— Diana, conte mais sobre ontem à noite? Qual é o nome do livro? – Helena me indagou. – Ontem, Diana foi a noite de autógrafo do novo livro de Samuel Zargo – esclareceu para Hélio.
— Não sei, acho que é “Mundo que não vemos” ou algo parecido – respondi, com dúvida
— “O mundo que está a nossa volta – A guerra que não conhecemos” – Hélio complementou.
— Você gosta de Samuel Zargo? – Helena perguntou, entusiasmada.
— Não diria exatamente que gosto, mas tenho interesse no que ele escreve, ele tem uma visão bastante interessante sobre alguns fatos antigos.
— Diana não acredita em nada disso, ela é totalmente cética – Helena explicou meu desinteresse.
— Você não acredita em nada, Diana? – Hélio parecia não entender o que Helena acabara de lhe contar sobre mim.
Eu olhei para ela aborrecida, que me respondeu com um sorriso sem graça, envergonhada da sua indiscrição.
— Realmente, não acredito em nada, sou bem cética em relação a muitas coisas – confirmei o que Helena acabou de falar e ele me olhou de um modo estranho.
Nesse momento, meu telefone tocou, era um número desconhecido, mesmo assim atendi e fiquei um tanto surpresa, quando uma voz inconfundível se anunciou.
— Oi, Diana, é Gabriel. Está ocupada?
— Como vai, Gabriel? Não, estou no almoço, pode falar. – Olhei para meus acompanhantes, Helena estava com um sorriso, animada por mim, mas não consegui decifrar o olhar de Hélio.
— Queria convidá-la para jantarmos hoje à noite.
— Hoje à noite? – Fiquei surpresa, não esperava que ele ligasse, muito menos tão cedo. — Não sei, tenho muito trabalho amanhã. – Do meu lado, Helena se balançava para eu aceitar o convite, depois franziu a cara quando falei da minha dúvida.
— Prometo que não voltaremos tarde – Gabriel insistiu, Helena balançava a cabeça afirmativamente, eu olhei para ela.
— Está bem. Pode você me pega às oito?
— Claro.
— Você lembra onde eu moro?
— Sim, eu me lembro. Então, até mais tarde, Diana.
— Até mais tarde, Gabriel.
Helena pulava na cadeira de satisfação.
— Nossa, ele convidou você, assim tão rápido. – Helena parecia mais feliz do que eu mesma. – Desculpe-nos, Hélio. – Ela se deu conta de seu papel de bobo.
— Ele deve ser uma pessoa muito especial? – perguntou, com um olhar interrogativo.
— Não, na verdade, eu o conheci ontem, aqui mesmo nesse restaurante. Ele é jornalista e nos convidou para a noite de autógrafo de Samuel Zargo. – Não sabia porque eu estava dando aquelas explicações a ele.
— Gabriel? – Hélio repetiu o nome lentamente, como consultasse a memória.
— Você o conhece?
— Suponho que sim, se for quem estou pensando nossos caminhos já se cruzaram, algumas vezes. Desculpeme, mas preciso voltar ao museu, tenho muito trabalho a fazer –disse, já se levantando, abruptamente, mesmo antes que acabássemos a refeição, parecendo ansioso.
— Eu vou com você – disse, enquanto pensava aborrecida. “ Quem ele pensa que é? Está achando que a gente fica enrolando? ”
Helena também nos acompanhou apressada, Hélio caminhava rápido em direção do museu, e como ele era mais alto e suas pernas mais compridas, tivemos quase que correr muito para seguir seu ritmo. Quando chegamos ao museu, estávamos exaustas, foi nesse momento, que ele deu conta de nosso estado.
— Desculpe, acho que ando rápido demais, mas me lembrei que tenho um assunto urgente para resolver e havia me esquecido. Iremos fotografar a estátua daqui a pouco, mas antes preciso de dar um telefonema. – Justificou, afastando-se enquanto falava ao telefone.
— O que foi aquilo? – perguntei, sem entender aquela pressa toda de Hélio.
— Talvez, ele estivesse com uma dor de barriga – Helena brincou.
Quando Hélio voltou ao nosso encontro parecia mais aliviado e tranquilo.
— Viu como ele parece mais leve, era dor de barriga mesmo — Helena sussurrou no meu ouvido Agora, fomos direito para sala onde o deus dourado seria exposto, apesar de eu preferir acabar o que estávamos fazendo antes de pararmos para o almoço.
A porta única estava trancada e haviam homens fazendo segurança junto a ela, só era permitida a entrada com autorização e, antes da exposição, somente um número muito restrito de pessoas podiam fazer isso, era uma exigência da seguradora e do museu de origem. Hélio era uma dessas pessoas, ele tinha o código de acesso para a abertura da porta, pareceu mais aliviado, quando acendeu a luz e pode ver que a estátua continuava intacta no mesmo lugar.
Estava muito frio lá dentro, mas logo me esqueci disso, no momento que pode ver a estátua do deus dourado bem de pertinho e com mais calma. Ela era realmente muito linda, na verdade, ele pois representava um homem, que media quase dois metros de altura, seu rosto forte e decidido, irradiava poder, usava uma espécie de traje de guerra ricamente enfeitado com colares e braceletes e uma coroa como um aro em sua cabeça, tudo lindamente decorado com pedras preciosas e semipreciosa, nas suas mãos junto ao corpo segurava uma espada. Mas, algo nele me pareceu estranhamente familiar, fiquei quase hipnotizada, reparando todos os detalhes. Se eu acreditasse nisso, diria que foi um verdadeiro milagre, ele ter sido encontrado em tão perfeito estado de preservação devido sua idade.
— Vamos fazer as fotos dela agora? – Helena perguntou me trazendo de volta ao mundo real, também, sem desviar os olhos da estátua.
— Não – Disse Hélio. – O pessoal do meu museu virá e se encarregará disso, amanhã.
— Então, chegarão mais pessoas do seu museu? – questionei, intrigada, pois este não era o procedimento padrão.
— Sim, para a exposição, prefiro usar nosso pessoal da segurança. – Hélio declarou.
Voltei para casa tarde, estava exausta, nunca estive tão cansada assim antes, imaginei se estava ficando doente, me deitei no sofá, antes de me arrumar para sair, porém quase desisti, peguei meu telefone para desmarcar meu encontro com Gabriel, mas entra uma ligação de Helena.- Diana, eu tinha me esquecido do jantar de hoje, se arrume para ir bem poderosa. – Ela me incentiva.- Helena, acho que vou desmarcar, não estou me sentido muito bem, acho que devo estar ficando gripada. – Revelei, desanimada.- Nada disso! Tome um banho e coloque uma roupa bem bonita, um salto e um pouco de maquiagem e vá à luta, garota! – Helena insistiu.- Não sei, não, amanhã temos que começar cedo, há muito trabalho para fazer – Dei outra desculpa.- Diana, enlouqueceu
- Isso não rola, a gente mal se conhece. Não sei se quero me envolver com alguém, que amanhã não estará mais aqui. – Expus meus receios para ele e para mim também, tinha que ser racional agora para não sofrer depois.- Eu entendo suas dúvidas, você não sabe quem eu sou, mas darei um tempo para descobrir. Por enquanto, boa noite, Diana – Pegando minha mão e beijou a palma dela, e eu tive vontade de voar para cima dele e beijá-lo, mas me contive, sai do carro e dei boa noite, rapidamente, antes de mudar de ideia.Entrei rapidamente no meu prédio, sentindo ele me observar até desaparecer da sua visão, e quando cheguei ao meu apartamento, precisava de um banho para relaxar e conseguir dormir. Foi o que fiz tomei um banho longo e morno, sentindo me sonolenta, deitei e quase imediatamente adormeci.
Gabriel chegou no horário marcado no museu, que ainda estava aberto para visitação, havíamos combinado nos encontrarmos bem na entrada, pois seria mais fácil.- Então é aqui que você trabalha? – Ele me perguntou, parecendo interessado.- Sim, é um dos melhores do país. – Disse, orgulhosa.- Posso conhecê-lo? – Ele pediu.- Claro que pode! Vamos, você nem precisa pagar. – Estava empolgada, pois adorava mostrar o que fazíamos lá.Para isso, andamos pelas salas de exposição, eu entusiasmada, falava sobre tudo, como havia sido montada cada uma das salas e as histórias das peças expostas.- Estou sendo uma chata. – Confessei, quando dei conta da minha tagarelice- Não, eu estou gostando. Continue. – Ele me animou.- Você está sendo gentil, vamos embora.
- Mas são histórias antigas, ainda bem que você estava por perto. – Ao ouvir ele falar assim, lembrei que Gabriel falou algo parecido. – Não quero que tenha uma má impressão de mim.- Claro que não, Hélio. Isso é apenas relativo a você e a Gabriel, não tenho nada a ver com isso. – Falava, olhando para Gabriel, que não estava com uma cara boa.- Por isso quero me redimir, podemos almoçar amanhã? – Hélio me convidou.- Almoçar amanhã? – Repeti o convite, surpresa, os olhos de Gabriel ficaram negros de raiva.- Sim, seria um sinal de boa vontade. Você aceita? – Hélio insistia, e eu não sabia o que fazer.- Jantar! – Gabriel falou baixinho.- Que tal jantar, amanh&at
Passei a amanhã de domingo toda, lutando contra mim mesma para não ligar para Gabriel, mas ele ligou.- Tem certeza, que não quer almoçar comigo? – Ele insistiu, mais uma vez.- Tenho. – Estou indecisa.- Não senti muita convicção na sua voz. Reconsidere, será somente um almoço. – Gabriel não desistia.- Somente um almoço. – Concordei, não foi uma batalha muito difícil de ser ganha.- Ótimo! – Ele exclama, feliz – Passo aí em quinze minutos.- Não, preciso de tempo para me arrumar! – Reclamei.- Então, em uma hora. Até mais tarde.Tomei um banho, escolhi um vestido, arrumei meus cabelos e, por fim, coloquei o meu cordão com pingente de turquesa, em menos de uma hora estava pronta e ansiosa, quando Gabriel chegou.- Vou levá-la a um dos meus l
- Na verdade, eu acho toda esta história muito interessante. Você já pensou que algumas crenças têm milhares de anos. Que os seres humanos estão sempre procurando explicações ou respostas por caminhos desconhecidos para acalmar seus medos, mas, talvez haja um fundo de verdade em tudo isso.Não queria começar uma discussão filosófica sobre crenças e fé com ele, não era esse o motivo do nosso jantar, por isso logo após pedirmos os nossos pratos, ele começou a falar.- Sei que foi lamentável a cena que você presenciou ontem no museu, gostaria de me desculpar.- Desculpas aceita!- Não via Gabriel há muito tempo, tivemos desavenças muito sérias no passado – Justificou.- Foi por causa da sua irmã
O sono fez pesar meus olhos, mal conseguia mantê-los abertos, já era bem tarde, precisaria de algumas horas de descanso, antes do trabalho no dia seguinte. Fechei o livro, fui para o meu quarto, apaguei a luz e fechei as cortinas da janela, porém tive o estranho pressentimento que lá embaixo, na rua, em algum lugar na escuridão, Gabriel me observava.Naquela noite, sonhei com uma batalha, sobre muralha muito alta, eu vestida como uma guerreira com meia armadura e capacete, trazia um arco e aljava com flechas nas minhas costas e na minha mão havia uma espada, lutava ferozmente para me defender dos muitos guerreiros que me atacavam. Olhei para o lado, Gabriel estava vestido como um guerreiro oriental com turbante e calças largas e o peito protegido por uma malha de ferro, também, lutava bravamente, mas haviam muitos soldados a nossa volta, estávamos perdendo a batalha, e só havia uma saída.- V&a
Na quinta-feira, a exposição seria aberta para os patrocinadores, autoridades, a imprensa e alguns convidados muito especiais, antes da inauguração para o público em geral no dia seguinte. A entrada do museu estava linda, com holofotes iluminando a sua fachada e os banners, colocaram um tapete vermelho na porta principal e uma trilha sonora instrumental, com exóticas músicas orientais, soava nos alto-falantes estrategicamente instalados. Eu estava emocionada com toda aquela gente importante prestigiando o nosso trabalho. Suzana, nossa curadora, parecia andar nas nuvens, distribuindo sorrisos e recebendo parabéns, Hélio fazia jus ao seu nome, como um deus-sol, resplandecia, elegantemente vestido com um belo e caro terno de uma marca italiana, irradiava beleza e confiança, a sua volta grupos de admiradoras femininas e alguns masculinos se formaram, buscando sua atenção. Eu e Helena capri