Capítulo 03

Atena Godoy

No dia seguinte, acordei com uma sensação de leveza que há tempos não sentia. O café estava na mesa quando Artemis entrou na cozinha com Ellah no colo, ambas ainda com cara de sono.

— Bom dia, meu raio de lua! — Artemis beijou minha testa.

— Bom dia, Artemis. — Sorri para ela. — Bom dia, Ellah!

— Bom dia, titia. — Minha sobrinha sorriu.

Enquanto tomávamos café, Artemis começou a falar sobre os planos para o dia.

— Atena, por que não tira um dia de folga e sai com a gente? Eu sei que você tem trabalho, mas seria ótimo passarmos um tempo juntas, já que amanhã eu volto para casa.

Suspirei, sabendo que ela estava certa, mas também consciente das minhas responsabilidades no trabalho.

— Eu adoraria, Artemis, mas hoje não posso. Minha agenda está cheia. Vou tentar sair mais cedo para nos encontrarmos, tudo bem?

— Tudo bem, então vou preparar uma coisinha para comermos mais tarde.

— Ok. Tenho que ir, até mais tarde meninas. — Beijei a testa da minha sobrinha que riu.

— Bom trabalho e eu te amo, maninha. — Minha irmã respondeu e bati a porta.

Chegando à empresa, mergulhei no trabalho, revisando relatórios e participando de reuniões. O tempo passou voando, e antes que eu percebesse, já era noite.

Recebi uma mensagem de Artemis dizendo que elas estavam saindo para um passeio e outra mais tarde dizendo que me amava e desejando que eu não trabalhasse tanto. Respondi com um simples "Tá" e continuei trabalhando até que recebi uma ligação de um número desconhecido.

— Alô? — atendi, esperando que fosse algum cliente ou colega de trabalho.

— Senhora Atena Godoy, aqui é do hospital São Lucas. Sua irmã e sua sobrinha sofreram um acidente de carro. Precisamos que você compareça ao hospital o mais rápido possível.

Senti meu coração parar por um segundo.

— Elas estão bem? — perguntei, a voz trêmula.

— Não podemos fornecer detalhes por telefone, por favor, venha ao hospital.

Corri até a sala do meu amigo Isaac, batendo na porta com urgência.

— Isaac, minha irmã e minha sobrinha sofreram um acidente. Eu preciso ir ao hospital. Você pode me levar? Não estou em condição de dirigir.

Ele levantou-se imediatamente, pegando as chaves do carro.

— Vamos, Atena. Eu levo você.

O trajeto até o hospital parecia uma eternidade. Minhas mãos tremiam, e o medo de perder as duas pessoas mais importantes da minha vida me consumia. Quando chegamos, corri até a recepção e perguntei pela minha irmã, Artemis Godoy, e minha sobrinha, Ellah Grace Godoy.

O médico me olhou com pesar.

— Senhora Atena, por favor, me acompanhe.

O medo apertou ainda mais meu coração enquanto eu seguia o médico pelos corredores do hospital.

— Doutor, não me deixe em suspense. — Peço a ele que me leva até a sua sala e pede para que eu me sente.

— Senhorita Atena, sinto informar que devido às graves lesões, sua irmã não resistiu.

Imediatamente, as lágrimas vieram aos meus olhos, e comecei a chorar nervosamente. O doutor apenas me observava, esperando que eu me acalmasse. Entre soluços, perguntei pela minha sobrinha, e ele me disse que Ellah estava em coma e que não sabia se ela sobreviveria, e aquilo me deixou sem chão.

O mundo parecia desmoronar ao meu redor. Minha irmã, minha melhor amiga, minha confidente... como eu iria viver sem ela? As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto o médico continuava a falar, mas suas palavras se tornavam um borrão indistinto em meio ao meu desespero.

— Atena, por favor, me escute — disse o médico, gentilmente segurando meu ombro. — Precisamos de você aqui, para tomar decisões por Ellah. Sei que é um momento difícil, mas sua sobrinha precisa de você.

Lutei para controlar minhas emoções e me concentrar no que ele estava dizendo. Ellah estava em coma, e havia uma pequena chance de que ela não sobrevivesse. As próximas 24 horas seriam cruciais.

— Eu... eu quero ver minha sobrinha — consegui dizer, limpando as lágrimas do rosto.

O médico assentiu e me conduziu até a unidade de terapia intensiva. Lá, vi minha pequena Ellah, deitada em uma cama, com tubos e monitores conectados a seu pequeno corpo. Parecia tão frágil, tão diferente da menina cheia de vida que eu conhecia.

Aproximei-me da cama e segurei sua mãozinha, sentindo a pele quente sob meus dedos.

— Ellah, minha querida, por favor, lute. Preciso de você. Nós precisamos uma da outra agora mais do que nunca — sussurrei, tentando segurar as lágrimas.

Isaac, que tinha me acompanhado até o hospital, entrou na sala e colocou uma mão reconfortante no meu ombro.

— Atena, eu sinto muito. Artemis era uma pessoa incrível. Se precisar de qualquer coisa, estou aqui para você e para Ellah.

Agradeci com um aceno de cabeça, incapaz de encontrar palavras. O silêncio da UTI era opressivo, quebrado apenas pelo som constante dos monitores.

— Isaac, você pode ligar para o meu pai e contar o que aconteceu? Não tenho forças para fazer isso agora — pedi, a voz trêmula.

— Claro, eu faço isso. Vou ligar para ele agora mesmo.

Enquanto ele saía da sala, voltei minha atenção para Ellah. Sentei-me ao lado da cama e comecei a contar histórias sobre sua mãe, esperando que, de alguma forma, ela pudesse me ouvir e encontrar forças para lutar.

— Ellah, sua mãe sempre foi a pessoa mais corajosa que conheci. Ela sempre soube como me fazer sorrir, mesmo nos piores momentos. Lembra de quando fomos ao parque de diversões e você ficou com medo da montanha-russa? Artemis subiu com você e depois vocês riram tanto que mal conseguiam andar...

O tempo parecia parar enquanto eu ficava ao lado de Ellah, falando e esperando por algum sinal, qualquer sinal de que ela estava ouvindo.

— Atena, você precisa descansar um pouco. Eu sei que é difícil, mas você não pode se esgotar. Vamos, eu te levo para casa e voltamos amanhã cedo.

— Não posso deixá-la sozinha, Isaac. E se algo acontecer? — disse, segurando a mão de Ellah com mais força.

— A equipe médica está aqui, e eles vão cuidar bem dela. Você precisa estar forte para quando ela acordar — ele insistiu gentilmente.

Relutante, concordei. Dei um último beijo na testa de Ellah antes de sair da UTI, prometendo a mim mesma que voltaria assim que amanhecesse.

O caminho de volta para casa foi silencioso, e meus pensamentos estavam a mil. Artemis se foi, e Ellah estava lutando pela vida. Como eu conseguiria superar essa dor? E, mais importante, como eu poderia ser forte o suficiente para cuidar de Ellah se ela sobrevivesse?

Ao chegar em casa, encontrei tudo do mesmo jeito que deixamos. As lembranças do café da manhã de hoje vieram à tona, e mais lágrimas começaram a rolar. Isaac ficou um pouco mais, certificando-se de que eu estava bem antes de ir embora.

— Atena, quer que eu fique com você?

— Obrigada, mas não precisa, quero ficar sozinha.

Depois que ele saiu, sentei-me no sofá, tentando processar tudo o que havia acontecido. Peguei uma foto de Artemis e eu em um dia de verão, sorrindo como se o mundo fosse perfeito. Abracei a foto contra o peito e deixei que as lágrimas caíssem livremente.

— Eu te amo, Artemis. Prometo cuidar da Ellah por você — sussurrei, antes de adormecer, exausta, no sofá.

O telefone tocou às 3 da manhã, rasgando o silêncio da casa. Acordei com um sobressalto, o coração acelerado. A voz do médico do hospital soou grave e apressada.

— Senhora Atena, preciso informá-la de algo urgente sobre sua sobrinha. Você precisa voltar ao hospital imediatamente.

Meu sangue gelou. O que poderia ser tão urgente a ponto de me chamar de volta a essa hora? Sem perder tempo, peguei o casaco e corri para fora, uma sensação de pânico misturada com uma estranha expectativa tomando conta de mim. O que será que estava por vir?

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