Lukke Rock Me encontrava no meu apartamento em São Paulo, relaxando depois de um longo dia. Ao meu lado, uma modelo aspirante, nem me lembrava o nome dela, mas parecia interessada em uma conversa fútil sobre sua ascensão meteórica no mundo da moda. Claro, eu tinha ouvido essa história antes. Só que minha atenção já estava mais na próxima bebida do que na presença dela. Antes que a noite tomasse qualquer direção, a campainha do meu apartamento tocou, interrompendo nossa "agradável" conversa. Quem seria a essa hora?— Lukke, vai atender ou não? — perguntou a modelo, ajeitando o decote com um sorriso esperto.Revirei os olhos e levantei. Ao abrir a porta, lá estava ela: Stella. Ela sempre sabia quando aparecer. — Ah, Stella! — falei com um sorriso presunçoso. — Não sabia que você viria aqui. — Desde quando tenho que te avisar, Lukke? — Ela entrou sem ser convidada, como sempre fazia, ignorando a minha provocação. — Vim para garantir que você esteja pronto para a entrevista de amanhã.
Atena GodoyA luz do sol atravessava a janela da cozinha, trazendo um brilho suave à mesa, onde eu estava sentada com uma xícara de café quente nas mãos. Alguns dias haviam se passado desde o velório de Artemis, minha irmã mais nova, e a dor ainda parecia presente em cada canto da casa. A ausência dela era quase insuportável. O silêncio, que antes eu considerava reconfortante, agora era um lembrete constante de que ela não voltaria mais. Meu pai estava comigo, como sempre, tentando fazer com que eu não me perdesse nesse luto devastador.Ele se aproximou, puxando uma cadeira à mesa, e me encarou de forma cuidadosa, como se escolhesse as palavras antes de falar.— Está pronta para isso, Atena? — ele perguntou com sua voz grave, sempre tão segura, mesmo nos momentos mais difíceis.Sabia exatamente a que ele se referia. O trabalho, as responsabilidades que eu tinha colocado em pausa para lidar com a morte da minha irmã. Todos esperavam que eu retornasse logo. Minha vida profissional não p
Assim que coloquei o pé no saguão da empresa, senti o peso de estar de volta. Os rostos conhecidos me cumprimentavam com olhares discretos, sussurros de "meus pêsames" ecoando entre os corredores. Todos sabiam o que tinha acontecido, e mesmo que não fosse algo falado em voz alta, a tragédia ainda pairava no ar como uma nuvem densa.Passei pelos funcionários com a cabeça erguida, forçando um sorriso de quem estava pronta para retomar o controle. Mas a verdade era que eu estava longe de estar pronta. Cada passo em direção à minha sala era uma lembrança da minha nova realidade, sem minha irmã para compartilhar as vitórias e derrotas diárias. Ainda assim, aqui estava eu, fingindo que tudo estava bem. Talvez, se eu fingisse o suficiente, acabaria acreditando.Quando me aproximei do meu escritório, Isaac, apareceu à minha frente, o rosto carregado de preocupação. Ele parecia me observar com aquele jeito protetor de sempre, cruzando os braços diante do peito como se estivesse pronto para me
Eu estava no meu quarto, organizando as últimas peças de roupa na mala, quando ouvi uma batida suave na porta. Meu pai entrou devagar, com o semblante carregado de preocupação, como se estivesse ponderando cada palavra que diria.— Atena, você já decidiu como vai fazer essa viagem? — ele perguntou, sem rodeios, com os braços cruzados e a expressão séria. — Pensei que já tínhamos conversado sobre isso. O mais seguro seria você ir de avião.Suspirei, sabendo que ele não aprovaria a minha escolha, mas decidida a não mudar de ideia.— Pai, eu já te disse, vou de carro. — Respondi, tentando manter a calma, embora soubesse que isso só o deixaria mais preocupado. — Quero fazer o mesmo trajeto que Artemis fez... o último trajeto dela.Meu pai respirou fundo, balançando a cabeça com uma mistura de frustração e tristeza. Era difícil para ele entender o motivo que me levava a querer reviver essa jornada. Também não sabia exatamente por que, mas algo dentro de mim sentia que era o certo a fazer.
Depois de horas na estrada, fizemos algumas paradas rápidas para descansar e esticar as pernas. Toda vez que saíamos do carro, algumas pessoas me olhavam com curiosidade e, inevitavelmente, alguém se aproximava para me perguntar algo que me desconcertava profundamente:— Artemis? Você voltou?Não sabia como reagir de imediato. Mesmo após tudo, as pessoas ainda me confundiam com minha irmã. Por mais que fosse doloroso, eu entendia o motivo. Nossos traços eram quase idênticos, e Artemis tinha um espírito tão vibrante que parecia impossível acreditar que ela realmente se fora.Isaac, ao meu lado, sempre me observava com cautela nessas situações, pronto para intervir se necessário. Mas ele sabia que eu precisava enfrentar esses momentos. Que precisava lidar com o fantasma da minha irmã de maneira própria.— Não, sou a irmã dela, Atena. — Respondia com um sorriso educado, por mais que a dor estivesse sempre ali, em cada confusão.Agora, finalmente, estávamos ali, na casa onde Artemis viveu
Ainda estava sentada na beira da cama, o caderno de Artemis ao meu lado e a carta apertada nas minhas mãos trêmulas. Meu coração não desacelerava desde que li aquelas palavras. "Lukke Rock." O nome ecoava na minha mente como um trovão distante, me atordoando. Eu tentava processar a ideia, mas era quase impossível. O pai de Ellah era um homem que praticamente o mundo inteiro conhecia. Como Artemis pôde esconder isso de mim? E, acima de tudo, quando ela ficou com ele?Estava completamente perdida nesses pensamentos quando ouvi passos lentos subindo as escadas. Isaac. Ele esteve comigo o tempo todo, me apoiando desde que Artemis se foi, e agora, mais do que nunca, eu precisava dele. Mas o que eu diria? Como explicar essa reviravolta sem parecer que eu mesma estava sonhando?A porta do quarto rangeu ao ser aberta, e Isaac entrou em silêncio, me observando de longe por alguns instantes. Ele era tão bom em ler meus sentimentos, talvez até melhor do que eu mesma. Seu olhar cauteloso percorre
Isaac e eu passamos a maior parte do dia limpando a antiga casa de Artemis. Foi doloroso, mais do que eu podia imaginar. Cada objeto que encontrávamos carregava uma lembrança, uma risada ou até mesmo uma discussão boba que já tínhamos esquecido. No final, decidimos distribuir os móveis e as coisas que Artemis não levaria consigo entre os vizinhos. Eles a adoravam. Sabiam que ela estava sempre disposta a ajudar, e, quando contamos sobre seu falecimento, vi lágrimas brotarem em seus olhos. Era como se cada um deles tivesse perdido uma parte de si também.— Ela era boa demais para este mundo — disse uma das vizinhas, enxugando as lágrimas com o dorso da mão.— Sim, era — concordei, sentindo meu coração apertar.Os vizinhos, um a um, nos ofereceram condolências. Era claro o quanto Artemis havia tocado suas vidas. Eu sempre soube que ela era especial, mas ver o impacto que teve em tantas pessoas era ao mesmo tempo bonito e devastador. Depois de horas, finalmente guardamos tudo o que sobrou
Isaac parou o carro à beira da estrada, do nada, e virou-se para mim com um sorriso presunçoso.— Sua vez, Atena. — Ele entregou as chaves sem esperar por uma resposta.— Sério? Você quer que eu dirija agora? — perguntei, surpresa. Não que eu me importasse, mas Isaac geralmente não largava o volante por nada.— Claro. Acha que só eu vou me divertir? Além disso, você está tensa. Dirigir vai te distrair um pouco. — Ele deu de ombros, me provocando com aquele sorriso que dizia: "você sabe que eu estou certo."Revirei os olhos, mas peguei as chaves. Era melhor do que ficar discutindo, e talvez ele estivesse certo. Assim que me acomodei no banco do motorista e ajustei os espelhos, o carro ganhou vida sob minhas mãos. Senti o vento entrando pelas janelas, trazendo uma brisa refrescante, e o rádio voltou a tocar uma música qualquer. Mas não era isso que ocupava minha mente.Enquanto dirigia pela estrada vazia, meus pensamentos começaram a flutuar, e algo inesperado aconteceu. Olhei para o m