Colocando meu sobrinho mais calmo de volta ao berço, ele voltou seu olhar gélido em minha direção.
- Você faz perguntas demais, humana! - A voz dele estava carregada de um tom enigmático.
- Já disse, preciso de respostas! - Bati o pé em protesto. Ele continuou a avaliar meu corpo com seus olhos penetrantes, fazendo com que minha pele ardesse onde quer que seu olhar passasse.
Em um momento, seus olhos se fixaram em meu tornozelo, me fazendo puxar a perna para trás instintivamente.
- Você faz as perguntas erradas - declarou o homem à minha frente, sua expressão curiosa franzindo a testa. - Você foi mordida, não está preocupada com a transformação que irá passar? - Seus olhos voltaram aos meus, sondando minha reação.
- Transformação? - Olhei para o meu tornozelo, refletindo sobre suas palavras que ecoavam em minha mente. Ponderei antes de perguntar: - Do que está falando?
De forma abrupta, ele se aproximou e puxou minha perna com força para frente, revelando a mordida recém-cuidada.
- Você foi mordida por um lobo, e é humana... - Ele continuou a me encarar, seu tom impaciente. - Hunf, todos os humanos são assim tão lerdos?
- E quantos humanos você já conheceu para falar desta forma? - Protestei, cruzando os braços. - Você fala em enigmas!
- O suficiente para os repudiar - disse ele, erguendo-se da minha perna e ficando a centímetros do meu rosto. Pude sentir seu hálito quente em minha face e sua respiração controlada. - Você foi marcada por um lobo, isso significa que passará por uma transformação de humana para lobo, se sobreviver!
- Se sobreviver? - me aproximei mais dele, sem perceber a curta distância que nossos corpos se encontravam. - Eu, eu não quero ser uma de vocês... Não quero morrer! - Deixei o medo evidente em meus olhos. Ele sustentou o olhar até sorrir com sarcasmo.
- Então não morra! - afastou-se. - Até descobrir qual seu envolvimento com a alcateia rival e a finalidade do plano deles, você ficará sobre vigia em nossa cabana.
- Eu fui atacada por eles, como poderia estar acomunada com aqueles lobos pulguentos?
- Pode ser parte do plano, não sei até onde vai sua semelhança com a sua irmã.- Seus punhos estavam cerrados, quando ele virou de costas, parando na porta e falando sobre os ombros. - Sua transformação ocorrerá daqui a três noites, quando a lua atingir sua totalidade. Aproveite seu sobrinho enquanto ainda há tempo. Será a última vez que serei benevolente com você, humana!
Ele saiu, deixando-me com mais perguntas do que respostas. O medo pairou em minha mente, olhei para Conan sereno no berço, descansando. Como pude ser tão frágil? Estou condenada a uma transformação que não compreendo; posso morrer no processo.
Não, não vou morrer e permitir que este Alpha o crie! Agatha fugiu dele quando pôde, tenho certeza de que ela teve bons motivos. Avaliando sua postura, diria que só por sua arrogância eu também teria fugido.
- Talvez devêssemos fugir daqui meu valente. Este lugar não é seguro, - sussurrei para o lindo bebê.
O luar lançava uma luz prateada através da janela, iluminando o pequeno rosto de Conan enquanto ele dormia tranquilamente em seu berço. Era uma visão reconfortante em meio ao turbilhão de incertezas que agora permeava minha vida.
Decidi que não podia permitir que a transformação acontecesse. Não queria fazer parte de algo que me havia marcado à força. Minha irmã Agatha e eu sempre fomos próximas, e eu tinha que descobrir o que aconteceu com ela, por que ela fugiu e se tornou uma fugitiva do próprio pai do seu filho.
Com cuidado, peguei o bebê em meus braços, certificando-me de não o acordar. Ele era minha responsabilidade agora, e eu faria qualquer coisa para protegê-lo.
Saí silenciosamente do quarto, deslizando pela cabana escura e fria. A brisa noturna acariciou meu rosto quando cheguei à entrada, a porta estava trancada, mas eu tinha que sair dali encontrar respostas, evitar a transformação e proteger meu sobrinho.
Meus passos eram leves enquanto eu percorria o corredor sombrio, minha mente inquieta buscando soluções. Eu não tinha aliados, ninguém para quem voltar, mas sabia que precisava encontrar alguém que pudesse me ajudar.
Com Conan seguro em meus braços, desci as escadas e saí furtivamente da cabana pelas portas do fundo. O ar fresco da noite me envolveu, enchendo meus pulmões com a promessa de liberdade. Eu estava determinada a proteger meu sobrinho, descobrir a verdade sobre Agatha e evitar o destino que me aguardava como uma sombra crescente sobre a lua cheia.
- Vai a algum lugar, humana? - disse abruptamente, fazendo-me parar subitamente. Virei-me para olhar, e ele estava parado com as mãos nos bolsos de forma relaxada, como se já esperasse minha fuga, como se tivesse lido a minha mente.
- Você levou mais tempo do que o esperado para pensar em fugir, além de lerda é uma covarde? - O sarcasmo estava presente em sua postura e voz.
- Você já esperava? - Indaguei apertando meu sobrinho nos braços, decidida a correr.
- Era iminente. - Ele deu de ombros. - Não tente correr com ele nos braços, vai acabar o derrubando e terei que te matar por tê-lo machucado.
- Como você...
- Sinto o seu odor de medo e insegurança, você está se sentindo encurralada como uma presa fácil. - Em passos firmes, ele se aproximou predatório. - Não é difícil prever seus movimentos."
- Nos deixe ir, por favor. - Engoli em seco com medo de sua aproximação. - Vou impedir esta transformação e criar Conan longe disto tudo!
- Não é possível parar a maldição, tola. O filhote me pertence, você morrerá de qualquer jeito, mas ele. - Inclinando a cabeça apontou para o bebê em meu colo. - Tem um futuro brilhante ao meu lado.
Seu tamanho era assustador, sendo duas vezes maior que minha estatura.
- Como tem tanta certeza de que irei morrer? Posso sobreviver à transformação, não foi o que você disse?! - O fitei desafiadora.
- Somente os fortes sobrevivem! – Com os olhos semicerrados avançou mais passos em minha direção.
- Você já foi humano? - Perguntei perplexa, seria possível o Alpha ter sido humano algum dia?
O fazendo parar e avaliar minha postura
- Não fui amaldiçoado desta forma! – Um rosnado ameaçador explodiu do peito do Alfa, fazendo os pelos nos meus braços se eriçarem enquanto dava passos para trás. O desprezo pelos humanos era evidente, o que dificultava compreender por que se envolveu com uma humana ou por que havia me salvado.Dei mais alguns passos em direção à floresta que nos cercava; a cabana se encontrava no meio do nada, e não havia quem pudesse nos socorrer. Antes que decidisse correr, um lobo marrom e cinza saltou do meio das árvores em minha direção de forma ameaçadora, seus caninos brandidos à mostra, deixando claro que estava pronto para atacar. Ainda em sua forma humana, o rei Lycan não demonstrou rivalidade, o que me fez concluir que aquele lobo que me ameaçava era seu lacaio.Uma loba emergiu de trás dele, passando por mim; seus tons eram lindos em um misto de creme com branco, seu andar era majestoso e elegante. Ela caminhou até o Alfa em sua forma lupina, parando ao seu lado, cordialmente falando:- Ir
Alcancei o limite mais alto possível, o anoitecer se aproximava, enquanto buscava varrer com os olhos o ambiente abaixo em busca de algum sinal do lobo que me caçava. Sabia que a contagem já havia acabado há algum tempo e ouvi suaves quebras de galhos no chão, sem conseguir identificar se vinham da fera que me procurava ou de outro animal na floresta.Tentei acalmar minha respiração, até que uma voz grossa e ameaçadora ecoou pela fauna: - Aaaa, humaninha, é mais sagaz do que imaginei, camuflou seu cheiro! - Uma risada sinistra declarou: "Deixou as coisas mais divertidas!"Tapei a boca quando percebi que suas patas pesadas vinham a toda velocidade em minha direção. Orei em minha mente, implorando a qualquer Deus disponível que me tornasse invisível ao meu inimigo mortal. - Vou te achar, ratinha! - Seu uivo era rouco e divertido; ele obviamente estava se deleitando em seus jogos.Tentei subir ainda mais alto, temendo ser vista. Meus pés escorregaram no galho, fazendo-o trincar. O som cr
Não demorou muito para que um grupo de lobos emergisse do fundo da floresta, como se deletassem a ameaça iminente. O Alfa havia se transformado em sua forma lupina pouco antes da matilha se aproximar.- Eles são muitos", exclamei preocupada, pegando meu fiel estilete na mão e apontando para as feras que nos cercavam. - Você não é um rei? Cadê sua matilha? - O fitei em busca de respostas, o fazendo rir das minhas palavras.- Para esses insetos, basta apenas eu e meu Beta - disse ele com convicção, eu não sabia dizer se era seu ego ou loucura.- A humana nos pertence, Alfa, nos devolva ela e os deixaremos em paz sem muitos estragos - rosnou um lobo de tom escuro, parecia ser o líder daquele pequeno bando.- A humana é uma aliada de vocês? - exclamou o Beta Oliver.O lobo escuro farejou em meu sentido, buscando reconhecer, até que parou, semicerrando os olhos em dúvidas.- Sua aparência é idêntica, mas seu cheiro não é o mesmo, que feitiço é este? Nunca vi nada assim antes - disse o lobo
Despertei abruptamente com os raios de sol invadindo o quarto através da janela. Minha primeira visão foi da cama em que estava anteriormente. No entanto, percebi que algo estava diferente. Levantei-me, desorientada, e comecei a procurar freneticamente por Conan, meu coração acelerando à medida que minha busca se revelava em vão. Ele não estava mais em seu berço.Uma onda de temor apoderou-se de mim, inundando minha mente com pensamentos angustiantes. Será que nunca mais o veria? Nunca mais sentiria seu doce aroma de bebê? Minhas passadas ansiosas me levaram de um lado para o outro pelo quarto, e minhas mãos tremiam quando tentei abrir a porta, que estava trancada. Uma cadeira próxima à janela chamou minha atenção, e em um acesso de raiva e desespero, a arremessei com força. Eu me sentia exausta e completamente nervosa.Gritando, passei as mãos pelos cabelos e respirei profundamente, tentando recuperar minha compostura. 'Agatha, em que confusão você nos meteu?', exclamei, dirigindo mi
Não demorou muito para que o cair da noite se aproximasse, a Lua no céu estava quase em sua totalidade, indicando que a transformação se aproximava. Senti minha respiração densa, meus instintos estavam apurados, conseguia escutar uma coruja ao fundo da floresta. Ao chão, pude sentir uma cobra se rastejando esgueirando-se para uma toca próxima. Olhei pela janela aberta farejando diversos cheiros que se encontravam naquela mata, desde o orvalho de uma planta até a neblina úmida que dominava a floresta.- Estou com medo...- confessei, apertando as mãos. O lobo continuava sentado enigmático, sem proferir uma única palavra.As dores nas articulações começaram, uma reviravolta no estômago e minhas costelas pareciam se espaçar por dentro, como se abrissem espaço para acomodar uma alma canídea. - Aiii, que dor...- gemi, agachando-me e envolvendo os braços em volta da minha barriga. - Eu não quero isso...- supliquei, com os olhos marejados, olhando para o Alfa à minha frente. - Por favor, me a
- Por que isso está acontecendo? - A voz de Sophie era como um sussurro carregado de confusão e dor.Inconsciente, ela aproximou seu focinho no pescoço do Alfa, proporcionando arrepios por todo seu pelo. Um misto de desejo e necessidade de possuí-la o dominou. A loba à sua frente acabara de passar por uma transformação, não perdeu sua racionalidade, um processo diferente de tudo que o Rei Laycan havia visto. Ela havia sido prometida por sua Deusa a ele. Seus efeitos já eram notáveis, ele estava fazendo um esforço tremendo para não a reivindicar. Era cedo demais; ela ainda precisaria entender o que havia se tornado, precisava ser treinada para controlar sua transformação e depois deveria aceitá-lo como seu companheiro. Diante de seus olhos, ele sabia que não seria tarefa fácil, mas o desafio de conquistar sua presa era tentador.- Por que fui amaldiçoada? - A pergunta de Sophie pegou o Alfa de surpresa, tirando-o de seus desvaneios obscuros. Sua voz soou como um lamento, embarcado de t
Rendido ao cansaço, mergulhei em um sono profundo e enigmático, onde me vi em uma densa floresta envolta em neblina. Lá, deparei-me com minha mãe próxima a uma árvore sombria, acompanhada por um lobo gigante de pelagem clara. Desesperadamente, tentei alertá-la:- Mãe, cuidado!No entanto, minhas palavras não chegaram até ela, como se eu fosse invisível para os dois.- Você tem certeza disso? – O lobo claro indagou, esfregando sua enorme cabeça em seu quadril.- Tenho, meu amor... – Ela respondeu com um sorriso, acariciando o topo da cabeça do lobo. – Com este feitiço, eles não conseguirão nos encontrar!Eles? Quem eram "eles"? Essa pergunta ecoava em minha mente, mas ninguém parecia disposto a respondê-la.Minha mãe virou-se para encarar a fera, acariciando sua barriga, e o lobo aproximou-se farejando e lambendo a barriga dela.- Vamos protegê-los!- Você falou no plural? – Minha mãe levou a mão à boca em um gesto de surpresa. Num piscar de olhos, o lobo à sua frente se transformou e
- É possível que eu volte à minha forma humana? – Dei um leve saltinho de felicidade, imaginando se poderia voltar a ser o que era antes.- Manter-se na forma humana requer muito esforço, autocontrole e treinamento... – Virando as costas, ele me olhou por cima do ombro, indicando com o focinho que o seguisse. – ...consome muita energia, por isso, passamos a maior parte do tempo em nossa forma lupina...- Pensei que ficassem assim para parecerem mais assustadores. – Comentei, começando a seguir para fora da cabana.- Também, mas esta é a nossa forma mais forte... Vocês humanos... - abaixei a cabeça quando ele mencionou como se eu ainda fosse humana. Ele parecia ter notado. – São muito frágeis e fracos! - Seus olhos cintilaram quando o lobo à minha frente começou a farejar o ar, como se buscasse algo nas redondezas.- Por quanto tempo é possível ficar na forma humana? – Comecei a imitá-lo, farejando o ar enquanto buscava respostas sobre o que havia me tornado.- Isto depende da sua forç