Capítulo 3

Uma criança

Uma pequena luz que ofusca o sol

Portadora do bem e do mal

Portadora de um amor imortal

Christopher Vilard

Meu telefone tocou. Quando vi o nome Lobo Intrometido na tela atendi rapidamente. Estava ansioso por notícias. Para quem não acreditava em profecias, esse assunto estava me afetando demais.

— O que tem para mim?

— Para ser honesto, nem sei o que dizer. É melhor que veja. Chego em trinta minutos no máximo.

— Ok.

Desligamos e passei os minutos prometidos andando de um lado a outro na sala. Os empregados passavam longe, nenhum deles teve coragem de falar qualquer coisa. Nem mesmo Agatha, que estava revoltada por ter uma mulher na minha vida. Ela escutou sobre a profecia e colocou na cabeça que eu a deixaria por outra mulher. O que é loucura? Já que não se perde o que nunca se teve, e ela nunca me teve.

Ela é minha fonte fixa de sangue, por isso a mantenho ao meu lado desde que foi transformada em uma loba. Uma bela morena de seios avantajados, cintura fina, penetrantes olhos castanhos e capaz de qualquer coisa por mim, na cama e fora dela.

A morena tenta me provocar de todas as formas. Tem esperança que eu a ame, como tantas outras também tem. Não as julgo. Como poderia? Sou o melhor entre os melhores.

Ouço o barulho do carro entrando e estacionando em frente a mansão. Só pode ser ele.

De repente, a porta abre e Allan entra com um embrulho nos braços. Era algo enrolado em uma manta cor de rosa. Algo com um choro estridente.

Uma suspeita me assolou ao ver o sorriso irônico brincando no rosto dele.

— Você só pode estar de brincadeira! — falei olhando o embrulho em seus braços. — Além de tudo que as pessoas dizem de mim, ainda quer que eu me torne um pedófilo?

— Relaxa, eu...

— Não vejo motivo para ficar calmo. Você me traz uma bendita escolhida que nem fala, porra! — o interrompi.

O sorriso virou uma risada nada discreta. O embrulho continuava chorando, me tirando do sério.

— Chame alguém para cuidar dela. Tenho muita coisa para te contar e ela deve estar com fome.

Nesse momento passava uma das empregadas mais velhas, que para ser sincero nem recordo o nome.

— Ei, você, venha aqui.

Ela veio e parou perto de nós.

— Pois não, Senhor Vilard?

— Leve essa criatura barulhenta e a faça parar de chorar.

— O nome dela é Alma Demise. — Allan se meteu. — Procure algo que possa alimentá-la. Faz quase doze horas que ela não come. Só consegui dar água no caminho.

Allan colocou o embrulho nos braços da mulher. Ela ia saindo, mas a impedi dizendo:

— Espere.

Sem dar satisfação, me aproximei e encarei o rosto do ser que chorava freneticamente. Os meus olhos foram guiados direto aos pequenos olhos verdes que me encaravam em um rosto angelical com poucos cabelos claros. Demorei para perceber que não havia mais barulho. Ela me encarava. E era a criatura mais perfeita que já vi. Me senti estranho. Como se eu estivesse congelado e alguém me jogasse um balde de água quente. Algo começou dentro de mim. Só não sei o que era.

— Leve-a! — me afastei quase bruscamente, mas logo tratei de recompor. Ninguém precisava saber o que nem eu entendia.

A mulher saiu tentando conversar com a criança, usando a linguagem ridícula que todo adulto idiota usa ao ver um bebê. E olhei para Allan.

— Explique-se — exigi.

Allan pegou uma garrafa de vodca e dois copos e praticamente se jogou no sofá.

— Vamos precisar de muita bebida, Drácula — disse e nos serviu.

— Você sabe que se alguém me chamar assim por sua causa, eu vou matar.... e essa morte será responsabilidade sua.

— Já parei! — bebeu um pouco e voltou ao assunto original. — Você já entendeu que aquela é a destinada, não adianta negar. Vi sua reação de agora. Então, vamos a história da minha aventura.

Cruzando as pernas e mantendo o olhar fixo na bebida, ele começou:

— Foi fácil encontrar o local e foi estranho não ter ninguém do Conselho lá. Era como se eles quisessem que nós a encontrássemos. Algo que vou deixar no meu radar. — Ele bebeu mais um pouco. — Quando a mulher abriu a porta e vi a imensa barriga foi outra surpresa. Ela mal me questionou quem eu era ou o que estava fazendo ali, foi logo entrando em trabalho de parto e eu trouxe Alma ao mundo — ele ri e coloca mais vodca no copo. — Aliás, quero ser padrinho.

— Por que a chamou de Alma Demise?

— Foi o nome que a mãe disse logo que a pegou no colo. Também foi a última coisa que ela disse. Morreu.

— E o pai?

— Não faço ideia, mas arrisco a dizer que era qualquer um. A mulher era cheia de tatuagens, morava em um apê vagabundo. Não querendo ser preconceituoso... — Ele dá de ombros. — Posso pesquisar, mas arrisco dizer que nem ela sabe quem era o pai.

— A criança tem a marca? — eu tinha tantas perguntas na cabeça que até esqueci da bebida em meu copo.

— Na verdade, não tinha. Mas algo surpreendente aconteceu quando chegou a meia noite e os seus mil anos. Eu estava tentando improvisar uma roupa e vi surgir o símbolo na pequena virilha da garotinha. O símbolo do Yin Yang está lá. Pode conferir. Não tenho dúvidas de que seja ela.

— E o que isso tudo significa? Eu vou sentir algo por ela quando se tornar uma mulher ou serei tentado por uma criança para aumentar ainda mais a minha lista de pecados hediondos? — sei que deixei transparecer desespero, mas nem tentei disfarçar.

— Esse foi o motivo que me fez atrasar; antes de vir passei na sede do Conselho. Queria saber o que eles sabiam.

— Aqueles miseráveis devem estar rindo de mim agora. Vou queimar aquela sede com todos dentro! — imaginar aqueles imbecis tento motivos para rir de mim me tirava do sério. Na minha cabeça a tal profecia, sendo real, me traria um amor carnal. E agora me aparece um bebê. Se eu me sentir atraído por um bebê juro que acabo com a minha existência medíocre, depois de matar cada um dos responsáveis dolorosamente.

— Se eu fosse você não faria isso, eles podem ser úteis, afinal foi graças a eles que soube que você só vai sentir qualquer atração física por ela depois que Alma fizer vinte e um anos.

— Como sabe que eles não mentiram?

— Não sei, mas não acho que tenham motivo para mentir. Logo, até a idade adulta dela, você vai vê-la como uma filha. Vai amá-la como uma família, antes de como sua mulher — ele novamente colocou bebida no copo. — Eles disseram que foi revelado em sonhos, assim como a profecia.

— Revelaram mais alguma coisa?

— Não para mim.

Suspiro longamente.

— Eu não quero ser pai dessa menina! — me levantei irritado com toda situação.

Porra! Era só o que me faltava.

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