Daryk
Quando aquela fêmea chegou mais perto, senti uma palpitação estranha em meu peito. Era uma bela fêmea, apesar de estar com meus sentidos fracos consegui sentir seu cheiro, era bom. Um aroma único que nunca senti antes. Era estranhamente sedutor. Achei gracioso o rubor na sua face por eu estar nu, eu não me importava, mas os humanos tinham outros costumes. Não resisti em chegar mais perto para sentir mais. Os cabelos escuros com leve ondas me faziam querer tocá-lo, mas o que mais me atraiu foram seus olhos cor de jade. Foi o verde mais bonito que já vi, limpos, vivos. Seus lábios cheios em um tom rosa pálido eram terrivelmente sedutores. Por um momento, esqueci de tudo e desejei prendê-la entre meus braços, abraçar suas curvas suaves tão bem expostas naquelas roupas levemente justas. Ela é pequena, delicada. Será que aguentaria a minha dominância? Duvidava. Mas isso não estava certo. Quando ela me tocou, eu reagi inesperadamente. Eu nunca reagi tão rápido assim por um simples toque e isso me fez questionar sobre quem era essa fêmea. Não podia ser só sua beleza, tinha algo nela, mas sem a minha magia, sem o meu lobo, minhas percepções não eram confiáveis. Agora estava ansioso por seu retorno, ela disse que iria buscar um alimento, mas eu já estava a ponto de ir atrás para saber a razão de sua demora. Ela me passava confiança, cuidou de mim e seu olhar me passa sinceridade. Além disso, depois que ela me resgatou, confie o bastante para me permitir ceder ao cansaço, sequer me lembro quando fui colocado nessa cama. Depois de um tempo, escutei passos, mas não era somente os dela, tinham mais três. Houve batidas na porta antes que fosse aberta. A fêmea entrou trazendo comida, mas meu olhar foi para os outros que estavam atrás, principalmente o macho. Pela sua postura, certamente se tratava do líder daquela família e pela sua hostilidade aparente, ele estava se sentindo ameaçado pela minha presença. — Não sei do que gosta, então coloquei algumas opções — A fêmea disse e colocou a refeição nos pés da cama. — Também providenciei algumas roupas. Observei a outra fêmea colocar as roupas em cima da cadeira, mas voltei minha atenção para o macho, eu precisava respeitar o território alheio. — Acabei não me apresentando, meu nome é Selene, aquele é meu irmão Erik, sua esposa Loren e a minha avó Laura — olhei brevemente para eles e acenei apenas, era o suficiente para passar meu entendimento e respeito. A fêmea falou pausadamente, talvez ela ache que não a entenda, mas eu conhecia esse idioma o suficiente, porém, eu não queria falar por enquanto. Eu precisava usar da minha condição para ganhar tempo. — Ele não entende o que falamos? — O macho perguntou para a fêmea e não gostei do tom que direcionou a ela. — Eu não tenho certeza, mas acho que entende um pouco, isso pode ter sido consequência de um trauma. Devemos esperar um pouco. — Ótimo, só me faltava essa. — O macho demonstrou sua impaciência e quis rosnar para ele, mas me contive. — Mesmo assim, vou falar. — Olhou para mim com seriedade. — Aqui é uma casa de família, nós vamos cuidar de você até que melhore, mas depois, terá que ir embora. — Erik. — A fêmea de cabelos dourados o repreendeu, era justo, só ela poderia. — Aqui sempre tem muita gente, elas não ficam sozinhas, então nem pense em fazer mal para elas. Respeite minha casa. O que? Ele estava me comparando a um humano imundo? Eu jamais faria mal a uma fêmea, elas são preciosas. Só os humanos que não entendem isso. — Okay, Erik, você já deu o recado. Agora podem sair para que eu possa tirar os curativos, por favor? Ainda ouvi reclamações do macho antes que saíssem, daria trabalho para ganhar sua confiança. Olhei para a fêmea novamente e ela sorriu como se quisesse me confortar. Realmente, encantadora. — Eu vou tirar seus curativos para que você tome um banho. Ou prefere comer primeiro? — Ela perguntou, mas neguei balançando a cabeça. — Tudo bem. — Aproximou-se e tocou em meu braço, induzindo-me a sentar na beirada da cama. — Eu vou te tocar, se sentir incômodo, me avise. Apesar de ter sentado como pediu, não larguei o lençol, eu estava preocupado com minhas reações, era melhor ter cuidado. Contudo, um calor percorreu meu corpo quando seus dedos delicados me tocaram. Apertei o lençol tentando me conter, mas o cheiro dela e sua pele tão próxima… Quando me tornei um macho tão descontrolado assim? — Estou impressionada — ela disse enquanto apalpava minha cabeça. — Trabalhei um bom tempo em hospitais e nunca vi uma recuperação tão rápida quanto a sua. Na verdade, é algo impossível. — Ela embrenhou os dedos em meus cabelos, apalpando. Não me contive e fechei os olhos, eu sei que não era um carinho, mas estava gostando do seu toque. Ela tirou os curativos um por um, com cuidado, delicadeza. A cada coisa, ela se preocupava em explicar, mas eu só conseguia prestar atenção em seu toque. O que está acontecendo comigo? É como se ela fosse minha fêmea, mas não poderia ser, não tinha sentido eu ter uma fêmea de outro lugar que não fosse o meu mundo. Provavelmente, estava apenas confuso e agradecido por seus cuidados. Não podia confiar no meu julgamento nesse momento.Selene Alguns dias depois… Terminei de pentear os cabelos e fiz uma trança lateral, era um dia comum de trabalho. Depois que retornei, algumas encomendas surgiram, mas ainda estava recuperando algumas ervas que ficaram abandonadas na minha estufa. Vó Laura tentou cuidar, mas era trabalho demais para uma senhora de quase setenta anos, mesmo que ela insistisse em dizer que aguentava. Bem, ela se orgulhava em trabalhar ativamente todos os dias, nunca se queixava de nada, dizia que trabalharia até seu último dia de vida. Eu tinha orgulho dela. O cultivo de rosas raras e exóticas era o negócio da família, nós tínhamos grandes estufas espalhadas pela propriedade. E, era gratificante ver o resultado do nosso trabalho, mexer com plantas e flores me deixava realmente feliz, esse sentimento certamente era compartilhado com todos os trabalhadores daqui. Daryk parecia totalmente recuperado. Eu finalmente descobri seu nome depois de alguns dias de silêncio, mas era só, ele diz não lembrar d
DarykQuando aquela fêmea saiu por aquela porta, esqueci o que estava fazendo ali. Ela estava linda. As bochechas rosadas e o sorriso me prenderam de tal forma que perdi as poucas palavras que iria lhe dizer. Ela parou na minha frente e admirei seus lábios pintados com um rosa mais forte que a cor natural, o brilho sutil que me fez querer lamber e tirar.— Bom dia. Podemos ir? Sua voz gentil me trouxe calma e acenei antes de responder:— Bom dia.Ela sorriu mais e me prendi em seus olhos que estavam mais bonitos na claridade da manhã. A segui para o carro e forcei-me a desviar o olhar das suas curvas. Eu queria elogiá-la, mas talvez fosse grosseiro e não queria ofendê-la. Essa fêmea parecia sensível e eu não poderia compará-la às do meu mundo onde falávamos mais abertamente e sem pudores. Eu passei a hesitar na presença de Selene.Ela entrou no carro e acompanhei, não gostava desse tipo de transporte, mas tinha confiança nela. — A cidade é pequena, mas é bem abastecida — ela disse
Daryk— Vamos tomar uma bebida? — Selene perguntou ao segurar o chapéu para impedir que o vento levasse. Os fios soltos daquela trança voaram e senti um forte impulso de ter eles entre meus dedos. — Tem uma lanchonete aqui perto e as coisas lá são ótimas.Acenei confirmando e a segui. Apertei as alças das sacolas um pouco inquieto. Aquela situação estava me distraindo, eu não deveria estar ali pensando e agindo como se não tivesse responsabilidades. Há pouco tempo perdi minha família e guerreiros queridos, meu mundo estava morrendo e eu estava aqui satisfazendo uma fêmea que nem era minha. Eu não devia me acomodar e nem gostar da companhia dela, não havia tempo para distrações. Selene abriu a porta do lugar e nos levou para uma mesa mais afastada. Não tem lugares assim no meu mundo, nós vivemos de forma mais primitiva e próximos à natureza. Coloquei as sacolas no chão e me sentei no assento acolchoado na sua frente. — Eu gosto muito da torta de chocolate daqui e as bebidas são muito
DarykNós retornamos para sua casa e me despedi dela na porta. Quando entrei nesse lugar cedido a mim, deixei as compras em cima da mesa e sentei-me. Estava impressionado com suas percepções a meu respeito, não eram invenções de sua cabeça, ela não tinha razões para dizer aquilo se não tivesse um fundo de verdade.Fechei os olhos e me concentrei em meu interior como em tantas vezes, se eu ao menos conseguisse quebrar aquele feitiço. Mas eu não tinha o dom do meu irmão, então, não adiantava repetir suas palavras corretamente, eu não seria capaz de realizar um feitiço. Além do mais, mesmo que Selene fosse uma bruxa, não queria dizer que soubesse sobre isso, mas talvez me ajudasse a encontrar um portal. Ainda assim, as chances de acreditar em mim eram mínimas. Talvez ela só tivesse uma sensibilidade maior que os humanos comuns. — Por que me jogou nesse lugar, Arin? — murmurei com tristeza.Ainda estava na metade da tarde e os trabalhadores estavam encerrando o expediente, mas não queri
SeleneEncarei a porta fechada da estufa e respirei profundamente. Não acredito que ele saiu desse jeito. O que eu estava pensando? Acabei me deixando levar, eu devia ter me contido.Daryk me atrai, eu não nego, porém, não quer dizer que ele sinta o mesmo e queira alguma coisa. Contudo, é um pouco frustrante. Talvez eu só esteja confundindo as coisas, mas ele me olha tão intensamente e desde o início foi assim. Nunca me esqueço do primeiro dia que acordou, ele foi rude, intenso e depois, ele levantou uma barreira entre nós.O fato é que eu estou sempre muito atenta a ele, sempre perto o observando. Essa forte sensação que não entendo. Eu já estive em relacionamentos, mesmo que nunca tenha sentido amor pelos poucos namorados que tive, ainda assim, eu sei diferenciar certos sentimentos, mas quando se refere a Daryk, parece que é muito mais profundo que uma simples atração.Eu deveria apenas esquecer, mas não consigo ignorar.Voltei a espalhar a terra e suspirei ainda frustrada, depois
DarykAntes da fêmea chegar até minha porta, eu a senti e ouvi seus passos calmos. Não esperava vê-la, a verdade é que estive a evitando desde aquele dia. E, para ser honesto, eu nunca pensei que fugiria de uma fêmea tão atraente quanto ela.Ela sorriu e agiu como se nada tivesse acontecido, confesso que isso me aborreceu um pouco, eu senti como se aquilo não tivesse tido importância nenhuma para ela. A julgar pelo meu povo, as fêmeas não costumam ser tão passivas e normalmente, elas não desistem tão fácil quando querem um macho. Mais uma vez estou comparando algo que não deve ser comparado. O problema ainda é essa confusão irritante que sinto. Essa indecisão e receio de algo que não conheço, mas acima disso, algo que não deve acontecer, mesmo que eu seja ridiculamente atraído para isso.Selene estava na frente guiando o caminho e pude contemplar suas curvas, mas o que me chamou atenção foi a sua nuca. Caíam alguns fios em seu pescoço, mesmo que seu cabelo estivesse preso, meu olhar
DarykDeitei sobre seu corpo, eu a queria como uma fera faminta, ela estava tão entregue quando eu, arranhando minhas costas por cima da camisa. Seu corpo macio era sincero, seu calor me deixava mais louco, empurrei-me sobre ela e seu gemido vibrou contra minha boca. Aquelas roupas estavam atrapalhando e deslizei para baixo da sua camisa, sua pele quente e macia me deixou mais faminto, mas ela segurou minha mão, no momento seguinte, percebi como estávamos.Puxei a respiração e apoiei minha testa em seu ombro. Seu peito subia e descia rápido. Nós ficamos assim por um longo momento, ela acariciou meus cabelos antes que eu me afastasse e a ajudasse a sentar novamente.— Acho que está na hora de voltarmos — ela disse depois de um suspiro, seu tom estava diferente. — Já vai escurecer.Seus olhos de repente estavam sombrios, sem aquele brilho alegre que sempre tinha. Fiquei confuso, ela me aceitou, mas agora…— Eu… — ela começou a dizer, mas fechou a boca novamente. — Tudo bem? — pergunte
DarykO suor escorria pelo meu corpo. Ofegante, sentei na cama buscando mais ar. O sonho era tão perturbador quanto a realidade, o dia que perdi minha família. Foi tão real que me faltava ar, meu peito doía terrivelmente. Era aterrorizante. Sufocante.Levantei-me apressado e saí da casa, a lua estava alta, o céu limpo de nuvens, em poucos passos alcancei a floresta, estava descalço e quase sem roupas. Corri rápido, meu coração apertava cada vez mais e cravei minhas unhas no peito tentando aliviar a dor, parecia que algo estava rasgando-me de dentro para fora.Fui me entrando cada vez mais na mata fechada, os galhos batiam em meu corpo, arranhando-me, eu não sabia para onde ir, apenas precisava correr o mais rápido possível, porém, a dor no meu peito não deixou-me ir mais longe. Caí de joelhos, soltando um grunhido de dor, gritei o mais alto que consegui, colocando para fora. Todo aquele meu sofrimento. Tudo o que estava entalado na garganta. Foi nesse momento que algo rompeu dentro