queria, ouvir música até decorar ou até chegar em casa e meus pais me obrigarem a fazer as coisas estranhas de sempre. Enquanto os pais dos meus colegas mandam seus filhos fazerem os trabalhos da escola ou domésticos, os meus me obrigam a aprender artes marciais, montar quebra-cabeças de sei lá quantas peças, ler sobre a história de lobos, vampiros e híbridos, e tudo que me parece inútil. Uma menina humana de sete anos não gosta desse tipo de coisa, mas gritar isso todos os dias não fazia efeito. Eles continuavam agindo como pais ETs. Me afastei da escola caminhando ao lado da minha amiga Lin. Tudo estava indo muito bem, até ela começar a puxar a manga do meu uniforme e exigir atenção. — O QUE FOI? — gritei ao mesmo tempo em que arrancava os fones. — Eles estão nos seguindo — apontou a tal limusine que estava na porta da escola. Estávamos na calçada. A limusine parou na nossa frente, porém antes que os homens de preto, que desciam, nos alcançassem, outro carro parou e me vi sendo arrastada para dentro dele. — ME SOLTAAAA! — comecei a gritar e espernear. Um homem me segurava pela cintura como se eu fosse um saco de alguma coisa. Era difícil de acertar qualquer golpe eficiente na posição em que eu estava. Droga de aulas de defesa, realmente não servem para nada! O cara sentou no banco de trás comigo e gritou: — Vamos! Vamos! Eles vão nos alcançar. Pude ouvir o carro cantando pneus. Um som que deixava claro que isso não terminaria bem. Medo, perguntas, confusão. Eu mal conseguia pensar em uma forma de escapar. — O que querem? Por que estão me levando? — exijo saber. O desgraçado olha para mim com um sorrido maldoso e coloca o dedo na própria boca em um pedido de silêncio. — Fica quietinha! “Quietinha uma ova!” Podem me levar, podem me machucar e até me matar, mas não sem luta. Pulei como uma gata selvagem sobre o homem três vezes, ou mais, maior que eu. Bati, mordi, chutei. Ele tentava me segurar, mas eu estava descontrolada de medo do que eles fariam comigo. Poderia ser um sequestro para vender meus órgãos, ou um estupro. Não existia nenhuma opção boa. E eu continuaria batendo nele loucamente se o carro não freasse abruptamente me jogando para frente. Não sei o motivo da parada, mas sabia de uma coisa... Era a minha chance. Eu estava pronta para aproveitar e fugir, mas vi algo que me paralisou. Havia um homem de sobretudo preto parado no meio do caminho. Estávamos próximos o bastante para saber que aquele homem era coreano, mas era velho demais para ser um dos meninos do BTS que tanto amo. Também era muito musculoso, nem o sobretudo escondia seu tamanho. Confesso que o achei lindo. Se fosse um sonho seria um dos esquisitos. — Passa por cima dele! — o homem me ignorou por alguns instantes, focado na figura a nossa frente. O outro acelerou e passou por cima do coreano, mas ele não caiu em parte alguma, estava sobre o carro e enfiou a mão pela janela puxando o cara que estava comigo. Ao cair no chão, o cara se transformou em um lobo e corria atrás do carro, mas um lobo negro, muito maior que ele, o atacou. Eu olhava tudo pela janela do carro. Só desviei a atenção quando o coreano arrancou a porta do carona e se sentou ao lado do homem que dirigia. — Eu não quero te matar na frente dela — sua voz era assustadoramente calma. Como a de um vilão de filme, que se mostra calmo enquanto o mocinho grita e xinga. — Não devia se meter nas coisas do Conselho, seu híbrido nojento. — Apenas pule e avise aos seus chefes que ela é minha — sua voz agora era quase um rosnado. Vi as presas evidentes. O homem pareceu entender que estava em desvantagem, pois simplesmente abriu a porta e pulou. O coreano pisou no freio e fez o carro parar bruscamente. Fui arremessada em direção ao vidro, mas mãos fortes me seguraram. Naqueles poucos milésimos de segundos, ele apareceu no banco de trás me puxando de volta ao meu lugar. — Você está bem? — questionou esquadrinhando o meu rosto. — Quem é você? Ele respondeu, mas eu não ouvi. Em toda a minha pacata vida nunca passei por algo sequer próximo a isso, e simplesmente desmaiei.Tudo parece mais intensoMais complicado.Quem inventou a adolescência deveria ser punido.Alma Demise— Ela está acordando? — ouvi a voz da minha mãe.— O que houve? — abri os olhos e percebi que estava no meu quarto. — Como cheguei aqui?— Policiais te trouxeram. Houve uma tentativa de sequestro. Parece que era para pegar a menina que os pais ganharam na loteria.— E o coreano?— Que coreano?— Havia um homem coreano no carro. Eu vi. E havia dois lobos.— Acho que anda perdendo muito tempo com esse tal de k-pop. Ao ponto de delirar — minha mãe disse rudemente.— Eu vi, mãe! — a forma como ela debochava das minhas palavras era irritante.— O que a nossa princesa viu? — meu pai entrou no quarto.— Ela ainda está impressionada e diz que viu lobos e coreanos durante o sequestro.— Os policiais não falaram nada. — Meu pai balança a cabeça negativamente.— Vocês estão escondendo alguma coisa. Por que aquelas pessoas na limusine estavam me seguindo?— Pelo amor de Deus, que pessoas? — minh
Foram poucos minutos até o tal galpão. Não tentei lutar enquanto era levada nos ombros do brutamonte e deixada em um canto, perto de algumas caixas. O lugar sujo e cheio de coisas quebradas dava uma sensação de abandono que enchia minha mente de pensamentos nada agradáveis sobre coisas horríveis que eles podiam fazer comigo.— Vigiem a entrada. Vou ficar com ela.Mal os caras saíram, ouvi um uivo alto e barulho de coisas caindo.O brutamonte permaneceu em seu lugar, imóvel. Parecia não ter a mínima intenção de ajudar os colegas e me dar a chance de fugir. Ou será que o barulho ela feito pelos colegas dele? Eu queria que fosse um herói para me salvar, queria que fossem meus pais com a polícia.O cara só fez movimentos quando vi dois lobos entrando no lugar. Um era cinza e o outro negro, como o daquela vez em que delirei. Lobos imensos.Não tive tempo de sequer entrar em estado de pavor. Eles atacaram o homem e puxaram para fora sem muita dificuldade. Fiquei parada ouvindo os sons sinis
Quando ela chegou Trouxe um furacão Toda minha existência transformada em um brinquedo em suas mãos delicadas e cruéisNão me iludoEla pode me destruir Ela pode me fazer amarChristopher Vilard— Eu não sou o seu pai, Alma. E não vou explicar nada para você agora — declarei passando a mão no rosto, onde ela cuspiu. — Saiba apenas que você vai morar nessa casa a partir de agora. Agatha, mostre a ela o quarto que vai ocupar e chame o Dr. Diaz para cuidar dos ferimentos.Minha paciência já havia ultrapassado o limite há tempos. Só de imaginar que quase a perdi, tenho vontade de incendiar o maldito Conselho. Aqueles idiotas me fizeram ir até eles simplesmente para me desviar do que fariam. Eu devia ter desconfiado quando exigiram a presença de Allan. Se eu não tivesse escutado a conversa de um deles no telefone, poderia nunca mais vê-la.Tudo foi sorte e não quero mais contar com isso. Pouco após ouvir a ligação por acidente, Henri ligou para Allan pedindo ajuda e o ajudei a despistar
Algum tempo depois...Não pensei que fosse fácil, porém não me prepararam para o furacão em minha existência. Estou a ponto de dar umas boas palmadas em Alma. Ela ficou praticamente um mês enclausurada no quarto. Só saiu quando me dei conta que precisava fazer alguma coisa e proibi os empregados de levarem comida para ela.Quando a fome apertou, ela vai cedeu.O nosso primeiro jantar sozinhos foi um desastre, porém foi esclarecedor. Ela entrou na sala de jantar usando baby-doll preto. Algo que a cor só podia ser um protesto. Fingi nem notar. Pelo menos era mais decente que a roupa com a qual foi sequestrada, pois o short não mostrava tanto das suas coxas e a blusa cobria sua barriga.Comemos em silêncio. Um silêncio tão pesado que cheguei ao cúmulo de sentir falta dos seus gritos e reclamações.— Cansou de brincar de menina birrenta? — nem acreditei no que saiu da minha boca. Eu a estava provocando? Eu sou a porra de um homem com mil anos e estou provocando uma ninfeta? Só posso estar
Talvez você nem queiraMas alguém insiste tanto em te afastar Que o objeto acaba sendo desejado.Alma DemiseNunca pensei que pudesse sentir tanta raiva de alguém, meu corpo parecia prestes a explodir vendo meus pais me abandonarem nas mãos de um desconhecido. Quando o homem tatuado bateu na porta e entrou, pensei em colocá-lo para correr, mas não me movi, continuei deitada na mesma posição.Ele se sentou em uma poltrona que havia perto da cama e contou uma história surreal sobre uma profecia, sobre o fato de que as pessoas que achei serem meus pais terem sido contratadas para cuidar de mim. Na verdade, eles eram pais da loba que me levou até o quarto. A mulher com cara de quem vive chupando limão.Minha mãe de verdade estava morta e ninguém sabia quem era o meu pai. Chorei silenciosamente enquanto ouvia tudo. Ele tentou me fazer dizer alguma coisa, mas eu simplesmente não conseguia.Quando ele saiu, chorei muito mais... tudo que podia.Nos dias que se seguiram simplesmente não conse
— O que está acontecendo aqui? — questionou olhando de Agatha para mim.A vadia se levantou rapidamente a se agarrou a um dos braços musculosos dele.Olhei os dois com raiva. Quando ela começou a se rasgar eu já tinha entendido que queria fazer um teatro. E pelo que percebo, deu certo seu show.— Não vou entrar nesse jogo — disse e me sentei na cama. — Saiam do meu quarto.— Senhor, me perdoe, eu não quis provocá-la. Só queria saber se ela queria que lavassem suas roupas... e fui atacada.Ao ouvir a voz chorosa, acabei rindo.— Eu disse que era só uma empregada nessa casa, mas ela... ela... — e começou a chorar compulsivamente.— Você é mais que uma funcionária, é minha amiga. — Christopher parecia furioso.Apontei para ele, tremendo de raiva diante dessa situação de merda.— Esse teatro todo faria sentido se eu quisesse algo com você, seu ridículo. Basta abrir a porta que sairei — disse devolvendo o olhar de ira.— Vamos cuidar do seu rosto — ele disse para Agatha e se virou para mim
Aqueles que não se valorizamNão merecem valorAqueles que não se amamNão merecem amorChristopher VilardCumprir o que falei para Alma estava cada vez mais difícil. Principalmente nos momentos em que ela estava na escola, pois era nesses momentos em que Agatha se insinuava mais, eu não posso negar que ela é uma tentação.Não falei com Agatha que não podíamos mais ficar. Simplesmente não a procurei mais e disse não quando se ofereceu. O que foi uma vez por dia nas últimas semanas. Apesar de toda tentação e das roupas provocantes da loba, era uma colegial de uniforme meu maior problema. Quando ela estivesse pronta me pagaria por toda a provocação, pagaria usando aquele uniforme. Saia preta de pregas na altura dos joelhos, blusa branca de botões, meias longas e sapatos de salto baixo pretos. Quem inventou essa porra de uniforme sexy?Era sexta-feira e estava anoitecendo, e nada de Alma chegar da escola. Liguei para Allan e o infeliz não me atendeu. Eu estava pronto para ir atrás deles
Depois do jantar, me tranquei no escritório com algumas papeladas para aberturas de filiais do clube Alpha Power. Ele estava ficando meio lotado e pessoas vinham de muito longe para lutar, só assistir ou apostar.Não demorou nem cinco minutos e Agatha entrou sem se anunciar.A olhei por alguns segundos e voltei a minha atenção aos documentos e fotos sobre imóveis adequados para o clube.— Algum problema? — questionei sem olhar para ela. — Deve ser urgente para você entrar assim, quando já a proibi de invadir meu espaço.Ela simplesmente se aproximou, sentou no meu colo e envolveu o meu pescoço com os braços.— Que tal relaxar um pouco? Faz quase um mês que não cuido de você — sussurrou sensualmente.Tirei seus braços com certa brusquidão e depois me arrependi, pois ela sempre esteve disponível e eu ainda não contei que virei um cachorrinho de coleira que obedece a dona.Segurei sua cintura pronto para afastá-la, mas antes disse:— Isso não vai mais acontecer, Agatha. Entenda que quer