Anne Turner. Quatro anos depois. Cá estava eu me encarando no espelho. A maquiagem pronta para a minha tão sonhada formatura de medicina que era daqui a alguns instantes. Eu estava nervosa, mas a pequena mão que segurava as minhas com um olhar muito meigo me acalmava e dizia que eu poderia tudo. Noah estava com três aninhos, e falava tudo que eu podia ou não podia imaginar. "Mamãe, linda." ele falou com sua voz doce." "Sério meu amor? Você é lindo. Agora vai ficar com a titia Zara e sua prima enquanto eu vou terminar de me arrumar tá bom?" Ele assentiu e saiu saltitando. Muito fofo e inteligente o meu lobinho.Eu nem podia acreditar, foram tantos anos sonhando com isso. Me segurei para não borrar a maquiagem ao me lembrar de tudo que passei para estudar. Das noites em claro, dos livros que tinham que ser escondidos, de fugir para conseguir ir até a faculdade. Eu agradeci mentalmente, por tudo ter dado certo. "Já está pronta? Futura médica?" Wil
Sinto roupas sujas sendo jogadas em direção ao meu rosto com agressividade e me levanto atordoada, meu corpo inteiro dói após um dia de trabalho árduo.— Ei, órfã preguiçosa! — a voz ecoou sobre o porão. — Eu te disse para lavar todas as roupas, e o que seriam essas que sobraram? — Ela aponta para a trouxa de roupas que acabará de jogar em mim.Levanto-me devagar, os músculos protestando a cada movimento. Encaro a figura imponente da minha tia, lutando para manter a compostura, mesmo que minhas mãos estejam tremendo de frustração e tristeza. Respiro fundo, buscando forças para não deixar as lágrimas traíras rolarem livremente pelo meu rosto.— Eu… eu estava… tentando terminar, eu juro — as palavras saem da minha boca em um sussurro frágil, quase abafadas pela raiva contida.Mas as palavras dela cortam meu ímpeto. Um nó se forma na minha garganta, mas preciso manter a calma, preciso. Com um esforço sobre-humano, controlo a vontade de rebater, resistindo ao impulso de explodir em choro.
O ônibus estacionou uns dois pontos antes da universidade, e eu precisava andar apenas alguns passos até lá. Meus olhos tentavam não se fechar pelo simples fato de ter que acordar antes de todos para fazer o café da manhã e os afazeres, mesmo após apanhar como uma mala velha.Não era simples conviver com toda aquela situação. Eu sempre percebi ser diferente das outras pessoas; era tímida e reclusa. Talvez fosse normal, considerando o ambiente em que fui criada como uma escrava a vida toda, sem nenhum resquício de amor ou afeto. Não havia muitas convicções ou esperanças para mim; eu nunca conseguiria ser feliz estando naquela casa.Muitas vezes, já me perguntei: se meus tios têm boas condições, por que não contrataram uma empregada?Isso era simples de responder; por que raios eles iriam contratar mão de obra se tinham a minha gratuitamente?Andei mais um pouco com dificuldade, pois meu corpo doía e latejava. Enfim, eu cheguei à universidade.As garotas me olhavam com desprezo e superi
O ambiente era totalmente diferente do que imaginei, eu criei tantos cenários em minha cabeça de como seria o baile de máscaras. É, eu não ia a festas. Meus tios me proibiam, sempre. Eu não os denunciava, pois eles eram influentes na cidade por conta de seus comércios. Então eu, uma órfã, que não tinha onde cair morta, iria desafiá-los. Quem eu pensava ser? Eles podiam fazer o que quisessem comigo que jamais iria haver alguém para me defender, e me deixavam ciente disso. Eles eram regados de segredos. Segredos que eu não fazia a mínima ideia de quais eram. Afinal, meu quarto era fora da casa, isso mesmo, eu vivia num quarto fora da casa. Quão legal minha vida era?A festa estava muito bonita, tudo bem-arrumado e todas as pessoas aqui parecem ser tão importantes, eu me sentia deslocada naquele lugar, mas ok. Era somente não deixar meus tios me verem aqui. Mas se tem uma coisa que viver naquelas condições subalternas me ensinaram, era a me esconder.Todos estavam me observando, talvez
Engoli o seco, encarando a figura brava de Amélia, ela estava furiosa, como se eu tivesse cometido um crime contra ela, ou eu nem sei o quê.Dei três passos para trás, tentando me afastar, eu não tinha para onde correr, e sabia o quão perversa ela podia ser.Eu tentava argumentar alguma palavra que pudesse me defender dos abusos sofridos, mas parecia impossível formular uma frase naquele momento.Minha respiração estava ofegante, minhas mãos tremem enquanto continuo a dar passos para trás quando percebo que já estou encostada na parede ao lado da cama, pois o porão era tão pequeno que eu mal cabia nele. Merda— Eu sempre soube que você era um lixo e devíamos ter deixado você ir para um orfanato. — Ela cuspiu as palavras em mim. — Eu só fiquei pouco tempo na festa, não quis…— Cala a boca, Anne! — me interrompeu. Uma mistura de choque e medo invadiu meus olhos, eu não sabia se ela estava brava pela festa, ou por mais o quê.— Por acaso, a diretora da faculdade onde você estuda, por
William Carter. Deslizo meu uísque favorito sob a bancada enquanto observo a mulher se vestir após uma longa noite. Eu já estava satisfeito, então queria que ela sumisse da minha vista o mais rápido possível.A maioria dos lobos gostava de fazer sexo em sua forma humana. E eu compartilho do mesmo pensamento, apesar de me sentir superior a essa raça. — Se o senhor desejar, posso ficar mais, meu alfa. — ela toca em meu ombro. Olho para a loba com desprezo. Em meus trinta e quatro anos de vida, não encontrei a minha companheira, e nem faço a mínima questão de encontrar. Elas são como um brinquedo para mim, as uso e quando já fizeram o que eu queria, mando embora.— Não. Você não quer que eu repita, eu odeio repetir as frases. — falei e ela saiu do quarto rapidamente com o resto de suas roupas na mão.Dei o último gole no meu uísque e segui para o escritório, quando Lucca, meu Beta, entrou no mesmo.— Senhor, há um problema na sede principal da construtora — ele disse. — Que problema
Anne TurnerEu odiava o escuro, não me remetia a coisas boas. Sentada neste porão, sem claridade externa alguma, havia me cansado de chorar e decidi. Se em todos esses dias e anos em que chorei nada mudou, de que adiantaria desperdiçar lágrimas?Fui até a porta do porão e como imaginei, trancada.“Merda!”, murmurei passando a mão entre os cabelos”. Não, não, não! Tenho que encontrar um jeito de sair desse lugar, minha tia irá me deixar aqui e só me tirar para fazer o que ela desejar".Suspirei, meu coração ainda batia fortemente. Procurei possíveis formas de sair, e bufei com a frustração. Era inútil.Eles haviam me deixado com fome. Mas tudo bem, hoje foi um novo dia. Me sentia como uma mercadoria danificada.De repente ouvi batidas na porta, e meu nome ser pronunciado em um pequeno sussurro. “Anne”, a pessoa do outro lado da porta falou”.Em seguida, o silêncio se instalou, e vi um prato de comida sendo passado debaixo da porta.Era Valerie.“Olha Anne, não sou muito sua fã, mas n
O carro estacionou em frente a uma mansão. Engoli as lágrimas durante toda a viagem. Ele abriu a porta do carro e ordenou que eu saísse. Uma voz em minha mente dizia que eu não era culpada por nada disso, mas todos os acontecimentos em minha vida pareciam fadados à desgraça. Havia apenas um buraco em meu peito, que me fazia gritar de tanta impotência.Eu estava possessa de ódio, ele me consumia, o meu interior gritava, eu parecia uivar em desespero, estava confusa.A fachada da casa era estonteante, com carvalhos-brancos muito comuns aqui em Portland. Eu observava tudo atentamente, tentando entender o que este homem queria comigo. Se eu tivesse escolhido, estaria bem longe dessa cidade e de tudo que a rodeia.Ele era tio de David, e se eu pedisse ajuda a ele? Provavelmente isso não daria certo. David jamais ficaria contra o tio. "Entre", William diz sem me olhar."Fiz como o mesmo pediu, não iria provocar a sua ira novamente, o tapa desferido em meu rosto já fora o suficiente. E