Capítulo 3

Selene

O que foi aquilo?

Levei a mão na cabeça, atordoada, demorei alguns segundos para recuperar os sentidos e felizmente, eu estava de cinto.

— Por Deus… é um homem! — Senti o desespero. — Eu... eu o matei?

O farol iluminava o homem mais na frente que ainda estava de pé, felizmente, eu não o atropelei, mas suas pernas cederam no momento seguinte e ele caiu.

Apertei o volante, ele estava ferido e… O que um homem nú faz no meio da estrada em lugar desses? Há chácaras e fazendas nas proximidades, mas são distantes da rodovia.

Apesar disso, eu sentia que deveria ajudá-lo, estava aflita e minha intuição era forte o suficiente para que eu saísse do carro, mesmo que racionalmente, entendesse que talvez fosse perigoso. Nervosa, desci do carro. Firmei meus pés no chão buscando o equilíbrio, minhas pernas estavam moles.

Forcei-me a andar mesmo com os joelhos trêmulos, ele não estava muito longe do carro e ao redor não tinha nada além da floresta. E quando cheguei perto, fiquei horrorizada com seu estado, havia muito sangue, marcas de mordidas, na sua perna tinha um grande rasgo, inúmeros hematomas, parecia ter sido atacado por algum animal.

Mas como? Nessa região não há animais de grande porte que poderiam ter feito aquilo.

Seus olhos escuros estavam em mim o tempo todo, ele estava sofrendo, pedindo ajuda.

— Eu vou ajudá-lo. — Abaixei-me e toquei seu corpo, mas ele recuou. — Eu não vou te fazer mal — esclareci. Ele pareceu se acalmar, ou talvez, só estivesse muito cansado. Examinei seu corpo no que era possível fazer, não parecia ter nada quebrado e ele ainda estava consciente. — Minha casa está mais próxima do que a cidade onde tem um hospital, eu vou cuidar dos seus ferimentos e depois te levarei para a cidade. Tudo bem? — Decidi impulsivamente.

Voltei para o carro apressada e girei a chave, suspirei de alívio por ter ligado sem problemas. Devagar, parei ao seu lado e desci para ajudá-lo a entrar. Ele aceitou minha ajuda e quase caímos novamente quando apoiou seu peso em mim.

Comparado a mim, era enorme. Sob minhas mãos senti a firmeza do seu corpo, seus longos cabelos encharcados de sangue caíram sobre meu rosto. Eu o ajudei a sentar no banco e o inclinei para que ficasse o mais deitado possível. Por estar nú, foi realmente constrangedor me inclinar sobre ele e passar o cinto.

Respirei fundo quando me sentei no banco do motorista e coloquei o carro em movimento.

— Logo chegaremos, não se preocupe, vou cuidar de você — falei para confortá-lo. — Qual seu nome?

Ele fechou os olhos e aceitei seu silêncio.

***

Daryk

A brisa fresca tocava meu rosto trazendo junto o cheiro de mato. Minha visão embaçada foi focando aos poucos. Um lençol claro cobria-me até a cintura. Ao redor, paredes claras e uma grande janela. Pelo ar fresco soube que era manhã.

Tinha alguns curativos, meu tórax enfaixado assim como minha cabeça. Arin me jogou nesse mundo para me salvar e eu precisava dar um jeito de achar o caminho de volta. Os portais só eram abertos pelos bruxos, tinha que encontrar alguém que pudesse fazer isso.

Retirei alguns curativos assim que sentei na cama, estava quase curado, na minha perna, as marcas das garras longas já estavam bem melhores, se pudesse usar minha magia seria mais rápido, mas com meu lobo aprisionado, não tinha muito o que ser feito, precisava ter paciência e esperar.

Arin fez isso na intenção de ocultar minha magia, para que eu não fosse rastreado. Os portais estavam frágeis e isso fazia com que os bruxos tivessem acesso mais facilmente a qualquer mundo. Era uma guerra que durava séculos, apesar dos grandes esforços. Cada vez mais, as florestas estavam desaparecendo, secando, deixando tudo infértil.

Levantei deixando o lençol cair, com apenas alguns passos cheguei até a janela. Sentia dores, principalmente nas costelas, mesmo assim, não era suficiente para me deixar incapaz a ponto de ficar em uma cama.

Meus sentidos estavam fracos e o mundo humano era perigoso para minha espécie. Eles eram hostis com o desconhecido, mas felizmente, em sua maioria, eram alheios aos mundos paralelos.

O céu em tons rosa e amarelo eram bem similares a minha casa. Tinha uma grande floresta ao redor, mas não há magia aqui nesse mundo, o que existe são pontos cegos onde os portais ficam e a magia conseguia ultrapassar, era só. Um mundo pobre.

Meus fracos sentidos alertaram-me, alguém se aproximava. Os passos eram curtos e suaves, era uma fêmea. Eu fui tratado com cuidado, tinha ervas espalhadas pelo meu corpo que pelo cheiro, identifiquei algumas, talvez fosse uma bruxa, mas nesse mundo elas não tinham magia, apenas conhecimentos vagos e superstições.

A fêmea entrou no quarto e parou ao me ver. Era pequena e parecia frágil, olhos na cor de jade. Eu a quebraria se quisesse.

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