- Não fui amaldiçoado desta forma! – Um rosnado ameaçador explodiu do peito do Alfa, fazendo os pelos nos meus braços se eriçarem enquanto dava passos para trás. O desprezo pelos humanos era evidente, o que dificultava compreender por que se envolveu com uma humana ou por que havia me salvado.
Dei mais alguns passos em direção à floresta que nos cercava; a cabana se encontrava no meio do nada, e não havia quem pudesse nos socorrer. Antes que decidisse correr, um lobo marrom e cinza saltou do meio das árvores em minha direção de forma ameaçadora, seus caninos brandidos à mostra, deixando claro que estava pronto para atacar. Ainda em sua forma humana, o rei Lycan não demonstrou rivalidade, o que me fez concluir que aquele lobo que me ameaçava era seu lacaio.
Uma loba emergiu de trás dele, passando por mim; seus tons eram lindos em um misto de creme com branco, seu andar era majestoso e elegante. Ela caminhou até o Alfa em sua forma lupina, parando ao seu lado, cordialmente falando:
- Irmão, perdoe esta humana tola; os humanos são irracionais quando se sentem encurralados, o medo fala por eles.
- Não se meta nisto, Victória! - Um rosnado estrondoso explodiu de seu peito, a fazendo encolher os ombros e abaixar as orelhas. Ela suspirou, sentando-se em suas patas traseiras, me olhando.
- Nos deixe ir, por favor... – Voltei a suplicar com lágrimas nos olhos, ciente da desvantagem que tinha.
- Ir para onde? Você não tem como protegê-lo de meus inimigos, não seja incoerente! – Ele brandou em fúria, os olhos em chamas.
- Se me deixar ir com ele, garantirei nossa segurança... Eu posso...
Antes que pudesse contestar, a cabeça enorme do lobo que antes me ameaçava estava assustadoramente a centímetros do meu corpo, ameaçando me devorar em apenas uma mordida.
- Você sequer notou a aproximação do Oliver! - Ele ironizou.
Respirei fundo, determinada a fugir. - Me teste - propus. - Se eu conseguir fugir do seu lobinho aqui, você nos deixará em paz para sempre! - Ergui meu queixo orgulhosamente em sua direção, inflando meu peito com coragem, ciente de que teria que ser astuta para vencer o lobo que rosnava às minhas costas.
Em uma gargalhada sinistra, o Alpha passou a língua nos lábios como se estivesse saboreando a proposta feita.
- Façamos assim, humana - seus olhos cintilaram, e ali tive certeza de que sua contraproposta seria cruel. - Você fugirá até o cair da noite, que acontecerá em breve, e se não for pega por mim", ele parou, sorrindo de maneira ameaçadora, e pude ver seu semblante predatório se deliciando da situação. "Poderá ir embora com a criança.
- O que? Você não pode...- sua irmã tentou contestar, mas foi silenciada imediatamente por sua ameaça de mordê-la, forçando-a a perder a postura majestosa.
- E então, humana, o que me diz? - Lycan manteve o queixo erguido em um desafio declarado.
- Eu...- Conan voltou a se agitar no colo, resmungando da tensão que emanava naquela floresta. - Xiiu, meu valente, vou ficar bem, está bem?
Sorri com gentileza para o pequeno ser em meus braços, que parecia compreender cada palavra que eu proferia para acalmá-lo. O Alfa avaliava minha interação e reação com seu filhote.
- Victória, permito que se transforme e pegue meu filhote, levando-o em segurança para dentro- sorriu. - Está na hora do papai caçar sua presa.
A loba assentiu, mesmo que sua transformação fosse mais demorada que a do irmão, ainda assim era bela de se ver. Os pelos iam desaparecendo aos poucos, encontrando-se com a pele; suas garras antes enormes deram lugar a lindas unhas delicadas, seu focinho longo foi cedendo espaço para traços finos e singelos, os olhos acinzentados foram substituídos por um azul mesclado, nem cinza e nem muito azul. Ela era ainda mais linda humana do que loba, se é que isso era possível!
- Com licença, humana, me deixe tirá-lo do meio disso... Sei que o quer proteger, ele estará seguro aqui comigo quando você retornar - seu sorriso era caloroso e os olhos amáveis; senti a verdade palpável no início de sua conversa, mas percebi a oscilação no tom quando insinuou minha volta.
- Só não o machuquem, está bem? - passei a mão na ponta do nariz do meu pequeno valente. - Vou cuidar de outro lobo mau, voltarei em breve para você, obedeça a titia loba!
A palavra "tia" pareceu ter chocado a mulher à minha frente, que balançou a cabeça com um leve sorriso, pegando meu mundo em suas mãos. Cheirando o bebê, ela o embalou com cuidado e cantarolou enquanto se afastava para a cabana.
- Me dê a sua palavra de que ele ficará bem! - exigi com medo de não voltar.
- Palavra de Alfa, humana... Vamos começar a caçada? - Ele passou habilmente de sua forma humana para lupina. - Te darei a vantagem de correr na frente, contarei até 100 para que possa se afastar.
- Quanta justiça...- Ironizei. - Se eu conseguir me esconder até o anoitecer, seremos livres? - perguntei, olhando para ele em busca de uma confirmação.
Ele assentiu, seu olhar sério indicando que aquela era a nossa única chance.
- E se você me pegar? - Minha voz tremeu de medo quando fiz essa pergunta.
O lobo uivou em resposta, sua voz ecoando pela floresta escura.
- A matarei sem piedade! - declarou com ferocidade.
Engoli em seco, percebendo que estava diante de um predador perigoso que me via como um ratinho que brincaria até o anoitecer. Respirei fundo, me preparando para correr. Por sorte, eu era uma atleta no tempo da escola e ainda mantinha o hábito de correr. Virei de costas, encarando a floresta, mas antes de dar os primeiros passos, olhei por cima do ombro e vi o lobo me fitando impaciente, pronto para me caçar.
- Um, dois, três, o tempo está passando, humana... Quatro, - ele provocou.
Comecei a correr o mais rápido que pude, passando por arbustos e árvores secas, continuando cada vez mais fundo naquela floresta desconhecida. Eu não conhecia absolutamente nada do ambiente, pulei um tronco caído no caminho, arranhando os braços em um galho de árvore mais baixo. Estava desesperada, olhando para trás, calculando em minha cabeça o tempo que eu tinha antes que o lobo me alcançasse.
Meu coração se acelerava a cada passo, e cada ruído na floresta me fazia saltar para o lado, assustada. De repente, encontrei uma poça de lama coberta de musgo, fazendo-me lembrar do colar que minha irmã costumava me forçar a usar. Passei a gosma pelo corpo inteiro, na esperança de ficar "invisível" ao olfato da fera que me farejava. Continuei correndo ainda mais fundo na floresta, avistando uma enorme árvore no centro, com alguns buracos. Me aproximei dela, arriscando subir. Se o meu caçador não pudesse sentir meu cheiro e me ver, eu poderia superar este desafio.
Alcancei o limite mais alto possível, o anoitecer se aproximava, enquanto buscava varrer com os olhos o ambiente abaixo em busca de algum sinal do lobo que me caçava. Sabia que a contagem já havia acabado há algum tempo e ouvi suaves quebras de galhos no chão, sem conseguir identificar se vinham da fera que me procurava ou de outro animal na floresta.Tentei acalmar minha respiração, até que uma voz grossa e ameaçadora ecoou pela fauna: - Aaaa, humaninha, é mais sagaz do que imaginei, camuflou seu cheiro! - Uma risada sinistra declarou: "Deixou as coisas mais divertidas!"Tapei a boca quando percebi que suas patas pesadas vinham a toda velocidade em minha direção. Orei em minha mente, implorando a qualquer Deus disponível que me tornasse invisível ao meu inimigo mortal. - Vou te achar, ratinha! - Seu uivo era rouco e divertido; ele obviamente estava se deleitando em seus jogos.Tentei subir ainda mais alto, temendo ser vista. Meus pés escorregaram no galho, fazendo-o trincar. O som cr
Não demorou muito para que um grupo de lobos emergisse do fundo da floresta, como se deletassem a ameaça iminente. O Alfa havia se transformado em sua forma lupina pouco antes da matilha se aproximar.- Eles são muitos", exclamei preocupada, pegando meu fiel estilete na mão e apontando para as feras que nos cercavam. - Você não é um rei? Cadê sua matilha? - O fitei em busca de respostas, o fazendo rir das minhas palavras.- Para esses insetos, basta apenas eu e meu Beta - disse ele com convicção, eu não sabia dizer se era seu ego ou loucura.- A humana nos pertence, Alfa, nos devolva ela e os deixaremos em paz sem muitos estragos - rosnou um lobo de tom escuro, parecia ser o líder daquele pequeno bando.- A humana é uma aliada de vocês? - exclamou o Beta Oliver.O lobo escuro farejou em meu sentido, buscando reconhecer, até que parou, semicerrando os olhos em dúvidas.- Sua aparência é idêntica, mas seu cheiro não é o mesmo, que feitiço é este? Nunca vi nada assim antes - disse o lobo
Despertei abruptamente com os raios de sol invadindo o quarto através da janela. Minha primeira visão foi da cama em que estava anteriormente. No entanto, percebi que algo estava diferente. Levantei-me, desorientada, e comecei a procurar freneticamente por Conan, meu coração acelerando à medida que minha busca se revelava em vão. Ele não estava mais em seu berço.Uma onda de temor apoderou-se de mim, inundando minha mente com pensamentos angustiantes. Será que nunca mais o veria? Nunca mais sentiria seu doce aroma de bebê? Minhas passadas ansiosas me levaram de um lado para o outro pelo quarto, e minhas mãos tremiam quando tentei abrir a porta, que estava trancada. Uma cadeira próxima à janela chamou minha atenção, e em um acesso de raiva e desespero, a arremessei com força. Eu me sentia exausta e completamente nervosa.Gritando, passei as mãos pelos cabelos e respirei profundamente, tentando recuperar minha compostura. 'Agatha, em que confusão você nos meteu?', exclamei, dirigindo mi
Não demorou muito para que o cair da noite se aproximasse, a Lua no céu estava quase em sua totalidade, indicando que a transformação se aproximava. Senti minha respiração densa, meus instintos estavam apurados, conseguia escutar uma coruja ao fundo da floresta. Ao chão, pude sentir uma cobra se rastejando esgueirando-se para uma toca próxima. Olhei pela janela aberta farejando diversos cheiros que se encontravam naquela mata, desde o orvalho de uma planta até a neblina úmida que dominava a floresta.- Estou com medo...- confessei, apertando as mãos. O lobo continuava sentado enigmático, sem proferir uma única palavra.As dores nas articulações começaram, uma reviravolta no estômago e minhas costelas pareciam se espaçar por dentro, como se abrissem espaço para acomodar uma alma canídea. - Aiii, que dor...- gemi, agachando-me e envolvendo os braços em volta da minha barriga. - Eu não quero isso...- supliquei, com os olhos marejados, olhando para o Alfa à minha frente. - Por favor, me a
- Por que isso está acontecendo? - A voz de Sophie era como um sussurro carregado de confusão e dor.Inconsciente, ela aproximou seu focinho no pescoço do Alfa, proporcionando arrepios por todo seu pelo. Um misto de desejo e necessidade de possuí-la o dominou. A loba à sua frente acabara de passar por uma transformação, não perdeu sua racionalidade, um processo diferente de tudo que o Rei Laycan havia visto. Ela havia sido prometida por sua Deusa a ele. Seus efeitos já eram notáveis, ele estava fazendo um esforço tremendo para não a reivindicar. Era cedo demais; ela ainda precisaria entender o que havia se tornado, precisava ser treinada para controlar sua transformação e depois deveria aceitá-lo como seu companheiro. Diante de seus olhos, ele sabia que não seria tarefa fácil, mas o desafio de conquistar sua presa era tentador.- Por que fui amaldiçoada? - A pergunta de Sophie pegou o Alfa de surpresa, tirando-o de seus desvaneios obscuros. Sua voz soou como um lamento, embarcado de t
Rendido ao cansaço, mergulhei em um sono profundo e enigmático, onde me vi em uma densa floresta envolta em neblina. Lá, deparei-me com minha mãe próxima a uma árvore sombria, acompanhada por um lobo gigante de pelagem clara. Desesperadamente, tentei alertá-la:- Mãe, cuidado!No entanto, minhas palavras não chegaram até ela, como se eu fosse invisível para os dois.- Você tem certeza disso? – O lobo claro indagou, esfregando sua enorme cabeça em seu quadril.- Tenho, meu amor... – Ela respondeu com um sorriso, acariciando o topo da cabeça do lobo. – Com este feitiço, eles não conseguirão nos encontrar!Eles? Quem eram "eles"? Essa pergunta ecoava em minha mente, mas ninguém parecia disposto a respondê-la.Minha mãe virou-se para encarar a fera, acariciando sua barriga, e o lobo aproximou-se farejando e lambendo a barriga dela.- Vamos protegê-los!- Você falou no plural? – Minha mãe levou a mão à boca em um gesto de surpresa. Num piscar de olhos, o lobo à sua frente se transformou e
- É possível que eu volte à minha forma humana? – Dei um leve saltinho de felicidade, imaginando se poderia voltar a ser o que era antes.- Manter-se na forma humana requer muito esforço, autocontrole e treinamento... – Virando as costas, ele me olhou por cima do ombro, indicando com o focinho que o seguisse. – ...consome muita energia, por isso, passamos a maior parte do tempo em nossa forma lupina...- Pensei que ficassem assim para parecerem mais assustadores. – Comentei, começando a seguir para fora da cabana.- Também, mas esta é a nossa forma mais forte... Vocês humanos... - abaixei a cabeça quando ele mencionou como se eu ainda fosse humana. Ele parecia ter notado. – São muito frágeis e fracos! - Seus olhos cintilaram quando o lobo à minha frente começou a farejar o ar, como se buscasse algo nas redondezas.- Por quanto tempo é possível ficar na forma humana? – Comecei a imitá-lo, farejando o ar enquanto buscava respostas sobre o que havia me tornado.- Isto depende da sua forç
Percebi que estava exausta quando notei que havia dormido só após acordar com os raios de sol refletidos pela janela. Olhei para a mesa do quarto e lá estava a comida, gentilmente posta.— Deve ser pedir demais destreza para comer com garfo e faca na forma lupina, não é? — comentei enquanto me aproximava, pensando em como enfrentar essa tarefa.Ironizando a situação, devorei o café da manhã. Odiava a forma em que me encontrava, mas sabia que precisava ficar forte. Tinha que descobrir onde o Conan estava sendo mantido, elaborar um plano de resgate, recuperá-lo e fugir daquela loucura! Estava decidida a encontrar as bruxas reclusas, talvez elas pudessem me ajudar a quebrar a maldição... Era minha última esperança.Foi então que percebi que a porta se abria.— Você não bate antes de entrar? — questionei o Alfa mau encarado que estava diante de mim.— A cabana é minha, por que eu deveria bater?! — respondeu ele de forma grosseira. — Decidiu comer?— Claro, não quero arriscar te aborrecer