DarykNós retornamos para sua casa e me despedi dela na porta. Quando entrei nesse lugar cedido a mim, deixei as compras em cima da mesa e sentei-me. Estava impressionado com suas percepções a meu respeito, não eram invenções de sua cabeça, ela não tinha razões para dizer aquilo se não tivesse um fundo de verdade.Fechei os olhos e me concentrei em meu interior como em tantas vezes, se eu ao menos conseguisse quebrar aquele feitiço. Mas eu não tinha o dom do meu irmão, então, não adiantava repetir suas palavras corretamente, eu não seria capaz de realizar um feitiço. Além do mais, mesmo que Selene fosse uma bruxa, não queria dizer que soubesse sobre isso, mas talvez me ajudasse a encontrar um portal. Ainda assim, as chances de acreditar em mim eram mínimas. Talvez ela só tivesse uma sensibilidade maior que os humanos comuns. — Por que me jogou nesse lugar, Arin? — murmurei com tristeza.Ainda estava na metade da tarde e os trabalhadores estavam encerrando o expediente, mas não queri
SeleneEncarei a porta fechada da estufa e respirei profundamente. Não acredito que ele saiu desse jeito. O que eu estava pensando? Acabei me deixando levar, eu devia ter me contido.Daryk me atrai, eu não nego, porém, não quer dizer que ele sinta o mesmo e queira alguma coisa. Contudo, é um pouco frustrante. Talvez eu só esteja confundindo as coisas, mas ele me olha tão intensamente e desde o início foi assim. Nunca me esqueço do primeiro dia que acordou, ele foi rude, intenso e depois, ele levantou uma barreira entre nós.O fato é que eu estou sempre muito atenta a ele, sempre perto o observando. Essa forte sensação que não entendo. Eu já estive em relacionamentos, mesmo que nunca tenha sentido amor pelos poucos namorados que tive, ainda assim, eu sei diferenciar certos sentimentos, mas quando se refere a Daryk, parece que é muito mais profundo que uma simples atração.Eu deveria apenas esquecer, mas não consigo ignorar.Voltei a espalhar a terra e suspirei ainda frustrada, depois
DarykAntes da fêmea chegar até minha porta, eu a senti e ouvi seus passos calmos. Não esperava vê-la, a verdade é que estive a evitando desde aquele dia. E, para ser honesto, eu nunca pensei que fugiria de uma fêmea tão atraente quanto ela.Ela sorriu e agiu como se nada tivesse acontecido, confesso que isso me aborreceu um pouco, eu senti como se aquilo não tivesse tido importância nenhuma para ela. A julgar pelo meu povo, as fêmeas não costumam ser tão passivas e normalmente, elas não desistem tão fácil quando querem um macho. Mais uma vez estou comparando algo que não deve ser comparado. O problema ainda é essa confusão irritante que sinto. Essa indecisão e receio de algo que não conheço, mas acima disso, algo que não deve acontecer, mesmo que eu seja ridiculamente atraído para isso.Selene estava na frente guiando o caminho e pude contemplar suas curvas, mas o que me chamou atenção foi a sua nuca. Caíam alguns fios em seu pescoço, mesmo que seu cabelo estivesse preso, meu olhar
DarykDeitei sobre seu corpo, eu a queria como uma fera faminta, ela estava tão entregue quando eu, arranhando minhas costas por cima da camisa. Seu corpo macio era sincero, seu calor me deixava mais louco, empurrei-me sobre ela e seu gemido vibrou contra minha boca. Aquelas roupas estavam atrapalhando e deslizei para baixo da sua camisa, sua pele quente e macia me deixou mais faminto, mas ela segurou minha mão, no momento seguinte, percebi como estávamos.Puxei a respiração e apoiei minha testa em seu ombro. Seu peito subia e descia rápido. Nós ficamos assim por um longo momento, ela acariciou meus cabelos antes que eu me afastasse e a ajudasse a sentar novamente.— Acho que está na hora de voltarmos — ela disse depois de um suspiro, seu tom estava diferente. — Já vai escurecer.Seus olhos de repente estavam sombrios, sem aquele brilho alegre que sempre tinha. Fiquei confuso, ela me aceitou, mas agora…— Eu… — ela começou a dizer, mas fechou a boca novamente. — Tudo bem? — pergunte
DarykO suor escorria pelo meu corpo. Ofegante, sentei na cama buscando mais ar. O sonho era tão perturbador quanto a realidade, o dia que perdi minha família. Foi tão real que me faltava ar, meu peito doía terrivelmente. Era aterrorizante. Sufocante.Levantei-me apressado e saí da casa, a lua estava alta, o céu limpo de nuvens, em poucos passos alcancei a floresta, estava descalço e quase sem roupas. Corri rápido, meu coração apertava cada vez mais e cravei minhas unhas no peito tentando aliviar a dor, parecia que algo estava rasgando-me de dentro para fora.Fui me entrando cada vez mais na mata fechada, os galhos batiam em meu corpo, arranhando-me, eu não sabia para onde ir, apenas precisava correr o mais rápido possível, porém, a dor no meu peito não deixou-me ir mais longe. Caí de joelhos, soltando um grunhido de dor, gritei o mais alto que consegui, colocando para fora. Todo aquele meu sofrimento. Tudo o que estava entalado na garganta. Foi nesse momento que algo rompeu dentro
Selene“A curta camisola balançava devido ao vento sutil, o tecido branco um pouco transparente era revelador e não me protegia do frio. De pés descalços, sentia a terra úmida cheia de folhas secas, estava perto, meu coração acelerava cheio de ansiedade.A floresta estava escura, mas eu sabia exatamente por onde ir, meus passos eram seguros, eu seguia apenas guiada pelos meus instintos e a familiaridade desse lugar.Logo a floresta ficou para trás dando lugar a uma pequena clareira banhada pelos raios da lua, não demorou para meus olhos encontrarem o alvo. Um grande lobo negro na beira do penhasco.Estava de costas, sentado sobre as patas e contemplando a lua. O vento mais forte bagunçava meus cabelos e eu parei com uma certa distância, mas quando meu cheiro chegou até ele, o lobo olhou-me com seus olhos escarlate.Ele levantou e veio na minha direção. Imponente. Marcante. Era um predador, mas eu não sentia medo, apenas ansiedade. Ele rodeou-me quando me alcançou, passando o focinho p
SeleneBeberiquei o chá quente um pouco distraída, me sentia atordoada.— Caiu da cama, menina? — Vó Laura entrou na cozinha.— Bom dia, vó. Eu só acordei muito cedo — Observei quando ela colocou a chaleira com água no fogo. — Parece preocupada. Aconteceu alguma coisa? — Olhou-me brevemente antes de abrir o armário e buscar o pote de café.— Eu não sei. — Pousei a xícara sobre a mesa.Vó Laura organizou as coisas para preparar um café na bancada ao lado do fogão. Como sempre, seus movimentos eram suaves. Seus cabelos curtos e brancos estavam bem penteados, a roupa toda azul cobria seus braços por completo, e as calças compridas eram folgadas. No pescoço, um lenço colorido estava cuidadosamente amarrado e, na boca, um batom vermelho que sempre achei que combinava com seus olhos azuis claros. Ela nunca deixou sua vaidade de lado. Mas eu a admirava por muitas questões.— Que resposta sem sentido — disse risonha ao sentar-se na minha frente.— É tão sem sentido quanto o que eu vi, mas nã
SeleneAo retornar, estacionei na frente de casa, como previ, cheguei bem depois da hora do almoço. Estive o tempo todo inquieta, era uma saudade absurda. Puxei minha mochila e saí do carro, queria vê-lo e beijá-lo, mesmo que ainda estivesse impressionada com aquilo.Desconsiderando as coisas ruins e complicadas, beijar ele foi como flutuar e me senti em um lugar distante, mas que se parecia com um lar. Como eu deveria interpretar isso? Se fosse tão fácil de entender, eu teria muitas respostas.— Selene. — Virei em direção ao chamado. — Hey, está distraída? Te chamei duas vezes. — Ah, oi, Jhonny, desculpe, não tinha escutado.— Sem problemas, gata! — disse naquele sorriso travesso. Ele ajeitou o cabelo com leves cachos e loiros, seus olhos claros eram alegres, Jhonny é mais jovem que eu, seus pais o traziam quando criança e acabou por trabalhar aqui também.— Tem alguma folga hoje?— Acho que não, preciso estudar e trabalhar na estufa. — O cortei de maneira mais gentil possível, eu j