O carro deslizava suavemente pela rua enquanto Ellah dormia profundamente no banco de trás, segurando seu inseparável ursinho. Lukke dirigia tranquilamente, uma mão no volante e a outra segurando a minha, um gesto simples, mas que me transmitia uma sensação de segurança inexplicável. — Estava pensando em algo — Lukke começou, olhando para mim de soslaio. — Hum, lá vem. — Sorri, já esperando alguma provocação. — Como você virou fã da Iron Vortex? A pergunta me pegou de surpresa. Eu não esperava que ele tivesse essa curiosidade, mas algo em seu tom me incentivou a responder com sinceridade. — É uma história longa. Tem certeza de que quer ouvir? — Tenho todo o tempo do mundo, lua. Suspirei, olhando pela janela por um momento, enquanto a memória de uma época difícil voltava à tona. — Eu tinha acabado de fazer 12 anos, e a dor de perder a minha mãe era grande, parecia que eu nunca mais seria feliz. Lukke apertou levemente minha mão, em um gesto silencioso de apoio. — N
O som ensurdecedor da arena lotada fazia meu coração bater no mesmo ritmo que os gritos e aplausos ao nosso redor. Ellah, ao meu lado, estava radiante, pulando animada em seu pequeno vestido com o logo da Iron Vortex. Lukke e a banda haviam subido ao palco minutos antes, e eu não conseguia tirar os olhos dele. Ali estava o homem que mudou minha vida, com sua guitarra pendurada, dominando o palco com uma presença magnética. Ele olhava para a multidão com aquele sorriso que fazia todas as garotas gritarem ainda mais alto. — Tia Atena, olha! — Ellah puxou minha mão, apontando para o palco. — Papai está olhando pra gente! Olhei, e lá estava ele. Lukke sorria, me procurando na multidão. Quando nossos olhos se encontraram, ele piscou, me arrancando um sorriso inevitável. O show começou com um discurso que fez a arena inteira silenciar. — Boa noite, Rio de Janeiro! — A voz de Lukke ecoou com força, e a multidão explodiu em gritos. — Esse é um momento muito especial para mim e para
Um Ano DepoisO som suave do quarteto de cordas preenchia o ar, enquanto eu esperava atrás da porta dupla de madeira, segurando firme no braço do meu pai. Meu coração batia mais rápido do que nunca, mas não era nervosismo. Era a emoção de saber que, em poucos passos, eu estaria unindo minha vida à de Lukke, aquele que transformou tudo ao meu redor em algo mais leve, mais bonito. — Filha, você está linda — meu pai disse, sua voz carregada de emoção. — Obrigada, pai. — Apertei seu braço, tentando conter as lágrimas. Ele me olhou com os olhos marejados. — Só quero que ele cuide bem de você, Atena. Eu sorri. — Ele vai, pai. Lukke já faz isso todos os dias, mesmo sem perceber. As portas se abriram, e um mar de rostos familiares se virou para me ver entrar. Respirei fundo e dei o primeiro passo, sentindo o tapete macio sob meus pés e o olhar fixo de Lukke me esperando no altar. Ele estava deslumbrante em um terno impecável, mas ainda com aquele toque despreocupado que era tão dele
Dois Anos Depois A luz da manhã entrava suavemente pelas cortinas do quarto, e eu sentia o calor aconchegante do sol na pele. Dois anos haviam se passado desde aquele dia mágico em que Lukke e eu dissemos “sim” no altar. Desde então, nossa vida foi uma montanha-russa, cheia de altos e baixos, mas sempre regada de amor, parceria e, claro, muitos momentos de risos e lágrimas. O ano anterior foi especialmente difícil para nós. A perda de dona Heloísa devastou a todos, mas especialmente Lukke, que enfrentou um luto profundo pela mãe. Vê-lo desmoronar foi doloroso, mas, aos poucos, ele encontrou força em nós. Ellah, agora com quase nove anos, continua sendo aquela menina encantadora e cheia de personalidade. Mas, como toda criança que cresce, desenvolveu respostas afiadas para quase tudo. Às vezes, confesso que me vejo pensando em sumir por uns minutos para recuperar a paciência, mas logo a sensação passa. É impossível ficar longe dela por muito tempo, ainda mais agora que descobrimos
O som insistente do alarme me despertou às seis da manhã. Estiquei o braço preguiçosamente para desligá-lo, desejando que fosse sábado. Mas não era. Era terça-feira, e, como sempre, minha agenda estava lotada de compromissos. Trabalhar como diretora financeira de uma grande empresa de tecnologia exigia mais do que apenas habilidades com números; exigia tempo, energia e um foco inabalável.Enquanto tomava café, liguei para minha irmã para saber a que horas ela chegaria. Sentia muitas saudades dela e da minha sobrinha, que é a fofura em pessoa. Ela me atendeu no quinto toque.— Oi, meu raio de lua — disse minha irmã, dando um sorrisinho.— Oi, meu raio de sol. Que horas você vai chegar? — Perguntei, percebendo a demora na resposta. — Artemis?— Vou me atrasar um pouco. Ellah ainda está dormindo e não quero acordá-la agora.— Tudo bem, maninha. Até mais tarde. Se chegar antes de mim, pode entrar na minha casa, tudo bem?— Tudo bem. Vê se não trabalha muito, pois a mamãe sempre dizia que
Lukke RockAcordei com um peso familiar ao meu lado, mas foi o riso abafado que realmente me tirou do sono. Abri os olhos, piscando contra a luz fraca que entrava pelas cortinas do quarto do hotel. Ao meu lado, duas mulheres estavam aninhadas nos lençóis, seus rostos brilhando com sorrisos maliciosos.— Bom dia, meninas — murmurei, minha voz rouca de sono, mas carregada daquela confiança insolente que me acompanhava em todas as manhãs como essa.Elas riram, seus corpos se movendo sob os lençóis como cobras preguiçosas. Uma delas, a loira, traçou uma linha no meu peito com as unhas, enquanto a outra, morena de olhos penetrantes, sussurrava algo que não consegui entender, mas que fez meu sorriso se alargar.— Prontas para mais uma rodada? — perguntei, arqueando uma sobrancelha. Meu sorriso aumentou ainda mais quando ambas responderam com um entusiasmado “sim”.Antes que pudéssemos nos mover, porém, a porta do quarto foi aberta com um estrondo, e a figura severa de Stella, minha assessor
Atena GodoyNo dia seguinte, acordei com uma sensação de leveza que há tempos não sentia. O café estava na mesa quando Artemis entrou na cozinha com Ellah no colo, ambas ainda com cara de sono.— Bom dia, meu raio de lua! — Artemis beijou minha testa.— Bom dia, Artemis. — Sorri para ela. — Bom dia, Ellah!— Bom dia, titia. — Minha sobrinha sorriu.Enquanto tomávamos café, Artemis começou a falar sobre os planos para o dia.— Atena, por que não tira um dia de folga e sai com a gente? Eu sei que você tem trabalho, mas seria ótimo passarmos um tempo juntas, já que amanhã eu volto para casa.Suspirei, sabendo que ela estava certa, mas também consciente das minhas responsabilidades no trabalho.— Eu adoraria, Artemis, mas hoje não posso. Minha agenda está cheia. Vou tentar sair mais cedo para nos encontrarmos, tudo bem?— Tudo bem, então vou preparar uma coisinha para comermos mais tarde.— Ok. Tenho que ir, até mais tarde meninas. — Beijei a testa da minha sobrinha que riu.— Bom trabalh
Na manhã seguinte, acordei com o rosto inchado de tanto chorar. A dor da perda de Artemis ainda estava fresca, e meu primeiro pensamento foi para Ellah. Tomei um banho rápido, tentando limpar as marcas da noite, e fui diretamente ao hospital. Isaac estava me esperando na entrada.— Alguma novidade? — perguntei ansiosamente.— A noite foi estável. Eles ainda estão monitorando-a de perto, mas não houve piora.Assenti e segui diretamente para a UTI, determinada a ficar ao lado da minha sobrinha. A cada passo que dava, meu coração apertava mais, na esperança de que a situação estivesse melhorando.Enquanto estava na UTI, observando a respiração lenta e constante de Ellah, meu celular vibrou no bolso da calça. Olhei para o identificador de chamadas e vi o nome do meu pai. Meu coração apertou, e senti uma mistura de alívio e tristeza ao atender.— Pai… — minha voz saiu fraca, carregada de emoção.— Atena, minha filha… — ele começou, sua voz firme, mas cheia de preocupação. — Como você está?