SeleneOlhei mais uma vez para a sala recém arrumada, finalmente tinha concluído a organização da casa. Alguns dias tinham se passado depois que cheguei aqui e agora que pude fazer algo. Não foi nada complexo, mas estava orgulhosa, as capas das almofadas fui eu quem fiz, ainda sentia falta de equipamentos, porém, mesmo trabalhando à mão, foi possível ter um bom resultado. As almofadas eram coloridas, eu não sabia, mas tinha a possibilidade de tingir os tecidos em diversas cores, tudo era tirado da natureza ou transformado através de magia.O jogo de cadeiras era bonito, mas não me via usando esse espaço, mesmo a casa sendo maior que a maioria, eu uso basicamente o quarto e cozinha, sendo que das vezes que entro na cozinha é apenas para comer, Daryk não me deixa fazer muita coisa.De qualquer forma, eu não acho ruim, minhas habilidades na cozinha são bem limitadas, eu sei o básico e poucas receitas, posso aprender, é claro, mas acho que gosto de ser mimada, então aproveito meu tempo l
DarykAquilo era um problema e ao mesmo tempo, não.Suspirei. Tinha que encontrar uma solução mais imediata, não tínhamos fartura ainda.Uma parte da plantação de grãos estava arruinada, essa era uma área próxima que usávamos para plantar, era um espaço entre algumas árvores, apenas o suficiente. Os animais estavam voltando para seus locais de origem, a maioria estava procriando ou com filhotes, mas ainda existia um grande desequilíbrio e pouca oferta de alimento, por isso eles mexeram aqui.— Por enquanto, podemos apenas mudar as rotas das rondas. Não é bom usar magia, os animais podem ficar feridos. — Zarek apresentou uma solução simples, o problema era aumentar o número de lobos ativos na floresta. Todos estavam muito ocupados e não éramos tantos. — E as bruxas estão intensificando os cuidados com as plantas que os alimentam. — Eu vou contribuir com as rondas, vamos apenas ajustar os locais como você disse. Aumentar os lobos pode também afugentar eles.— E sua fêmea? Vai deixá-la
Daryk— Pode dormir mais se quiser.— Não posso, tenho coisas para fazer, aliás, perdi a hora já — murmurou ao se esfregar em meu peito. — Deixe para depois. — Não posso faltar às aulas de Lyra e hoje eu tenho que ajudar Eyra em algumas coisas, não sei como ela não veio saber do meu atraso.— Eu peço a outro ir em seu lugar e Lyra pode esperar.— Não seja assim, Daryk. Tenho que ser responsável, ando muito preguiçosa.— Está com fome? — Mudei o foco da conversa. Sua teimosia era insistente quando ela queria e eu só conseguia pensar no nosso filhote, essa também era uma das razões para a sua moleza.— Não muito, só sinto sono, parece que dormi por dias e ainda não é o bastante, meus olhos estão cansados.— Só os olhos?— Sim — respondeu vagarosamente. — Tem certeza que não sente mais nada?— Tenho.— Acho que você deveria prestar mais atenção em seu corpo, fêmea. — Selene se afastou o suficiente para me olhar e não consegui esconder o grande sorriso.Ela franziu o cenho desconfiada
Meses depois…SeleneRespirei rapidamente tentando recuperar o fôlego ao ouvir o choro alto. Olhei para ele nas mãos de Maya e sorri, ela o colocou em cima do meu peito nu que ainda subia e descia forte devido ao grande esforço. Era tão pequeno e frágil, o toquei com cuidado, minhas mãos estavam trêmulas, Daryk, ao meu lado, o olhava com o lobo na superfície, seus olhos estavam vermelhos. Ele encostou sua testa na minha e acariciou nosso bebê.— Você está bem? — Sua pergunta foi suave e amorosa, mas apenas acenei e respirei profundamente. Maya cortou o cordão umbilical e ele choramingou por ter sido tirado da posição confortável, mas assim que ela terminou, Daryk o pegou, ele chorou um pouco, mas depois de ouvir e sentir o rosnado suave, se acalmou. Ele sempre rosnava desse jeito durante minha gestação, dizia que estava conversando com o filhote, era como se firmasse sua presença, para que ele o reconhecesse.Mychael nem tinha sido limpo e ainda assim, daryk o levou para a grande po
4 anos depois…Selene— Tem certeza que é o lugar certo? — Daryk perguntou enquanto olhávamos a placa no início daquela estrada de terra.— Sim, é esse mesmo. — Li mais uma vez o endereço escrito no pequeno papel. — Que bom que não foi em vão, é muito complicado chegar aqui. Suspirei ao voltar a postura no banco do motorista. Nós alugamos um carro depois que chegamos na cidade mais próxima, mas antes disso, tivemos que pegar um voo longo, Daryk quase desistiu, achei que ele voltaria me levando a força, porém, não havia jeito, não dava para abrir um portal diretamente para um lugar que sequer sabia onde era. Então, primeiro visitei minha família adotiva. Foram dias felizes, principalmente por terem conhecido meu filho, no entanto, não revelei toda a verdade sobre mim e onde eu vivo.Olhei Mychael atrás na cadeirinha, não estava mais dormindo, mas permanecia calmo, ele não costumava ser tão tranquilo, era uma criança ativa e dava trabalho às vezes, mas depois que passamos pelo portal
DarykO cheiro fresco de sangue inundava minhas narinas e para onde eu olhasse, via apenas a morte. Os seres se enfrentavam em meio a escuridão da floresta. A lua banhava seus filhos através das pequenas frestas entre as árvores. Eu lutava pelos meus já em menor número. Estávamos morrendo.Meu lar era consumido pelas chamas e, embora meu sangue fosse o alvo, quem estivesse pelo caminho perderia a vida. Em breve eu seria o alfa, meu pai estava próximo de me passar esse título, no entanto, o destino quis de outra forma. Nosso mundo estava morrendo, sendo sugado pouco a pouco. Nós dependíamos da magia, mas ela também servia como combustível para seres malígnos que almejam poder. Havia um bruxo, ele começou tudo isso, sua ambição por controle e vida eterna plantou a escuridão nos corações de muitos, a magia limpa foi se tornando negra e o solo infértil.Mas não era só ele que se tornava estéril. Nossas fêmeas não geram mais filhotes, a última geração foi a minha e já tinha muito tempo.
SeleneEnfim, estava de volta.Uma música tocava no som do carro e a estrada só não estava mais escura devido a lua cheia alta no céu. Eu gostava de noites assim, iluminadas, sempre achei fascinante, às vezes passo horas a olhando, é como se me prendesse, me hipnotizava.Hoje, com vinte e sete anos nas costas, voltava pra casa com certo orgulho pelas minhas conquistas, mesmo assim, ainda sentia que algo me faltava. Sempre acreditei que o futuro guardava algo grandioso para mim, mas com o tempo, fui apegando-me cada vez mais a realidade maçante que a sociedade impõe: Estudar igual uma louca para fazer uma faculdade, depois, aceitar a rotina árdua do dia a dia por um salário, e claro, não menos importante, casar e ter filhos.O que mais poderia querer? O que mais... Era uma pergunta recorrente que eu ainda não tinha respostas.A faculdade foi algo que lutei muito para ter, apesar da minha família sempre apoiar-me, queria conquistar as coisas por mérito próprio. Um orgulho besta talvez
SeleneO que foi aquilo?Levei a mão na cabeça, atordoada, demorei alguns segundos para recuperar os sentidos e felizmente, eu estava de cinto.— Por Deus… é um homem! — Senti o desespero. — Eu... eu o matei?O farol iluminava o homem mais na frente que ainda estava de pé, felizmente, eu não o atropelei, mas suas pernas cederam no momento seguinte e ele caiu.Apertei o volante, ele estava ferido e… O que um homem nú faz no meio da estrada em lugar desses? Há chácaras e fazendas nas proximidades, mas são distantes da rodovia. Apesar disso, eu sentia que deveria ajudá-lo, estava aflita e minha intuição era forte o suficiente para que eu saísse do carro, mesmo que racionalmente, entendesse que talvez fosse perigoso. Nervosa, desci do carro. Firmei meus pés no chão buscando o equilíbrio, minhas pernas estavam moles.Forcei-me a andar mesmo com os joelhos trêmulos, ele não estava muito longe do carro e ao redor não tinha nada além da floresta. E quando cheguei perto, fiquei horrorizada co