“- Não acredito em nada disso! – Digo a minha amiga Helena, que insiste em colocar cartas de Tarô para mim, já que está fazendo um curso e quer treinar comigo.
- Vamos, Diana, se você não acredita, pense na diversão. – Ela insistiu.
- Está bem! Vamos lá. – Desisto, resignada, então ela me entrega o baralho de cartas grandes. - Embaralhe e corte com a mão esquerda, junte as cartas e faça isso pensando em uma pergunta. – Ordena, então, eu obedeci.
Depois, Helena arrumou algumas das cartas, cuidadosamente, com as figuras voltadas para baixo, em duas fileiras paralelas de cartas e começou a virar uma de cada vez. ”
Assim começa a minha história:
Meu nome é Diana e sempre me considerei uma pessoa estranha, me sentia diferente, me achando inadequada para esse mundo, pois não tenho fé, como a maioria das pessoas, embora houvesse uma época na minha vida, quando era bem mais jovem, que acreditava em tudo, bruxas, fantasmas, duendes, santos e milagres. Supunha que havia um mundo mágico paralelo ao nosso que não podíamos ver porque ficava escondido dos olhos dos simples humanos, porque não o entenderíamos. Esse pensamento tornava a minha vida mais encantadora e leve, entretanto com o passar dos anos, essa fé foi acabando, gradativamente e, agora, não acreditava em mais nada, era completamente cética, achava que estávamos nesse mundo só para garantir a sobrevivência da nossa espécie. Bem, eu pensava assim até alguns fatos muito estranhos começarem a acontecer comigo.
Trabalho em um museu, sou uma museóloga recém-formada, poderia dizer que foi muita sorte ter conseguido esse emprego, logo que terminei a faculdade, mas eu não acredito em sorte. Quando tudo começou a mudar na minha vida, estava ajudando a preparar uma exposição sobre deuses e entidades antigas, no museu em que trabalho. Seria um evento enorme, pois havíamos conseguido peças de vários outros museus por todo o mundo, depois de meses de negociações.
As pessoas me perguntam, porque uma pessoa tão jovem como eu, gostava de objetos antigos e velhos, mas eu sempre fui assim desde de criança, me interessava por História, arqueologia, lugares do passado. Ainda muito jovem, enquanto minhas colegas liam revistas de adolescente sobre cantores e artistas famosos, eu me interessava por livros sobre as civilizações sumérias, greco-romanas e outras coisas do gênero, meus heróis eram os generais e conquistadores destas épocas, mas sempre tive um especial interesse sobre o período da queda do Império Romano, e meus pais sempre me incentivaram, talvez, por serem professores universitários de História, mas agora estão aposentados e passam a maior parte do tempo em nosso pequeno sítio no interior, por isso eu fico muito tempo sozinha no nosso apartamento.
Naquela manhã, abri os olhos antes do despertador tocar. Será que você perdeu a hora, Diana? Pensei, mas o relógio mostrava que ainda eram cinco e meia da manhã, não entendia porque havia perdido o sono tão cedo, já que me deitei na mesma hora de sempre. Fiquei ali na cama, enrolando por algum tempo, mas não conseguia dormir outra vez, por isso levantei, resolvida a chegar ao trabalho mais cedo, assim poderia catalogar algumas peças e preparar alguns relatórios atrasados.
Fui para o banheiro e me olho no espelho, minha cara está amassada pelo sono, penso que tenho que dar um jeito no meu cabelo, já que ele sempre me incomoda, por ser cacheado e de tonalidade loura-avermelhado, me colocando como ponto de referência nos lugares e eu não gosto de chamar atenção, mas ele combina bem com minha pele branca e minhas poucas sardas no nariz, e com meus olhos, que são cor-de-avelã, mas que mudam de cor e, às vezes, são verdes escuros. Então, prendo meu cabelo em um rabo-de-cavalo, coloco um jeans, uma camisa e tênis, tomo um rápido café-da-manhã e saiu de casa. E como de costume, ando até o metrô, mas hoje, as ruas estão mais desertas do que o normal, talvez por causa do horário, por isso me apresso, sinto uma incomoda sensação que alguém está atrás de mim, olho sobre meus ombros, mas não vejo ninguém, aperto mais os passos, só me tranquilizo quando chego a estação, que a essa hora ainda está quase vazia, me sento e pego meu livro na mochila, pois aproveito esse tempo para ler um pouco. Estou distraída na leitura, quando gritos chamam minha atenção.
- Mateus, espere! Pare!
Levantei a cabeça e olhei de onde eles vieram os gritos, para ver um garotinho correndo no sentido em que estou, logo atrás dele, uma mulher grávida está tentando alcançá-lo. Apesar de pequena, a criança corria rápido, sorrindo achando engraçado aquela brincadeira, sem demonstrar nenhuma intenção de obedecer e com uma boa vantagem sobre sua perseguidora, muito pesada devido a barriga da gravidez avançada. Notei que a criança corria para o final da estação, ao mesmo tempo, vi o túnel se iluminar, mostrando que o trem se aproximava, sem pensar duas vezes e quase sem perceber, tinha o braço do menino, firmemente, preso na minha mão, que se debatia tentando escapar, mas eu o segurava forte, até a mulher se aproximar e tirá-lo de mim, ao mesmo tempo que o trem chegava a estação.
- Obrigada! Muito obrigada! – A mulher agradeceu e saiu arrastando a criança, entrando em um dos vagões.
As poucas pessoas que estão na estação me olharam, isso me deixou meia inibida. Entre eles, percebo um olhar de rancor de uma mulher morena, alta e magra ao meu lado. Assim, me apressei para pegar meu livro, que caiu no chão, e corri para entrar pela porta mais próxima do trem, antes que ela se fechasse, sentei em um dos assentos vazios, respirei fundo e retornei à minha leitura.
- Você foi bem rápida! – Ouvi e virei me em direção da voz, que vinha de uma velhinha pequena e com os cabelos brancos presos em um coque e com um vestido florido, eu não tinha percebido quando ela se sentou ali.
- O que a senhora disse? – Perguntei, achando que não havia entendido bem.
- Eu disse que você foi bem rápida lá na estação com o garotinho. Poderia ter ocorrido um acidente sério ali. – Ela esclareceu, olhando para mim, com um sorriso simpático.
- Não foi nada. Tenho certeza que não haveria nada demais. – Retruquei, com convicção.
- Sim, poderia. Se o garotinho caísse no trilho, o condutor poderia ter um ataque cardíaco pelo susto e não parar o trem, que entraria em alta velocidade na estação e poderia perder o controle e descarrilhar. Seria uma tragédia com vários mortos. – Ela falava muito sério.
- A senhora tem uma imaginação e tanto. – Afirmei, me segurando para não dar uma gargalhada.
- É pode ser, mas coisas ruins nunca acontecem quando você está por perto, não é? – Ela me indagou, como se soubesse a resposta.
- Como assim? Eu não sei. – Aquela conversa estava ficando cada vez mais doida.
- Você não sabe, porque quando se evita uma tragédia, ninguém fica sabendo, simplesmente, porque ela não aconteceu. – Ela explicou, com certa lógica.
- Eu nunca tinha pensando nisso antes. – Concordei com a ideia.
- Pois é, então pense nisso. Ah! Minha estação! - Ela exclamou e saiu apressada pela porta aberta do trem.
Velha maluca! Pensei, divertida.
Cheguei bem cedo no museu, o vigia abriu a porta, porque ainda não havia mais ninguém por lá, peguei seus relatórios e comecei a prepará-los, pois era a parte mais chata do trabalho e queria se livrar logo dela, pouco depois, Suzana, minha supervisora e chefe chegou.
- Bom dia. Já aqui tão cedo, Diana? Caiu da cama? - Suzana perguntou assim que me viu.
- É perdi o sono e resolvi chegar cedo para preparar isso. E você também chegou cedo hoje?
- Não consegui dormir, estou muita empolgada, pois hoje chegará a peça principal da exposição, tenho que supervisionar tudo, checar a segurança e os outros detalhes. – Revelou animada, cumprindo o seu papel de curadora da exposição.
- Eu tinha me esquecido disso. Então, é hoje que a estátua e as outras peças chegam? – Disse, indiferente.
- Sim, mas eu não me esqueci. – Respondeu, animada.
Dificilmente, Suzana se esqueceria de algo, era uma mulher dinâmica e bem-conceituada no ramo, apesar de ser uma bela morena, por volta dos 40 anos, nunca se casou, dedicando-se primordialmente a sua profissão. Ela tinha batalhado muito para montar essa exposição, trazendo peças de outros museus e a peça principal, que seria uma estátua representando um deus dourado, enfeitado com várias peças semipreciosas, com aproximadamente dois mil anos de idade. Seu seguro custou uma fortuna, tiveram que conseguir patrocínio de várias empresas para cobri-lo e a sua chegada dele seria um verdadeiro evento. Uma sala particularmente projetada para recebê-lo, recriava um templo antigo, com colunas e pintura especial, além uma iluminação, exclusivamente, projetada para realçar cada detalhe dela, que imitando piras de fogo, além de, um sistema de segurança excepcional. Junto co
Quando chegamos, o restaurante estava muito mais cheio do que de costume, mas, felizmente, conseguimos uma mesa de quatro lugares.- Eu nunca vi esse lugar tão cheio assim como hoje. – Comentou Celina, no momento que sentávamos e começávamos a comer e a fofocar, quando ele chegou.- Posso me sentar com vocês? O restaurante está lotado. – Ouvimos aquela grave voz masculina perguntar.As três olharam em direção da origem dela e demoramos um pouco para conseguir responder, pois paramos de pensar por um segundo, porque na nossa frente, estava um dos mais belos exemplares do gênero masculino da espécie humana. Alto, moreno, cabelos lisos e negros e olhos escuros e profundos, nariz um pouco adunco, com um ar oriental, mas que combinava com seu traços fortes e queixo quadrado, para completar vestia uma jaqueta de couro preta, jeans levemente apertado e camiseta branca, sugerind
Às sete e trinta, estava toda arrumada, vestido preto, salto alto e com meus cabelos soltos e usando meu colar de turquesa, que minha mãe havia me dado de presente, era uma relíquia de família, esperava por Helena do lado de fora de uma grande livraria, onde ocorreria a noite de autografo, que por ser um evento reservado para alguns convidados especiais e amigos do famoso autor, a entrada só era permitida com a apresentação de convite. Helena já estava meia hora atrasada, tentei telefonar e caiu na caixa-postal, estava distraída, deixando um recado, quando senti alguém se aproximar pelas minhas costas, não precisei virar-me para saber quem era, pois reconheci imediatamente o perfume.- Você veio! –Gabriel exclamou com satisfação, olhei para trás e lá está ele, lindo, com seu resplandecente sorriso branco.- Sim, mas estou esperando minha amiga. El
Tive um sono agitado, então, eu estava morrendo de sono na manhã seguinte, mesmo assim, me arrastei para fora da cama, apesar de querer dormir um pouco mais, contudo, não podia, já que estávamos entrando na fase final de preparação da nossa grande exposição e a inauguração estava próxima, por isso havia muito trabalho a fazer. Assim, logo que cheguei ao museu e comecei a trabalhar para despertar e afastar a preguiça, tinha que catalogar algumas peças que chegaram recentemente, Helena estava me ajudando nesta tarefa, ao meu lado.— Diana, eu quase morri de ódio, por não ir ontem a noite de autografo de Samuel Zargo. – Helena como sempre era muito exagerada. – Como é que foi lá? Encontrou com Gabriel?— Foi legal. Samuel Zargo é muito simpático, até me deu um
— Diana, conte mais sobre ontem à noite? Qual é o nome do livro? – Helena me indagou. – Ontem, Diana foi a noite de autógrafo do novo livro de Samuel Zargo – esclareceu para Hélio.— Não sei, acho que é “Mundo que não vemos” ou algo parecido – respondi, com dúvida— “O mundo que está a nossa volta – A guerra que não conhecemos” – Hélio complementou.— Você gosta de Samuel Zargo? – Helena perguntou, entusiasmada.— Não diria exatamente que gosto, mas tenho interesse no que ele escreve, ele tem uma visão bastante interessante sobre alguns fatos antigos.— Diana não acredita em nada disso, ela é totalmente cética – Helena explicou meu desinteresse.— Você não acredita em nada, Diana? – Hélio
Voltei para casa tarde, estava exausta, nunca estive tão cansada assim antes, imaginei se estava ficando doente, me deitei no sofá, antes de me arrumar para sair, porém quase desisti, peguei meu telefone para desmarcar meu encontro com Gabriel, mas entra uma ligação de Helena.- Diana, eu tinha me esquecido do jantar de hoje, se arrume para ir bem poderosa. – Ela me incentiva.- Helena, acho que vou desmarcar, não estou me sentido muito bem, acho que devo estar ficando gripada. – Revelei, desanimada.- Nada disso! Tome um banho e coloque uma roupa bem bonita, um salto e um pouco de maquiagem e vá à luta, garota! – Helena insistiu.- Não sei, não, amanhã temos que começar cedo, há muito trabalho para fazer – Dei outra desculpa.- Diana, enlouqueceu
- Isso não rola, a gente mal se conhece. Não sei se quero me envolver com alguém, que amanhã não estará mais aqui. – Expus meus receios para ele e para mim também, tinha que ser racional agora para não sofrer depois.- Eu entendo suas dúvidas, você não sabe quem eu sou, mas darei um tempo para descobrir. Por enquanto, boa noite, Diana – Pegando minha mão e beijou a palma dela, e eu tive vontade de voar para cima dele e beijá-lo, mas me contive, sai do carro e dei boa noite, rapidamente, antes de mudar de ideia.Entrei rapidamente no meu prédio, sentindo ele me observar até desaparecer da sua visão, e quando cheguei ao meu apartamento, precisava de um banho para relaxar e conseguir dormir. Foi o que fiz tomei um banho longo e morno, sentindo me sonolenta, deitei e quase imediatamente adormeci.
Gabriel chegou no horário marcado no museu, que ainda estava aberto para visitação, havíamos combinado nos encontrarmos bem na entrada, pois seria mais fácil.- Então é aqui que você trabalha? – Ele me perguntou, parecendo interessado.- Sim, é um dos melhores do país. – Disse, orgulhosa.- Posso conhecê-lo? – Ele pediu.- Claro que pode! Vamos, você nem precisa pagar. – Estava empolgada, pois adorava mostrar o que fazíamos lá.Para isso, andamos pelas salas de exposição, eu entusiasmada, falava sobre tudo, como havia sido montada cada uma das salas e as histórias das peças expostas.- Estou sendo uma chata. – Confessei, quando dei conta da minha tagarelice- Não, eu estou gostando. Continue. – Ele me animou.- Você está sendo gentil, vamos embora.