Stella Castro Arthur andava de um lado para o outro com o celular colado ao ouvido, enquanto eu tentava controlar o desespero. Lukke não atendia nossas ligações, e a última vez que alguém o viu foi em um bar no centro, completamente descontrolado. — Ainda nada? — perguntei, tentando manter a voz firme. Arthur balançou a cabeça, encerrando mais uma chamada frustrada. — Já liguei para todo mundo: Damian, Lennox, até o segurança do estúdio. Ninguém sabe onde ele está. Fechei os olhos, sentindo o peso do medo me sufocar. Lukke era como um irmão para nós, e a ideia de que ele pudesse estar em perigo era insuportável. — E se ele... — engoli em seco, tentando afastar os piores cenários da mente. — E se o encontrarmos na sarjeta, bêbado ou, pior, morto? Arthur parou e colocou as mãos nos meus ombros, tentando me acalmar. — Stella, não pense assim. Lukke está limpo há muito tempo. Ele não vai voltar para aquele lugar escuro. Olhei para ele, minha voz cheia de frustração. —
Lukke Rockk Sentei no sofá com um cansaço que não era apenas físico. Era como se cada célula do meu corpo carregasse o peso de tudo que vivi nos últimos meses. Atena estava ao meu lado, sua presença silenciosa mais eloquente que qualquer palavra. Ela segurava minha mão, e aquele toque me lembrava que, mesmo nos piores momentos, eu não estava sozinho. — Como você está se sentindo? — perguntou, sua voz suave, mas com um tom de preocupação evidente. — Exausto, mas... aliviado — respondi, olhando para ela. — Sabe, por muito tempo eu achei que ser forte significava segurar tudo sozinho, mas agora percebo que isso só me afundou mais. Atena sorriu de um jeito que só ela sabia, um sorriso que dizia “eu te entendo” sem precisar de explicação. Eu sabia que precisava de ajuda, mas admiti-lo em voz alta parecia um ato de coragem que eu ainda estava aprendendo a praticar. No dia seguinte, Stella organizou minha primeira sessão de terapia. Confesso, eu estava nervoso. Sempre achei que con
A manhã começou com Leonardo Vasquez invadindo o estúdio como uma tempestade, com sua energia caótica de sempre. Ele parecia estar fervendo de animação, algo que geralmente significava trabalho dobrado para mim e uma dor de cabeça esperando para acontecer. — Lukke! — gritou ele, batendo as mãos com força exagerada em meus ombros. — Essa sua nova música é uma obra-prima, garoto! Uma obra-prima! Revirei os olhos, mas sorri. Ver alguém tão animado com meu trabalho era gratificante, mesmo quando a pessoa era Leonardo, com sua mania de transformar tudo em um negócio milionário. — Obrigado, Leo. Fico feliz que você tenha gostado. Ele quase saltou da cadeira de excitação. — Gostado? Você está brincando comigo? Isso vai explodir as paradas! Temos que gravar isso hoje mesmo. Agora! — Calma, pançudo — brinquei, rindo. — É só uma música. — Só uma música? — Ele me olhou como se eu tivesse insultado sua mãe. — É a música, Lukke! Agora, me diga, quando você vai terminar esse álbum?
Atena Godoy Estávamos quase prontas. Eu ajeitava o laço do vestido de Ellah pela terceira vez, enquanto ela insistia em pular de um lado para o outro. — Fica parada, mocinha! — reclamei, tentando esconder o riso. — Estou ansiosa, titia! Quero ver a vovó Heloísa! — Ellah disse, com os olhinhos brilhando. Ela estava deslumbrante em um vestido amarelo claro com detalhes em renda. Seus cachinhos estavam soltos, caindo em cascata pelos ombros, e o sorriso dela iluminava o quarto. — E você está linda! — afirmei, dando um beijinho em sua testa. Olhei para o espelho enquanto terminava de me arrumar. Meu vestido azul-marinho era simples, mas elegante, com um corte que me deixava confortável. Optei por acessórios discretos e deixei o cabelo solto, algo que Lukke adorava. Estávamos terminando os últimos retoques quando a campainha tocou. — É o papai Lukke! — Ellah gritou, correndo em direção à porta. — Calma! Não saia correndo assim! — fui atrás dela, mas já era tarde. Quando
O carro deslizava suavemente pela rua enquanto Ellah dormia profundamente no banco de trás, segurando seu inseparável ursinho. Lukke dirigia tranquilamente, uma mão no volante e a outra segurando a minha, um gesto simples, mas que me transmitia uma sensação de segurança inexplicável. — Estava pensando em algo — Lukke começou, olhando para mim de soslaio. — Hum, lá vem. — Sorri, já esperando alguma provocação. — Como você virou fã da Iron Vortex? A pergunta me pegou de surpresa. Eu não esperava que ele tivesse essa curiosidade, mas algo em seu tom me incentivou a responder com sinceridade. — É uma história longa. Tem certeza de que quer ouvir? — Tenho todo o tempo do mundo, lua. Suspirei, olhando pela janela por um momento, enquanto a memória de uma época difícil voltava à tona. — Eu tinha acabado de fazer 12 anos, e a dor de perder a minha mãe era grande, parecia que eu nunca mais seria feliz. Lukke apertou levemente minha mão, em um gesto silencioso de apoio. — N
O som ensurdecedor da arena lotada fazia meu coração bater no mesmo ritmo que os gritos e aplausos ao nosso redor. Ellah, ao meu lado, estava radiante, pulando animada em seu pequeno vestido com o logo da Iron Vortex. Lukke e a banda haviam subido ao palco minutos antes, e eu não conseguia tirar os olhos dele. Ali estava o homem que mudou minha vida, com sua guitarra pendurada, dominando o palco com uma presença magnética. Ele olhava para a multidão com aquele sorriso que fazia todas as garotas gritarem ainda mais alto. — Tia Atena, olha! — Ellah puxou minha mão, apontando para o palco. — Papai está olhando pra gente! Olhei, e lá estava ele. Lukke sorria, me procurando na multidão. Quando nossos olhos se encontraram, ele piscou, me arrancando um sorriso inevitável. O show começou com um discurso que fez a arena inteira silenciar. — Boa noite, Rio de Janeiro! — A voz de Lukke ecoou com força, e a multidão explodiu em gritos. — Esse é um momento muito especial para mim e para
Um Ano DepoisO som suave do quarteto de cordas preenchia o ar, enquanto eu esperava atrás da porta dupla de madeira, segurando firme no braço do meu pai. Meu coração batia mais rápido do que nunca, mas não era nervosismo. Era a emoção de saber que, em poucos passos, eu estaria unindo minha vida à de Lukke, aquele que transformou tudo ao meu redor em algo mais leve, mais bonito. — Filha, você está linda — meu pai disse, sua voz carregada de emoção. — Obrigada, pai. — Apertei seu braço, tentando conter as lágrimas. Ele me olhou com os olhos marejados. — Só quero que ele cuide bem de você, Atena. Eu sorri. — Ele vai, pai. Lukke já faz isso todos os dias, mesmo sem perceber. As portas se abriram, e um mar de rostos familiares se virou para me ver entrar. Respirei fundo e dei o primeiro passo, sentindo o tapete macio sob meus pés e o olhar fixo de Lukke me esperando no altar. Ele estava deslumbrante em um terno impecável, mas ainda com aquele toque despreocupado que era tão dele
Dois Anos Depois A luz da manhã entrava suavemente pelas cortinas do quarto, e eu sentia o calor aconchegante do sol na pele. Dois anos haviam se passado desde aquele dia mágico em que Lukke e eu dissemos “sim” no altar. Desde então, nossa vida foi uma montanha-russa, cheia de altos e baixos, mas sempre regada de amor, parceria e, claro, muitos momentos de risos e lágrimas. O ano anterior foi especialmente difícil para nós. A perda de dona Heloísa devastou a todos, mas especialmente Lukke, que enfrentou um luto profundo pela mãe. Vê-lo desmoronar foi doloroso, mas, aos poucos, ele encontrou força em nós. Ellah, agora com quase nove anos, continua sendo aquela menina encantadora e cheia de personalidade. Mas, como toda criança que cresce, desenvolveu respostas afiadas para quase tudo. Às vezes, confesso que me vejo pensando em sumir por uns minutos para recuperar a paciência, mas logo a sensação passa. É impossível ficar longe dela por muito tempo, ainda mais agora que descobrimos