ANGELIC...- Estamos fazendo o possível, senhor. Assim que tiver mais notícias, entrarei em contato - ouço a voz do detetive Pierce soar no primeiro andar.Desço os degraus receosamente. Desde que vi o corpo de Antony ontem, pendurado em seu próprio teto, não consegui pensar em outra coisa. Eu sonhei com seu sangue manchando o carpete. Fiz uma denúncia anônima para relatar o acontecido, e já esperava que o detetive viesse nos visitar.- Bom dia - saúdo. Paro no meio da escada.Três pares de olhos de voltam para mim. Elliot Donneli, vestindo roupas casuais porque acabou de voltar do hospital, Margot, ainda usando seu robe de cetim - o que indica que ela não estava preparada para a visita - e o detetive Pierce.- Antony está morto - Margot anuncia, sem o menor indício de tristeza em sua fala - Foi encontrado pendurado no teto da própria casa.Tomo uma longa respiração. Encaro o detetive, esperando que ele tenha algo a dizer, porém ele apenas balança a cabeça, confirmando.- Eu gostaria
- Não mesmo. Eu não sou uma propriedade - retiro sua mão da minha coxa e a coloco em sua própria perna.- Não foi uma pergunta - afirma.Eu o encaro pela primeira vez. Estou irritada com sua territorialidade. Em que momento nosso jogo se tornou uma conquista sobre o outro? Ele pensou que, ao me beijar, estaria me passando para seu próprio nome? Nem mesmo Elliot seria tão babaca!Me preparo para lhe dizer isso, mas então o coral termina de cantar. A igreja fica em absoluto silêncio enquanto as crianças devolvem os microfones e o Padre Bee se levanta. Engulo minhas palavras, e meu orgulho, como se fossem espinhos.Os olhos verdes de LeBlanc estão fixos nos meus, me desafiando a dizer o que quero.- Filhos - o padre murmura - Façamos a oração final. Todos de pé.Toda a igreja se levanta, inclusive eu e o homem ao meu lado.- Eu vou me preparar para me confessar - aviso.Me preparo para sair pela direita, para não ter que passar entre LeBlanc e o banco da frente. No entanto, paro ao ouvir
ANGELIC...Jogo o copo cheio de café na lixeira mais próxima enquanto caminho pelo corredor da faculdade. Definitivamente, o pior café que já comprei.É engraçado voltar para minha vida normal e perceber que nada está realmente normal. No verão passado, eu caminhava por este mesmo corredor, mas era uma pessoa diferente. Tudo era diferente, e agora... e agora LeBlanc existe.Eu não gosto dele, no entanto, gosto da pessoa que sou com ele.Meu celular vibra, e eu o pesco na bolsa. Quando vejo que é uma ligação de Margot, sinto uma enorme vontade de reusar a chamada. Mas, levando em consideração a doença de Elliot, a fama da família na mídia e o detetive no nosso encalço, decido atender.- Margot?- Você leu as notícias esta manhã? - ela ralha, sem ao menos me cumprimentar.Ouço ruídos ao fundo, e isso me faz lembrar que faltam apenas alguns dias para o aniversário de Elliot. Não seria Margot Donneli se não fizesse uma festa de arromba.- Ainda não. O que houve? - pergunto.Saio do prédio
LEBLANC...Quando chegamos à mansão Donneli, é como se toda energia vital de Angelic fosse drenada. Ela desce do carro quando abro a porta, entra na casa e olha ao redor. E, neste momento, não passa de uma garota assustada, incerta sobre o futuro. Angelic caminha na minha frente, e enquanto eu planejo ir até o escritório de Elliot, ela começa a subir os degraus da escada.- Você sabe que meu pai não tem salvação, não é? - Angelic diz, de repente, ainda de costas para mim.Salvação...Não. Ele não tem salvação. Mas ela ainda está aqui, não está? Vivendo dia após dia como se o sobrenome de sua família valesse mais do que sua própria vida.- Eu não estou aqui por ele - respondo.Angelic olha para mim por cima do ombro, e quando ela faz isso, quase posso ver mais do que o exterior. Eu não acredito nessa merda de alma, no entanto... se alguém tem uma, essa pessoa é Angelic.No instante em ela se vira para frente e termina de subir os degraus, me dou conta de que estou aqui por um motivo: c
Respiro fundo. Sei do que sua pergunta se trata.Não é óbvio?Por algum acaso ela estaria aqui se soubesse que fui contratado para causar seu funeral?Encaro Victoria, erguendo uma sobrancelha, tanto para sua pergunta retórica quanto para a ingenuidade em pensar que eu a responderia.- Está bem - ela ergue as mãos - Pela forma como você olha para ela, eu apenas pensei que estivesse juntos.- A forma como eu olho para ela?Como alguém que acabou de compra-la e não quer vê-la arrumando encrenca?- Sim, coração - ela se inclina para frente - Como se ela fosse quebrar se você desviasse a atenção pela porra de um segundo.Quase retruco. Angelic é uma das mulheres mais fortes que eu já conheci. Sequer por um segundo eu pensei que ela poderia quebrar. E não se trata de força física, se trata do emocional. Se trata de uma garota que abdicou a vida para ser leal à família. Por isso, quase retruco. Quase.- Mas eu me sinto na obrigação de dizer - Victoria murmura - Se descobrirem que você tem u
ANGELIC...Quando me afasto minimamente, encaro seus olhos verdes. Agora, a cor está tão intensa que seus olhos chegam a parecer pretos. Posso ver a raiva flutuar em seu rosto, pela expressão fechada, maxilar tencionado e respiração forte.Eu nunca tive medo dele. Talvez porque nunca soube do que ele é realmente capaz. No entanto, quando sua mão fecha ao redor do meu cabelo acima da nuca, e ele puxa levemente, mantendo minha cabeça imóvel enquanto aproxima os lábios dos meus, eu me pergunto: o que LeBlanc faria se estivéssemos sozinhos?Sua boca paira sobre a minha, próxima o suficiente para que eu sinta seu hálito quente.A bebida que eu tomei há alguns minutos começa a fazer efeito. Meu sangue aquece. De repente, a música alta não importa. As pessoas ao nosso redor não importam.- Nós não íamos dançar? - sussurro.- Não - ele balança a cabeça - Nós vamos para minha casa.LeBlanc agarra meu pulso e me puxa em direção ao elevador. Quase me desequilibro sobre os saltos, mas a necessida
LEBLANC...Dirijo em direção ao meu prédio. E quando digo isso, não quero dizer que estou indo para meu apartamento. De fato, o prédio é meu.Ao meu lado, Angelic dorme com a cabeça encostado no vidro. O cabelo levemente bagunçado cobre seu rosto, mas posso notar o corpo tranquilo. Seu sono é inocente, como o de uma pessoa que nunca viu algo tão perturbador a ponto de ter pesadelos todas as noites.Pressiono o volante com mais força quando sinto vontade de tocá-la. Entretanto, ao mesmo tempo, sinto raiva. Sinto raiva de sua inocência. Angelic não sabe quem eu sou, mas decidiu entrar no meu carro e conseguiu dormir. Ela confiou em mim. Ela acredita que não vou lhe machucar.Ah, a doce e cruel ironia do destino.Me inclino e retiro a mecha de cabelo do seu rosto. Quando meus dedos, casualmente, tocam sua pele, me sinto satisfeito. É o suficiente.Eu decidi por mim mesmo que não irei machucar esta garota. E se eu não vou, ninguém vai. Eu vou protegê-la, vou cuidar dela, vou garantir que
Dou um passo à frente, e ela dá um passo para trás.Eu poderia dizer que posso explicar, mas, porra, eu não posso. É exatamente isso, e não há meias palavras para dizer a verdade. Seu pai a vendeu. O que eu poderia fazer? Deixá-la naquela casa com seu digníssimo pai e exemplar madrasta?– Ange... – ela me interrompe.– Me responda! – ela exige. As lágrimas fogem de seus olhos e deslizam pela pele do rosto, inchada por causa do sono.Permaneço em silêncio. Verbalizar será ainda mais doloroso para ela.Angelic balança a cabeça, compreendo. Ela desliza a mão pelas bochechas, de uma forma brusca, depois se vira e caminha em direção à sala.– Angelic – chamo.Não espero que ela seja racional. Na verdade, penso em lhe dar espaço para entender que eu fiz o melhor, considerando a situação. No entanto, quando ouço o barulho do elevador sendo acionado, sei que ela não tem os mesmos planos que eu.Saio do escritório em passos largos, praticamente correndo até a sala. Quando chego, as portas do e