A Filha do Cantor
A Filha do Cantor
Por: S.R.Silva
Capítulo 01

O som insistente do alarme me despertou às seis da manhã. Estiquei o braço preguiçosamente para desligá-lo, desejando que fosse sábado. Mas não era. Era terça-feira, e, como sempre, minha agenda estava lotada de compromissos. Trabalhar como diretora financeira de uma grande empresa de tecnologia exigia mais do que apenas habilidades com números; exigia tempo, energia e um foco inabalável.

Enquanto tomava café, liguei para minha irmã para saber a que horas ela chegaria. Sentia muitas saudades dela e da minha sobrinha, que é a fofura em pessoa. Ela me atendeu no quinto toque.

— Oi, meu raio de lua — disse minha irmã, dando um sorrisinho.

— Oi, meu raio de sol. Que horas você vai chegar? — Perguntei, percebendo a demora na resposta. — Artemis?

— Vou me atrasar um pouco. Ellah ainda está dormindo e não quero acordá-la agora.

— Tudo bem, maninha. Até mais tarde. Se chegar antes de mim, pode entrar na minha casa, tudo bem?

— Tudo bem. Vê se não trabalha muito, pois a mamãe sempre dizia que devemos curtir a vida antes que ela seja tirada de nós.

— Não sou como você e a mamãe. Sou mais como o papai. Minha carreira é minha vida.

— Atena! Não pense assim, por favor.

— Tchau, Artemis. Diz a Ellah que mandei um beijo e vê se não demora a chegar. Beijos.

Desliguei o celular e terminei meu café. Desci até a portaria, cumprimentei o porteiro e fui para o meu carro. Meu celular apitou e vi que era minha irmã enviando uma mensagem cheia de positividade.

Apesar de sermos gêmeas, minha irmã e eu somos completamente diferentes. Artemis sempre foi mais liberal, gosta de curtir a vida sem se importar com a opinião alheia, o que é o oposto de mim. Sou focada em trabalhar e meus amigos me chamam de workaholic.

Chegando à empresa, fui para minha sala, um espaço organizado e minimalista que refletia minha personalidade. A parede de vidro oferecia uma vista panorâmica da cidade e a mesa de madeira escura estava impecavelmente arrumada, com pilhas de documentos cuidadosamente organizadas. Sentei-me na cadeira de couro e comecei a revisar os relatórios financeiros do trimestre. Era uma rotina quase ritualística que me ajudava a manter o foco. Murilo, meu secretário, entrou e começou a ler minha agenda do dia.

— Atena, tem certeza de que não quer cancelar alguma reunião? — Ele perguntou, e eu neguei. — Mas a sua irmã não está vindo?

— Sim, está, mas detesto desmarcar reuniões sem necessidade. — Murilo me encarou como se eu fosse louca. Não sei por que ele ainda não se acostumou comigo depois de quase cinco anos trabalhando juntos.

Às dez horas, Murilo voltou com uma pilha de documentos e uma xícara de café fresco. Ele conhecia bem meu gosto: forte e sem açúcar.

— Aqui estão os relatórios que você pediu e a agenda de reuniões para hoje — disse ele, colocando os papéis sobre a mesa.

Agradeci com um aceno de cabeça e comecei a folhear os relatórios. Enquanto isso, Murilo ficou por perto, pronto para anotar qualquer coisa que eu precisasse.

— Murilo, você pode me trazer o relatório de desempenho do último mês? — perguntei sem desviar os olhos dos documentos.

— Claro, está na sua mesa à direita — ele respondeu prontamente.

Enquanto lia os números, meus pensamentos voltaram-se brevemente para Artemis e Ellah. Eu sabia que elas traziam uma leveza e alegria que minha vida profissional não podia oferecer. Artemis sempre me dizia que eu deveria relaxar mais, mas a verdade é que eu encontrava um tipo de satisfação no trabalho que era difícil de explicar.

À medida que o dia avançava, mergulhei em reuniões consecutivas com diferentes departamentos. Discussões sobre estratégias de investimento, apresentações de novos projetos e uma conferência com investidores internacionais tomaram grande parte do meu tempo. Cada reunião era um novo desafio, e eu adorava isso.

Durante uma breve pausa, decidi enviar uma mensagem para Artemis.

"Como estão as coisas por aí? Já saíram de casa?" Poucos minutos depois, meu telefone vibrou com a resposta.

"Tudo tranquilo. Estamos a caminho. Um certo alguém quis fazer diversas paradas para ir ao banheiro, comer e salvar um cachorrinho."

“Por que não vieram de avião? Chegariam mais rápido.”

“E perder toda a diversão que uma viagem de carro nos proporciona?”

Revirei os olhos e travei o celular.

Almocei rapidamente em minha mesa, revisando mais alguns relatórios enquanto mastigava uma salada. Murilo entrou na sala com uma expressão preocupada.

— Atena, tem uma reunião agendada de última hora com um dos nossos principais investidores. Você quer que eu reagende para amanhã?

Pensei por um momento. A presença de Artemis e Ellah era importante, mas também sabia que essa reunião não podia ser adiada.

— Não, Murilo. Vamos mantê-la. Apenas certifique-se de que todas as informações estejam prontas.

Ele assentiu e saiu da sala para providenciar os detalhes. Às cinco da tarde, a reunião terminou, e eu finalmente pude organizar minhas coisas para sair.

O trânsito estava mais leve do que de manhã e, em pouco tempo, cheguei em casa. Deixei minha bolsa no sofá e fui direto para a cozinha. Comecei a preparar um jantar simples: espaguete com molho de tomate fresco e manjericão, acompanhado de uma salada caprese. Sabia que Artemis adorava pratos italianos.

Enquanto cortava os ingredientes, a campainha tocou. Corri até a porta e, ao abri-la, fui recebida com um abraço apertado de Ellah.

— Tia Atena!

Abracei minha sobrinha com força e depois olhei para Artemis.

— Oi, mana — disse ela com um sorriso cansado, mas feliz.

— Oi, Artemis — respondi, puxando-a para um abraço. — É tão bom ter vocês aqui.

Entramos e nos sentamos na sala, conversando sobre o que tinha acontecido nas últimas semanas. Ellah falou animadamente sobre a escola e seus amigos, enquanto Artemis e eu relembrávamos memórias de infância.

O jantar foi agradável e relaxante. Rimos, conversamos e aproveitamos a companhia uma da outra. Depois do jantar, Artemis e Ellah foram se acomodar no quarto de hóspedes, enquanto eu lavava a louça.

— Ellah dormiu, estava completamente cansada. O que você está fazendo?

— Estava revisando um balancete, mas já estou terminando. — Artemis me encarou. — O que foi?

— Atena, quando você vai viver? Sei que seu trabalho é importante, mas outras coisas também são.

— Não sou como você, que acha que a vida é uma eterna brisa. A vida adulta é essa e você deveria pensar como eu.

— Pelo menos não ajo como se fosse uma frígida. Ou já se esqueceu que você era apaixonada pelo Iron Vortex?

Em um momento de loucura da minha vida, eu era fã de uma banda de rock e tenho uma tatuagem de um vórtice com relâmpagos e faíscas, que era o símbolo da banda. Como me arrependo de ter feito isso.

— Ficou sem palavras, não é? — Olhei para Artemis e travei meu celular.

— Vamos assistir a um filme? — Sugeri.

— Que tal “Como Eu Era Antes de Você?” —  Minha irmã bateu palmas animada.

Aceitei a sugestão e ela logo se animou e foi colocar o filme, enquanto eu preparava a pipoca.

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