O som insistente do alarme me despertou às seis da manhã. Estiquei o braço preguiçosamente para desligá-lo, desejando que fosse sábado. Mas não era. Era terça-feira, e, como sempre, minha agenda estava lotada de compromissos. Trabalhar como diretora financeira de uma grande empresa de tecnologia exigia mais do que apenas habilidades com números; exigia tempo, energia e um foco inabalável.
Enquanto tomava café, liguei para minha irmã para saber a que horas ela chegaria. Sentia muitas saudades dela e da minha sobrinha, que é a fofura em pessoa. Ela me atendeu no quinto toque.
— Oi, meu raio de lua — disse minha irmã, dando um sorrisinho.
— Oi, meu raio de sol. Que horas você vai chegar? — Perguntei, percebendo a demora na resposta. — Artemis?
— Vou me atrasar um pouco. Ellah ainda está dormindo e não quero acordá-la agora.
— Tudo bem, maninha. Até mais tarde. Se chegar antes de mim, pode entrar na minha casa, tudo bem?
— Tudo bem. Vê se não trabalha muito, pois a mamãe sempre dizia que devemos curtir a vida antes que ela seja tirada de nós.
— Não sou como você e a mamãe. Sou mais como o papai. Minha carreira é minha vida.
— Atena! Não pense assim, por favor.
— Tchau, Artemis. Diz a Ellah que mandei um beijo e vê se não demora a chegar. Beijos.
Desliguei o celular e terminei meu café. Desci até a portaria, cumprimentei o porteiro e fui para o meu carro. Meu celular apitou e vi que era minha irmã enviando uma mensagem cheia de positividade.
Apesar de sermos gêmeas, minha irmã e eu somos completamente diferentes. Artemis sempre foi mais liberal, gosta de curtir a vida sem se importar com a opinião alheia, o que é o oposto de mim. Sou focada em trabalhar e meus amigos me chamam de workaholic.
Chegando à empresa, fui para minha sala, um espaço organizado e minimalista que refletia minha personalidade. A parede de vidro oferecia uma vista panorâmica da cidade e a mesa de madeira escura estava impecavelmente arrumada, com pilhas de documentos cuidadosamente organizadas. Sentei-me na cadeira de couro e comecei a revisar os relatórios financeiros do trimestre. Era uma rotina quase ritualística que me ajudava a manter o foco. Murilo, meu secretário, entrou e começou a ler minha agenda do dia.
— Atena, tem certeza de que não quer cancelar alguma reunião? — Ele perguntou, e eu neguei. — Mas a sua irmã não está vindo?
— Sim, está, mas detesto desmarcar reuniões sem necessidade. — Murilo me encarou como se eu fosse louca. Não sei por que ele ainda não se acostumou comigo depois de quase cinco anos trabalhando juntos.
Às dez horas, Murilo voltou com uma pilha de documentos e uma xícara de café fresco. Ele conhecia bem meu gosto: forte e sem açúcar.
— Aqui estão os relatórios que você pediu e a agenda de reuniões para hoje — disse ele, colocando os papéis sobre a mesa.
Agradeci com um aceno de cabeça e comecei a folhear os relatórios. Enquanto isso, Murilo ficou por perto, pronto para anotar qualquer coisa que eu precisasse.
— Murilo, você pode me trazer o relatório de desempenho do último mês? — perguntei sem desviar os olhos dos documentos.
— Claro, está na sua mesa à direita — ele respondeu prontamente.
Enquanto lia os números, meus pensamentos voltaram-se brevemente para Artemis e Ellah. Eu sabia que elas traziam uma leveza e alegria que minha vida profissional não podia oferecer. Artemis sempre me dizia que eu deveria relaxar mais, mas a verdade é que eu encontrava um tipo de satisfação no trabalho que era difícil de explicar.
À medida que o dia avançava, mergulhei em reuniões consecutivas com diferentes departamentos. Discussões sobre estratégias de investimento, apresentações de novos projetos e uma conferência com investidores internacionais tomaram grande parte do meu tempo. Cada reunião era um novo desafio, e eu adorava isso.
Durante uma breve pausa, decidi enviar uma mensagem para Artemis.
"Como estão as coisas por aí? Já saíram de casa?" Poucos minutos depois, meu telefone vibrou com a resposta.
"Tudo tranquilo. Estamos a caminho. Um certo alguém quis fazer diversas paradas para ir ao banheiro, comer e salvar um cachorrinho."
“Por que não vieram de avião? Chegariam mais rápido.”
“E perder toda a diversão que uma viagem de carro nos proporciona?”
Revirei os olhos e travei o celular.
Almocei rapidamente em minha mesa, revisando mais alguns relatórios enquanto mastigava uma salada. Murilo entrou na sala com uma expressão preocupada.
— Atena, tem uma reunião agendada de última hora com um dos nossos principais investidores. Você quer que eu reagende para amanhã?
Pensei por um momento. A presença de Artemis e Ellah era importante, mas também sabia que essa reunião não podia ser adiada.
— Não, Murilo. Vamos mantê-la. Apenas certifique-se de que todas as informações estejam prontas.
Ele assentiu e saiu da sala para providenciar os detalhes. Às cinco da tarde, a reunião terminou, e eu finalmente pude organizar minhas coisas para sair.
O trânsito estava mais leve do que de manhã e, em pouco tempo, cheguei em casa. Deixei minha bolsa no sofá e fui direto para a cozinha. Comecei a preparar um jantar simples: espaguete com molho de tomate fresco e manjericão, acompanhado de uma salada caprese. Sabia que Artemis adorava pratos italianos.
Enquanto cortava os ingredientes, a campainha tocou. Corri até a porta e, ao abri-la, fui recebida com um abraço apertado de Ellah.
— Tia Atena!
Abracei minha sobrinha com força e depois olhei para Artemis.
— Oi, mana — disse ela com um sorriso cansado, mas feliz.
— Oi, Artemis — respondi, puxando-a para um abraço. — É tão bom ter vocês aqui.
Entramos e nos sentamos na sala, conversando sobre o que tinha acontecido nas últimas semanas. Ellah falou animadamente sobre a escola e seus amigos, enquanto Artemis e eu relembrávamos memórias de infância.
O jantar foi agradável e relaxante. Rimos, conversamos e aproveitamos a companhia uma da outra. Depois do jantar, Artemis e Ellah foram se acomodar no quarto de hóspedes, enquanto eu lavava a louça.
— Ellah dormiu, estava completamente cansada. O que você está fazendo?
— Estava revisando um balancete, mas já estou terminando. — Artemis me encarou. — O que foi?
— Atena, quando você vai viver? Sei que seu trabalho é importante, mas outras coisas também são.
— Não sou como você, que acha que a vida é uma eterna brisa. A vida adulta é essa e você deveria pensar como eu.
— Pelo menos não ajo como se fosse uma frígida. Ou já se esqueceu que você era apaixonada pelo Iron Vortex?
Em um momento de loucura da minha vida, eu era fã de uma banda de rock e tenho uma tatuagem de um vórtice com relâmpagos e faíscas, que era o símbolo da banda. Como me arrependo de ter feito isso.
— Ficou sem palavras, não é? — Olhei para Artemis e travei meu celular.
— Vamos assistir a um filme? — Sugeri.
— Que tal “Como Eu Era Antes de Você?” — Minha irmã bateu palmas animada.
Aceitei a sugestão e ela logo se animou e foi colocar o filme, enquanto eu preparava a pipoca.
Lukke RockAcordei com um peso familiar ao meu lado, mas foi o riso abafado que realmente me tirou do sono. Abri os olhos, piscando contra a luz fraca que entrava pelas cortinas do quarto do hotel. Ao meu lado, duas mulheres estavam aninhadas nos lençóis, seus rostos brilhando com sorrisos maliciosos.— Bom dia, meninas — murmurei, minha voz rouca de sono, mas carregada daquela confiança insolente que me acompanhava em todas as manhãs como essa.Elas riram, seus corpos se movendo sob os lençóis como cobras preguiçosas. Uma delas, a loira, traçou uma linha no meu peito com as unhas, enquanto a outra, morena de olhos penetrantes, sussurrava algo que não consegui entender, mas que fez meu sorriso se alargar.— Prontas para mais uma rodada? — perguntei, arqueando uma sobrancelha. Meu sorriso aumentou ainda mais quando ambas responderam com um entusiasmado “sim”.Antes que pudéssemos nos mover, porém, a porta do quarto foi aberta com um estrondo, e a figura severa de Stella, minha assessor
Atena GodoyNo dia seguinte, acordei com uma sensação de leveza que há tempos não sentia. O café estava na mesa quando Artemis entrou na cozinha com Ellah no colo, ambas ainda com cara de sono.— Bom dia, meu raio de lua! — Artemis beijou minha testa.— Bom dia, Artemis. — Sorri para ela. — Bom dia, Ellah!— Bom dia, titia. — Minha sobrinha sorriu.Enquanto tomávamos café, Artemis começou a falar sobre os planos para o dia.— Atena, por que não tira um dia de folga e sai com a gente? Eu sei que você tem trabalho, mas seria ótimo passarmos um tempo juntas, já que amanhã eu volto para casa.Suspirei, sabendo que ela estava certa, mas também consciente das minhas responsabilidades no trabalho.— Eu adoraria, Artemis, mas hoje não posso. Minha agenda está cheia. Vou tentar sair mais cedo para nos encontrarmos, tudo bem?— Tudo bem, então vou preparar uma coisinha para comermos mais tarde.— Ok. Tenho que ir, até mais tarde meninas. — Beijei a testa da minha sobrinha que riu.— Bom trabalh
Na manhã seguinte, acordei com o rosto inchado de tanto chorar. A dor da perda de Artemis ainda estava fresca, e meu primeiro pensamento foi para Ellah. Tomei um banho rápido, tentando limpar as marcas da noite, e fui diretamente ao hospital. Isaac estava me esperando na entrada.— Alguma novidade? — perguntei ansiosamente.— A noite foi estável. Eles ainda estão monitorando-a de perto, mas não houve piora.Assenti e segui diretamente para a UTI, determinada a ficar ao lado da minha sobrinha. A cada passo que dava, meu coração apertava mais, na esperança de que a situação estivesse melhorando.Enquanto estava na UTI, observando a respiração lenta e constante de Ellah, meu celular vibrou no bolso da calça. Olhei para o identificador de chamadas e vi o nome do meu pai. Meu coração apertou, e senti uma mistura de alívio e tristeza ao atender.— Pai… — minha voz saiu fraca, carregada de emoção.— Atena, minha filha… — ele começou, sua voz firme, mas cheia de preocupação. — Como você está?
— Joel? — minha voz saiu baixa e cautelosa. — O que você está fazendo aqui?Ele entrou no quarto com um passo decidido, ignorando o olhar apreensivo da enfermeira que estava ali para monitorar Ellah. A tensão no ar era palpável.— Atena, eu preciso saber… — Joel começou, sua voz rouca e carregada de emoção. — É verdade o que disseram? Artemis faleceu? E Ellah, como está?Fechei os olhos por um momento, tentando controlar a onda de frustração que surgia dentro de mim. Artemis não havia sido clara sobre o pai de Ellah, mas ela sempre deixou claro que não era Joel. Ele nunca aceitou o término do relacionamento com Artemis e sempre teve dificuldades em aceitar a realidade.— Infelizmente sim — digo, respirando fundo. — Minha sobrinha está lutando por sua vida.— Me conta a verdade! Ellah é minha filha, não é? Agora que Artemis não está mais aqui, você pode me contar.Chamei Joel para tomar um café no hospital e ele me seguiu. Fizemos os nossos pedidos e ele me encarou com expectativa.— J
Me ajoelhei ao lado de Ellah, envolvendo-a em meus braços. Senti seu corpo pequeno e frágil se aninhar contra o meu, como se estivesse buscando conforto no único lugar onde poderia encontrar alguma segurança.— Ellah… — comecei, minha voz trêmula, tentando manter a calma por ela. — Sua mãe era uma luz, uma estrela brilhante que iluminava a vida de todos ao seu redor. Às vezes, as estrelas têm que voltar para o céu, para brilharem lá em cima, nos protegendo de um lugar melhor.Ela me olhou com aqueles olhos grandes, cheios de lágrimas, mas não disse nada. Eu sabia que minhas palavras não eram suficientes, que nenhum consolo poderia preencher o vazio que Artemis havia deixado. Mas era tudo o que eu podia oferecer.Naquele momento, senti uma mão forte e calejada em meu ombro. Virei-me e vi meu pai, Seu Apolônio, com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Ele estava devastado, mais do que eu jamais o tinha visto. Artemis e eu éramos o orgulho do nosso pai, mesmo com nossas diferen
Lukke Rock Me encontrava no meu apartamento em São Paulo, relaxando depois de um longo dia. Ao meu lado, uma modelo aspirante, nem me lembrava o nome dela, mas parecia interessada em uma conversa fútil sobre sua ascensão meteórica no mundo da moda. Claro, eu tinha ouvido essa história antes. Só que minha atenção já estava mais na próxima bebida do que na presença dela. Antes que a noite tomasse qualquer direção, a campainha do meu apartamento tocou, interrompendo nossa "agradável" conversa. Quem seria a essa hora?— Lukke, vai atender ou não? — perguntou a modelo, ajeitando o decote com um sorriso esperto.Revirei os olhos e levantei. Ao abrir a porta, lá estava ela: Stella. Ela sempre sabia quando aparecer. — Ah, Stella! — falei com um sorriso presunçoso. — Não sabia que você viria aqui. — Desde quando tenho que te avisar, Lukke? — Ela entrou sem ser convidada, como sempre fazia, ignorando a minha provocação. — Vim para garantir que você esteja pronto para a entrevista de amanhã.
Atena GodoyA luz do sol atravessava a janela da cozinha, trazendo um brilho suave à mesa, onde eu estava sentada com uma xícara de café quente nas mãos. Alguns dias haviam se passado desde o velório de Artemis, minha irmã mais nova, e a dor ainda parecia presente em cada canto da casa. A ausência dela era quase insuportável. O silêncio, que antes eu considerava reconfortante, agora era um lembrete constante de que ela não voltaria mais. Meu pai estava comigo, como sempre, tentando fazer com que eu não me perdesse nesse luto devastador.Ele se aproximou, puxando uma cadeira à mesa, e me encarou de forma cuidadosa, como se escolhesse as palavras antes de falar.— Está pronta para isso, Atena? — ele perguntou com sua voz grave, sempre tão segura, mesmo nos momentos mais difíceis.Sabia exatamente a que ele se referia. O trabalho, as responsabilidades que eu tinha colocado em pausa para lidar com a morte da minha irmã. Todos esperavam que eu retornasse logo. Minha vida profissional não p
Assim que coloquei o pé no saguão da empresa, senti o peso de estar de volta. Os rostos conhecidos me cumprimentavam com olhares discretos, sussurros de "meus pêsames" ecoando entre os corredores. Todos sabiam o que tinha acontecido, e mesmo que não fosse algo falado em voz alta, a tragédia ainda pairava no ar como uma nuvem densa.Passei pelos funcionários com a cabeça erguida, forçando um sorriso de quem estava pronta para retomar o controle. Mas a verdade era que eu estava longe de estar pronta. Cada passo em direção à minha sala era uma lembrança da minha nova realidade, sem minha irmã para compartilhar as vitórias e derrotas diárias. Ainda assim, aqui estava eu, fingindo que tudo estava bem. Talvez, se eu fingisse o suficiente, acabaria acreditando.Quando me aproximei do meu escritório, Isaac, apareceu à minha frente, o rosto carregado de preocupação. Ele parecia me observar com aquele jeito protetor de sempre, cruzando os braços diante do peito como se estivesse pronto para me