Alcancei o limite mais alto possível, o anoitecer se aproximava, enquanto buscava varrer com os olhos o ambiente abaixo em busca de algum sinal do lobo que me caçava. Sabia que a contagem já havia acabado há algum tempo e ouvi suaves quebras de galhos no chão, sem conseguir identificar se vinham da fera que me procurava ou de outro animal na floresta.
Tentei acalmar minha respiração, até que uma voz grossa e ameaçadora ecoou pela fauna: - Aaaa, humaninha, é mais sagaz do que imaginei, camuflou seu cheiro! - Uma risada sinistra declarou: "Deixou as coisas mais divertidas!"
Tapei a boca quando percebi que suas patas pesadas vinham a toda velocidade em minha direção. Orei em minha mente, implorando a qualquer Deus disponível que me tornasse invisível ao meu inimigo mortal. - Vou te achar, ratinha! - Seu uivo era rouco e divertido; ele obviamente estava se deleitando em seus jogos.
Tentei subir ainda mais alto, temendo ser vista. Meus pés escorregaram no galho, fazendo-o trincar. O som crocante ecoou pela floresta, fazendo meu coração gelar. Torci para que a sede de me pegar o deixasse distraído aos sons emitidos pelo ambiente.
- TE ACHEI, MINHA PRESA! - De súbito, pulei do galho, vendo-o escalar a árvore sem dificuldades. Seus movimentos eram ágeis, suas garras afiadas fincavam o tronco que me mantinha a alguns metros de distância do lobisomem que tentava me alcançar. Imaginei aquelas patas fincando em minhas entranhas, e o pensamento provocou mais tremores de medo. Peguei o estilete do bolso e apontei em sua direção.
- Eu não vou morrer sem lutar, está me ouvindo?! - Gritei em uma última promessa. - Serei forte pelo Conan! - Esbravejei, pedindo em uma prece aos meus pais e minha irmã que me concedessem força de onde estivessem.
- Ah, Humana, é exatamente isso que quero. Lute até definhar na minha boca, como um cervo desesperado por sua vida! - Os olhos da fera estavam dilatados, quase negros, seus pelos eriçados. Nunca havia visto um lobo tão grande, uma fera selvagem que salivava por sua presa indefesa. Em um piscar de olhos, ele alcançou o galho que me sustentava. Estávamos a pelo menos uns 8 metros de altura. Fui me afastando para a ponta do galho enquanto ele se aproximava com sutileza.
- Qual é o seu plano de fuga, coelhinha? - Com os caninos à mostra, ele explodiu em um rosnado desafiador.
- Não se aproxime, não vou hesitar em te ferir com isto! - Ergui o estilete na mão, apontando em sua direção.
Ele riu da minha postura defensiva e saltou sobre o meu corpo, nos levando bruscamente para o chão. Batemos em alguns galhos que amorteceram nossa queda, mas ao chegar ao solo, minha cabeça bateu no mato, fazendo meus sentidos girarem. O Alfa impiedoso abocanhou meu tornozelo já ferido, fazendo-me arfar de dor. Começou a me arrastar pela floresta, deixando um rastro de sangue que jorrava da minha perna entre seus dentes afiados. Tentei erguer o corpo para atacá-lo com o estilete, mas a dor na cabeça me fez cair novamente e quase desmaiar. Comecei a chutá-lo com a outra perna, forçando-o a responder com mais pressão em sua mordida. Enquanto isso, minhas costas eram arranhadas pelo chão cheio de pedras e galhos. Peguei uma pedra que havia desviado e a chutei com a perna livre, fazendo-o me encarar. Lancei a pedra diretamente em seu focinho, obrigando-o a largar minha perna e se afastar enquanto balançava a cabeça e passava a pata no local ferido.
O sangue escorreu pelo seu focinho, criando gotas em seu pelo e ameaçando manchar sua boca. Ele parou de frente para mim e se sentou, sorrindo. O sangue o tornava ainda mais ameaçador, e ele passou a enorme língua em seu nariz, provando do seu próprio sangue.
- Humana, Humana, você quer sofrer antes de morrer? - Rangeu sobre as presas.
- Por que não me devora logo? - Gritei. - Prefiro que me mate aqui e agora do que me leve de volta para perto do Conan e o obrigue a ouvir meus gritos de desespero enquanto me devora."
- É com isso que está preocupada? - Ele gargalhou. - Não teme a dor da morte?
- Temo deixar um ser inocente, como meu sobrinho, nas mãos de um psicopata como você! - Puxei a perna ferida, avaliando-a. A dor era insuportável, minha carne estava exposta. Queria gritar e chorar de dor, mas não podia ceder. Tirei a camiseta e a enrolei em volta do tornozelo, improvisando um curativo, a amarrei. Ao contrário do que imaginei, o lobo à minha frente me examinava sem impedir minhas ações. Seu olhar era analítico, percorrendo cada centímetro do meu corpo. Estranhamente, seus olhos pousaram em meus seios semiexpostos pelo sutiã de renda clara. Ele se manteve ali por alguns momentos, até que me encorajei a provocá-lo.
- Agora está me olhando de forma predatória diferente. Ambos me dão calafrios!
- Não seja convencida, humana, talvez seja o único lugar que tenha mais carne para saborear quando a devorar! - Feroz, ele ameaçou me morder novamente.
- Se você me quisesse morta, teria deixado aqueles lobos do cemitério me matarem ou teria me matado na árvore, mas está me arrastando pela floresta de volta para a cabana, por quê? - Questionei intrigada, suas ameaças não condiziam com suas ações, ele queria que eu sentisse medo, eu sentia que havia um plano por trás de suas ações.
- Vejo que sua semelhança com sua irmã vai além das aparências - Por fim, ele declarou, transformando-se em homem novamente. Sua beleza era de fato surreal; se não fosse pela dor angustiante e sua sede por me matar, poderia contemplar seu corpo esculpido.
- Agora você está me olhando de forma predatória, humana! - Havia ousadia em seus lábios levemente curvados de canto.
- Não seja condescendente, Rei Alfa. - Ignorei, dando de ombros para o seu comentário desconcertante.
Ele se aproximou, sem pedir permissão, me pegou em seus braços e voltou a caminhar sentido à cabana.
- Me solta! Você não ia me devorar? - Me contorci, tentando me soltar de seus braços fortes, sem efeitos.
- Você pode voltar se arrastando com o tornozelo quebrado ou posso te levar na boca como um cadáver morto! - Havia uma intensidade cruzando no fundo de seus olhos, do qual eu não conseguia decifrar. Me contentei em ser carregada, retornando à cabana, quando ele simplesmente me jogou no chão.
- Aii.... - Reclamei. - Onde está Conan? - Procurei com os olhos preocupada.
- Não está mais aqui! - Ele declarou frio.
- O que você fez com ele? - Tentei levantar-me com raiva, mas a dor era demasiada, me forçando a ficar onde estava. - Você deu sua palavra! - O lembrei.
"Ele está bem e seguro!" - Por fim, um lobo na entrada da cabana declarou, o mesmo que havia me ameaçado anteriormente.
- O que pretendem fazer comigo?! - Exclamei tremula.
Ao fundo, ouvi uns rugidos de longe vindos da floresta, parecia uma matilha de lobos avisando que estavam chegando.
- O que está acontecendo?! - Gritei olhando para o Alfa que fitava o lobo que antes estava na porta da cabana.
- Você, minha presa, serviu de isca para atrair seus cúmplices! - Ele respondeu irônico.
- Cúmplices? Não tenho cúmplices, já disse... Por isto você não me matou. - Olhei para o Alfa que tinha estampado em seus olhos uma fúria bizarra. - Por isto me arrastou e deixou rastros de sangue na floresta, você queria que eles me farejassem e encontrassem!
Não demorou muito para que um grupo de lobos emergisse do fundo da floresta, como se deletassem a ameaça iminente. O Alfa havia se transformado em sua forma lupina pouco antes da matilha se aproximar.- Eles são muitos", exclamei preocupada, pegando meu fiel estilete na mão e apontando para as feras que nos cercavam. - Você não é um rei? Cadê sua matilha? - O fitei em busca de respostas, o fazendo rir das minhas palavras.- Para esses insetos, basta apenas eu e meu Beta - disse ele com convicção, eu não sabia dizer se era seu ego ou loucura.- A humana nos pertence, Alfa, nos devolva ela e os deixaremos em paz sem muitos estragos - rosnou um lobo de tom escuro, parecia ser o líder daquele pequeno bando.- A humana é uma aliada de vocês? - exclamou o Beta Oliver.O lobo escuro farejou em meu sentido, buscando reconhecer, até que parou, semicerrando os olhos em dúvidas.- Sua aparência é idêntica, mas seu cheiro não é o mesmo, que feitiço é este? Nunca vi nada assim antes - disse o lobo
Despertei abruptamente com os raios de sol invadindo o quarto através da janela. Minha primeira visão foi da cama em que estava anteriormente. No entanto, percebi que algo estava diferente. Levantei-me, desorientada, e comecei a procurar freneticamente por Conan, meu coração acelerando à medida que minha busca se revelava em vão. Ele não estava mais em seu berço.Uma onda de temor apoderou-se de mim, inundando minha mente com pensamentos angustiantes. Será que nunca mais o veria? Nunca mais sentiria seu doce aroma de bebê? Minhas passadas ansiosas me levaram de um lado para o outro pelo quarto, e minhas mãos tremiam quando tentei abrir a porta, que estava trancada. Uma cadeira próxima à janela chamou minha atenção, e em um acesso de raiva e desespero, a arremessei com força. Eu me sentia exausta e completamente nervosa.Gritando, passei as mãos pelos cabelos e respirei profundamente, tentando recuperar minha compostura. 'Agatha, em que confusão você nos meteu?', exclamei, dirigindo mi
Não demorou muito para que o cair da noite se aproximasse, a Lua no céu estava quase em sua totalidade, indicando que a transformação se aproximava. Senti minha respiração densa, meus instintos estavam apurados, conseguia escutar uma coruja ao fundo da floresta. Ao chão, pude sentir uma cobra se rastejando esgueirando-se para uma toca próxima. Olhei pela janela aberta farejando diversos cheiros que se encontravam naquela mata, desde o orvalho de uma planta até a neblina úmida que dominava a floresta.- Estou com medo...- confessei, apertando as mãos. O lobo continuava sentado enigmático, sem proferir uma única palavra.As dores nas articulações começaram, uma reviravolta no estômago e minhas costelas pareciam se espaçar por dentro, como se abrissem espaço para acomodar uma alma canídea. - Aiii, que dor...- gemi, agachando-me e envolvendo os braços em volta da minha barriga. - Eu não quero isso...- supliquei, com os olhos marejados, olhando para o Alfa à minha frente. - Por favor, me a
- Por que isso está acontecendo? - A voz de Sophie era como um sussurro carregado de confusão e dor.Inconsciente, ela aproximou seu focinho no pescoço do Alfa, proporcionando arrepios por todo seu pelo. Um misto de desejo e necessidade de possuí-la o dominou. A loba à sua frente acabara de passar por uma transformação, não perdeu sua racionalidade, um processo diferente de tudo que o Rei Laycan havia visto. Ela havia sido prometida por sua Deusa a ele. Seus efeitos já eram notáveis, ele estava fazendo um esforço tremendo para não a reivindicar. Era cedo demais; ela ainda precisaria entender o que havia se tornado, precisava ser treinada para controlar sua transformação e depois deveria aceitá-lo como seu companheiro. Diante de seus olhos, ele sabia que não seria tarefa fácil, mas o desafio de conquistar sua presa era tentador.- Por que fui amaldiçoada? - A pergunta de Sophie pegou o Alfa de surpresa, tirando-o de seus desvaneios obscuros. Sua voz soou como um lamento, embarcado de t
Rendido ao cansaço, mergulhei em um sono profundo e enigmático, onde me vi em uma densa floresta envolta em neblina. Lá, deparei-me com minha mãe próxima a uma árvore sombria, acompanhada por um lobo gigante de pelagem clara. Desesperadamente, tentei alertá-la:- Mãe, cuidado!No entanto, minhas palavras não chegaram até ela, como se eu fosse invisível para os dois.- Você tem certeza disso? – O lobo claro indagou, esfregando sua enorme cabeça em seu quadril.- Tenho, meu amor... – Ela respondeu com um sorriso, acariciando o topo da cabeça do lobo. – Com este feitiço, eles não conseguirão nos encontrar!Eles? Quem eram "eles"? Essa pergunta ecoava em minha mente, mas ninguém parecia disposto a respondê-la.Minha mãe virou-se para encarar a fera, acariciando sua barriga, e o lobo aproximou-se farejando e lambendo a barriga dela.- Vamos protegê-los!- Você falou no plural? – Minha mãe levou a mão à boca em um gesto de surpresa. Num piscar de olhos, o lobo à sua frente se transformou e
- É possível que eu volte à minha forma humana? – Dei um leve saltinho de felicidade, imaginando se poderia voltar a ser o que era antes.- Manter-se na forma humana requer muito esforço, autocontrole e treinamento... – Virando as costas, ele me olhou por cima do ombro, indicando com o focinho que o seguisse. – ...consome muita energia, por isso, passamos a maior parte do tempo em nossa forma lupina...- Pensei que ficassem assim para parecerem mais assustadores. – Comentei, começando a seguir para fora da cabana.- Também, mas esta é a nossa forma mais forte... Vocês humanos... - abaixei a cabeça quando ele mencionou como se eu ainda fosse humana. Ele parecia ter notado. – São muito frágeis e fracos! - Seus olhos cintilaram quando o lobo à minha frente começou a farejar o ar, como se buscasse algo nas redondezas.- Por quanto tempo é possível ficar na forma humana? – Comecei a imitá-lo, farejando o ar enquanto buscava respostas sobre o que havia me tornado.- Isto depende da sua forç
Percebi que estava exausta quando notei que havia dormido só após acordar com os raios de sol refletidos pela janela. Olhei para a mesa do quarto e lá estava a comida, gentilmente posta.— Deve ser pedir demais destreza para comer com garfo e faca na forma lupina, não é? — comentei enquanto me aproximava, pensando em como enfrentar essa tarefa.Ironizando a situação, devorei o café da manhã. Odiava a forma em que me encontrava, mas sabia que precisava ficar forte. Tinha que descobrir onde o Conan estava sendo mantido, elaborar um plano de resgate, recuperá-lo e fugir daquela loucura! Estava decidida a encontrar as bruxas reclusas, talvez elas pudessem me ajudar a quebrar a maldição... Era minha última esperança.Foi então que percebi que a porta se abria.— Você não bate antes de entrar? — questionei o Alfa mau encarado que estava diante de mim.— A cabana é minha, por que eu deveria bater?! — respondeu ele de forma grosseira. — Decidiu comer?— Claro, não quero arriscar te aborrecer
- Está bem, não precisa de ameaças - encarei-o com firmeza. - É só pegar impulso e saltar, certo? Sou uma loba. - Fechei os olhos, mergulhando na meditação que me permitia conectar-me com a nova forma lupina que havia me sido concedida.- Respire fundo - instruiu o Alfa com serenidade. - Quando abrir os olhos, quero que observe cuidadosamente o terreno à sua frente. Em seguida, pegue impulso correndo e salte com as patas traseiras quando estiver na beirada; mantenha as da frente dobradas no ar.- E como faço para aterrar? - Perguntei ainda de olhos fechados, a incerteza palpável em minha voz.- Instinto! - Ele respondeu com um tom divertido, fazendo com que eu arregalasse os olhos com preocupação.- Instinto? Essa é a sua instrução? - Indaguei, incrédula.- Sim, você é um animal agora, uma loba. Seus instintos vão orientá-la no que fazer. Mentalize seu salto e aterrissagem. - Ele insistiu com convicção.Dei um grunhido baixo de insatisfação e, em seguida, fechei os olhos novamente. Me