Selene
— Não. Eu estou nervosa desde que aconteceu o acidente. Ele acordou e pareceu bem, mas não falou nada ainda. — Desviei o olhar ao responder. Eu sempre fui uma péssima mentirosa e em muitas vezes, preferia deixar tudo as claras, mas não tinha essa vontade agora. — Hum, ele deve estar atordoado ainda. — Eu também acho, é normal sentir-se assim depois de algum trauma. — Tentei falar naturalmente e abri um armário em busca de uma bandeja. — Eu vou levar alguma coisa pra ele comer, também preciso de algumas roupas. — Eu já separei algumas roupas, mas não sei se vai dar. Erik é menor que ele e até agora não acredito que conseguiu socorrer ele sozinha. Já viu a diferença de alturas entre ele e você? — Ele é um pouco alto mesmo. — Ele é bem grande em vários sentidos. — Loren sorriu ao levantar, ela colocou o prato cheio de legumes descascados na pia e parou ao meu lado de braços cruzados. — Não acha essa história muito estranha, Selene? O que esse homem fazia ali naquele lugar? Ainda mais daquele jeito. Erik está muito desconfiado e até concordo com ele. Olhei para Loren e mordi o lábio. Eles tinham toda razão. Loren era casada com meu irmão há dois anos e das poucas vezes que estive em casa durante as férias, criamos uma boa amizade. Ela é três anos mais velha que eu, mas os traços delicados tanto do rosto quanto do corpo a deixam com uma aparência mais jovem. Seus cabelos longos e loiros de grandes cachos estavam sempre arrumados como uma camponesa de filmes clichês, seus olhos azuis eram observadores até demais. — Você teve algum pressentimento quanto a ele? — Sua pergunta me desarmou na hora. — Nada passa despercebido de você? — Não. Sorte a minha e azar de vocês, principalmente do Erik. — Seu tom arrogante foi brincalhão. — Certo, você me pegou. — Então, o que é? — Não sei ainda. Mas o que eu senti quando o encontrei está mais forte agora. Eu sinto que já o conheço, acho que devo cuidar dele. É complicado explicar. — Talvez você já o tenha visto. Será que não o viu no passado por aqui na região? — Não. Eu não o esqueceria. — É, confesso que é difícil esquecer um homem daquele. — Foi o que pensei — confessei com certo constrangimento. — Erik não vai gostar de saber. — O que eu não vou gostar de saber? Assustei-me quando Erik entrou na cozinha. Ele estava arrumado, vestido com a camisa cor de rosa da nossa empresa, certamente, estava de saída para fazer a entrega ou resolver alguma pendência na cidade. Normalmente, ele só passa gel de cabelo para essas ocasiões. Erik diz que uma boa aparência é tudo. Bem, ele é realmente bonito. Tem um porte físico magro, cabelos e olhos castanhos, pele clara como a dos nossos pais, porém, o mais marcante e irritante nele, é que ele quer controlar tudo ao seu redor. — O homem acordou. — Loren tomou a frente. — E Selene acha que devemos esperar mais alguns dias para que se recupere melhor. — De jeito nenhum! — Erik olhou-me carrancudo. — Eu o aceitei porque você disse que iria providenciar para que ele fosse levado ao hospital ou seja lá que lugar fosse. Eu não quero um homem desconhecido dentro da minha casa por mais tempo. Se ele já acordou, dê um jeito de tirá-lo daqui. — Eu também moro aqui, Erik e sou responsável por ele. — Responsável? Por favor, Selene! — Fez pouco. Sim, uma vez irritante, sempre irritante. — Uma pessoa responsável teria ligado para a emergência ou para a polícia. Essa história está muito estranha, ele pode até ser um bandido. — Não exagera — retruquei. — Eu só estou fazendo o que é melhor para a segurança dessa família. — Você está sendo insensível. Ele sofreu um ataque. — respondi à altura. — Ataque de que? De um cachorro? O que diabos ele estava fazendo naquele lugar? — O que está acontecendo aqui? — Vó Laura entrou na cozinha pela outra porta. Ela tirou o chapéu de grandes abas e as luvas. — Que discussão toda é essa? — Nada que precise se preocupar, vó. — Não parece ser assim. Falem. Suspirei, vó Laura nem precisava gritar para nos fazer calar e baixar o tom de voz. — Ele acordou, vó, mas Erik quer colocá-lo pra fora. — disse mostrando minha indignação. Confesso que fiz um pouco de drama. — Não foi isso que eu quis dizer. — respondeu mais contido sob o olhar rígido da nossa avó. — Eu só acho que devemos mandá-lo para o hospital agora. — Mas eu acho que devemos cuidar dele por mais uns dias, para que se recupere mais — retruquei. — Você sempre foi teimosa, Selene. — E você sempre foi muito mandão. — Chega disso! — Vovó interveio. — Ela olhou seriamente para mim e suspirou. — Deixe que fique. — Vovó! — Erik protestou. — Se sua irmã acha que deve, deixe-a fazer. — Mas ele é um estranho. — Sua irmã também era quando a deixaram na nossa porta. — Vovó disse isso muito tranquila, mas ela desarmou Erik de modo que não tivesse argumentos. — Além disso, Selene não faz as coisas à toa, se ela acha que deve assumir essa responsabilidade, é porque tem suas razões. — Só mais alguns dias — Erik disse como se a última palavra fosse dele e quis revirar os olhos. — Ok, Erik, ok — concordei para encerrar. — Se ele está acordado, vou falar com ele. — Erik se virou para ir. — Não. — O impedi impulsivamente. — O que foi agora? — Deixe que ele pelo menos coma alguma coisa antes, eu vim justamente para pegar. — Tudo bem, vou esperar. Erik sentou à mesa e me encarou, era realmente muito irritante, parecia até uma criança. — Bem, eu vou lá buscar as roupas. — Loren disse após um suspiro. Minha avó olhou para mim mais uma vez e não precisou de palavras, ela me conhecia bem. Eu era um livro aberto, sempre deixava minhas emoções à mostra para quem quisesse ver.DarykQuando aquela fêmea chegou mais perto, senti uma palpitação estranha em meu peito. Era uma bela fêmea, apesar de estar com meus sentidos fracos consegui sentir seu cheiro, era bom. Um aroma único que nunca senti antes. Era estranhamente sedutor.Achei gracioso o rubor na sua face por eu estar nu, eu não me importava, mas os humanos tinham outros costumes. Não resisti em chegar mais perto para sentir mais. Os cabelos escuros com leve ondas me faziam querer tocá-lo, mas o que mais me atraiu foram seus olhos cor de jade. Foi o verde mais bonito que já vi, limpos, vivos. Seus lábios cheios em um tom rosa pálido eram terrivelmente sedutores.Por um momento, esqueci de tudo e desejei prendê-la entre meus braços, abraçar suas curvas suaves tão bem expostas naquelas roupas levemente justas. Ela é pequena, delicada. Será que aguentaria a minha dominância?Duvidava.Mas isso não estava certo. Quando ela me tocou, eu reagi inesperadamente. Eu nunca reagi tão rápido assim por um simples to
Selene Alguns dias depois… Terminei de pentear os cabelos e fiz uma trança lateral, era um dia comum de trabalho. Depois que retornei, algumas encomendas surgiram, mas ainda estava recuperando algumas ervas que ficaram abandonadas na minha estufa. Vó Laura tentou cuidar, mas era trabalho demais para uma senhora de quase setenta anos, mesmo que ela insistisse em dizer que aguentava. Bem, ela se orgulhava em trabalhar ativamente todos os dias, nunca se queixava de nada, dizia que trabalharia até seu último dia de vida. Eu tinha orgulho dela. O cultivo de rosas raras e exóticas era o negócio da família, nós tínhamos grandes estufas espalhadas pela propriedade. E, era gratificante ver o resultado do nosso trabalho, mexer com plantas e flores me deixava realmente feliz, esse sentimento certamente era compartilhado com todos os trabalhadores daqui. Daryk parecia totalmente recuperado. Eu finalmente descobri seu nome depois de alguns dias de silêncio, mas era só, ele diz não lembrar d
DarykQuando aquela fêmea saiu por aquela porta, esqueci o que estava fazendo ali. Ela estava linda. As bochechas rosadas e o sorriso me prenderam de tal forma que perdi as poucas palavras que iria lhe dizer. Ela parou na minha frente e admirei seus lábios pintados com um rosa mais forte que a cor natural, o brilho sutil que me fez querer lamber e tirar.— Bom dia. Podemos ir? Sua voz gentil me trouxe calma e acenei antes de responder:— Bom dia.Ela sorriu mais e me prendi em seus olhos que estavam mais bonitos na claridade da manhã. A segui para o carro e forcei-me a desviar o olhar das suas curvas. Eu queria elogiá-la, mas talvez fosse grosseiro e não queria ofendê-la. Essa fêmea parecia sensível e eu não poderia compará-la às do meu mundo onde falávamos mais abertamente e sem pudores. Eu passei a hesitar na presença de Selene.Ela entrou no carro e acompanhei, não gostava desse tipo de transporte, mas tinha confiança nela. — A cidade é pequena, mas é bem abastecida — ela disse
Daryk— Vamos tomar uma bebida? — Selene perguntou ao segurar o chapéu para impedir que o vento levasse. Os fios soltos daquela trança voaram e senti um forte impulso de ter eles entre meus dedos. — Tem uma lanchonete aqui perto e as coisas lá são ótimas.Acenei confirmando e a segui. Apertei as alças das sacolas um pouco inquieto. Aquela situação estava me distraindo, eu não deveria estar ali pensando e agindo como se não tivesse responsabilidades. Há pouco tempo perdi minha família e guerreiros queridos, meu mundo estava morrendo e eu estava aqui satisfazendo uma fêmea que nem era minha. Eu não devia me acomodar e nem gostar da companhia dela, não havia tempo para distrações. Selene abriu a porta do lugar e nos levou para uma mesa mais afastada. Não tem lugares assim no meu mundo, nós vivemos de forma mais primitiva e próximos à natureza. Coloquei as sacolas no chão e me sentei no assento acolchoado na sua frente. — Eu gosto muito da torta de chocolate daqui e as bebidas são muito
DarykNós retornamos para sua casa e me despedi dela na porta. Quando entrei nesse lugar cedido a mim, deixei as compras em cima da mesa e sentei-me. Estava impressionado com suas percepções a meu respeito, não eram invenções de sua cabeça, ela não tinha razões para dizer aquilo se não tivesse um fundo de verdade.Fechei os olhos e me concentrei em meu interior como em tantas vezes, se eu ao menos conseguisse quebrar aquele feitiço. Mas eu não tinha o dom do meu irmão, então, não adiantava repetir suas palavras corretamente, eu não seria capaz de realizar um feitiço. Além do mais, mesmo que Selene fosse uma bruxa, não queria dizer que soubesse sobre isso, mas talvez me ajudasse a encontrar um portal. Ainda assim, as chances de acreditar em mim eram mínimas. Talvez ela só tivesse uma sensibilidade maior que os humanos comuns. — Por que me jogou nesse lugar, Arin? — murmurei com tristeza.Ainda estava na metade da tarde e os trabalhadores estavam encerrando o expediente, mas não queri
SeleneEncarei a porta fechada da estufa e respirei profundamente. Não acredito que ele saiu desse jeito. O que eu estava pensando? Acabei me deixando levar, eu devia ter me contido.Daryk me atrai, eu não nego, porém, não quer dizer que ele sinta o mesmo e queira alguma coisa. Contudo, é um pouco frustrante. Talvez eu só esteja confundindo as coisas, mas ele me olha tão intensamente e desde o início foi assim. Nunca me esqueço do primeiro dia que acordou, ele foi rude, intenso e depois, ele levantou uma barreira entre nós.O fato é que eu estou sempre muito atenta a ele, sempre perto o observando. Essa forte sensação que não entendo. Eu já estive em relacionamentos, mesmo que nunca tenha sentido amor pelos poucos namorados que tive, ainda assim, eu sei diferenciar certos sentimentos, mas quando se refere a Daryk, parece que é muito mais profundo que uma simples atração.Eu deveria apenas esquecer, mas não consigo ignorar.Voltei a espalhar a terra e suspirei ainda frustrada, depois
DarykAntes da fêmea chegar até minha porta, eu a senti e ouvi seus passos calmos. Não esperava vê-la, a verdade é que estive a evitando desde aquele dia. E, para ser honesto, eu nunca pensei que fugiria de uma fêmea tão atraente quanto ela.Ela sorriu e agiu como se nada tivesse acontecido, confesso que isso me aborreceu um pouco, eu senti como se aquilo não tivesse tido importância nenhuma para ela. A julgar pelo meu povo, as fêmeas não costumam ser tão passivas e normalmente, elas não desistem tão fácil quando querem um macho. Mais uma vez estou comparando algo que não deve ser comparado. O problema ainda é essa confusão irritante que sinto. Essa indecisão e receio de algo que não conheço, mas acima disso, algo que não deve acontecer, mesmo que eu seja ridiculamente atraído para isso.Selene estava na frente guiando o caminho e pude contemplar suas curvas, mas o que me chamou atenção foi a sua nuca. Caíam alguns fios em seu pescoço, mesmo que seu cabelo estivesse preso, meu olhar
DarykDeitei sobre seu corpo, eu a queria como uma fera faminta, ela estava tão entregue quando eu, arranhando minhas costas por cima da camisa. Seu corpo macio era sincero, seu calor me deixava mais louco, empurrei-me sobre ela e seu gemido vibrou contra minha boca. Aquelas roupas estavam atrapalhando e deslizei para baixo da sua camisa, sua pele quente e macia me deixou mais faminto, mas ela segurou minha mão, no momento seguinte, percebi como estávamos.Puxei a respiração e apoiei minha testa em seu ombro. Seu peito subia e descia rápido. Nós ficamos assim por um longo momento, ela acariciou meus cabelos antes que eu me afastasse e a ajudasse a sentar novamente.— Acho que está na hora de voltarmos — ela disse depois de um suspiro, seu tom estava diferente. — Já vai escurecer.Seus olhos de repente estavam sombrios, sem aquele brilho alegre que sempre tinha. Fiquei confuso, ela me aceitou, mas agora…— Eu… — ela começou a dizer, mas fechou a boca novamente. — Tudo bem? — pergunte