Despertei de súbito, procurando por Conan. Percebi que meus ferimentos haviam sido tratados e varri o ambiente com os olhos, encontrando meu sobrinho em um berço próximo à minha cama. Minha atenção foi capturada pela figura enigmática do lobo, que possuía um tom branco gelo misturado com luzes prateadas, adentrando o quarto.
- Não se aproxime de nós, fera! - gritei, fazendo um esforço para parecer ameaçadora, embora minha voz entregasse o nervosismo que estava sentindo.
O lobo continuou avançando, parando em minha frente e sentando-se em suas patas traseiras. Ele emitiu um som de escárnio, como se achasse minhas ameaças engraçadas.
- Estou te avisando, besta. Não permitirei que machuque meu bebê! - reforcei minhas palavras, para que não houvesse dúvidas.
O peludo se aproximou, olhando-me intensamente e farejando o ar ao meu redor.
- Este filhote não é seu. O cheiro é semelhante, mas não idêntico. Ele me pertence - rosnou, exibindo seus caninos.
- Você está falando? Ou estou ficando louca, ouvindo um lobo falar... - balbuciei, intrigada.
- Me entregue o filhote, humana! - rosnou de forma ainda mais ameaçadora, sua voz ressoando com autoridade.
- Filhote? Você não vai tocar no meu bebê! - gritei desesperadamente, ficando em frente ao berço em posição de defesa.
O lobo se aproximou ainda mais, tentei atacá-lo. No entanto, com um movimento rápido e quase imperceptível, ele conseguiu me derrubar no chão e colocar o peso do seu corpo sobre o meu, cheirando meu pescoço.
- Sendo uma presa tão fraca, não deveria me desafiar – Ele rosnou
Estremeci, sentindo um arrepio na espinha
- O seu cheiro é similar, mas não igual. Você não é ela, e este não é o seu filhote! - esbravejou, seus dentes serrados próximos à minha pele quente.
Subitamente, ele se afastou, transformando-se em um homem alto, de pele clara, com um olhar orgulhoso. Sua estrutura muscular exalava poder e vitalidade. Seu cabelo escuro emoldurava um rosto esculpido, uma barba bem cuidada adicionando um toque de sofisticação. Sua postura confiante e presença dominante chamavam a atenção, mas meus olhos foram diretamente para a cicatriz que ia do ombro até o meio do tórax nu.
- O QUE É VOCÊ? - falei alto, chocada e assustada.
Ele declara com determinação: - Este filhote me pertence!
- Por que o chama de filhote? Quem você pensa que é para reivindicá-lo? - questiono, levantando uma sobrancelha desafiadora.
- Sou o pai dele e seu rei! - sua voz soa feroz e arrepiante.
- E-Eu... você é o pai? - gaguejo perplexa com a revelação.
- Sim, portanto, o filhote me pertence, - declarou imponente.
- Não! - minha resposta é firme, desafiando sua pretensão.
Ele arqueia uma sobrancelha, avaliando minha resposta desafiadora.
- Não? Interessante... - ele comenta, observando minha determinação crescente.
Tomando uma postura determinada, afirmo: - Eu prometi a minha irmã que cuidaria e protegeria seu filho como se fosse meu. Não vou permitir que você o leve, nem que tenha que lutar até a morte!
Ele observa, percebendo a coragem emergindo em mim. Um sorriso quase imperceptível cruza seus lábios, mas sua confusão e nervosismo a impedem de notar.
Ele reconhece:
- Você não tem cheiro da morte, acredito em sua história.
- Cheiro da morte? - repito, surpresa.
- Sim, sua irmã, ela exalava doença e morte. Mas havia algo único nela...- Seus olhos ficam semicerrados enquanto ele refletia. - Pelo menos foi o que pensei.
Lágrimas enchem meus olhos.
- Se você sabia que ela morreria, - cerro os punhos em ira, - por que não cuidou dela? Por que a abandonou? E por que somente agora apareceu, querendo levar a única lembrança que sobrou dela? - Esbravejo, encarando-o sem ceder.
- Sua irmã conseguiu disfarçar bem o cheiro dela, sem deixar rastros. Eu a encontrei pelo cheiro do meu filhote. Senti a ameaça em volta dele, e seu desespero, - pondera ele, aproximando-se.
- Por que me atacou? - questiono, lembrando das cenas no cemitério que me causavam arrepios de pavor.
Ele dá de ombros: - Não a ataquei. Eu os protegi.
- Os outros lobos não estavam com você?
- Não, são de outra matilha. Querem destruir meu herdeiro e tomar meu trono.– Seu olhar cintilou, pude sentir o ódio em suas palavras.
- Trono? Você é um rei, - boquiaberta, pergunto.
- Melhor ainda, sou um ALPHA, - há um tom de orgulho e honra em seu timbre, sua postura majestosa revela seu poder.
- O que é um alpha? - sigo confusa.
-Vocês humanos são tão deprimentes...- Ele revira os olhos com desprezo.
Observo atentamente sua postura enquanto seco uma lágrima teimosa que escorria pelo meu rosto. "Preciso de respostas. Quem nos atacou? Por que querem matar Conan? Como conheceu minha irmã?" - solto o ar após as perguntas que martelavam minha mente.
- Foram atacados pelos lacaios da Alcateia da Lua Crescente. Já respondi sua pergunta quanto ao filhote... Não seja lerda, humana. Acompanhe as respostas. - A rispidez em suas palavras deixa claro que os questionamentos o aborreciam.
- Ok, Sr. sem educação.
Em um rosnado estrondoso, ele rugiu: - Sr. Alpha ou Rei, humana insolente.
Seu rugido me fez recuar alguns passos até encostar no berço. Conan acordou chorando, tão assustado quanto eu estava. Virei para pegá-lo, mas uma mão forte e áspera o amparou antes que eu pudesse alcançá-lo. Sua velocidade era absurda, fora do normal.
- Não o machuque, por favor - abaixei meu tom de voz, com medo dele quebrar meu sobrinho em seus braços fortes. - Devolva-o para mim, por favor. - Estendi os braços devagar.
- Ele é meu herdeiro. Meu sangue, meu primogênito e futuro líder desta alcateia. Por que o machucaria? - Seu cenho franzido me fitava como um ponto interrogativo.
Estranhamente, o bebê se acalmou em seus braços, como se o tivesse reconhecido apenas pela aproximação. Talvez ele esteja dizendo a verdade, talvez seja o pai desta criança! Minha irmã havia avisado que ele era um ser extraordinário, entretanto, nada disso fazia sentido. Como ela o conheceu? Por que se escondeu dele?
Ergui meu queixo desafiadoramente, obrigando-o a manter seu olhar nos meus.
- Como conheceu minha irmã? Por que ela sentiu que deveria se esconder de você?
Uma neblina pairou sobre seu olhar, fazendo-me tremer com a pressão de sua presença. Seus olhos estavam em chamas de formas predatórias. Apesar de sua intimidação, não desviei o olhar. Eu precisava das respostas e, mais importante, precisava saber se corríamos riscos aqui!
Colocando meu sobrinho mais calmo de volta ao berço, ele voltou seu olhar gélido em minha direção.- Você faz perguntas demais, humana! - A voz dele estava carregada de um tom enigmático.- Já disse, preciso de respostas! - Bati o pé em protesto. Ele continuou a avaliar meu corpo com seus olhos penetrantes, fazendo com que minha pele ardesse onde quer que seu olhar passasse.Em um momento, seus olhos se fixaram em meu tornozelo, me fazendo puxar a perna para trás instintivamente.- Você faz as perguntas erradas - declarou o homem à minha frente, sua expressão curiosa franzindo a testa. - Você foi mordida, não está preocupada com a transformação que irá passar? - Seus olhos voltaram aos meus, sondando minha reação.- Transformação? - Olhei para o meu tornozelo, refletindo sobre suas palavras que ecoavam em minha mente. Ponderei antes de perguntar: - Do que está falando?De forma abrupta, ele se aproximou e puxou minha perna com força para frente, revelando a mordida recém-cuidada.- V
- Não fui amaldiçoado desta forma! – Um rosnado ameaçador explodiu do peito do Alfa, fazendo os pelos nos meus braços se eriçarem enquanto dava passos para trás. O desprezo pelos humanos era evidente, o que dificultava compreender por que se envolveu com uma humana ou por que havia me salvado.Dei mais alguns passos em direção à floresta que nos cercava; a cabana se encontrava no meio do nada, e não havia quem pudesse nos socorrer. Antes que decidisse correr, um lobo marrom e cinza saltou do meio das árvores em minha direção de forma ameaçadora, seus caninos brandidos à mostra, deixando claro que estava pronto para atacar. Ainda em sua forma humana, o rei Lycan não demonstrou rivalidade, o que me fez concluir que aquele lobo que me ameaçava era seu lacaio.Uma loba emergiu de trás dele, passando por mim; seus tons eram lindos em um misto de creme com branco, seu andar era majestoso e elegante. Ela caminhou até o Alfa em sua forma lupina, parando ao seu lado, cordialmente falando:- Ir
Alcancei o limite mais alto possível, o anoitecer se aproximava, enquanto buscava varrer com os olhos o ambiente abaixo em busca de algum sinal do lobo que me caçava. Sabia que a contagem já havia acabado há algum tempo e ouvi suaves quebras de galhos no chão, sem conseguir identificar se vinham da fera que me procurava ou de outro animal na floresta.Tentei acalmar minha respiração, até que uma voz grossa e ameaçadora ecoou pela fauna: - Aaaa, humaninha, é mais sagaz do que imaginei, camuflou seu cheiro! - Uma risada sinistra declarou: "Deixou as coisas mais divertidas!"Tapei a boca quando percebi que suas patas pesadas vinham a toda velocidade em minha direção. Orei em minha mente, implorando a qualquer Deus disponível que me tornasse invisível ao meu inimigo mortal. - Vou te achar, ratinha! - Seu uivo era rouco e divertido; ele obviamente estava se deleitando em seus jogos.Tentei subir ainda mais alto, temendo ser vista. Meus pés escorregaram no galho, fazendo-o trincar. O som cr
Não demorou muito para que um grupo de lobos emergisse do fundo da floresta, como se deletassem a ameaça iminente. O Alfa havia se transformado em sua forma lupina pouco antes da matilha se aproximar.- Eles são muitos", exclamei preocupada, pegando meu fiel estilete na mão e apontando para as feras que nos cercavam. - Você não é um rei? Cadê sua matilha? - O fitei em busca de respostas, o fazendo rir das minhas palavras.- Para esses insetos, basta apenas eu e meu Beta - disse ele com convicção, eu não sabia dizer se era seu ego ou loucura.- A humana nos pertence, Alfa, nos devolva ela e os deixaremos em paz sem muitos estragos - rosnou um lobo de tom escuro, parecia ser o líder daquele pequeno bando.- A humana é uma aliada de vocês? - exclamou o Beta Oliver.O lobo escuro farejou em meu sentido, buscando reconhecer, até que parou, semicerrando os olhos em dúvidas.- Sua aparência é idêntica, mas seu cheiro não é o mesmo, que feitiço é este? Nunca vi nada assim antes - disse o lobo
Despertei abruptamente com os raios de sol invadindo o quarto através da janela. Minha primeira visão foi da cama em que estava anteriormente. No entanto, percebi que algo estava diferente. Levantei-me, desorientada, e comecei a procurar freneticamente por Conan, meu coração acelerando à medida que minha busca se revelava em vão. Ele não estava mais em seu berço.Uma onda de temor apoderou-se de mim, inundando minha mente com pensamentos angustiantes. Será que nunca mais o veria? Nunca mais sentiria seu doce aroma de bebê? Minhas passadas ansiosas me levaram de um lado para o outro pelo quarto, e minhas mãos tremiam quando tentei abrir a porta, que estava trancada. Uma cadeira próxima à janela chamou minha atenção, e em um acesso de raiva e desespero, a arremessei com força. Eu me sentia exausta e completamente nervosa.Gritando, passei as mãos pelos cabelos e respirei profundamente, tentando recuperar minha compostura. 'Agatha, em que confusão você nos meteu?', exclamei, dirigindo mi
Não demorou muito para que o cair da noite se aproximasse, a Lua no céu estava quase em sua totalidade, indicando que a transformação se aproximava. Senti minha respiração densa, meus instintos estavam apurados, conseguia escutar uma coruja ao fundo da floresta. Ao chão, pude sentir uma cobra se rastejando esgueirando-se para uma toca próxima. Olhei pela janela aberta farejando diversos cheiros que se encontravam naquela mata, desde o orvalho de uma planta até a neblina úmida que dominava a floresta.- Estou com medo...- confessei, apertando as mãos. O lobo continuava sentado enigmático, sem proferir uma única palavra.As dores nas articulações começaram, uma reviravolta no estômago e minhas costelas pareciam se espaçar por dentro, como se abrissem espaço para acomodar uma alma canídea. - Aiii, que dor...- gemi, agachando-me e envolvendo os braços em volta da minha barriga. - Eu não quero isso...- supliquei, com os olhos marejados, olhando para o Alfa à minha frente. - Por favor, me a
- Por que isso está acontecendo? - A voz de Sophie era como um sussurro carregado de confusão e dor.Inconsciente, ela aproximou seu focinho no pescoço do Alfa, proporcionando arrepios por todo seu pelo. Um misto de desejo e necessidade de possuí-la o dominou. A loba à sua frente acabara de passar por uma transformação, não perdeu sua racionalidade, um processo diferente de tudo que o Rei Laycan havia visto. Ela havia sido prometida por sua Deusa a ele. Seus efeitos já eram notáveis, ele estava fazendo um esforço tremendo para não a reivindicar. Era cedo demais; ela ainda precisaria entender o que havia se tornado, precisava ser treinada para controlar sua transformação e depois deveria aceitá-lo como seu companheiro. Diante de seus olhos, ele sabia que não seria tarefa fácil, mas o desafio de conquistar sua presa era tentador.- Por que fui amaldiçoada? - A pergunta de Sophie pegou o Alfa de surpresa, tirando-o de seus desvaneios obscuros. Sua voz soou como um lamento, embarcado de t
Rendido ao cansaço, mergulhei em um sono profundo e enigmático, onde me vi em uma densa floresta envolta em neblina. Lá, deparei-me com minha mãe próxima a uma árvore sombria, acompanhada por um lobo gigante de pelagem clara. Desesperadamente, tentei alertá-la:- Mãe, cuidado!No entanto, minhas palavras não chegaram até ela, como se eu fosse invisível para os dois.- Você tem certeza disso? – O lobo claro indagou, esfregando sua enorme cabeça em seu quadril.- Tenho, meu amor... – Ela respondeu com um sorriso, acariciando o topo da cabeça do lobo. – Com este feitiço, eles não conseguirão nos encontrar!Eles? Quem eram "eles"? Essa pergunta ecoava em minha mente, mas ninguém parecia disposto a respondê-la.Minha mãe virou-se para encarar a fera, acariciando sua barriga, e o lobo aproximou-se farejando e lambendo a barriga dela.- Vamos protegê-los!- Você falou no plural? – Minha mãe levou a mão à boca em um gesto de surpresa. Num piscar de olhos, o lobo à sua frente se transformou e