Daryk— Pode dormir mais se quiser.— Não posso, tenho coisas para fazer, aliás, perdi a hora já — murmurou ao se esfregar em meu peito. — Deixe para depois. — Não posso faltar às aulas de Lyra e hoje eu tenho que ajudar Eyra em algumas coisas, não sei como ela não veio saber do meu atraso.— Eu peço a outro ir em seu lugar e Lyra pode esperar.— Não seja assim, Daryk. Tenho que ser responsável, ando muito preguiçosa.— Está com fome? — Mudei o foco da conversa. Sua teimosia era insistente quando ela queria e eu só conseguia pensar no nosso filhote, essa também era uma das razões para a sua moleza.— Não muito, só sinto sono, parece que dormi por dias e ainda não é o bastante, meus olhos estão cansados.— Só os olhos?— Sim — respondeu vagarosamente. — Tem certeza que não sente mais nada?— Tenho.— Acho que você deveria prestar mais atenção em seu corpo, fêmea. — Selene se afastou o suficiente para me olhar e não consegui esconder o grande sorriso.Ela franziu o cenho desconfiada
Meses depois…SeleneRespirei rapidamente tentando recuperar o fôlego ao ouvir o choro alto. Olhei para ele nas mãos de Maya e sorri, ela o colocou em cima do meu peito nu que ainda subia e descia forte devido ao grande esforço. Era tão pequeno e frágil, o toquei com cuidado, minhas mãos estavam trêmulas, Daryk, ao meu lado, o olhava com o lobo na superfície, seus olhos estavam vermelhos. Ele encostou sua testa na minha e acariciou nosso bebê.— Você está bem? — Sua pergunta foi suave e amorosa, mas apenas acenei e respirei profundamente. Maya cortou o cordão umbilical e ele choramingou por ter sido tirado da posição confortável, mas assim que ela terminou, Daryk o pegou, ele chorou um pouco, mas depois de ouvir e sentir o rosnado suave, se acalmou. Ele sempre rosnava desse jeito durante minha gestação, dizia que estava conversando com o filhote, era como se firmasse sua presença, para que ele o reconhecesse.Mychael nem tinha sido limpo e ainda assim, daryk o levou para a grande po
4 anos depois…Selene— Tem certeza que é o lugar certo? — Daryk perguntou enquanto olhávamos a placa no início daquela estrada de terra.— Sim, é esse mesmo. — Li mais uma vez o endereço escrito no pequeno papel. — Que bom que não foi em vão, é muito complicado chegar aqui. Suspirei ao voltar a postura no banco do motorista. Nós alugamos um carro depois que chegamos na cidade mais próxima, mas antes disso, tivemos que pegar um voo longo, Daryk quase desistiu, achei que ele voltaria me levando a força, porém, não havia jeito, não dava para abrir um portal diretamente para um lugar que sequer sabia onde era. Então, primeiro visitei minha família adotiva. Foram dias felizes, principalmente por terem conhecido meu filho, no entanto, não revelei toda a verdade sobre mim e onde eu vivo.Olhei Mychael atrás na cadeirinha, não estava mais dormindo, mas permanecia calmo, ele não costumava ser tão tranquilo, era uma criança ativa e dava trabalho às vezes, mas depois que passamos pelo portal
DarykO cheiro fresco de sangue inundava minhas narinas e para onde eu olhasse, via apenas a morte. Os seres se enfrentavam em meio a escuridão da floresta. A lua banhava seus filhos através das pequenas frestas entre as árvores. Eu lutava pelos meus já em menor número. Estávamos morrendo.Meu lar era consumido pelas chamas e, embora meu sangue fosse o alvo, quem estivesse pelo caminho perderia a vida. Em breve eu seria o alfa, meu pai estava próximo de me passar esse título, no entanto, o destino quis de outra forma. Nosso mundo estava morrendo, sendo sugado pouco a pouco. Nós dependíamos da magia, mas ela também servia como combustível para seres malígnos que almejam poder. Havia um bruxo, ele começou tudo isso, sua ambição por controle e vida eterna plantou a escuridão nos corações de muitos, a magia limpa foi se tornando negra e o solo infértil.Mas não era só ele que se tornava estéril. Nossas fêmeas não geram mais filhotes, a última geração foi a minha e já tinha muito tempo.
SeleneEnfim, estava de volta.Uma música tocava no som do carro e a estrada só não estava mais escura devido a lua cheia alta no céu. Eu gostava de noites assim, iluminadas, sempre achei fascinante, às vezes passo horas a olhando, é como se me prendesse, me hipnotizava.Hoje, com vinte e sete anos nas costas, voltava pra casa com certo orgulho pelas minhas conquistas, mesmo assim, ainda sentia que algo me faltava. Sempre acreditei que o futuro guardava algo grandioso para mim, mas com o tempo, fui apegando-me cada vez mais a realidade maçante que a sociedade impõe: Estudar igual uma louca para fazer uma faculdade, depois, aceitar a rotina árdua do dia a dia por um salário, e claro, não menos importante, casar e ter filhos.O que mais poderia querer? O que mais... Era uma pergunta recorrente que eu ainda não tinha respostas.A faculdade foi algo que lutei muito para ter, apesar da minha família sempre apoiar-me, queria conquistar as coisas por mérito próprio. Um orgulho besta talvez
SeleneO que foi aquilo?Levei a mão na cabeça, atordoada, demorei alguns segundos para recuperar os sentidos e felizmente, eu estava de cinto.— Por Deus… é um homem! — Senti o desespero. — Eu... eu o matei?O farol iluminava o homem mais na frente que ainda estava de pé, felizmente, eu não o atropelei, mas suas pernas cederam no momento seguinte e ele caiu.Apertei o volante, ele estava ferido e… O que um homem nú faz no meio da estrada em lugar desses? Há chácaras e fazendas nas proximidades, mas são distantes da rodovia. Apesar disso, eu sentia que deveria ajudá-lo, estava aflita e minha intuição era forte o suficiente para que eu saísse do carro, mesmo que racionalmente, entendesse que talvez fosse perigoso. Nervosa, desci do carro. Firmei meus pés no chão buscando o equilíbrio, minhas pernas estavam moles.Forcei-me a andar mesmo com os joelhos trêmulos, ele não estava muito longe do carro e ao redor não tinha nada além da floresta. E quando cheguei perto, fiquei horrorizada co
SeleneO homem estava em pé de braços cruzados em frente a janela, ele não se deu nem o trabalho de cobrir seu corpo, suas costas largas e músculos bem definidos estavam parcialmente cobertas por seus longos cabelos lisos. As pernas torneadas e aquela bunda... Mas ele olhou-me com seriedade e senti vontade de recuar.Respirei fundo e me recompus.— Você não deveria estar fora da cama — disse um pouco constrangida.Certamente, lindo. Uma beleza única e selvagem. Os cabelos negros combinavam com a pele bronzeada. Seus traços eram fortes e seus olhos negros... olhos profundos, misteriosos… Senti um arrepio quando me perdi naquele olhar, mesmo que breve.Que estranho.— Como está se sentindo? — perguntei finalmente entrando mais no quarto, mas ainda permaneci distante dele.Ele continuou me olhando, como se não entendesse. Seus lábios continuavam cerrados, mas os olhos percorriam meu corpo, sentia-me avaliada e desnuda. Ele parecia um guerreiro de histórias fictícias.— Você entende o qu
Selene— Não. Eu estou nervosa desde que aconteceu o acidente. Ele acordou e pareceu bem, mas não falou nada ainda. — Desviei o olhar ao responder. Eu sempre fui uma péssima mentirosa e em muitas vezes, preferia deixar tudo as claras, mas não tinha essa vontade agora.— Hum, ele deve estar atordoado ainda. — Eu também acho, é normal sentir-se assim depois de algum trauma. — Tentei falar naturalmente e abri um armário em busca de uma bandeja. — Eu vou levar alguma coisa pra ele comer, também preciso de algumas roupas.— Eu já separei algumas roupas, mas não sei se vai dar. Erik é menor que ele e até agora não acredito que conseguiu socorrer ele sozinha. Já viu a diferença de alturas entre ele e você? — Ele é um pouco alto mesmo.— Ele é bem grande em vários sentidos. — Loren sorriu ao levantar, ela colocou o prato cheio de legumes descascados na pia e parou ao meu lado de braços cruzados. — Não acha essa história muito estranha, Selene? O que esse homem fazia ali naquele lugar? Aind