Amber Brown Sinto meu mundo em desacordo com a realidade que criei para nós duas, tudo desabando aos poucos, frágil como um castelo de cartas. Eu sabia que aconteceria, sempre soube na verdade, em algum momento tudo deixaria de ser o que é, de um jeito ou de outro. Se ele não descobrisse, em algum momento Clara acabaria contando. Ela não perdia a chance de me pedir para voltar, Clara estava com medo das consequências, ou arrependida, eu não saberia dizer, mas eu sabia que ela desejava que eu voltasse atrás. O lado racional do meu cérebro entendia com clareza tudo que foi dito por Dylan, e entendia também os direitos que ele tinha, além da compreensão, eu tinha plena consciência de que jamais conseguiria brigar contra ele em um tribunal, não com os recursos financeiros que ele tem hoje, então, seria no mínimo estupidez não entrar em um acordo com ele, ainda mais com ele tão disposto a chegarmos em um consenso. Anos atrás, quando namoramos, Dylan havia falado uma ou duas vezes do seu
Amber BrownDesço as escadas reflexiva e a visão que eu tenho me deixa desnorteada. Dylan interage de forma tão orgânica com Mia, como se ele sempre tivesse feito parte da vida dela. As gargalhadas empolgadas de Mia me fazem sentir ainda pior por estar tirando isso dela. Fecho os olhos tentando manter minhas emoções no lugar, agora não é o momento para desabar.— Bom dia! — Atraio a atenção dos dois. — Mamãe! Tio Dylan fez panquecas para nós! — Mia anuncia animada. Eu sorrio para ela e me sento no lugar posto para mim. Fico em silêncio enquanto eles continuam interagindo, meu coração se aperta mais, o que eu posso fazer, não dá para mudar a verdade. Olho para Dylan que atraído pelo meu olhar me fita curioso.— Parece que precisamos começar o jogo! —Falo sentindo uma tristeza estranha dentro de mim, uma antecipação que faz minha garganta apertar. Dylan franzi a testa em confusão.— Que jogo mamãe? — Minha filha pergunta curiosa. O amor da minha vida, o presente mais precioso que eu re
Dylan Cooper— ACHEI! — O grito repentino nos tira dessa bolha estranha que se ergueu rápido demais, de um jeito estranho e inesperado. — Lê para mim tio Dylan — Mia pede, trazendo o papel até mim.— Claro, querida! — Falo, sorrindo para ela, que vai até a moldura estrategicamente colocada na porta a uma altura que ela consiga manipular. Mia coloca a primeira peça que foi feita com imã para se grudar com facilidade. São apenas cinco pistas, um quebra-cabeças bem simples, de modo que não haja dificuldades que ela monte sozinha.A primeira peça é colocada no canto inferior direito sem dificuldades, o que me faz pensar que não é a primeira vez que ela monta um puzzle. — Lê, tio, lê logo — Mia pede quando termina de colocar a primeira peça.— Desculpa — peço e abro o papelzinho azul — "O que enche minha barriguinha e me deixa muito felizinha, é o que me fará encontrar a segunda pecinha!" — Olho para Mia que está com as mãozinhas em punho abaixo do queixo, aguardando de forma ansiosa, não
Amber Brown Meu coração ficava cada vez mais angustiado a cada passo que eu subia das escadas com minha filha aninhada em meus braços. O choro contido, de quem espera estar sozinha para poder se soltar partia o meu coração. Ela estava com vergonha de chorar na frente dele. A dúvida se tornou certeza quando abri a porta do quarto dela e as lágrimas escorreram soltas, aliviadas por poderem sair sem plateia. — O que aconteceu meu amor? Por que você está triste? — Os olhinhos vermelhos me encaram com a sua dor tão expressiva que me atingiram como um raio, senti que choraria a qualquer momento ali. Ela nunca tinha ficado assim. Eu, não sabia o que fazer. — Ma... ma... ma... — Os soluços impediram que ela falasse, e conforme seu choro aumentava a minha resistência foi por água abaixo. Peguei Mia nos braços e me sentei no chão mesmo com ela agarrada a mim, lhe dando o tempo que fosse necessário para o seu coraçãozinho se acalmar. Enquanto ela chorava, não consegui suportar mais e logo as m
Amber Brown — Vou deixar vocês duas descansarem, qualquer coisa que precisar, basta me ligar que eu venho — Dylan fala já na porta do apartamento que comprou para mim e para Mia. Chegamos hoje mais cedo, a viagem além de cansativa, finaliza uma semana cansativa, que contou o empacotamento das nossas coisas na Pensilvânia e com toda a organização no apartamento novo das roupas de Mia, das minhas, além da adaptação dela ao ambiente novo. Vivíamos em uma casa, e não em um apartamento, e apesar de esse ser um apartamento de luxo, que contém inclusive um jardim bem elaborado na varanda extensa, ainda assim, não é o mesmo que uma casa com a vista para a natureza como era a nossa casa na Pensilvânia. Eu havia me adaptado aquele lugar, e havia aprendido a dar valor a simplicidade com o qual aquele lugar me acolhia, a casa com gramado, árvores ao nosso redor, o som dos pássaros pela manhã, a brisa fresca no verão. Não vendemos a casa, apenas a mantivemos trancada para que possamos voltar em
Amber Brown Meu coração estava acelerado, eu havia pedido a Dylan para ficar um dia com Mia, para que eu pudesse ir até a prisão fazer uma visita ao meu pai. Chegando lá, fiz todo o procedimento de segurança para poder vê-lo, me sentei na cadeira e aguardei o momento. Eu sentia uma antecipação imensa tomar conta do meu corpo, uma ansiedade misturada com angústia enquanto aguardava. Não demorou muito, logo a porta se abre e o vejo passar por ela, a aparência abatida e desanimada era gritante eu seu rosto, mas assim que nossos olhos se encontraram, eles brilharam. Meu pai correu até mim e me abraçou com tanta força, que me assustou, ele nunca tinha me abraçado assim. Logo ele começou a chorar e soluçar alto como uma criança desesperada. Foi difícil compreender essa reação, e isso me deixou paralisada por um tempo, até que ele segura meu rosto e olha dentro dos meus olhos, me dando um sorriso que há muitos anos eu não via. — Minha filha. Oh meu Deus, minha filha finalmente veio me ver
Amber Brown — Tem certeza, mamãe? — Mia pergunta pela trigésima vez. — Sim, filha. Esse é um momento seu com o seu pai, e você sabe bem que a mamãe precisa resolver algumas coisas hoje. — Explico novamente. Mia sempre insiste para que eu saia junto dela nos inúmeros passeios que Dylan faz com ela semanalmente. Faz dois meses que voltamos para Nova York, e duas semanas que visitei meu pai. Eu me fechei completamente depois que retornei da cadeia, eu queria visitar Sophie, queria ouvir dela também, queria pedir perdão, queria brigar com ela, queria poder apagar tudo isso. Mas a verdade era que eu ainda era uma grande covarde. Eu não tive forças para enfrentar tudo assim de frente, era como se o fato de eu adiar o inevitável tornava toda a desgraça apenas uma história. Vê-la. Aceitar o que ela é, e o que ela viveu por ter engravidado de mim faria tudo tão dolorosamente real, que a única coisa que eu conseguia fazer era postergar pelo máximo de tempo possível. Mia abaixa os olhinhos
Amber Brown — A vida estava difícil, as dívidas eram enormes, o tratamento hospitalar era caríssimo, apesar de beber muito, papai conseguia mesmo que de forma capenga, pagar os tratamentos. Quando ele morreu, eu precisei encontrar uma solução, não podia deixar minha irmã morrer. Em busca de um salário para nos sustentar, consegui a vaga como doméstica na casa de Andrew. O salário era bom, oferecia um quarto, que na negociação da vaga eu poderia dividir com minha irmã, além disso, eles ainda ofereciam um seguro de saúde, que eu abri mão e pedi para darem a minha irmã. Eles aceitaram, e com um contrato assinado, estava feito, eu conseguiria ao menos cuidar dela. — Minha irmã ia todos os dias ao hospital, e eu sentia que tinha conseguido agradar o chefe, ele parecia sempre desejar a minha presença, era uma loucura isso — Sophie colocou a mão na testa, parecendo frustrada — ele era casado, mas eu via a relação deles, eles brigavam tanto, dormiam inúmeras vezes em quartos separados, era