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CAPÍTULO 04 – DESAFIANDO O LYCAN

- Não fui amaldiçoado desta forma! – Um rosnado ameaçador explodiu do peito do Alfa, fazendo os pelos nos meus braços se eriçarem enquanto dava passos para trás. O desprezo pelos humanos era evidente, o que dificultava compreender por que se envolveu com uma humana ou por que havia me salvado.

Dei mais alguns passos em direção à floresta que nos cercava; a cabana se encontrava no meio do nada, e não havia quem pudesse nos socorrer. Antes que decidisse correr, um lobo marrom e cinza saltou do meio das árvores em minha direção de forma ameaçadora, seus caninos brandidos à mostra, deixando claro que estava pronto para atacar. Ainda em sua forma humana, o rei Lycan não demonstrou rivalidade, o que me fez concluir que aquele lobo que me ameaçava era seu lacaio.

Uma loba emergiu de trás dele, passando por mim; seus tons eram lindos em um misto de creme com branco, seu andar era majestoso e elegante. Ela caminhou até o Alfa em sua forma lupina, parando ao seu lado, cordialmente falando:

- Irmão, perdoe esta humana tola; os humanos são irracionais quando se sentem encurralados, o medo fala por eles.

- Não se meta nisto, Victória! - Um rosnado estrondoso explodiu de seu peito, a fazendo encolher os ombros e abaixar as orelhas. Ela suspirou, sentando-se em suas patas traseiras, me olhando.

- Nos deixe ir, por favor... – Voltei a suplicar com lágrimas nos olhos, ciente da desvantagem que tinha.

- Ir para onde? Você não tem como protegê-lo de meus inimigos, não seja incoerente! – Ele brandou em fúria, os olhos em chamas.

- Se me deixar ir com ele, garantirei nossa segurança... Eu posso...

Antes que pudesse contestar, a cabeça enorme do lobo que antes me ameaçava estava assustadoramente a centímetros do meu corpo, ameaçando me devorar em apenas uma mordida.

- Você sequer notou a aproximação do Oliver! - Ele ironizou.

Respirei fundo, determinada a fugir. - Me teste - propus. - Se eu conseguir fugir do seu lobinho aqui, você nos deixará em paz para sempre! - Ergui meu queixo orgulhosamente em sua direção, inflando meu peito com coragem, ciente de que teria que ser astuta para vencer o lobo que rosnava às minhas costas.

Em uma gargalhada sinistra, o Alpha passou a língua nos lábios como se estivesse saboreando a proposta feita.

- Façamos assim, humana - seus olhos cintilaram, e ali tive certeza de que sua contraproposta seria cruel. - Você fugirá até o cair da noite, que acontecerá em breve, e se não for pega por mim", ele parou, sorrindo de maneira ameaçadora, e pude ver seu semblante predatório se deliciando da situação. "Poderá ir embora com a criança.

- O que? Você não pode...- sua irmã tentou contestar, mas foi silenciada imediatamente por sua ameaça de mordê-la, forçando-a a perder a postura majestosa.

- E então, humana, o que me diz? - Lycan manteve o queixo erguido em um desafio declarado.

- Eu...- Conan voltou a se agitar no colo, resmungando da tensão que emanava naquela floresta. - Xiiu, meu valente, vou ficar bem, está bem?

Sorri com gentileza para o pequeno ser em meus braços, que parecia compreender cada palavra que eu proferia para acalmá-lo. O Alfa avaliava minha interação e reação com seu filhote.

- Victória, permito que se transforme e pegue meu filhote, levando-o em segurança para dentro- sorriu. - Está na hora do papai caçar sua presa.

A loba assentiu, mesmo que sua transformação fosse mais demorada que a do irmão, ainda assim era bela de se ver. Os pelos iam desaparecendo aos poucos, encontrando-se com a pele; suas garras antes enormes deram lugar a lindas unhas delicadas, seu focinho longo foi cedendo espaço para traços finos e singelos, os olhos acinzentados foram substituídos por um azul mesclado, nem cinza e nem muito azul. Ela era ainda mais linda humana do que loba, se é que isso era possível!

- Com licença, humana, me deixe tirá-lo do meio disso... Sei que o quer proteger, ele estará seguro aqui comigo quando você retornar - seu sorriso era caloroso e os olhos amáveis; senti a verdade palpável no início de sua conversa, mas percebi a oscilação no tom quando insinuou minha volta.

- Só não o machuquem, está bem? - passei a mão na ponta do nariz do meu pequeno valente. - Vou cuidar de outro lobo mau, voltarei em breve para você, obedeça a titia loba!

A palavra "tia" pareceu ter chocado a mulher à minha frente, que balançou a cabeça com um leve sorriso, pegando meu mundo em suas mãos. Cheirando o bebê, ela o embalou com cuidado e cantarolou enquanto se afastava para a cabana.

- Me dê a sua palavra de que ele ficará bem! - exigi com medo de não voltar.

- Palavra de Alfa, humana... Vamos começar a caçada? -  Ele passou habilmente de sua forma humana para lupina. - Te darei a vantagem de correr na frente, contarei até 100 para que possa se afastar.

- Quanta justiça...- Ironizei. - Se eu conseguir me esconder até o anoitecer, seremos livres? - perguntei, olhando para ele em busca de uma confirmação.

Ele assentiu, seu olhar sério indicando que aquela era a nossa única chance.

- E se você me pegar? - Minha voz tremeu de medo quando fiz essa pergunta.

O lobo uivou em resposta, sua voz ecoando pela floresta escura.

- A matarei sem piedade! - declarou com ferocidade.

Engoli em seco, percebendo que estava diante de um predador perigoso que me via como um ratinho que brincaria até o anoitecer. Respirei fundo, me preparando para correr. Por sorte, eu era uma atleta no tempo da escola e ainda mantinha o hábito de correr. Virei de costas, encarando a floresta, mas antes de dar os primeiros passos, olhei por cima do ombro e vi o lobo me fitando impaciente, pronto para me caçar.

- Um, dois, três, o tempo está passando, humana... Quatro, - ele provocou.

Comecei a correr o mais rápido que pude, passando por arbustos e árvores secas, continuando cada vez mais fundo naquela floresta desconhecida. Eu não conhecia absolutamente nada do ambiente, pulei um tronco caído no caminho, arranhando os braços em um galho de árvore mais baixo. Estava desesperada, olhando para trás, calculando em minha cabeça o tempo que eu tinha antes que o lobo me alcançasse.

Meu coração se acelerava a cada passo, e cada ruído na floresta me fazia saltar para o lado, assustada. De repente, encontrei uma poça de lama coberta de musgo, fazendo-me lembrar do colar que minha irmã costumava me forçar a usar. Passei a gosma pelo corpo inteiro, na esperança de ficar "invisível" ao olfato da fera que me farejava. Continuei correndo ainda mais fundo na floresta, avistando uma enorme árvore no centro, com alguns buracos. Me aproximei dela, arriscando subir. Se o meu caçador não pudesse sentir meu cheiro e me ver, eu poderia superar este desafio.

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