Capítulo 05

— Joel? — minha voz saiu baixa e cautelosa. — O que você está fazendo aqui?

Ele entrou no quarto com um passo decidido, ignorando o olhar apreensivo da enfermeira que estava ali para monitorar Ellah. A tensão no ar era palpável.

— Atena, eu preciso saber… — Joel começou, sua voz rouca e carregada de emoção. — É verdade o que disseram? Artemis faleceu? E Ellah, como está?

Fechei os olhos por um momento, tentando controlar a onda de frustração que surgia dentro de mim. Artemis não havia sido clara sobre o pai de Ellah, mas ela sempre deixou claro que não era Joel. Ele nunca aceitou o término do relacionamento com Artemis e sempre teve dificuldades em aceitar a realidade.

— Infelizmente sim — digo, respirando fundo. — Minha sobrinha está lutando por sua vida.

— Me conta a verdade! Ellah é minha filha, não é? Agora que Artemis não está mais aqui, você pode me contar.

Chamei Joel para tomar um café no hospital e ele me seguiu. Fizemos os nossos pedidos e ele me encarou com expectativa.

— Joel, sei o quanto você gostava da minha irmã, não sei o motivo de vocês terem terminado, mas Ellah não é a sua filha.

A expressão dele se desfez.

— Você tem certeza? — Ele me perguntou e assenti. 

— Sim, Joel. Absoluta!

— Então quem é o pai da Ellah? — A forma como ele me encarava me deixava desconfortável.

— Não sei, como eu te disse, a minha irmã não me revelou, mas deixou bem claro que não era você.

— Isso não faz sentido! — Joel é insistente. 

— Artemis teve seus motivos — respondi, tentando ser o mais firme possível. — Não podemos mudar o passado, Joel. O que precisamos agora é focar em Ellah e em sua recuperação.

Joel continuou me encarando, seu olhar estava fixo e perturbado. O desconforto aumentava dentro de mim à medida que o silêncio se arrastava. Eu sentia uma pressão crescente em meu peito, uma mistura de tristeza e frustração.

— O que você está fazendo? — Perguntei quando vejo ele se aproximando de mim.

— Eu sinto muito se estou sendo insistente — disse Joel, finalmente quebrando o silêncio. — Às vezes, eu me esqueço que Artemis tinha uma irmã gêmea. Eu só... eu só estou tentando entender.

— Entendo que seja difícil — respondi, tentando suavizar meu tom. 

Joel respirou fundo, passando a mão pelo rosto com um gesto cansado. 

— Desculpe se eu causei algum desconforto, Atena. Não era minha intenção. — Sua voz estava mais suave agora, cheia de arrependimento.

— Tudo bem — digo  tentando ser compreensiva. 

Joel assentiu, parecendo um pouco mais calmo. Ele se levantou e, antes de sair, olhou para mim com um olhar de agradecimento misturado com dor.

— Vou deixar você em paz. Se precisar de algo, estarei por aqui.

— Obrigada, Joel — respondi. 

— Meus sentimentos, sei como Artemis e você eram unidas e como deve ser difícil não tê-la por perto.

Ele se afastou, e eu fiquei sozinha no café do hospital, com pensamentos conflitantes se misturando na minha mente. Voltei para o quarto de Ellah, onde a calma da sala me envolveu novamente. 

Quando entrei no quarto, olhei para a pequena, que ainda estava dormindo. Sentei-me ao seu lado, segurando sua mão com ternura, e fiz uma promessa silenciosa.

— Vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para te proteger e te cuidar, Ellah — murmurei, sentindo uma onda de determinação. — Sua mãe fez tudo o que podia para garantir que você tivesse um futuro, e eu vou honrar isso.

Dois dias se passaram, mas a dor ainda era insuportável. Cada hora que passava parecia uma eternidade, e a realidade do que havia acontecido ainda se recusava a se fixar completamente na minha mente. Artemis, minha irmã, minha companheira de vida, havia partido. Eu não sabia como seguir em frente, mas tinha que ser forte por Ellah, minha sobrinha, e por meu pai, Seu Apolônio. Minha sobrinha ainda não está bem, e eu não queria trazê-la para o sepultamento, mas meu pai disse que era importante que ela se despedisse da mãe. 

O velório chegou como uma tempestade, devastador e inevitável. Mal havia dormido na noite anterior, e meus olhos estavam inchados e cansados de tanto chorar. Não sabia se era possível derramar mais lágrimas, mas ainda assim, elas continuavam caindo.

Ao chegar à pequena capela onde o velório aconteceria, uma sensação pesada de desespero tomou conta de mim. O espaço era simples, adornado apenas com algumas flores brancas e velas tremeluzentes. No centro da sala, estava o caixão de Artemis, rodeado por uma aura de tristeza e reverência. Olhei para o rosto dela pela última vez, tão sereno e em paz, como se estivesse apenas dormindo. Mas o vazio em seu peito, a ausência de vida, me atingiu como um soco. Eu me ajoelhei ao lado do caixão, sussurrando palavras de despedida que só eu podia ouvir.

— Oh, Artemis… — murmurei, minha voz embargada. — Por que você se foi tão cedo? Quem vai me dar conselhos idiotas agora, quem vai brigar comigo só porque eu trabalho  demais? Quem vai me ligar a noite para me contar como foi o dia e planejar uma viagem que nunca vamos fazer? Como vou viver sem você?

As palavras se misturaram com as lágrimas, e tudo que eu conseguia sentir era um vazio profundo. Mas então, um som suave quebrou minha concentração. Era Ellah, minha sobrinha, soluçando baixinho ao meu lado. Ela olhava para o caixão com olhos grandes e cheios de medo, confusão e tristeza.

— Tia Atena… — começou ela, a voz fraca. — Por que a mamãe morreu? Por que ela teve que me deixar?

O peso daquelas perguntas, o desespero na voz de Ellah, quase me despedaçou ali mesmo. Como eu poderia responder? Como explicar a uma criança de seis anos que o mundo pode ser cruel, que a vida pode ser injusta e cruel? 

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