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Às sete e trinta, estava toda arrumada, vestido preto, salto alto e com meus cabelos soltos e usando meu colar de turquesa, que minha mãe havia me dado de presente, era uma relíquia de família, esperava por Helena do lado de fora de uma grande livraria, onde ocorreria a noite de autografo, que por ser um evento reservado para alguns convidados especiais e amigos do famoso autor, a entrada só era permitida com a apresentação de convite. Helena já estava meia hora atrasada, tentei telefonar e caiu na caixa-postal, estava distraída, deixando um recado, quando senti alguém se aproximar pelas minhas costas, não precisei virar-me para saber quem era, pois reconheci imediatamente o perfume.

- Você veio! –Gabriel exclamou com satisfação, olhei para trás e lá está ele, lindo, com seu resplandecente sorriso branco.

- Sim, mas estou esperando minha amiga. Ela está atrasada. – Confessei, sem graça, queria explicar porque estava ali sozinha.

Nesse momento, meu telefone tocou, era um número desconhecido.

- Diana, é Helena. – Ela falou assim que eu atendi, sua voz parecia tensa.

- Helena, você está muito atrasada. – Retruquei, sem paciência. – Que telefone é esse?

- É do meu pai. Desculpe, Diana, mas eu fui assaltada, quando estava indo para aí.

- Nossa! Tudo bem com você? – Quis saber, preocupada.

- Tudo bem. Só roubaram meu telefone e o dinheiro. Estamos indo para delegacia dar queixa. Eu lamento, mas não poderei ir encontrar você hoje. – Helena parecia chateada.

 - Eu entendo. Então, boa sorte. Até amanhã. – Desliguei, atônita com a notícia.

- O que foi? – Perguntou Gabriel, ao ver a expressão do meu rosto.

- Helena foi assaltada, não vem. - Não podia acreditar naquilo.

- E ela está bem? – Ele indagou, com interesse.

- Sim, ela está. Então, acho melhor eu ir embora. – Finalizei, pois era uma boa razão para voltar para casa e dormir.

- Não, fique mais um pouco. Você já está aqui, vamos entrar. – Ele insistiu, gentilmente.

 -Mas, eu não conheço ninguém. – Argumentei, meio sem saída, pois não queria parecer grosseira.

- Você conhece a mim. – Replicou, sorrindo. –Vamos, eu prometo que nunca mais a abandonarei. – Aquela frase soou estranha para mim, forte demais.

Acabei aceitando, era difícil falar não para ele, mas não pretendia demorar muito tempo, pois teria que voltar sozinha para casa.

O evento estava bem cheio, em uma área livre da livraria, pessoas conversavam animadas, reconheci alguns rostos famosos, garçons passavam com bandejas de petiscos e bebidas.

- Seu colar é muito bonito. – Comentou, isso me surpreendeu, pois, os homens normalmente não notam esses pequenos detalhes.

- Obrigada. – Agradeci, segurando o pingente, esse ato sempre me acalmava. – Eu também gosto muito dele, é herança de família. - Ele apenas sorriu.

- Venha, eu vou apresentar você ao autor. - Disse, me conduzindo entre as pessoas até pararmos na frente de um homem de porte médio, aparentando uns 60 anos, meio calvo e com bigode e barba bem tratados e grisalhos.

- Gabriel! Que bom ver você, outra vez! – Exclamou o homem se afastando do restante do grupo em que estava. – Quando chegou?

Os dois deram um abraço camarada, de quem se conhece de longa data.

- É bom ver você também, Samuel. Cheguei há pouco tempo, eu tenho um trabalho urgente para eu fazer.

- Eles sempre chamam você quando aparece esse trabalho do tipo apagar incêndios. – Os dois riram da piada particular e eu fiquei no ar, sem entender a conversa.

- Samuel, quero que conheça uma nova amiga, Diana. Diana esse é Samuel, o nosso autor. – O homem mais velho olhou para mim intrigado, enquanto, eu estendia a mão para nos cumprimentarmos.

- É sempre um prazer conhecer uma mulher tão bonita. – Primeiro, ele me olhou admirado e depois me elogiou, achei um pouco exagerado.

- Sempre usando seu charme, Samuel. – Brincou Gabriel.

- Diana, faço questão de lhe dar um exemplar do meu novo livro autografado.

- Obrigada. É muita gentileza sua. – Nunca diria a ele que não acreditava em esoterismo, seria muito maleducada.

- Ora! Uma amiga do meu amigo Gabriel, só pode ser uma pessoa especial.

- Bebem alguma coisa? – Gabriel me perguntou.

- Água. – Respondi, pois não queria beber, porque amanhã teria que trabalhar.

- Não, nada disso. – Samuel reclamou e fez sinal para um dos garçons que passava. – Eu insisto. Tome um espumante conosco, quero brindar a volta do meu amigo.

Brindamos, depois Samuel se afastou dizendo que precisava dar atenção aos outros convidados e prometendo trazer seu livro autografado para mim.

- Ele disse “brindar a volta do meu amigo”. Você havia me dito que era novo aqui. – Inquiri, desconfiada, depois que ouvi Samuel falar isso.

- Não, eu falei que cheguei há pouco tempo, mas já estive aqui antes. – Gabriel esclareceu.

- Você conhece Samuel, há muito tempo? – Quis saber.

- O contador de história. Sim, ele era amigo do meu pai. Nós nos cruzamos algumas vezes pelo mundo.

- O contador de história? Achei que ele escrevesse sobre esoterismo e lendas. Você já leu algum livro dele? – Estava curiosa.

- Conheço a maior parte dos assuntos sobre os quais ele escreve. Afinal, o que ele escreve para algumas pessoas também podem ser histórias, dependendo no que se acredita. – Gabriel declarou, sem muitas explicações.

Gabriel era uma companhia interessante, conversava sobre qualquer assunto, charmoso e engraçado, havia viajado pelo mundo todo, falou sobre os lugares que sempre sonhei conhecer, era difícil não ficar hipnotizada por ele, como um encantador tocando a flauta para a serpente, precisava tomar muito cuidado com aquele homem, do nada, veio na minha cabeça as palavras da velhinha do metrô: “Cuidado com qualquer coisa diferente que aconteça com você, mesmo que pareça algo bom”. Ela havia me dito isso hoje pela manhã.

Também, notei que várias pessoas se aproximaram de nós, para falar com Gabriel, a maioria surpresa por sua presença ali.

- Para uma pessoa que não conhecia ninguém, você é bem popular. – Comentei, sendo sarcástica.

- São apenas conhecidos, não tenho amigos aqui. – Ele rebateu, indiferente.

Olhei meu relógio, precisava ir, principalmente, tinha que me afastar de Gabriel, ele me deixa insegura, mas ao mesmo tempo, fascinada.

- Já está tarde. É melhor eu ir embora.

- Como você vai? – Ele quis saber, parecendo interessado.

- Vou pegar um táxi aqui em frente.

- Não, eu levo você. Afinal, você veio pelo meu convite, não posso deixar você voltar sozinha. – Ele insistiu.

- Não, precisa se preocupar. Não quero tirar você do coquetel do seu amigo. – Dei essa desculpa, mas na verdade, não queria entrar em um carro com ele, sozinha.

- Você deve estar preocupada, pois não quer ficar sozinha em um carro com um estranho, mas garanto eu serei inofensivo. – Parecia ter lido meus pensamentos, esse homem me assustava, pois ao mesmo tempo que eu queria fugir dele, não queria me afastar, travava uma batalha feroz na minha cabeça.

- Além do mais está chovendo, e ficará bem difícil pegar um táxi. – Acrescentou.

- Não, não está chovendo, não pode ser o céu estava limpo quando eu cheguei aqui. – Não podia acreditar, pensei que era só brincadeira, mas como se fosse uma resposta ouvi um trovão e um barulho forte de água caindo.

- Viu, parece que a chuva piorou. – Disse, com um ar de vitória.

Não sabia o que fazer, quando Samuel se aproximou com o livro autografado na mão.

- Para você, querida, com uma dedicatória especial. – Samuel falou, me entregando o livro e eu agradeci.

- Foi bom você ter aparecido neste momento, Samuel. Por favor, diga a essa moça que eu a levarei em segurança para casa. – Gabriel pediu ao amigo.

- Diana, pode acreditar, se Gabriel disse isso é, porque está falando a verdade. – Reiterou Samuel.

- Está bem. Eu acredito em vocês. – Afirmei, meio sem graça.

- Então, você quer ir agora? – Gabriel perguntou.

- Sim, por favor.

No carro, um esportivo tipo off-road, dei meu endereço, achando que precisaria dar explicações sobre o caminho, já que ele não morava na cidade, mas isso não aconteceu, achei estranho, mas não comentei nada.

A chuva, que caia agora, estava fraca, as ruas molhadas e com poucos carros. Estávamos parados em um sinal, quando um ônibus à nossa frente fez a curva em alta velocidade, derrapando na pista molhada, sua traseira balançou, parecia que o motorista havia perdido o controle e iria tombar, mas de repente, ele se alinhou e continuou seu caminho, tudo foi muito rápido aconteceu em segundos.

- Você viu aquilo? – Disse abismada, olhando para Gabriel ao meu lado, e eu podia jurar que o vi com as mandíbulas contraídas e segurando com força o volante, parecia irritado com algo, mas um segundo depois, ele relaxou e me olhou, com seu sorriso mais encantador.

- O que? – Ele me indagou, como se não houve notado o quase acidente, pensei que talvez estivesse pensando em outra coisa.

Ele me deixou na porta de casa, abri a porta, agradecendo a carona e me despedindo.

- Poderíamos sair qualquer noite dessa? – Propôs.

- Claro, me liga. – Admiti, dando o número do meu telefone para ele e sai correndo daquele carro.

- Até breve, Diana! – Despediu, inclinando se para a janela do carona.

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