Após os tristes dias passados, assumi a dolorosa tarefa de velar o corpo da minha amada irmã e sepultá-la ao lado dos nossos pais. O sentimento de abandono me envolvia enquanto encarava a terra recém-sobreposta, como se todos aqueles que eu amava tivessem me virado as costas. Um resmungo de protesto irrompeu do bebê em meu colo, arrancando um suspiro cansado dos meus lábios.
- Certo, parece que todos me deixaram, exceto você, Conan...- Murmurei com um sorriso terno dirigido ao pequeno ser agitado em minhas mãos. Logo depois, lágrimas inundaram meus olhos e uma única gota teimosa escorreu pelo meu rosto. "Sim, eu sei", continuei enquanto recolhia o bebê e o colocava com cuidado no canguru em frente ao meu peito. "Também sinto falta dela, mas agora somos apenas eu e você, meu valente."
Um sorriso gentil pairou nos meus lábios enquanto acariciava a maciez da bochecha do bebê, balançando-o suavemente para acalmar seus ânimos inquietos. Enquanto o fazia, eu cantarolava uma melodia suave, uma lembrança afetuosa das canções que minha mãe costumava entoar para nós quando éramos crianças.
De repente, um ruído perturbador ecoou do outro lado das sepulturas, forçando-me a girar abruptamente em direção ao som. Meu coração disparou quando deparei com uma matilha de lobos emergindo das sombras, olhos faiscando com um faminto fogo selvagem. Caninos à mostra e rosnados vorazes compunham um quadro aterrorizante.
- Lobos? - Minha voz escapou em um sussurro temeroso, enquanto eu apertava Conan nos meus braços, buscando instintivamente protegê-lo. - O que diabos esses lobos estão fazendo aqui?
Desesperadamente, meus olhos buscaram algum apoio nas imediações do cemitério, mas a paisagem permanecia desoladamente vazia. Dando passos cautelosos para trás, meus olhos correram em direção ao meu carro, não muito distante.
Entretanto, meus movimentos não passaram despercebidos. Um dos lobos emitiu um uivo estridente, quase como se fosse um comando. O som ecoou como um grito de guerra, e os lobos avançaram, movendo-se com uma agilidade feroz em nossa direção.
- Xii, xiii meu amor, está tudo bem, tudo bem. – Tento acalmar Conan que resmunga com a agitação.
Minhas pernas bombeavam com vigor enquanto eu buscava alcançar o abrigo do carro, mas um lobo de pelagem cinza interceptou meu caminho, saltando com presas à mostra, visando me abocanhar. Minha bolsa foi atirada com força em direção ao focinho do lobo, fazendo-o recuar momentaneamente, mas seus olhos ardiam com uma raiva intensa.
Meus olhos vasculharam freneticamente o ambiente em busca de qualquer coisa que pudesse servir como uma defesa improvisada. Um estilete, um presente do meu pai, escondido em meu bolso, trazendo um lampejo de determinação. Retirei-o e o apontei na direção do lobo que ameaçava nos ferir. Para meu horror, mais dois lobos se juntaram ao primeiro, formando um círculo ameaçador ao meu redor, seus olhos fixos em mim com uma predatória intensidade.
- Merda! – Proferi entre dentes, minha mente reconhecendo rapidamente a desvantagem em que me encontrava. O lobo cinza avançou novamente, e num movimento ágil, esquivei para o lado, buscando evitar o ataque. No entanto, um segundo lobo surgiu silenciosamente por trás, suas patas atingindo minhas costas com força. Apesar do impacto, consegui manter minha posição, evitando cair.
Uma onda de ardor se espalhou das feridas causadas pelo ataque do lobo menor em minhas costas. Ofegante, rosnei para os lobos com uma determinação feroz, minhas palavras carregadas de uma ameaça sincera:
- Nós não seremos o lanchinho de vocês!
Os lobos não hesitaram e se lançaram novamente contra mim. Agi por instinto, desviando do ataque de um deles e desferindo um chute poderoso no maxilar do lobo menor. Um grunhido de dor escapou dele, enquanto o lobo cinza se aproximou do ferido, tocando-o gentilmente com o focinho. Um terceiro lobo, com uma pelagem mesclada de cinza e preto, avançou implacavelmente. Com poucas opções, corri em direção à densa floresta de Goethe State Forest, buscando abrigo.
No entanto, a velocidade do lobo era impressionante e ele me alcançou antes que eu pudesse me distanciar o suficiente. Senti suas presas cravarem em meu tornozelo, e agi rapidamente para proteger a cabeça do meu fiel companheiro, Conan, do impacto iminente. Com esforço, arrastei meu corpo para trás, erguendo um estilete em um gesto defensivo. "Você não vai tocar nele, seu lobo pulguento!" Rosnei com uma mistura de medo e bravura, encarando o lobo nos olhos.
O rosnado da criatura se intensificou, um som ameaçador que parecia quase carregar um riso contido. Seus dentes afiados estavam a centímetros de nós, prontos para nos dilacerar. No momento crucial, o lobo avançou, suas mandíbulas se fechando sobre meu braço. Com a outra mão, enfiei o estilete com determinação em sua barriga peluda. O lobo arregalou os olhos, mas não recuou, continuando a pressionar seus dentes contra meu braço em um esforço brutal.
Um grito de dor rasgou meus lábios, ecoando pela floresta enquanto o lobo esmagava meu braço. Conan chorava inconsolavelmente, sua aflição ecoando pela cena desesperadora. Com lágrimas nos olhos, direcionei um olhar reconfortante para ele e murmurei: "Eu prometi que iria te proteger, eu vou te proteger!"
Desesperadamente, desferi joelhadas na lateral do lobo que se mantinha sobre nós, usando todas as forças para empurrar o estilete ainda mais profundamente. A fera tentou soltar meu braço, mas eu resisti, forçando-o a manter sua mordida. Implacável, continuei a golpear com o estilete até sentir o corpo do animal ceder.
Com um esforço, finalmente consegui empurrá-lo para o lado, levantando-me com dificuldade. Minha carne estava exposta, retalhada pelo ataque. Com uma voz suave e tranquilizadora, murmurei para Conan:
- Shhh, Conan, está tudo bem, tudo bem. A titia matou o lobo mau!
Mas antes que eu pudesse tentar acalmar a situação, os outros dois lobos surgiram ao nosso encontro. A loba menor aproximou-se do corpo do animal que eu havia derrotado, suas ações denotavam tristeza e suas lágrimas pareciam misturar-se à pelagem. Um rosnado desesperado rasgou pelo ar, enquanto o segundo lobo me fitava com olhos faiscantes de fúria. A cada passo que davam em nossa direção, podia sentir a intensificação do ódio emanando deles.
Meus esforços para recuar foram em vão, e minha perna vacilante não tardou em me derrubar no chão. Supliquei ao vento em um tom carregado de esperança: "Por favor, por favor, alguém nos ajude..." Encarei firmemente o lobo maior, libertando Conan do canguru e gentilmente colocando-o no chão. Os lobos observavam com atenção cada movimento meu. Minha voz trêmula continuou:
- Não sei se vocês podem me entender... Podem me devorar, mas eu imploro, não machuquem este bebê inocente..."
Os lobos trocaram olhares em uma comunicação que só eles compartilhavam, e não demorou para que avançassem em minha direção. No entanto, antes que pudessem me atingir, um novo lobo surgiu abruptamente à minha frente, suas presas agarrando um dos lobos hostis pelo pescoço e derrubando-o com força, ceifando sua vida em um instante.
Involuntariamente, minha mão foi parar na boca, testemunhando tal demonstração de força. O lobo sobrevivente investiu contra seu adversário, obrigando o lobo branco com cinza a recuar e a investir suas patas nas costelas do oponente. Um rosnado ensurdecedor rasgou o ar, enquanto o lobo branco investia novamente, mordendo o lobo cinza acima da pata e, em um segundo ataque, cravando suas presas no rosto do oponente, um vermelho intenso escorria, sinalizando a gravidade dos ferimentos.
A criatura cinza retrocedeu, lançando um olhar breve aos corpos inertes e voltando seu olhar na minha direção. Com um movimento ameaçador do lobo empoderado branco, o lobo cinza desapareceu na floresta, fugindo para a segurança das profundezas.
O lobo voltou sua atenção ao bebê. Instintivamente, saltei sobre Conan, protegendo-o e clamei:
- Não ouse se aproximar, já ceifei a vida de um de vocês, e não hesitarei em repetir o feito com você! - Contudo, ele contina se aproximando, e minhas vistas começaram a escurecer pela perda de sangue.
Desesperadamente, dirigi-me ao bebê: - Conan, me perdoe... - Lágrimas fluíram sem restrições pelo meu rosto, encontrando o rosto delicado do meu sobrinho. Então, voltei a minha atenção ao lobo, minhas percepções obscurecendo à medida que eu lutava para erguer o estilete. No limite da visão, testemunhei o lobo branco se transformar diante dos meus olhos, revelando a forma humana.
Despertei de súbito, procurando por Conan. Percebi que meus ferimentos haviam sido tratados e varri o ambiente com os olhos, encontrando meu sobrinho em um berço próximo à minha cama. Minha atenção foi capturada pela figura enigmática do lobo, que possuía um tom branco gelo misturado com luzes prateadas, adentrando o quarto.- Não se aproxime de nós, fera! - gritei, fazendo um esforço para parecer ameaçadora, embora minha voz entregasse o nervosismo que estava sentindo.O lobo continuou avançando, parando em minha frente e sentando-se em suas patas traseiras. Ele emitiu um som de escárnio, como se achasse minhas ameaças engraçadas.- Estou te avisando, besta. Não permitirei que machuque meu bebê! - reforcei minhas palavras, para que não houvesse dúvidas.O peludo se aproximou, olhando-me intensamente e farejando o ar ao meu redor.- Este filhote não é seu. O cheiro é semelhante, mas não idêntico. Ele me pertence - rosnou, exibindo seus caninos.- Você está falando? Ou estou ficando lo
Colocando meu sobrinho mais calmo de volta ao berço, ele voltou seu olhar gélido em minha direção.- Você faz perguntas demais, humana! - A voz dele estava carregada de um tom enigmático.- Já disse, preciso de respostas! - Bati o pé em protesto. Ele continuou a avaliar meu corpo com seus olhos penetrantes, fazendo com que minha pele ardesse onde quer que seu olhar passasse.Em um momento, seus olhos se fixaram em meu tornozelo, me fazendo puxar a perna para trás instintivamente.- Você faz as perguntas erradas - declarou o homem à minha frente, sua expressão curiosa franzindo a testa. - Você foi mordida, não está preocupada com a transformação que irá passar? - Seus olhos voltaram aos meus, sondando minha reação.- Transformação? - Olhei para o meu tornozelo, refletindo sobre suas palavras que ecoavam em minha mente. Ponderei antes de perguntar: - Do que está falando?De forma abrupta, ele se aproximou e puxou minha perna com força para frente, revelando a mordida recém-cuidada.- V
- Não fui amaldiçoado desta forma! – Um rosnado ameaçador explodiu do peito do Alfa, fazendo os pelos nos meus braços se eriçarem enquanto dava passos para trás. O desprezo pelos humanos era evidente, o que dificultava compreender por que se envolveu com uma humana ou por que havia me salvado.Dei mais alguns passos em direção à floresta que nos cercava; a cabana se encontrava no meio do nada, e não havia quem pudesse nos socorrer. Antes que decidisse correr, um lobo marrom e cinza saltou do meio das árvores em minha direção de forma ameaçadora, seus caninos brandidos à mostra, deixando claro que estava pronto para atacar. Ainda em sua forma humana, o rei Lycan não demonstrou rivalidade, o que me fez concluir que aquele lobo que me ameaçava era seu lacaio.Uma loba emergiu de trás dele, passando por mim; seus tons eram lindos em um misto de creme com branco, seu andar era majestoso e elegante. Ela caminhou até o Alfa em sua forma lupina, parando ao seu lado, cordialmente falando:- Ir
Alcancei o limite mais alto possível, o anoitecer se aproximava, enquanto buscava varrer com os olhos o ambiente abaixo em busca de algum sinal do lobo que me caçava. Sabia que a contagem já havia acabado há algum tempo e ouvi suaves quebras de galhos no chão, sem conseguir identificar se vinham da fera que me procurava ou de outro animal na floresta.Tentei acalmar minha respiração, até que uma voz grossa e ameaçadora ecoou pela fauna: - Aaaa, humaninha, é mais sagaz do que imaginei, camuflou seu cheiro! - Uma risada sinistra declarou: "Deixou as coisas mais divertidas!"Tapei a boca quando percebi que suas patas pesadas vinham a toda velocidade em minha direção. Orei em minha mente, implorando a qualquer Deus disponível que me tornasse invisível ao meu inimigo mortal. - Vou te achar, ratinha! - Seu uivo era rouco e divertido; ele obviamente estava se deleitando em seus jogos.Tentei subir ainda mais alto, temendo ser vista. Meus pés escorregaram no galho, fazendo-o trincar. O som cr
Não demorou muito para que um grupo de lobos emergisse do fundo da floresta, como se deletassem a ameaça iminente. O Alfa havia se transformado em sua forma lupina pouco antes da matilha se aproximar.- Eles são muitos", exclamei preocupada, pegando meu fiel estilete na mão e apontando para as feras que nos cercavam. - Você não é um rei? Cadê sua matilha? - O fitei em busca de respostas, o fazendo rir das minhas palavras.- Para esses insetos, basta apenas eu e meu Beta - disse ele com convicção, eu não sabia dizer se era seu ego ou loucura.- A humana nos pertence, Alfa, nos devolva ela e os deixaremos em paz sem muitos estragos - rosnou um lobo de tom escuro, parecia ser o líder daquele pequeno bando.- A humana é uma aliada de vocês? - exclamou o Beta Oliver.O lobo escuro farejou em meu sentido, buscando reconhecer, até que parou, semicerrando os olhos em dúvidas.- Sua aparência é idêntica, mas seu cheiro não é o mesmo, que feitiço é este? Nunca vi nada assim antes - disse o lobo
Despertei abruptamente com os raios de sol invadindo o quarto através da janela. Minha primeira visão foi da cama em que estava anteriormente. No entanto, percebi que algo estava diferente. Levantei-me, desorientada, e comecei a procurar freneticamente por Conan, meu coração acelerando à medida que minha busca se revelava em vão. Ele não estava mais em seu berço.Uma onda de temor apoderou-se de mim, inundando minha mente com pensamentos angustiantes. Será que nunca mais o veria? Nunca mais sentiria seu doce aroma de bebê? Minhas passadas ansiosas me levaram de um lado para o outro pelo quarto, e minhas mãos tremiam quando tentei abrir a porta, que estava trancada. Uma cadeira próxima à janela chamou minha atenção, e em um acesso de raiva e desespero, a arremessei com força. Eu me sentia exausta e completamente nervosa.Gritando, passei as mãos pelos cabelos e respirei profundamente, tentando recuperar minha compostura. 'Agatha, em que confusão você nos meteu?', exclamei, dirigindo mi
Não demorou muito para que o cair da noite se aproximasse, a Lua no céu estava quase em sua totalidade, indicando que a transformação se aproximava. Senti minha respiração densa, meus instintos estavam apurados, conseguia escutar uma coruja ao fundo da floresta. Ao chão, pude sentir uma cobra se rastejando esgueirando-se para uma toca próxima. Olhei pela janela aberta farejando diversos cheiros que se encontravam naquela mata, desde o orvalho de uma planta até a neblina úmida que dominava a floresta.- Estou com medo...- confessei, apertando as mãos. O lobo continuava sentado enigmático, sem proferir uma única palavra.As dores nas articulações começaram, uma reviravolta no estômago e minhas costelas pareciam se espaçar por dentro, como se abrissem espaço para acomodar uma alma canídea. - Aiii, que dor...- gemi, agachando-me e envolvendo os braços em volta da minha barriga. - Eu não quero isso...- supliquei, com os olhos marejados, olhando para o Alfa à minha frente. - Por favor, me a
- Por que isso está acontecendo? - A voz de Sophie era como um sussurro carregado de confusão e dor.Inconsciente, ela aproximou seu focinho no pescoço do Alfa, proporcionando arrepios por todo seu pelo. Um misto de desejo e necessidade de possuí-la o dominou. A loba à sua frente acabara de passar por uma transformação, não perdeu sua racionalidade, um processo diferente de tudo que o Rei Laycan havia visto. Ela havia sido prometida por sua Deusa a ele. Seus efeitos já eram notáveis, ele estava fazendo um esforço tremendo para não a reivindicar. Era cedo demais; ela ainda precisaria entender o que havia se tornado, precisava ser treinada para controlar sua transformação e depois deveria aceitá-lo como seu companheiro. Diante de seus olhos, ele sabia que não seria tarefa fácil, mas o desafio de conquistar sua presa era tentador.- Por que fui amaldiçoada? - A pergunta de Sophie pegou o Alfa de surpresa, tirando-o de seus desvaneios obscuros. Sua voz soou como um lamento, embarcado de t