Capítulo 04

Na manhã seguinte, acordei com o rosto inchado de tanto chorar. A dor da perda de Artemis ainda estava fresca, e meu primeiro pensamento foi para Ellah. Tomei um banho rápido, tentando limpar as marcas da noite, e fui diretamente ao hospital. Isaac estava me esperando na entrada.

— Alguma novidade? — perguntei ansiosamente.

— A noite foi estável. Eles ainda estão monitorando-a de perto, mas não houve piora.

Assenti e segui diretamente para a UTI, determinada a ficar ao lado da minha sobrinha. A cada passo que dava, meu coração apertava mais, na esperança de que a situação estivesse melhorando.

Enquanto estava na UTI, observando a respiração lenta e constante de Ellah, meu celular vibrou no bolso da calça. Olhei para o identificador de chamadas e vi o nome do meu pai. Meu coração apertou, e senti uma mistura de alívio e tristeza ao atender.

— Pai… — minha voz saiu fraca, carregada de emoção.

— Atena, minha filha… — ele começou, sua voz firme, mas cheia de preocupação. — Como você está? Como está a Ellah?

Dei uma última olhada em minha sobrinha, assegurando-me de que ela estava estável, antes de sair da UTI em direção à sala de espera. Assim que entrei, a porta se fechou atrás de mim, e senti o peso da situação me dominar. Desabei em uma das cadeiras, segurando o celular com força, tentando conter as lágrimas que já estavam se formando.

— Eu… eu estou tentando ser forte, pai, mas é tão difícil… — Finalmente, as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e minha voz quebrou. — Ellah… Artemis… Eu não sei o que fazer…

— Atena, ouça-me — a voz do meu pai era calma, mas carregada de uma autoridade reconfortante. — Eu sei que tudo isso é devastador, mas você não está sozinha. Estou pegando o primeiro voo e estarei aí no final da tarde. Vou cuidar de tudo, mas, por favor, agora, preciso que você se concentre em Ellah. Ela precisa de você, Atena.

— Eu sei, pai… — disse, soluçando. — Eu só queria que isso fosse um pesadelo, que eu pudesse acordar e tudo estivesse bem…

— Eu sei, minha querida, eu sei… — ele suspirou do outro lado da linha. — Mas precisamos ser fortes agora, por Artemis e por Ellah. Vamos passar por isso juntos, como sempre fizemos. Confio em você.

Suas palavras foram como um bálsamo para minha alma ferida. Por mais que eu estivesse perdida em meio à dor, ouvir meu pai me reassegurar me deu um senso renovado de propósito.

— Obrigada, pai… — murmurei. — Eu não sei o que faria sem você.

— Você nunca vai precisar descobrir, Atena. Estou sempre aqui. Agora, respire fundo, se acalme, e volte para a UTI. Ellah precisa de você. Eu te amo, minha filha.

— Eu também te amo, pai… — disse, tentando controlar o choro. Desliguei o celular e permaneci ali, na sala de espera, por alguns minutos, absorvendo a conversa. Meu pai estava certo. Ellah precisava de mim mais do que nunca, e eu não podia deixá-la sozinha nessa.

Limpei as lágrimas, respirei fundo e, com uma nova determinação, voltei para a UTI. Assim que entrei no quarto de Ellah, notei algo diferente. Seus pequenos dedos se mexeram, e em seguida, seus olhos se abriram lentamente. Um alívio profundo tomou conta de mim, seguido de uma onda avassaladora de felicidade.

— Ellah! — Minha voz tremia enquanto corria para o lado dela. — Querida, você está acordando!

Ela piscou os olhos, ainda grogue, mas estava consciente. As lágrimas de alegria escorriam pelo meu rosto enquanto eu pressionava o botão de chamada para chamar a enfermeira.

— Enfermeira! — gritei, minha voz carregada de emoção. — Ela acordou! Ellah acordou!

A enfermeira entrou rapidamente no quarto, com um sorriso acolhedor. Ela examinou Ellah, enquanto eu segurava a pequena mão de minha sobrinha, sentindo um misto de alívio e esperança. A dor da perda de Artemis ainda era intensa, mas naquele momento, tudo o que importava era que Ellah estava aqui, comigo, e começava a se recuperar.

Era apenas o começo, mas ver aqueles olhos me olhando novamente trouxe uma nova chama ao meu coração. Estava determinada a cuidar de Ellah com todas as minhas forças, exatamente como Artemis teria desejado.

Os médicos pediram para que eu me retirasse enquanto eles a examinavam. Fiquei encostada na porta esperando que eles me dessem algum parecer sobre o estado de minha sobrinha. Gael me ligou para saber como estava o estado de Ellah e eu expliquei a ele que ela acordou e que agora estava esperando o parecer médico.

— Quer que eu vá até aí para ficar com você? — Ele perguntou preocupado.

— Não precisa se preocupar, Gael, mas obrigado.

— Mandei mensagem para Isaac e nós estamos indo para o hospital e isso não é discutível. — Gael às vezes é taxativo e eu pude apenas assenti.

O médico me chamou e explicou sobre o estado de minha sobrinha. Pude respirar aliviada quando ele disse que ela iria ficar bem, apesar da contusão na cabeça.

Como prometido, meus amigos chegaram e vieram me abraçar. Gael me avisou que Luane me mandou um abraço e disse que ela me ligaria mais tarde. Luane é sua esposa, e, embora no início houvesse algum atrito entre nós, hoje em dia somos próximas, e sua solidariedade significava muito para mim.

— Artemis era uma boa pessoa, tenho certeza de que ela está em um bom lugar — Isaac disse, e eu agradeci.

— Sim, minha irmã era iluminada e merece estar em um bom lugar. — As lágrimas voltaram aos meus olhos e me senti culpada por ter me dedicado tanto ao trabalho e não ter passado mais tempo com a minha irmã.

Meus amigos me levaram para comer, e eu perguntei a Isaac se ele não voltaria para a empresa. Ele negou com a mesma firmeza com que sempre foi meu amigo.

— Isaac, a empresa não pode ficar sem nós dois. Eu estou bem de verdade, pode ir.

— Atena, a empresa não está sozinha, temos pessoas capacitadas para isso, então não se preocupe. Não vou arredar o meu pé daqui. 

Após a refeição, voltamos para o quarto de Ellah, que estava dormindo. A sensação de vê-la acordar e agora descansando era reconfortante, mas a ausência de Artemis ainda era um peso doloroso. 

— Ellah já perguntou pela mãe? — Gael perguntou.

— Não, isso é o que me preocupa. — Olhei para a pulseira da amizade que compartilhava com a minha irmã. 

A sensação de culpa e tristeza ainda era esmagadora. Eu me perguntava como seria a vida sem Artemis e como conseguiria enfrentar os desafios que viriam. No entanto, havia uma nova responsabilidade em meus ombros, e eu precisava ser forte não apenas por mim, mas por Ellah.

De repente, o som de passos apressados ecoou pelos corredores do hospital, e a porta da UTI se abriu com um estrondo. Um grupo de pessoas entrou, e entre elas estava alguém que eu não esperava ver tão cedo — um rosto familiar, que trouxe uma nova onda de emoções à tona.

— Atena! — A voz era grave e cheia de urgência. — O que está acontecendo aqui?

Olhei para a figura que se aproximava, a confusão e o medo misturando-se em meu peito. O que essa pessoa queria?

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