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Quando chegamos, o restaurante estava muito mais cheio do que de costume, mas, felizmente, conseguimos uma mesa de quatro lugares.

- Eu nunca vi esse lugar tão cheio assim como hoje. – Comentou Celina, no momento que sentávamos e começávamos a comer e a fofocar, quando ele chegou.

- Posso me sentar com vocês? O restaurante está lotado. – Ouvimos aquela grave voz masculina perguntar.

As três olharam em direção da origem dela e demoramos um pouco para conseguir responder, pois paramos de pensar por um segundo, porque na nossa frente, estava um dos mais belos exemplares do gênero masculino da espécie humana. Alto, moreno, cabelos lisos e negros e olhos escuros e profundos, nariz um pouco adunco, com um ar oriental, mas que combinava com seu traços fortes e queixo quadrado, para completar vestia uma jaqueta de couro preta, jeans levemente apertado e camiseta branca, sugerindo o que havia por baixo, óculos de estilo aviador e com uma bandeja na mão.

- Por favor, pode sentar. – Balbuciei, quando consegui raciocinar. O meu segundo pensamento foi o que um homem daqueles estava fazendo ali naquele lugar.

Devo confessar que não ficou assim à toa, mesmo diante de um homem bonito, digamos, que sou um tanto difícil de agradar, mas aquele cara era diferente, havia algo nele que não podia explicar, mas mexia comigo.

- Obrigado. – Ele respondeu, se sentando na cadeira a minha frente, podia sentir um perfume gostoso com notas de couro e sândalo.

Celina e Helena continuavam sem palavras, eu não tinha nada para falar, contudo o desconhecido começou uma conversa.

- Pode ser lugar comum, mas vocês vêm sempre aqui?

- Sim, trabalhamos aqui perto, no museu – Helena conseguiu responder.

- É que eu sou novo na cidade, me mudei há pouco tempo, ainda estou conhecendo os lugares. Então, vocês três trabalham no museu. Deve ser muito interessante.

- Na verdade, só Celina e Diana trabalham lá – Helena explicou, apontando para nós com o garfo – Eu ainda sou estudante, estou estagiando. E você de onde vem? – Ela era sempre indiscreta e curiosa - Venho do Oriente Médio, mas fiquei muito tempo na Europa. – Ele explicou. – E como eu falei, cheguei há pouco tempo, não conheço muita gente por aqui. A propósito, meu nome é Gabriel.

- E o que você faz, Gabriel? – Helena quis saber, cheia de curiosidade.

- Sou jornalista. – Ele respondeu.

- E você de onde está vindo agora? – Agora era a vez de Celina.

- Venho de muito lugares, tenho viajando muito ultimamente, faço coberturas pelo mundo todo. Vou passar algum tempo aqui na cidade de vocês.

- Que legal! – Helena se animou.

- Eu não quero ser inconveniente, mas um amigo meu está lançando um novo livro e, hoje, será a noite de autógrafos, eu tenho convites. Vocês querem ir?

- Parece legal. – Helena ficou interessada no evento, mas, principalmente, em Gabriel. - Podemos ir, não é, meninas?

- Eu não posso, Helena. – Discordou Celina – Tem as crianças. – Ela era casada e tinha dois filhos pequenos, raramente, saía a noite.

- E você, Diana? – Ela virou-se para mim.

- Talvez. – Dei de ombros, pois não estava com muita vontade de sair à noite, no meio da semana. Então, levei um chute no pé por debaixo da mesa de Helena, querendo que eu confirmasse. – Talvez, eu possa ir. – Mudei minha resposta, ela me deu um sorriso de aprovação.

- Vou deixar os convites com vocês. – Ele deu um sorriso simpático e nos entregou três convites, cada uma pegou um.

- Samuel Zargo! É dele a noite de autógrafo? – Helena quase pulou da cadeira. – Ele é um dos meus autores favoritos. Não acredito, hoje mesmo estava falando sobre ele. Com certeza, eu irei!

Celina olhou o convite com um ar de decepção por não poder ir, já que Samuel Zargo era um dos autores mais conhecidos da literatura esotérica, suas noites de autógrafos eram bastante concorridas, com a presença de muita gente famosa. Olhei o relógio.

- Vamos, meninas, senão chegaremos atrasadas! – Avisei, hoje seria um rebuliço no museu com a abertura da caixa com a estátua do deus dourado e eu não queria perder isso por nada. – Foi um prazer conhecer você, Gabriel. – Despedi-me, sem demonstrar emoção.

- Até mais tarde. – Helena demonstrou sua intenção.

Saímos apressadas do restaurante, de volta ao museu.

-Você tem que ir comigo, Diana? – Insistia Helena. – Pois, além de Samuel Zargo ser meu autor favorito, Gabriel é um gato. Você pode não estar interessada, mas eu estou.

- Samuel Zargo é aquele famoso autor que escreve sobre esoterismo, deuses e anjos e coisas parecidas?

- Esse mesmo. Ele é o máximo, os livros dele são cheios de esclarecimentos sobre coisas que acontecem na nossa vida e não podemos explicar cientificamente.

Eu não acreditava em nada daquilo, não na minha atual fase da minha vida, porém quando era mais jovem, havia sido fascinada por todo esse assunto, no entanto, perdi toda a empolgação e a fé, mas, queria dar uma força a Helena e, afinal, era só uma noite de autografo, não devia acabar muito tarde.

- Está bem, Helena, eu vou com você.

- Ótimo! – Ela disse satisfeita

- Mas a gente se encontra lá, estou cansada de ficar esperando por você. – Helena era a rainha do atraso, cansei de ficar aguardando por ela na rua, no metrô ou mesmo em casa, quase desistindo de sair.

Quando chegamos ao museu, encontramos o circo armado. Jornalista com câmeras na mão, homens engravatados, seguranças, um monte de gente, todos cercando a grande caixa de madeira, que continha a estátua, me juntei a eles.

Sob as luzes das câmeras de TV, o diretor do museu, Suzana e o secretário da cultura, falavam sobre o evento e a honra da cidade em receber relíquias tão importantes, agradeciam os museus que emprestaram essas peças e aos nossos patrocinadores.

A caixa foi aberta e a estátua de madeira revestida de ouro foi retirada e desembalada, com delicadeza por vários homens muito fortes, que usavam luvas de algodão, sob a coordenação atenta de Suzana, e posta em um pedestal especialmente preparado, na verdade, toda aquela sala havia sido montada para recebê-la, pois além da iluminação, temperatura do ambiente controlada e alarmes de segurança, até mesmo o revestimento das paredes havia sido pensado para realçá-la. E, em um ato simbólico, o diretor do museu acionou um interruptor e a iluminação especial acendeu sob a estátua, se seguiu um “Oh” geral e aplausos. A estátua era linda, da altura de um homem alto, sobre um pedestal, cheia de detalhes que a fazia parecer quase real, as pedras coloridas incrustadas nela brilhavam, refletindo as luzes. Não consegui me aproximar, todavia teria bastante tempo, quando tudo ficasse mais calmo e eu poderia apreciar seus detalhes com tranquilidade. Sabia que não conseguiríamos trabalhar mais pelo resto da tarde, por isso acabei de preencher alguns papéis, combinei um horário com Helena e fui para casa.

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