03. Encontro

O ambiente era totalmente diferente do que imaginei, eu criei tantos cenários em minha cabeça de como seria o baile de máscaras. É, eu não ia a festas. Meus tios me proibiam, sempre. Eu não os denunciava, pois eles eram influentes na cidade por conta de seus comércios.

 Então eu, uma órfã, que não tinha onde cair morta, iria desafiá-los. Quem eu pensava ser? Eles podiam fazer o que quisessem comigo que jamais iria haver alguém para me defender, e me deixavam ciente disso. 

Eles eram regados de segredos. Segredos que eu não fazia a mínima ideia de quais eram. Afinal, meu quarto era fora da casa, isso mesmo, eu vivia num quarto fora da casa. Quão legal minha vida era?

A festa estava muito bonita, tudo bem-arrumado e todas as pessoas aqui parecem ser tão importantes, eu me sentia deslocada naquele lugar, mas ok. Era somente não deixar meus tios me verem aqui. Mas se tem uma coisa que viver naquelas condições subalternas me ensinaram, era a me esconder.

Todos estavam me observando, talvez porque nunca me viam muito pela cidade. Alguns olhavam com desconfiança, como se estivessem falando sobre mim, mas pouco me importava, eu só queria aproveitar.

Minha máscara era preta, combinando com o meu vestido, eu estava totalmente encantada, nunca havia vindo para um baile de máscaras, era num espaço tão requintado, pessoas dançavam, parecia um verdadeiro sonho. Por um instante até esqueci de todos os meus problemas.

Me aproximei do garçom, peguei uma taça de vinho, dei um gole no vinho e fiz uma careta, era forte, então não podia me dar ao luxo de beber ao menos mais que umas três taças.

 Parei um pouco próximo aos fogos que estavam soltando em comemoração, e pensei em David, eu estava me sentindo frustrada por criar esperanças em relação a ele. 

Continuei a andar e me distraí com as luzes, de repente fui atingida por algo, ou alguém. Virei a cabeça de lado assustada com o impacto, senti um pouco de dor por conta da agressão sofrida ontem, e curiosamente, dei de cara com um homem. 

Ele estava vestido com uma camisa social preta, e parecia ter uma expressão furiosa. Seu tamanho era notável, ele era tão alto que próximo a mim, eu me sentia extremamente pequena. 

Os seus cabelos escorridos e completamente alinhados, e a barba por fazer que não revelava muito seu rosto, sua mandíbula era esculpida. Ele não estava de máscara e acredito que podia ter entre uns trinta a quarenta anos, eu não sei, a sua aparência era de um homem maduro, mas muito bonito, de longe o homem mais bonito que já vi. Algo nele era estranho e atrativo.

“Que porra garota!” esbravejou” Olha por onde anda” ele tentava limpar a camisa, só então percebi haver derrubado um pouco do vinho tinto em sua roupa.

“Perdão, senhor, eu não quis, deixe-me ajudar”, tentei limpar a roupa dele com as mãos sem sucesso.

— Agora que você já sujou. — sua expressão era dura e fria.

Anne, você é uma burra. Em sua primeira festa você suja a roupa dos outros."pensei".

— Eu sei como retirar essa mancha rapidamente, venha comigo senhor, eu insisto.—ofereci ajuda novamente.

Ele me encarou com uma expressão hostil,e pareceu analisar as minhas feições, seus olhos cor âmbar me encaravam de uma forma que não conseguia explicar. Eu estava envergonhada.

— Vamos logo, então, não tenho tempo a perder, já que sujou, conserte o que fez.— Ele disse revirando os olhos.

Pedi para que ele me seguisse, havia um local aqui próximo, uma espécie de loja de conveniência, onde eu poderia encontrar vinagre e água. Rapidamente chegamos até lá e comprei o que era necessário, paramos ao lado do posto de abastecimento, e eu comecei a limpar a sua camisa suja de vinho em seu corpo.

Isso era tão embaraçoso.

Toquei em seu braço sem querer e me assustei, a sua temperatura corporal era extremamente quente, tentei fingir que isso não aconteceu e apenas voltei a limpar a camisa, ele estava em silêncio apenas me observando. Após algum tempo esfregando consegui retirar a mancha, ufa. Que alívio. Só essa camisa deveria custar mais que a minha própria vida. 

Ele parecia estar ali entre nós nessa festa por obrigação.

— A mancha saiu, senhor, me desculpe novamente, eu não estava olhando para onde andava.—

— William. — Sua voz grossa ecoou em meu ouvido.

— Oi? — Pergunto.

— O meu nome é William Carter, não senhor. E qual o seu nome? — perguntou, a voz era extremamente sexy.

Meu rosto corou imediatamente e eu arregalei os olhos. 

William Carter. Puta merda. 

Liguei os pontos, era ele, o tio de David. Não o reconheci, afinal nunca tinha o visto, só ouvido falar sobre o maior CEO dono das construtoras de Portland.

— Anne— pausei em seguida dizendo meu sobrenome — Anne Turner. —

— Nunca havia visto você, parente dos Turners... mora aqui na cidade? — me analisou cima a baixo.

— Moro, é que… — penso numa desculpa que não seja dizer que sou uma prisioneira —É, que eu não saio muito.

— Deveria sair mais — Disse-me olhando de cima a baixo.

Oh, meu Deus. Eu não achava que um homem desse porte iria flertar comigo, jamais, mas eu apostava que minhas bochechas estavam rosadas.

— Ok, senhorita Turner, foi um prazer. Você está muito bonita, a propósito, mas deveria tomar mais cuidado ao esbarrar e derrubar vinho em estranhos. A cidade pode ser perigosa.— ele disse, me causando um arrepio na espinha, e simplesmente saiu de minha presença. 

Engoli o seco, o que foi isso?

Voltei até a festa, mas minha cabeça só pensava nele…ele era um monumento, e o que tinha de bonito tinha de arrogante, ele era uma versão melhorada do sobrinho. Mas isso não me importava, eu sabia que não iria vê-lo novamente. 

Fiquei mais um pouco, e para ser sincera já estava chata, não vi meus tios, então resolvi que era a hora de ir para casa, me sentia cansada também, e amanhã haveria um jantar de negócios com os amigos velhos e insuportáveis de meu tio. E eu iria servir e ficar responsável por preparar tudo. Infelizmente.

Segui para casa, no caminho para lá, havia uma floresta, e se eu entrasse nela e nunca mais voltasse para aquele inferno? Bom… Fora de cogitação.

A floresta, o meio ambiente, me despertava algo que eu não sabia  explicar. Só sabia que eu gostava de estar conectada à natureza.

Ao chegar, fui direto para o porão, iria tirar  essa roupa e me trancar para que ninguém pudesse me ver.

Pulei o muro devagar, e fui com pequenos passos até o meu quarto, que era um porão, na verdade, abri a porta delicadamente e já fui tirando os sapatos, eles estavam me matando.

Quando me virei em direção à cama, minha tia estava sentada lá com uma expressão sombria.

— Eu sei de tudo, sua órfã mentirosa.— ela disse enfurecida.

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