Atena Godoy
No dia seguinte, acordei com uma sensação de leveza que há tempos não sentia. O café estava na mesa quando Artemis entrou na cozinha com Ellah no colo, ambas ainda com cara de sono.
— Bom dia, meu raio de lua! — Artemis beijou minha testa.
— Bom dia, Artemis. — Sorri para ela. — Bom dia, Ellah!
— Bom dia, titia. — Minha sobrinha sorriu.
Enquanto tomávamos café, Artemis começou a falar sobre os planos para o dia.
— Atena, por que não tira um dia de folga e sai com a gente? Eu sei que você tem trabalho, mas seria ótimo passarmos um tempo juntas, já que amanhã eu volto para casa.
Suspirei, sabendo que ela estava certa, mas também consciente das minhas responsabilidades no trabalho.
— Eu adoraria, Artemis, mas hoje não posso. Minha agenda está cheia. Vou tentar sair mais cedo para nos encontrarmos, tudo bem?
— Tudo bem, então vou preparar uma coisinha para comermos mais tarde.
— Ok. Tenho que ir, até mais tarde meninas. — Beijei a testa da minha sobrinha que riu.
— Bom trabalho e eu te amo, maninha. — Minha irmã respondeu e bati a porta.
Chegando à empresa, mergulhei no trabalho, revisando relatórios e participando de reuniões. O tempo passou voando, e antes que eu percebesse, já era noite.
Recebi uma mensagem de Artemis dizendo que elas estavam saindo para um passeio e outra mais tarde dizendo que me amava e desejando que eu não trabalhasse tanto. Respondi com um simples "Tá" e continuei trabalhando até que recebi uma ligação de um número desconhecido.
— Alô? — atendi, esperando que fosse algum cliente ou colega de trabalho.
— Senhora Atena Godoy, aqui é do hospital São Lucas. Sua irmã e sua sobrinha sofreram um acidente de carro. Precisamos que você compareça ao hospital o mais rápido possível.
Senti meu coração parar por um segundo.
— Elas estão bem? — perguntei, a voz trêmula.
— Não podemos fornecer detalhes por telefone, por favor, venha ao hospital.
Corri até a sala do meu amigo Isaac, batendo na porta com urgência.
— Isaac, minha irmã e minha sobrinha sofreram um acidente. Eu preciso ir ao hospital. Você pode me levar? Não estou em condição de dirigir.
Ele levantou-se imediatamente, pegando as chaves do carro.
— Vamos, Atena. Eu levo você.
O trajeto até o hospital parecia uma eternidade. Minhas mãos tremiam, e o medo de perder as duas pessoas mais importantes da minha vida me consumia. Quando chegamos, corri até a recepção e perguntei pela minha irmã, Artemis Godoy, e minha sobrinha, Ellah Grace Godoy.
O médico me olhou com pesar.
— Senhora Atena, por favor, me acompanhe.
O medo apertou ainda mais meu coração enquanto eu seguia o médico pelos corredores do hospital.
— Doutor, não me deixe em suspense. — Peço a ele que me leva até a sua sala e pede para que eu me sente.
— Senhorita Atena, sinto informar que devido às graves lesões, sua irmã não resistiu.
Imediatamente, as lágrimas vieram aos meus olhos, e comecei a chorar nervosamente. O doutor apenas me observava, esperando que eu me acalmasse. Entre soluços, perguntei pela minha sobrinha, e ele me disse que Ellah estava em coma e que não sabia se ela sobreviveria, e aquilo me deixou sem chão.
O mundo parecia desmoronar ao meu redor. Minha irmã, minha melhor amiga, minha confidente... como eu iria viver sem ela? As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto o médico continuava a falar, mas suas palavras se tornavam um borrão indistinto em meio ao meu desespero.
— Atena, por favor, me escute — disse o médico, gentilmente segurando meu ombro. — Precisamos de você aqui, para tomar decisões por Ellah. Sei que é um momento difícil, mas sua sobrinha precisa de você.
Lutei para controlar minhas emoções e me concentrar no que ele estava dizendo. Ellah estava em coma, e havia uma pequena chance de que ela não sobrevivesse. As próximas 24 horas seriam cruciais.
— Eu... eu quero ver minha sobrinha — consegui dizer, limpando as lágrimas do rosto.
O médico assentiu e me conduziu até a unidade de terapia intensiva. Lá, vi minha pequena Ellah, deitada em uma cama, com tubos e monitores conectados a seu pequeno corpo. Parecia tão frágil, tão diferente da menina cheia de vida que eu conhecia.
Aproximei-me da cama e segurei sua mãozinha, sentindo a pele quente sob meus dedos.
— Ellah, minha querida, por favor, lute. Preciso de você. Nós precisamos uma da outra agora mais do que nunca — sussurrei, tentando segurar as lágrimas.
Isaac, que tinha me acompanhado até o hospital, entrou na sala e colocou uma mão reconfortante no meu ombro.
— Atena, eu sinto muito. Artemis era uma pessoa incrível. Se precisar de qualquer coisa, estou aqui para você e para Ellah.
Agradeci com um aceno de cabeça, incapaz de encontrar palavras. O silêncio da UTI era opressivo, quebrado apenas pelo som constante dos monitores.
— Isaac, você pode ligar para o meu pai e contar o que aconteceu? Não tenho forças para fazer isso agora — pedi, a voz trêmula.
— Claro, eu faço isso. Vou ligar para ele agora mesmo.
Enquanto ele saía da sala, voltei minha atenção para Ellah. Sentei-me ao lado da cama e comecei a contar histórias sobre sua mãe, esperando que, de alguma forma, ela pudesse me ouvir e encontrar forças para lutar.
— Ellah, sua mãe sempre foi a pessoa mais corajosa que conheci. Ela sempre soube como me fazer sorrir, mesmo nos piores momentos. Lembra de quando fomos ao parque de diversões e você ficou com medo da montanha-russa? Artemis subiu com você e depois vocês riram tanto que mal conseguiam andar...
O tempo parecia parar enquanto eu ficava ao lado de Ellah, falando e esperando por algum sinal, qualquer sinal de que ela estava ouvindo.
— Atena, você precisa descansar um pouco. Eu sei que é difícil, mas você não pode se esgotar. Vamos, eu te levo para casa e voltamos amanhã cedo.
— Não posso deixá-la sozinha, Isaac. E se algo acontecer? — disse, segurando a mão de Ellah com mais força.
— A equipe médica está aqui, e eles vão cuidar bem dela. Você precisa estar forte para quando ela acordar — ele insistiu gentilmente.
Relutante, concordei. Dei um último beijo na testa de Ellah antes de sair da UTI, prometendo a mim mesma que voltaria assim que amanhecesse.
O caminho de volta para casa foi silencioso, e meus pensamentos estavam a mil. Artemis se foi, e Ellah estava lutando pela vida. Como eu conseguiria superar essa dor? E, mais importante, como eu poderia ser forte o suficiente para cuidar de Ellah se ela sobrevivesse?
Ao chegar em casa, encontrei tudo do mesmo jeito que deixamos. As lembranças do café da manhã de hoje vieram à tona, e mais lágrimas começaram a rolar. Isaac ficou um pouco mais, certificando-se de que eu estava bem antes de ir embora.
— Atena, quer que eu fique com você?
— Obrigada, mas não precisa, quero ficar sozinha.
Depois que ele saiu, sentei-me no sofá, tentando processar tudo o que havia acontecido. Peguei uma foto de Artemis e eu em um dia de verão, sorrindo como se o mundo fosse perfeito. Abracei a foto contra o peito e deixei que as lágrimas caíssem livremente.
— Eu te amo, Artemis. Prometo cuidar da Ellah por você — sussurrei, antes de adormecer, exausta, no sofá.
O telefone tocou às 3 da manhã, rasgando o silêncio da casa. Acordei com um sobressalto, o coração acelerado. A voz do médico do hospital soou grave e apressada.
— Senhora Atena, preciso informá-la de algo urgente sobre sua sobrinha. Você precisa voltar ao hospital imediatamente.
Meu sangue gelou. O que poderia ser tão urgente a ponto de me chamar de volta a essa hora? Sem perder tempo, peguei o casaco e corri para fora, uma sensação de pânico misturada com uma estranha expectativa tomando conta de mim. O que será que estava por vir?
Na manhã seguinte, acordei com o rosto inchado de tanto chorar. A dor da perda de Artemis ainda estava fresca, e meu primeiro pensamento foi para Ellah. Tomei um banho rápido, tentando limpar as marcas da noite, e fui diretamente ao hospital. Isaac estava me esperando na entrada.— Alguma novidade? — perguntei ansiosamente.— A noite foi estável. Eles ainda estão monitorando-a de perto, mas não houve piora.Assenti e segui diretamente para a UTI, determinada a ficar ao lado da minha sobrinha. A cada passo que dava, meu coração apertava mais, na esperança de que a situação estivesse melhorando.Enquanto estava na UTI, observando a respiração lenta e constante de Ellah, meu celular vibrou no bolso da calça. Olhei para o identificador de chamadas e vi o nome do meu pai. Meu coração apertou, e senti uma mistura de alívio e tristeza ao atender.— Pai… — minha voz saiu fraca, carregada de emoção.— Atena, minha filha… — ele começou, sua voz firme, mas cheia de preocupação. — Como você está?
— Joel? — minha voz saiu baixa e cautelosa. — O que você está fazendo aqui?Ele entrou no quarto com um passo decidido, ignorando o olhar apreensivo da enfermeira que estava ali para monitorar Ellah. A tensão no ar era palpável.— Atena, eu preciso saber… — Joel começou, sua voz rouca e carregada de emoção. — É verdade o que disseram? Artemis faleceu? E Ellah, como está?Fechei os olhos por um momento, tentando controlar a onda de frustração que surgia dentro de mim. Artemis não havia sido clara sobre o pai de Ellah, mas ela sempre deixou claro que não era Joel. Ele nunca aceitou o término do relacionamento com Artemis e sempre teve dificuldades em aceitar a realidade.— Infelizmente sim — digo, respirando fundo. — Minha sobrinha está lutando por sua vida.— Me conta a verdade! Ellah é minha filha, não é? Agora que Artemis não está mais aqui, você pode me contar.Chamei Joel para tomar um café no hospital e ele me seguiu. Fizemos os nossos pedidos e ele me encarou com expectativa.— J
O som insistente do alarme me despertou às seis da manhã. Estiquei o braço preguiçosamente para desligá-lo, desejando que fosse sábado. Mas não era. Era terça-feira, e, como sempre, minha agenda estava lotada de compromissos. Trabalhar como diretora financeira de uma grande empresa de tecnologia exigia mais do que apenas habilidades com números; exigia tempo, energia e um foco inabalável.Enquanto tomava café, liguei para minha irmã para saber a que horas ela chegaria. Sentia muitas saudades dela e da minha sobrinha, que é a fofura em pessoa. Ela me atendeu no quinto toque.— Oi, meu raio de lua — disse minha irmã, dando um sorrisinho.— Oi, meu raio de sol. Que horas você vai chegar? — Perguntei, percebendo a demora na resposta. — Artemis?— Vou me atrasar um pouco. Ellah ainda está dormindo e não quero acordá-la agora.— Tudo bem, maninha. Até mais tarde. Se chegar antes de mim, pode entrar na minha casa, tudo bem?— Tudo bem. Vê se não trabalha muito, pois a mamãe sempre dizia que
Lukke RockAcordei com um peso familiar ao meu lado, mas foi o riso abafado que realmente me tirou do sono. Abri os olhos, piscando contra a luz fraca que entrava pelas cortinas do quarto do hotel. Ao meu lado, duas mulheres estavam aninhadas nos lençóis, seus rostos brilhando com sorrisos maliciosos.— Bom dia, meninas — murmurei, minha voz rouca de sono, mas carregada daquela confiança insolente que me acompanhava em todas as manhãs como essa.Elas riram, seus corpos se movendo sob os lençóis como cobras preguiçosas. Uma delas, a loira, traçou uma linha no meu peito com as unhas, enquanto a outra, morena de olhos penetrantes, sussurrava algo que não consegui entender, mas que fez meu sorriso se alargar.— Prontas para mais uma rodada? — perguntei, arqueando uma sobrancelha. Meu sorriso aumentou ainda mais quando ambas responderam com um entusiasmado “sim”.Antes que pudéssemos nos mover, porém, a porta do quarto foi aberta com um estrondo, e a figura severa de Stella, minha assessor