O ambiente era totalmente diferente do que imaginei, eu criei tantos cenários em minha cabeça de como seria o baile de máscaras. É, eu não ia a festas. Meus tios me proibiam, sempre. Eu não os denunciava, pois eles eram influentes na cidade por conta de seus comércios.
Então eu, uma órfã, que não tinha onde cair morta, iria desafiá-los. Quem eu pensava ser? Eles podiam fazer o que quisessem comigo que jamais iria haver alguém para me defender, e me deixavam ciente disso.
Eles eram regados de segredos. Segredos que eu não fazia a mínima ideia de quais eram. Afinal, meu quarto era fora da casa, isso mesmo, eu vivia num quarto fora da casa. Quão legal minha vida era?
A festa estava muito bonita, tudo bem-arrumado e todas as pessoas aqui parecem ser tão importantes, eu me sentia deslocada naquele lugar, mas ok. Era somente não deixar meus tios me verem aqui. Mas se tem uma coisa que viver naquelas condições subalternas me ensinaram, era a me esconder.
Todos estavam me observando, talvez porque nunca me viam muito pela cidade. Alguns olhavam com desconfiança, como se estivessem falando sobre mim, mas pouco me importava, eu só queria aproveitar.
Minha máscara era preta, combinando com o meu vestido, eu estava totalmente encantada, nunca havia vindo para um baile de máscaras, era num espaço tão requintado, pessoas dançavam, parecia um verdadeiro sonho. Por um instante até esqueci de todos os meus problemas.
Me aproximei do garçom, peguei uma taça de vinho, dei um gole no vinho e fiz uma careta, era forte, então não podia me dar ao luxo de beber ao menos mais que umas três taças.
Parei um pouco próximo aos fogos que estavam soltando em comemoração, e pensei em David, eu estava me sentindo frustrada por criar esperanças em relação a ele.
Continuei a andar e me distraí com as luzes, de repente fui atingida por algo, ou alguém. Virei a cabeça de lado assustada com o impacto, senti um pouco de dor por conta da agressão sofrida ontem, e curiosamente, dei de cara com um homem.
Ele estava vestido com uma camisa social preta, e parecia ter uma expressão furiosa. Seu tamanho era notável, ele era tão alto que próximo a mim, eu me sentia extremamente pequena.
Os seus cabelos escorridos e completamente alinhados, e a barba por fazer que não revelava muito seu rosto, sua mandíbula era esculpida. Ele não estava de máscara e acredito que podia ter entre uns trinta a quarenta anos, eu não sei, a sua aparência era de um homem maduro, mas muito bonito, de longe o homem mais bonito que já vi. Algo nele era estranho e atrativo.
“Que porra garota!” esbravejou” Olha por onde anda” ele tentava limpar a camisa, só então percebi haver derrubado um pouco do vinho tinto em sua roupa.
“Perdão, senhor, eu não quis, deixe-me ajudar”, tentei limpar a roupa dele com as mãos sem sucesso.
— Agora que você já sujou. — sua expressão era dura e fria.
Anne, você é uma burra. Em sua primeira festa você suja a roupa dos outros."pensei".
— Eu sei como retirar essa mancha rapidamente, venha comigo senhor, eu insisto.—ofereci ajuda novamente.
Ele me encarou com uma expressão hostil,e pareceu analisar as minhas feições, seus olhos cor âmbar me encaravam de uma forma que não conseguia explicar. Eu estava envergonhada.
— Vamos logo, então, não tenho tempo a perder, já que sujou, conserte o que fez.— Ele disse revirando os olhos.
Pedi para que ele me seguisse, havia um local aqui próximo, uma espécie de loja de conveniência, onde eu poderia encontrar vinagre e água. Rapidamente chegamos até lá e comprei o que era necessário, paramos ao lado do posto de abastecimento, e eu comecei a limpar a sua camisa suja de vinho em seu corpo.
Isso era tão embaraçoso.
Toquei em seu braço sem querer e me assustei, a sua temperatura corporal era extremamente quente, tentei fingir que isso não aconteceu e apenas voltei a limpar a camisa, ele estava em silêncio apenas me observando. Após algum tempo esfregando consegui retirar a mancha, ufa. Que alívio. Só essa camisa deveria custar mais que a minha própria vida.
Ele parecia estar ali entre nós nessa festa por obrigação.
— A mancha saiu, senhor, me desculpe novamente, eu não estava olhando para onde andava.—
— William. — Sua voz grossa ecoou em meu ouvido.
— Oi? — Pergunto.
— O meu nome é William Carter, não senhor. E qual o seu nome? — perguntou, a voz era extremamente sexy.
Meu rosto corou imediatamente e eu arregalei os olhos.
William Carter. Puta merda.
Liguei os pontos, era ele, o tio de David. Não o reconheci, afinal nunca tinha o visto, só ouvido falar sobre o maior CEO dono das construtoras de Portland.
— Anne— pausei em seguida dizendo meu sobrenome — Anne Turner. —
— Nunca havia visto você, parente dos Turners... mora aqui na cidade? — me analisou cima a baixo.
— Moro, é que… — penso numa desculpa que não seja dizer que sou uma prisioneira —É, que eu não saio muito.
— Deveria sair mais — Disse-me olhando de cima a baixo.
Oh, meu Deus. Eu não achava que um homem desse porte iria flertar comigo, jamais, mas eu apostava que minhas bochechas estavam rosadas.
— Ok, senhorita Turner, foi um prazer. Você está muito bonita, a propósito, mas deveria tomar mais cuidado ao esbarrar e derrubar vinho em estranhos. A cidade pode ser perigosa.— ele disse, me causando um arrepio na espinha, e simplesmente saiu de minha presença.
Engoli o seco, o que foi isso?
Voltei até a festa, mas minha cabeça só pensava nele…ele era um monumento, e o que tinha de bonito tinha de arrogante, ele era uma versão melhorada do sobrinho. Mas isso não me importava, eu sabia que não iria vê-lo novamente.
Fiquei mais um pouco, e para ser sincera já estava chata, não vi meus tios, então resolvi que era a hora de ir para casa, me sentia cansada também, e amanhã haveria um jantar de negócios com os amigos velhos e insuportáveis de meu tio. E eu iria servir e ficar responsável por preparar tudo. Infelizmente.
Segui para casa, no caminho para lá, havia uma floresta, e se eu entrasse nela e nunca mais voltasse para aquele inferno? Bom… Fora de cogitação.
A floresta, o meio ambiente, me despertava algo que eu não sabia explicar. Só sabia que eu gostava de estar conectada à natureza.
Ao chegar, fui direto para o porão, iria tirar essa roupa e me trancar para que ninguém pudesse me ver.
Pulei o muro devagar, e fui com pequenos passos até o meu quarto, que era um porão, na verdade, abri a porta delicadamente e já fui tirando os sapatos, eles estavam me matando.
Quando me virei em direção à cama, minha tia estava sentada lá com uma expressão sombria.
— Eu sei de tudo, sua órfã mentirosa.— ela disse enfurecida.
Engoli o seco, encarando a figura brava de Amélia, ela estava furiosa, como se eu tivesse cometido um crime contra ela, ou eu nem sei o quê.Dei três passos para trás, tentando me afastar, eu não tinha para onde correr, e sabia o quão perversa ela podia ser.Eu tentava argumentar alguma palavra que pudesse me defender dos abusos sofridos, mas parecia impossível formular uma frase naquele momento.Minha respiração estava ofegante, minhas mãos tremem enquanto continuo a dar passos para trás quando percebo que já estou encostada na parede ao lado da cama, pois o porão era tão pequeno que eu mal cabia nele. Merda— Eu sempre soube que você era um lixo e devíamos ter deixado você ir para um orfanato. — Ela cuspiu as palavras em mim. — Eu só fiquei pouco tempo na festa, não quis…— Cala a boca, Anne! — me interrompeu. Uma mistura de choque e medo invadiu meus olhos, eu não sabia se ela estava brava pela festa, ou por mais o quê.— Por acaso, a diretora da faculdade onde você estuda, por
William Carter. Deslizo meu uísque favorito sob a bancada enquanto observo a mulher se vestir após uma longa noite. Eu já estava satisfeito, então queria que ela sumisse da minha vista o mais rápido possível.A maioria dos lobos gostava de fazer sexo em sua forma humana. E eu compartilho do mesmo pensamento, apesar de me sentir superior a essa raça. — Se o senhor desejar, posso ficar mais, meu alfa. — ela toca em meu ombro. Olho para a loba com desprezo. Em meus trinta e quatro anos de vida, não encontrei a minha companheira, e nem faço a mínima questão de encontrar. Elas são como um brinquedo para mim, as uso e quando já fizeram o que eu queria, mando embora.— Não. Você não quer que eu repita, eu odeio repetir as frases. — falei e ela saiu do quarto rapidamente com o resto de suas roupas na mão.Dei o último gole no meu uísque e segui para o escritório, quando Lucca, meu Beta, entrou no mesmo.— Senhor, há um problema na sede principal da construtora — ele disse. — Que problema
Anne TurnerEu odiava o escuro, não me remetia a coisas boas. Sentada neste porão, sem claridade externa alguma, havia me cansado de chorar e decidi. Se em todos esses dias e anos em que chorei nada mudou, de que adiantaria desperdiçar lágrimas?Fui até a porta do porão e como imaginei, trancada.“Merda!”, murmurei passando a mão entre os cabelos”. Não, não, não! Tenho que encontrar um jeito de sair desse lugar, minha tia irá me deixar aqui e só me tirar para fazer o que ela desejar".Suspirei, meu coração ainda batia fortemente. Procurei possíveis formas de sair, e bufei com a frustração. Era inútil.Eles haviam me deixado com fome. Mas tudo bem, hoje foi um novo dia. Me sentia como uma mercadoria danificada.De repente ouvi batidas na porta, e meu nome ser pronunciado em um pequeno sussurro. “Anne”, a pessoa do outro lado da porta falou”.Em seguida, o silêncio se instalou, e vi um prato de comida sendo passado debaixo da porta.Era Valerie.“Olha Anne, não sou muito sua fã, mas n
O carro estacionou em frente a uma mansão. Engoli as lágrimas durante toda a viagem. Ele abriu a porta do carro e ordenou que eu saísse. Uma voz em minha mente dizia que eu não era culpada por nada disso, mas todos os acontecimentos em minha vida pareciam fadados à desgraça. Havia apenas um buraco em meu peito, que me fazia gritar de tanta impotência.Eu estava possessa de ódio, ele me consumia, o meu interior gritava, eu parecia uivar em desespero, estava confusa.A fachada da casa era estonteante, com carvalhos-brancos muito comuns aqui em Portland. Eu observava tudo atentamente, tentando entender o que este homem queria comigo. Se eu tivesse escolhido, estaria bem longe dessa cidade e de tudo que a rodeia.Ele era tio de David, e se eu pedisse ajuda a ele? Provavelmente isso não daria certo. David jamais ficaria contra o tio. "Entre", William diz sem me olhar."Fiz como o mesmo pediu, não iria provocar a sua ira novamente, o tapa desferido em meu rosto já fora o suficiente. E
WilliamHoras atrás, a garota esperneou para não ir comigo. Quando decidi levá-la, nem sei ao certo o que se passou pela minha cabeça; eu só sabia que ela seria minha propriedade. E quando eu queria algo, ninguém seria capaz de negar.Ao chegar na casa dos Turner naquela noite, observei tudo ao meu redor. Seria ela a empregada deles? Eu podia sentir o cheiro da garota e me perguntava se ela era humana. Mas por que diabos eu estou me sentindo assim por uma mera mortal?Nunca fui do tipo de cara que se interessa por uma mulher por mais de uma noite, mas nunca tinha sentido essa sensação desde o primeiro dia em que meus olhos cruzaram os dela na festa. Enquanto a maioria dos lobos naquela sala tentava me bajular, minha mente só voltava para ela.A observei de longe, sua roupa de empregada, seu olhar cansado. Ela carrega algo em si, uma tristeza profunda. O bando conversava baixinho entre si, discutindo sobre assuntos estúpidos que nada tinham a ver com essa reunião.Foi então que decidi
AnneFaço uma lista mental de toda a casa para que eu possa não me perder. Me levantei da cama bem cedo, às seis da manhã já estava de pé. Meus cabelos, penteados, roupa vestida, não sabia o que me esperaria hoje. Mas tentaria fazer tudo perfeitamente para que ele não me fizesse mal. "Aqui Anne", a governanta Agnes me mostra a cozinha". Observo Agnes pacientemente enquanto ela me mostra o que deve ser feito. Estava com medo, não sabia como funcionava aqui e o que aquele homem queria comigo. Então, seja o que for, eu irei fazer."Pode colocar a louça na mesa querida Anne, o senhor Carter costuma descer daqui a pouco para seu desjejum. Em seguida, venha tomar o seu café na cozinha" ela aponta para o armário onde estão as louças"."Tomar café da manhã? " Falei nervosa com as mãos apoiadas no balcão. ""Sim, Anne. Você nunca tomou café da manhã por acaso?" a governanta arqueou a sobrancelha e me olhou intrigada"."Não é que… "fiz um gesto de balançar a cabeça" Deixa para lá, farei o que
William Carter Minhas patas traseiras tocam a terra úmida, eu explodia em êxtase pela floresta escura enquanto corria cegamente. No céu a lua iluminava todo o caminho e as folhas caídas das grandes árvores.A brisa noturna acaricia minha pelagem cinza, fazendo com que cada pelo se eriçasse em resposta, e inalações profundas preenchem meus pulmões com o aroma fresco da floresta.O som dos galhos secos se quebrando sob minhas patas se une à minha própria batida cardíaca. Enfim, livre.Esses eram um dos momentos em que eu raramente me sentia vivo.Meu lobo, Storm, me domina e corre por toda a floresta uivando. Todo lobisomem nascia com dois corpos. O humano, e o lobo, exceto alguns que nasciam sem lobo, O que era raro. E às vezes, ou quase sempre a minha parte lobo me dominava. Procuro minhas roupas rapidamente, preciso voltar para minha forma humana.Me recordo que eu deveria me lembrar de deixar minhas roupas mais próximas de mim toda vez.Eu corro pela reserva, na qual, fechei tod
AnneO maldito barulho do despertador irrompeu meu sono. Droga, eu estava um pouco atrasada. Odiava profundamente a sensação de acordar e encarar mais um dia exaustivo. Pelo menos não era mais naquele inferno; ou seja, agora era em outro lugar desconhecido.Preparei a cama e coloquei meu uniforme. Era estranho e me fazia sentir fora de lugar, mas era o que tínhamos no momento. Deixei o lençol dobrado sobre a cadeira e saí do quarto. Passos ecoavam ao longe.Avancei pelo corredor imenso que levava à cozinha e encarei a carranca de Agnes, provavelmente por acordar mais tarde do que o combinado."Agnes," falei, tentando me explicar, "me desculpe pelo atraso. Posso compensar de alguma forma?""Não se preocupe, querida, hoje você passa." Agnes sorriu amorosamente. "Sei que deve estar cansada, mas vamos adiantar as coisas. Preciso que você limpe as janelas do escritório, o Sr. Carter odeia janelas sujas.""Do escritório dele?" arregalei os olhos, encarando Agnes."Sim, Anne." Ela me entreg