Capítulo 06

Me ajoelhei ao lado de Ellah, envolvendo-a em meus braços. Senti seu corpo pequeno e frágil se aninhar contra o meu, como se estivesse buscando conforto no único lugar onde poderia encontrar alguma segurança.

— Ellah… — comecei, minha voz trêmula, tentando manter a calma por ela. — Sua mãe era uma luz, uma estrela brilhante que iluminava a vida de todos ao seu redor. Às vezes, as estrelas têm que voltar para o céu, para brilharem lá em cima, nos protegendo de um lugar melhor.

Ela me olhou com aqueles olhos grandes, cheios de lágrimas, mas não disse nada. Eu sabia que minhas palavras não eram suficientes, que nenhum consolo poderia preencher o vazio que Artemis havia deixado. Mas era tudo o que eu podia oferecer.

Naquele momento, senti uma mão forte e calejada em meu ombro. Virei-me e vi meu pai, Seu Apolônio, com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Ele estava devastado, mais do que eu jamais o tinha visto. Artemis e eu éramos o orgulho do nosso pai, mesmo com nossas diferenças, ele sempre dizia que as nossas diferenças nos faziam uma. Como vou viver sem a minha metade? 

— Minha menina… — ele disse, a voz quase inaudível. — Você lembra… quando sua mãe morreu?

Assenti, sentindo um nó na garganta. Claro que lembrava. Era uma dor que eu carregava comigo todos os dias, uma cicatriz que nunca se fechou completamente, Artemis e eu tínhamos doze anos quando nossa mão se foi. 

— Lembro, pai. — respondi, minha voz quase um sussurro.

— Você foi tão forte naquela época, Atena… — continuou ele, os olhos perdidos no passado. — Você cuidou da Artemis, deu forças a ela quando eu não consegui… E agora… agora é a mesma coisa. Ellah precisa de você, minha filha. Precisa da sua força, como Artemis precisou daquela vez.

As palavras dele me atingiram em cheio, trazendo de volta todas as memórias daquele tempo sombrio. Lembrei-me de como tinha segurado as mãos de Artemis, como prometi a ela que tudo ficaria bem, mesmo que eu não tivesse acreditado nisso. E agora, a história se repetia, só que desta vez, eu era quem precisava encontrar a força para continuar.

Depois do velório, que foi dolorosamente longo e cheio de lágrimas, o corpo de Artemis foi levado para o crematório. Permaneci em silêncio durante todo o processo, apenas observando enquanto o caixão desaparecia de vista. Era difícil acreditar que aquele era o fim. Que aquele era o último adeus.

Quando as cinzas de Artemis foram entregues a mim,  senti um misto de emoções. Tristeza, desespero, mas também um estranho sentimento de paz. Sabia que ela queria que suas cinzas fossem espalhadas em seu lugar favorito, um parque onde costumávamos brincar quando éramos crianças, um lugar onde ela sempre se sentia em paz. Prometi a mim mesma que faria isso por ela, que daria a ela o descanso que merecia.

Meu pai, Ellah e eu voltamos para casa logo após a cremação. O caminho foi silencioso, apenas os sons abafados de choro e soluços enchendo o carro. Ellah estava agarrada a mim, seu pequeno corpo tremendo enquanto ela derramava mais lágrimas. Olhei para ela e para meu pai, e uma onda de determinação tomou conta de mim. Precisava ser forte, como tinha prometido. Para Ellah. Para meu pai. E para Artemis.

Quando chegamos em casa, meu pai estacionou o carro na garagem, mas ninguém se moveu. Ficamos sentados lá por alguns minutos, apenas tentando reunir forças para sair. Finalmente, meu pai desligou o motor e soltou um suspiro pesado.

— Vamos entrar, meninas… — ele disse, sua voz cheia de cansaço.

Entramos em minha casa, e mesmo vendo tudo como deixei, ainda sentia a presença dela como se a qualquer momento ela descesse as escadas reclamando das cores da minha casa dizendo que ela não tinha vida. 

Levei Ellah para o quarto que estava dividindo com a mãe, ela olhou para cama e começou a chorar. Acariciei seu cabelo suavemente, tentando acalmá-la.

— Vai ficar tudo bem, meu amor. — sussurrei, mas sabia que eram apenas palavras vazias. No fundo, eu também não acreditava nelas. — A mamãe está em um lugar melhor agora. Um lugar sem dor, sem tristeza.

Ellah não respondeu, apenas deitou, se virou de lado e fechou os olhos, as lágrimas ainda escorrendo pelo rosto. Saí do quarto em silêncio, sentindo-me completamente impotente.

Encontrei meu pai na sala, sentado com o olhar fixo em uma foto de família que eu tinha na parede.

— A sua casa é muito linda, Atena, mas as cores são meio…

— Frias? — Perguntei a ele que balançou a cabeça concordando.

— Eu sei Artemis me disse isso quando chegou, ela me perguntou onde estava a minha alegria e que a minha casa refletia a minha personalidade, fria e séria. — Sorri lembrando das palavras da minha irmã e então me lembrei que estava trabalhando demais e não pude sair com minha irmã.

Voltei a chorar e meu pai me abraçou, ele sentou no sofá e me fez pôr a cabeça em seu colo.

— Filha, eu sempre fui um homem focado no trabalho e você se tornou como eu, diferente de sua irmã que era como a mãe de vocês, irradiava como o sol.

— Eu sei, pai… Eu sei… Nós somos como a lua enquanto elas eram o sol, sempre quente e radiante.

— A vida é tão frágil, minha menina… — murmurou ele, apertando-me um pouco mais forte. — Perder Artemis… é como perder sua mãe de novo. Eu não sei se posso suportar isso mais uma vez.

As palavras dele me atingiram com força, mas eu sabia que precisava ser forte, mesmo que por fora. Por ele. Por Ellah. E, de algum jeito, por Artemis.

— Nós vamos conseguir, pai. — respondi, minha voz firme. — Vamos passar por isso juntos, como sempre fizemos.

Ele assentiu, mas eu sabia que ele também estava lutando contra a mesma dor esmagadora que eu. Ficamos ali, apenas aproveitando o consolo silencioso de estarmos juntos

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