Até os monstros têm amigos.
Alguém que conhece suas fraquezas e os seus sonhos.
Monstro amigo de monstro.
Monstro amigo de anjo.
Allan Jhones
Uma mão quente desceu perigosamente pelo meu corpo, em direção a minha virilha. E uma voz sussurrou no meu ouvido:
— Levante-se. Hoje começa a sua procura.
— Se continuar me tocando ai, não irei a lugar nenhum. — Permaneci imóvel e de olhos fechados, sentindo sua mão envolver o meu membro, já tão duro quanto a madeira da cabeceira da cama, onde ela me amarrou durante a noite. Já nem precisava abrir os olhos para ter a imaginem da negra linda de olhos castanhos, seios lindos, corpo escultural e cabelos negros com a qual me casei há quase sessenta anos.
— Quero que tatue o meu nome aqui. — Ouvi pouco antes de sentir a língua dela passeando por toda a extensão do meu membro.
O telefone começou a tocar. Já sabia que era Christopher antes mesmo de atender, o toque fúnebre que coloquei era especialmente para o número dele.
— Inferno! — resmunguei tentando me levantar. Nem abri os olhos.
Lynda me puxou de volta e montou em meu corpo, se encaixando e começando a se movimentar. Abri os olhos. Não podia perder a cena. Se tem uma coisa que adoro é ter Lynda cavalgando no meu pau. Atrasar um pouquinho não faz mal.
Duas horas de atraso. A cara de Christopher indica a raiva e que ele sabia muito bem o que motivou o meu atraso.
— Ah, me poupe! Considere que posso ficar muito tempo longe da minha esposa — falei revirando os olhos.
Ele também revirou os seus.
— Me poupe da sua história de amor! Vá fazer o que mandei — ele jogou um cartão de crédito e eu o aparei. — Gaste todos os milhões que precisar, torture, mate, mas traga essa tal “escolhida”.
Um sorriso nasceu no meu rosto diante das aspas que ele fez com os dedos.
— Calma, Drácula! Vou encontrar o seu amor — tentei conter o riso, mas foi impossível disfarçar. Usei o apelido que sempre usava quando queria irritá-lo.
— Por que eu não te matei ainda? Não consigo pensar em nada que justifica ainda ter que olhar nessa sua cara de idiota.
Levanto as mãos em rendição e saio da sala antes de virar uma vítima fatal. Afinal, meu amigo tinha uma reputação de monstro a zelar, não podia ser provocado por um reles lobo. Pelo menos não na frente de outros e muito menos quando ele está nervoso, sem saber o que o espera no futuro. Ele pode não ter confessado ainda, mas sei bem que toda essa história de profecia o está afetando muito.
— Tchau, Drácula! — resmunguei baixinho sabendo que ele ouviria, mesmo que eu estivesse entrando no carro e ele dentro da casa.
Eu sei que no fundo ele gostava desse apelido que criei desde o primeiro dia em que nos conhecemos. Foi um momento esquisito. Um momento em que tentei salvar a vida dele.
Minha mente vaga pelo passado enquanto dirijo em busca do amor predestinado dele.
Eu havia acabado de me casar com Lynda e estava indo buscá-la no cassino clandestino que ela costumava frequentar.
Ao passar por uma rua, vi cinco lobos cercando um homem híbrido. Eles estavam em forma humana, mas eu sabia o que eram pelo cheiro. Me aproximei e nem o homem asiático nem os lobos notaram a minha presença.
Todos foram para cima do homem agredindo-o com socos e, quando ele caiu, com pontapés.
Não pude aceitar a covardia e parti para cima deles. Apanhei um pouco porque o híbrido demorou reagir, ficava me olhando como se eu fosse um alienígena. Me surpreendi com isso, mas me surpreendi ainda mais quando ele se levantou e começou a derrubar um por um como se eles fossem meros mosquitos.
Simplesmente me afastei e deixei que ele acabasse com os três que sobraram, pois dois consegui derrubar com o elemento surpresa.
Ele batia nos homens sem piedade. Não estava disposto a deixar nenhum vivo. Sua blusa já não era branca, era um emaranhado de vermelho e negro, uma mistura do sangue dele com o dos lobos.
Eu olhava aquilo praticamente hipnotizado. A cena me lembrava do filme Drácula: A História Nunca Contada. Me lembrava que o filme ficaria melhor se ele estivesse atuando no papel principal.
Quando finalmente ele se virou para mim, questionou:
— Jura que queria me salvar? — havia um sorriso cínico em seus lábios sujos de sangue.
— Eu não sabia que você era o Drácula — disse simplesmente. Mesmo depois que ele derrubou aqueles caras, eu ainda não senti medo. Devia sair correndo, mas fiquei ouvindo sua gargalhada.
— É muito bom encontrar alguém que não me conhece — ele disse, se aproximando. — Vamos beber algo na minha casa?
Achei estranho o maluco sanguinário me convidar assim, mesmo que eu não fosse páreo para ele, ainda era um desconhecido para ser levado a sua casa.
— Não posso. Tenho que buscar a minha esposa.
— Conhece telefone? É um aparelho onde você consegue falar com outra pessoa mesmo que ela esteja longe — explicou com puro deboche. — Liga para ela e diz que não vai poder ir. Não gosto de dever nada para ninguém. Mesmo que não fosse necessário ser salvo, você ainda tentou me salvar, isso me deixa em dívida.
— Vamos nessa, Drácula! — disse estendendo a mão e mostrando a saída do beco. Ele arqueou a sobrancelha, diante do apelido, e riu, depois seguiu em direção a um jipe vermelho.
Não precisei ligar, no cassino Lynda se esquecia de tudo e de todos. Era assim em nosso namoro e não mudou depois do casamento. Mas era bom, eu me fingia de irritado e ela me compensava. Compensava de uma maneira deliciosa.
Segui com o Drácula até a mansão dele.
— Qual é o seu nome de verdade, Drácula? — questionei depois de virar a tequila que uma loba belíssima nos servia.
— Christopher Vilard — ele respondeu e esperou minha reação.
Quase engasguei com a bebida.
— Puta que pariu! Tentei salvar o híbrido mais falado do mundo?! — minha reação não podia ser outra. Todos sabiam sobre ele, o amaldiçoado, o temido, o primeiro híbrido.
— Quer um emprego como meu guarda-costas? — antes que eu pudesse responder, ele completou: — Eu não preciso, mas vai ser interessante.
Aquela foi a proposta que iniciou nosso relacionamento patrão/funcionário, amigo/amigo. Depois de alguns anos acabei descobrindo que tudo que o meu amigo queria era ter o coração batendo por alguém, mesmo que nem ele saiba, por isso farei o impossível para realizar esse seu desejo. Vou encontrar essa destinada.
Cheguei no destino e deixei os meus pensamentos de lado. Faltava poucas horas para o aniversário de mil anos do meu amigo Drácula. Depois de investigar o conselho, descobri a localização onde a humana especial seria despertada e que a forma de identificá-la seria através de um símbolo desenhado perfeitamente acima da sua virilha, o símbolo do Yin Yang.
Bati na porta do apartamento e uma mulher abriu a porta. Era uma mulher linda, com cabelos dourados, olhos verdes. Ela me olhava curiosa enquanto eu descia o olhar para a barriga dela pensando em como a faria me mostrar a marca que devia estar sob seu vestido, pouco acima da virilha.
Mas me esqueci de qualquer marca ao ver sua barriga. A olhei com espanto. A barriga dela estava enorme. A humana especial estava super grávida.
Uma criançaUma pequena luz que ofusca o solPortadora do bem e do malPortadora de um amor imortalChristopher VilardMeu telefone tocou. Quando vi o nome Lobo Intrometido na tela atendi rapidamente. Estava ansioso por notícias. Para quem não acreditava em profecias, esse assunto estava me afetando demais.— O que tem para mim?— Para ser honesto, nem sei o que dizer. É melhor que veja. Chego em trinta minutos no máximo.— Ok.Desligamos e passei os minutos prometidos andando de um lado a outro na sala. Os empregados passavam longe, nenhum deles teve coragem de falar qualquer coisa. Nem mesmo Agatha, que estava revoltada por ter uma mulher na minha vida. Ela escutou sobre a profecia e colocou na cabeça que eu a deixaria por outra mulher. O que é loucura? Já que não se perde o que nunca se teve, e ela nunca me teve.Ela é minha fonte fixa de sangue, por isso a mantenho ao meu lado desde que foi transformada em uma loba. Uma bela morena de seios avantajados, cintura fina, penetrantes o
Por que ela não apareceu logo depois de adulta? Além disso, ela era humana, para ficar comigo eu teria que transformá-la, ou seria uma relação bem curta. Que profecia mais sem sentido.Tenho certeza de que Allan resmungava em pensamento, dizendo que eu quem pedi para que a trouxesse até a mim assim que despertasse. Não preciso ler pensamentos para saber disso. O idiota me olha com um sorriso ladino e os olhos castanhos brilhando de empolgação. Esse maldito adora uma confusão. Eu bem que podia furar seus olhos. Ou arrancar alguns dentes para que deixe de sorrir feito um babaca.Realmente pedi que a trouxesse no momento em que despertasse, só que eu esperava que ela fosse despertada quando já estivesse pronta para os meus caprichos. Assim, ainda que o amor fosse uma mentira de uma profecia de merda, ainda haveria luxúria, e essa eu faria ser real. Agora... O que eu faço com esse ser humano em miniatura?Afastei a vontade de abrir a cabeça de Allan com um machado e o ouvi dizer:— Também
Por que ser princesa se posso ser heroína?Por que esperar o príncipe se posso resgatá-lo?Por que esperar o amor se posso simplesmente amar?Alma DemiseAnos depois...Sai do meu colégio tão distraída que quase não notei a grandiosa limusine parada no portão. Aquilo era muito estranho. O que um veículo daquele fazia em frente a uma escola pública? Era chamativo, mas nada mais me importava, além do meu aniversário de oito anos que aconteceria amanhã. Todas as minhas amigas iriam, até as chatas que ficam zoando o meu tamanho, por ser a mais baixinha do colégio. Quero que tudo saia perfeito e que elas me invejem.— Ainda bem que meus pais não leem pensamentos ou adeus festa — comentei com a minha melhor amiga, Lin. Uma menina linda de descendência japonesa. Ela tinha os olhos puxados, os cabelos negros e lisos, e pele branquíssima. Parecia uma boneca. Mas uma boneca mais alta que eu.— Os pais já tiveram a nossa idade e insistem em fingir que sempre foram maduros. Fingem que nunca senti
Tudo parece mais intensoMais complicado.Quem inventou a adolescência deveria ser punido.Alma Demise— Ela está acordando? — ouvi a voz da minha mãe.— O que houve? — abri os olhos e percebi que estava no meu quarto. — Como cheguei aqui?— Policiais te trouxeram. Houve uma tentativa de sequestro. Parece que era para pegar a menina que os pais ganharam na loteria.— E o coreano?— Que coreano?— Havia um homem coreano no carro. Eu vi. E havia dois lobos.— Acho que anda perdendo muito tempo com esse tal de k-pop. Ao ponto de delirar — minha mãe disse rudemente.— Eu vi, mãe! — a forma como ela debochava das minhas palavras era irritante.— O que a nossa princesa viu? — meu pai entrou no quarto.— Ela ainda está impressionada e diz que viu lobos e coreanos durante o sequestro.— Os policiais não falaram nada. — Meu pai balança a cabeça negativamente.— Vocês estão escondendo alguma coisa. Por que aquelas pessoas na limusine estavam me seguindo?— Pelo amor de Deus, que pessoas? — minh
Foram poucos minutos até o tal galpão. Não tentei lutar enquanto era levada nos ombros do brutamonte e deixada em um canto, perto de algumas caixas. O lugar sujo e cheio de coisas quebradas dava uma sensação de abandono que enchia minha mente de pensamentos nada agradáveis sobre coisas horríveis que eles podiam fazer comigo.— Vigiem a entrada. Vou ficar com ela.Mal os caras saíram, ouvi um uivo alto e barulho de coisas caindo.O brutamonte permaneceu em seu lugar, imóvel. Parecia não ter a mínima intenção de ajudar os colegas e me dar a chance de fugir. Ou será que o barulho ela feito pelos colegas dele? Eu queria que fosse um herói para me salvar, queria que fossem meus pais com a polícia.O cara só fez movimentos quando vi dois lobos entrando no lugar. Um era cinza e o outro negro, como o daquela vez em que delirei. Lobos imensos.Não tive tempo de sequer entrar em estado de pavor. Eles atacaram o homem e puxaram para fora sem muita dificuldade. Fiquei parada ouvindo os sons sinis
Quando ela chegou Trouxe um furacão Toda minha existência transformada em um brinquedo em suas mãos delicadas e cruéisNão me iludoEla pode me destruir Ela pode me fazer amarChristopher Vilard— Eu não sou o seu pai, Alma. E não vou explicar nada para você agora — declarei passando a mão no rosto, onde ela cuspiu. — Saiba apenas que você vai morar nessa casa a partir de agora. Agatha, mostre a ela o quarto que vai ocupar e chame o Dr. Diaz para cuidar dos ferimentos.Minha paciência já havia ultrapassado o limite há tempos. Só de imaginar que quase a perdi, tenho vontade de incendiar o maldito Conselho. Aqueles idiotas me fizeram ir até eles simplesmente para me desviar do que fariam. Eu devia ter desconfiado quando exigiram a presença de Allan. Se eu não tivesse escutado a conversa de um deles no telefone, poderia nunca mais vê-la.Tudo foi sorte e não quero mais contar com isso. Pouco após ouvir a ligação por acidente, Henri ligou para Allan pedindo ajuda e o ajudei a despistar
Algum tempo depois...Não pensei que fosse fácil, porém não me prepararam para o furacão em minha existência. Estou a ponto de dar umas boas palmadas em Alma. Ela ficou praticamente um mês enclausurada no quarto. Só saiu quando me dei conta que precisava fazer alguma coisa e proibi os empregados de levarem comida para ela.Quando a fome apertou, ela vai cedeu.O nosso primeiro jantar sozinhos foi um desastre, porém foi esclarecedor. Ela entrou na sala de jantar usando baby-doll preto. Algo que a cor só podia ser um protesto. Fingi nem notar. Pelo menos era mais decente que a roupa com a qual foi sequestrada, pois o short não mostrava tanto das suas coxas e a blusa cobria sua barriga.Comemos em silêncio. Um silêncio tão pesado que cheguei ao cúmulo de sentir falta dos seus gritos e reclamações.— Cansou de brincar de menina birrenta? — nem acreditei no que saiu da minha boca. Eu a estava provocando? Eu sou a porra de um homem com mil anos e estou provocando uma ninfeta? Só posso estar
Talvez você nem queiraMas alguém insiste tanto em te afastar Que o objeto acaba sendo desejado.Alma DemiseNunca pensei que pudesse sentir tanta raiva de alguém, meu corpo parecia prestes a explodir vendo meus pais me abandonarem nas mãos de um desconhecido. Quando o homem tatuado bateu na porta e entrou, pensei em colocá-lo para correr, mas não me movi, continuei deitada na mesma posição.Ele se sentou em uma poltrona que havia perto da cama e contou uma história surreal sobre uma profecia, sobre o fato de que as pessoas que achei serem meus pais terem sido contratadas para cuidar de mim. Na verdade, eles eram pais da loba que me levou até o quarto. A mulher com cara de quem vive chupando limão.Minha mãe de verdade estava morta e ninguém sabia quem era o meu pai. Chorei silenciosamente enquanto ouvia tudo. Ele tentou me fazer dizer alguma coisa, mas eu simplesmente não conseguia.Quando ele saiu, chorei muito mais... tudo que podia.Nos dias que se seguiram simplesmente não conse