Selene
O homem estava em pé de braços cruzados em frente a janela, ele não se deu nem o trabalho de cobrir seu corpo, suas costas largas e músculos bem definidos estavam parcialmente cobertas por seus longos cabelos lisos. As pernas torneadas e aquela bunda... Mas ele olhou-me com seriedade e senti vontade de recuar. Respirei fundo e me recompus. — Você não deveria estar fora da cama — disse um pouco constrangida. Certamente, lindo. Uma beleza única e selvagem. Os cabelos negros combinavam com a pele bronzeada. Seus traços eram fortes e seus olhos negros... olhos profundos, misteriosos… Senti um arrepio quando me perdi naquele olhar, mesmo que breve. Que estranho. — Como está se sentindo? — perguntei finalmente entrando mais no quarto, mas ainda permaneci distante dele. Ele continuou me olhando, como se não entendesse. Seus lábios continuavam cerrados, mas os olhos percorriam meu corpo, sentia-me avaliada e desnuda. Ele parecia um guerreiro de histórias fictícias. — Você entende o que eu falo? Entende o meu idioma? Sentia-me intimidada pela forma que continuava me olhando. O homem começou vir até mim, deixando-me mais nervosa, foi inevitável não olhá-lo mais uma vez de cima a baixo, Ele estava se aproximando perigosamente, olhando-me intensamente como um predador cercando sua presa, me senti pequena diante dele. Encurralada. Meu rosto esquentou e tentava não olhar para baixo. Ele chegou bem perto, inspirou o ar longamente e fechou os olhos logo em seguida, como se apreciasse uma boa essência, no entanto, logo voltou a olhar-me, ele tinha algo dominador. Prendi a respiração quando ele invadiu meu espaço, chegando perto da minha face, sem encostar. Senti sua respiração quente quando percorreu meu rosto até meu pescoço. O que ele está fazendo? Está me cheirando mais? Estava tensa, seus cabelos caíram por meu ombro e sua respiração contra minha pele estava me deixando arrepiada. Meu coração estava batendo a mil, mas não era de medo. Por alguma razão, não sentia medo, o que eu sentia era ansiedade, expectativa por descobrir mais dele. — Seus ferimentos ainda precisam de cuidados. — Forcei-me a dizer e ele se afastou. — Deite-se novamente, por favor. — Toquei gentilmente em seu braço para guiá-lo. Apesar da situação estranha, eu não sentia perigo vindo dele e eu era sensível quando a isso, sempre sentia a maldade nas pessoas e tinha algo nele, mas não fazia ideia do que era, ele era… Familiar. — O que aconteceu com você? — perguntei enquanto puxava o lençol para cobri-lo, mas parei ao ver um dos ferimentos quase curado. Isso é impossível. Toquei em sua pele e ele tencionou sua musculatura sutilmente. Uma crosta já estava se formando nos arranhões em sua coxa e aquilo não era resultado das minhas ervas. Assustei-me quando ele puxou o lençol e o embolou no colo. Ele tinha o cenho franzido. — Desculpe por tocá-lo sem sua permissão, eu… — Cocei a testa e mais uma vez tentei me recompor, acho que estou muito impressionada para estar agindo assim. — Você deve estar com fome e provavelmente quer tomar um banho. Quando o trouxe eu só limpei os ferimentos e um pouco do sangue. Eu vou providenciar as coisas. — O encarei por mais um momento, — Eh… bom, espere por mim, não vou demorar. Dei alguns passos para trás e depois me apressei em sair do quarto. Que situação constrangedora. Pensando bem, acho que ele não deve falar meu idioma, ou talvez esteja confuso, de qualquer forma, eu tenho que melhorar minha abordagem, mas agora, o vendo acordado, eu me sinto perdida. Algo nele estava errado, porém, era algo bom. Eu tinha que entender o que isso significava. Ele definitivamente não era das proximidades, eu jamais esqueceria esse rosto, mesmo assim, a sensação de familiaridade era forte. Segurei meu relicário coberto pela camisa de gola alta, eu aprendi a não ignorar minhas intuições e não seria diferente agora. Olhei para a porta fechada e respirei fundo antes de sair pelo corredor. Eu o coloquei no quarto de hóspedes a muito custo. Erik simplesmente surtou quando cheguei com ele nessa madrugada, honestamente, meu irmão sempre foi exagerado, se dependesse dele, esse homem teria ficado jogado lá na estrada. Desci as escadas de madeira e olhei aquela sala ocupada apenas por móveis rústicos, em sua maioria, escuros. Se não fossem as rosas que coloriam e o ambiente em vários pontos, seria apenas uma casa sem vida. Era uma casa grande demais para poucas pessoas, o trabalho consumia o tempo de todos, não tinha crianças e o pó era o único que circulava livremente. Apesar disso, tudo ali foi conquistado com muito esforço. Suspirei e entrei na porta proxima as escadas. Na cozinha, encontrei minha cunhada descascando alguns legumes. — O que foi? — Loren perguntou-me ao desviar a atenção do prato raso. — Está corada. — Corada? — Passei a mão no rosto involuntariamente. — Aconteceu alguma coisa? — Arqueou a sobrancelha loira. — Ah, bem, ele acordou. — Ele fez alguma coisa com você? — perguntou-me séria. Fiquei um pouco nervosa por seu questionamento porque aconteceram coisas estranhas enquanto estava naquele quarto e sim, ele fez algo. Cheirar uma pessoa daquele jeito não é normal, mas se eu dissesse isso, geraria mais problemas e eu queria mais tempo para entender o que minha intuição estava apontando.Selene— Não. Eu estou nervosa desde que aconteceu o acidente. Ele acordou e pareceu bem, mas não falou nada ainda. — Desviei o olhar ao responder. Eu sempre fui uma péssima mentirosa e em muitas vezes, preferia deixar tudo as claras, mas não tinha essa vontade agora.— Hum, ele deve estar atordoado ainda. — Eu também acho, é normal sentir-se assim depois de algum trauma. — Tentei falar naturalmente e abri um armário em busca de uma bandeja. — Eu vou levar alguma coisa pra ele comer, também preciso de algumas roupas.— Eu já separei algumas roupas, mas não sei se vai dar. Erik é menor que ele e até agora não acredito que conseguiu socorrer ele sozinha. Já viu a diferença de alturas entre ele e você? — Ele é um pouco alto mesmo.— Ele é bem grande em vários sentidos. — Loren sorriu ao levantar, ela colocou o prato cheio de legumes descascados na pia e parou ao meu lado de braços cruzados. — Não acha essa história muito estranha, Selene? O que esse homem fazia ali naquele lugar? Aind
DarykQuando aquela fêmea chegou mais perto, senti uma palpitação estranha em meu peito. Era uma bela fêmea, apesar de estar com meus sentidos fracos consegui sentir seu cheiro, era bom. Um aroma único que nunca senti antes. Era estranhamente sedutor.Achei gracioso o rubor na sua face por eu estar nu, eu não me importava, mas os humanos tinham outros costumes. Não resisti em chegar mais perto para sentir mais. Os cabelos escuros com leve ondas me faziam querer tocá-lo, mas o que mais me atraiu foram seus olhos cor de jade. Foi o verde mais bonito que já vi, limpos, vivos. Seus lábios cheios em um tom rosa pálido eram terrivelmente sedutores.Por um momento, esqueci de tudo e desejei prendê-la entre meus braços, abraçar suas curvas suaves tão bem expostas naquelas roupas levemente justas. Ela é pequena, delicada. Será que aguentaria a minha dominância?Duvidava.Mas isso não estava certo. Quando ela me tocou, eu reagi inesperadamente. Eu nunca reagi tão rápido assim por um simples to
Selene Alguns dias depois… Terminei de pentear os cabelos e fiz uma trança lateral, era um dia comum de trabalho. Depois que retornei, algumas encomendas surgiram, mas ainda estava recuperando algumas ervas que ficaram abandonadas na minha estufa. Vó Laura tentou cuidar, mas era trabalho demais para uma senhora de quase setenta anos, mesmo que ela insistisse em dizer que aguentava. Bem, ela se orgulhava em trabalhar ativamente todos os dias, nunca se queixava de nada, dizia que trabalharia até seu último dia de vida. Eu tinha orgulho dela. O cultivo de rosas raras e exóticas era o negócio da família, nós tínhamos grandes estufas espalhadas pela propriedade. E, era gratificante ver o resultado do nosso trabalho, mexer com plantas e flores me deixava realmente feliz, esse sentimento certamente era compartilhado com todos os trabalhadores daqui. Daryk parecia totalmente recuperado. Eu finalmente descobri seu nome depois de alguns dias de silêncio, mas era só, ele diz não lembrar d
DarykQuando aquela fêmea saiu por aquela porta, esqueci o que estava fazendo ali. Ela estava linda. As bochechas rosadas e o sorriso me prenderam de tal forma que perdi as poucas palavras que iria lhe dizer. Ela parou na minha frente e admirei seus lábios pintados com um rosa mais forte que a cor natural, o brilho sutil que me fez querer lamber e tirar.— Bom dia. Podemos ir? Sua voz gentil me trouxe calma e acenei antes de responder:— Bom dia.Ela sorriu mais e me prendi em seus olhos que estavam mais bonitos na claridade da manhã. A segui para o carro e forcei-me a desviar o olhar das suas curvas. Eu queria elogiá-la, mas talvez fosse grosseiro e não queria ofendê-la. Essa fêmea parecia sensível e eu não poderia compará-la às do meu mundo onde falávamos mais abertamente e sem pudores. Eu passei a hesitar na presença de Selene.Ela entrou no carro e acompanhei, não gostava desse tipo de transporte, mas tinha confiança nela. — A cidade é pequena, mas é bem abastecida — ela disse
Daryk— Vamos tomar uma bebida? — Selene perguntou ao segurar o chapéu para impedir que o vento levasse. Os fios soltos daquela trança voaram e senti um forte impulso de ter eles entre meus dedos. — Tem uma lanchonete aqui perto e as coisas lá são ótimas.Acenei confirmando e a segui. Apertei as alças das sacolas um pouco inquieto. Aquela situação estava me distraindo, eu não deveria estar ali pensando e agindo como se não tivesse responsabilidades. Há pouco tempo perdi minha família e guerreiros queridos, meu mundo estava morrendo e eu estava aqui satisfazendo uma fêmea que nem era minha. Eu não devia me acomodar e nem gostar da companhia dela, não havia tempo para distrações. Selene abriu a porta do lugar e nos levou para uma mesa mais afastada. Não tem lugares assim no meu mundo, nós vivemos de forma mais primitiva e próximos à natureza. Coloquei as sacolas no chão e me sentei no assento acolchoado na sua frente. — Eu gosto muito da torta de chocolate daqui e as bebidas são muito
DarykNós retornamos para sua casa e me despedi dela na porta. Quando entrei nesse lugar cedido a mim, deixei as compras em cima da mesa e sentei-me. Estava impressionado com suas percepções a meu respeito, não eram invenções de sua cabeça, ela não tinha razões para dizer aquilo se não tivesse um fundo de verdade.Fechei os olhos e me concentrei em meu interior como em tantas vezes, se eu ao menos conseguisse quebrar aquele feitiço. Mas eu não tinha o dom do meu irmão, então, não adiantava repetir suas palavras corretamente, eu não seria capaz de realizar um feitiço. Além do mais, mesmo que Selene fosse uma bruxa, não queria dizer que soubesse sobre isso, mas talvez me ajudasse a encontrar um portal. Ainda assim, as chances de acreditar em mim eram mínimas. Talvez ela só tivesse uma sensibilidade maior que os humanos comuns. — Por que me jogou nesse lugar, Arin? — murmurei com tristeza.Ainda estava na metade da tarde e os trabalhadores estavam encerrando o expediente, mas não queri
SeleneEncarei a porta fechada da estufa e respirei profundamente. Não acredito que ele saiu desse jeito. O que eu estava pensando? Acabei me deixando levar, eu devia ter me contido.Daryk me atrai, eu não nego, porém, não quer dizer que ele sinta o mesmo e queira alguma coisa. Contudo, é um pouco frustrante. Talvez eu só esteja confundindo as coisas, mas ele me olha tão intensamente e desde o início foi assim. Nunca me esqueço do primeiro dia que acordou, ele foi rude, intenso e depois, ele levantou uma barreira entre nós.O fato é que eu estou sempre muito atenta a ele, sempre perto o observando. Essa forte sensação que não entendo. Eu já estive em relacionamentos, mesmo que nunca tenha sentido amor pelos poucos namorados que tive, ainda assim, eu sei diferenciar certos sentimentos, mas quando se refere a Daryk, parece que é muito mais profundo que uma simples atração.Eu deveria apenas esquecer, mas não consigo ignorar.Voltei a espalhar a terra e suspirei ainda frustrada, depois
DarykAntes da fêmea chegar até minha porta, eu a senti e ouvi seus passos calmos. Não esperava vê-la, a verdade é que estive a evitando desde aquele dia. E, para ser honesto, eu nunca pensei que fugiria de uma fêmea tão atraente quanto ela.Ela sorriu e agiu como se nada tivesse acontecido, confesso que isso me aborreceu um pouco, eu senti como se aquilo não tivesse tido importância nenhuma para ela. A julgar pelo meu povo, as fêmeas não costumam ser tão passivas e normalmente, elas não desistem tão fácil quando querem um macho. Mais uma vez estou comparando algo que não deve ser comparado. O problema ainda é essa confusão irritante que sinto. Essa indecisão e receio de algo que não conheço, mas acima disso, algo que não deve acontecer, mesmo que eu seja ridiculamente atraído para isso.Selene estava na frente guiando o caminho e pude contemplar suas curvas, mas o que me chamou atenção foi a sua nuca. Caíam alguns fios em seu pescoço, mesmo que seu cabelo estivesse preso, meu olhar