LEBLANC...O dinheiro move o mundo, e não estou sendo superficial quando digo isso. Até mesmo as igrejas são cheias de pinturas milionárias e padres corruptos. Digo, até que ponto somos capazes de chegar pelo poder aquisitivo? Porque tudo tem um preço, alguns são apenas mais altos.Eu, particularmente, gosto das mansões beira-mar e carros esportivos. Meu caráter é altamente questionável se você tiver um milhão de dólares para me oferecer. Mas não dirija a palavra à mim com menos do que isso.No entanto, o dinheiro não está em primeiro lugar. O respeito está.Estaciono minha última compra em frente à mansão Campbell, propriedade de uma das famílias mais ricas da Itália. Após descer do carro, alinho o terno preto, apesar de ter certeza de que ele está perfeito.Caminho até a porta de entrada da casa e, enquanto isso, volto ao pensamento anterior. O dinheiro é tudo. Meu último serviço foi prestado ao único filho de Daniel Campbell. Ele queria que seu pai dormisse o sono dos justos, para
ANGELIC...Quando você acorda e dorme sob a atenção, literalmente, de todo mundo, é difícil ter alguma personalidade. Sorrir, ser gentil e recatada, não falar, não se afastar... as regras se tornam a única coisa segura. Ter amigos, uma vida adolescente comum ou uma infância livre não entram na lista de prioridades. Nada além dos protocolos entra.Existe uma gaiola de ouro, e as coisas fora dela são frutos proibidos. Você se pergunta o que há lá fora, e quer viver tudo que puder viver, mas existe um limite bem demarcado. Este limite, para mim, é meu pai.O presidente do país, e um dos homens mais ricos dentro dele. O tipo de pessoa que ama sua posição social, e, eventualmente, sua única filha. Há quem diga que ele preferiria ter um filho, mas se contentou em ter uma garota e poder moldá-la de acordo com sua vontade.- Como está o perímetro? - Marcos, meu segurança pessoal, pergunta enquanto pressiona o ponto em seu ouvido. Ele escuta a resposta - Vamos entrar em um minuto.Estamos no e
É sério? Ele levou minutos me encarando, me instigou a vir até aqui e fugiu?Ele caminha para o outro lado do salão, tão longe quanto pode. O homem anda despretensiosamente, como se não quisesse ser o centro das atenção, mas sendo de qualquer forma.As mulheres se entreolham com um sorrisinho do tipo "se meu marido fosse assim...", porque a maioria dos políticos tem nada além de cabelos grisalhos e barriga avantajada.Seu olhar permanece voltado para frente, fixo, e nunca olha para trás, para os meros mortais. Mas apesar de toda imponência que ele exala, não é do tipo arrogante. É do tipo que não precisa mostrar aos outros quem realmente é.- Querida - meu pai diz, e só então eu percebo que estou parada ao seu lado, encarando as costas do desconhecido.- Papai - tomo uma longa respiração e aprumo a postura.- Tom Saint estava importunando você?- Um pouco - me viro completamente para ele - Quem era aquele homem?- Bruce Campbell. A família dele é dona de um dos maiores vinhedos da eur
LEBLANC...Estaciono o Tesla em frente à casa de Deus. Pelo menos, é o que dizem. O lugar onde o político corrupto se ajoelha e pede perdão por deixar meio milhão de pessoas abaixo da linha da miséria.Fecho os botões do paletó e caminho para dentro da igreja sem pressa. Observo a construção, três vezes maior do que da última vez que a vi. O prédio é antigo, mas não velho. As cores, o estilo renascentista, as formas. Tudo faz parecer que a igreja nunca passou por uma reforma, mas a verdade é que menos de um milhão de dólares mal daria para erguer os pilares.Olho para o céu nublado. A instabilidade do clima nas grandes cidades é o que me faz sentir falta de uma ilha isolada no sul da Europa.Entro no templo sagrado, olhando ao redor por força do hábito. Está vazio, pois ainda é tarde de segunda-feira.Faz dois dias desde o jantar na Casa Branca e, teoricamente, estou atrasado. Este serviço já deveria ter sido concluído. No entanto, com o detetive Pierce no meu encalço, vou precisar de
ANGELIC...Marcos mantém a porta traseira do Rolls Royce aberta para que eu entre. Esta é a primeira vez em dois dias que eu apareço em público e, mesmo assim, tendo um lenço cobrindo o rosto. Saio da igreja e caminho em passos largos até o carro. Assim que entro, Peter, o motorista, acelera.Embora eu esteja indo para casa, meus pensamentos continuam naquele confessionário. Eu deixei a culpa lá, mas trouxe outro sentimento comigo. Curiosidade. Aquele não era o Padre Bee, ou qualquer outro que more na diocese. Eu conheço todos eles.Encosto a cabeça no vidro da janela e fecho os olhos. Eu preciso cumprir minha penitência, então tudo ficará bem. Estava me sentindo culpada porque, diante de tudo que aconteceu naquela noite, a única coisa permanente na minha cabeça era Bruce.Puxo o rosário de dentro do vestido e o seguro. Talvez, se usá-lo com certa frequência, eu possa me libertar do pecado instalado em mim há dois dias.Chegamos em casa em pouco tempo. A igreja é realmente perto. Pete
- Non è quello che ho chiesto. Rispondi alla domanda – o homem desenrola um italiano impressionantemente bom, e eu só sei disso porque estive com os melhores professores de idiomas."Não foi isso que eu perguntei. Responde a pergunta"- Che cazzo ti aspetti che faccia? – ele continua."Que porra você espera que eu faça?"Eu paro quando percebo que estou próxima demais. A porta da sacada está parcialmente fechada, deixando apenas uma fresta. Eu posso ver o terno cinza escuro do homem, seu cabelo castanho, mas não seu rosto. Ele está de costas para mim, segurando o celular em uma mão enquanto a outra está fixa no parapeito da sacada.- No, la risposta è no."Não, a resposta é não"Eu deveria ir embora antes que meu sumiço se torne suspeito. No entanto, algo na postura deste homem me faz lembrar de Bruce Campbell. E algo estúpido em minha mente quer ficar aqui para descobrir se é ele.Eu nunca o ouvi antes. Eu estava atordoada demais para prestar atenção naqueles sussurros no armário. Ma
LEBLANC...Elliot Donneli é um político comum, tão corrupto e mesquinho quanto qualquer outro. Mas ele montou um bom personagem, tanto que chegou à presidência. Às vezes, ele dá uma gota de água aos pobres e ganha o amor deles. Porque para quem sempre teve nada, qualquer coisa é muito.O senador Mares não é diferente. As cédulas de dinheiro são tudo que preenchem sua mente. Nos cinco minutos de conversa que tivemos, percebi que ele me venderia seus próprios filhos se eu fizesse uma proposta.– A taxação de impostos é um absurdo – Mares comenta.Quando eu verifiquei a vida de Angelic, cheguei ao nome de Vicenzo Mares, seu namorado, ou coisa do tipo. Ele está entrando na política, provavelmente porque seu pai tem um legado. Tive que averiguar a vida do senador, para entender o quebra–cabeça todo. Casado, pai de três filhos, investidor e, a título de curiosidade, pedófilo.– Eu preciso fazer uma ligação. Com licença – digo. Antes da resposta deles, me afasto.Caminho até o jardim da mans
Ela sabe. Este é o dom de toda pessoa aventureira: a capacidade absurda de observação. Ela sabia que não estava conversando com um padre da diocese. Todavia, não posso deixar de me perguntar em que momento ela descobriu que era eu, o suposto Bruce Campbell, dentro do confessionário.– Eu não sei do que a senhorita está falando – minto.– Meu pai contratou você para me vigiar?Ela dá um passo à frente. Sua aproximação me permite sentir seu perfume. Não é inovador, mas é doce e feminino. Eu confesso que esperava algo mais marcante vindo de Angelic, mas não estou necessariamente desapontado.– Talvez – respondo, depois bebo um gole de água.– Se eu fizer alguma besteira, você vai correr para contar para ele?– Se você fizer alguma besteira, como eu ficarei sabendo?– Eu pensei que você fosse deus – ela ergue uma sobrancelha, sarcástica, e o sarcasmo é a forma mais medíocre de humor.– Você quer saber se estou sendo pago para vigiar você? Tente a sorte. Faça alguma besteira – desafio.Vej